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CAPÍTULO III – O ENSINO PARTICULAR EM PIRACICABA E A

3.1. O ensino particular no município de Piracicaba

O levantamento realizado nos apresentou o seguinte quadro. A cidade conta com vinte e seis escolas24 particulares responsáveis pelo ensino fundamental, médio, especial, supletivo e profissionalizante.

24 O s d a d o s f o r a m l e v a n t a d o s j u n t o a D i r e t o r i a R e g i o n a l d e E n s i n o – R e g iã o d e P i r a c i c a b a - S P e s e r e f e r e m a o a n o d e 2 0 0 0 . E s s e s d a d o s n ã o f o r a m a t u a l i z a d o s p o r q u e s e r v i u p a r a d e l i mi t a r o q u a d r o d o mu n i c í p i o e p a r a t r a ç a r c r i t é r i o s p a r a a e s c o l h a d a a e s c o l a a s e r p e s q u i s a d a .

Destas, o ensino fundamental de primeiro e segundo ciclos é oferecido em nove escolas, sendo que uma ainda, atendia de 1ª a 3ª e, outra, de 1ª a 5ª séries por terem iniciado a prestação desses serviços educacionais há pouco tempo, pois anteriormente, só trabalhavam com o ensino infantil; doze trabalham com ensino fundamental e médio, sendo que três possuem ensino profissionalizante. Há na cidade duas escolas que oferecem exclusivamente o supletivo e uma o ensino profissionalizante. Em relação à educação especial, a rede particular de ensino conta com duas instituições voltadas ao atendimento de crianças com necessidades educativas especiais25.

As escolas particulares se encontram, em sua maioria, na região central da cidade ou em bairros próximos ao centro. Algumas atendem bairros mais distantes, onde reside uma população de classe média e média alta.

Com relação à variação das mensalidades, nota-se que tendem a ser mais elevadas nas escolas consideradas tradicionais na cidade e que afirmam utilizar, nas séries iniciais (1ª a 4ª), (...) uma metodologia mais

pautada no construtivismo (...). Entretanto, observa-se que, com relação

ao ensino médio, as mensalidades aumentam nas escolas conveniadas às franquias empresarias de renome no Estado (Objetivo e Anglo, por exemplo) e cujo ensino pauta-se pelo “conteudismo” voltado para o vestibular. Constatamos a tendência de a maioria das escolas particulares, que oferecem ensino médio, orientar suas práticas pedagógico/educacionais para a aprovação no vestibular. Assim, a qualidade do ensino oferecido é anunciada por meio da quantidade de alunos ingressantes nas universidades públicas, o que, por sua vez, serve como propaganda para atrair um maior número de clientes/consumidores.

25 A p a r t i r d a L e i d e D i r e t r i z e s e B a s e s d a E d u c a ç ã o d e 1 9 9 6 o s a l u n o s q u e n e c e s s i t a m d e a t e n d i me n t o e s p e c i a l i z a d o s ã o c o n s i d e r a d o s c o mo a l u n o s p o r t a d o r e s d e n e c e s s i d a d e s e s p e c i a i s e n a s ma i s r e c e n t e s p u b l i c a ç õ e s o f i c i a i s s ã o d e n o mi n a d o s a l u n o s c o m n e c e s s i d a d e s e d u c a c i o n a i s o u e d u c a t i v a s e s p e c i a i s .

Na totalidade das instituições particulares de ensino existentes na cidade há o oferecimento, a partir das séries iniciais, de cursos de informática e inglês. Esses “cursos” parecem constar no projeto pedagógico como parte do currículo. Em algumas escolas encontramos opções extras como aulas de música, teatro, esportes, pintura, artesanato etc. Essas aulas constam da mensalidade, porém são opcionais e ocorrem em horário diferente ao das disciplinas curriculares.

Observamos que na educação infantil e no ensino fundamental das escolas particulares já tem início o “marketing” utilizado como artifício do que se deve conceber como uma “boa educação”. Geralmente, a publicidade é composta de vários recursos para atrair a clientela. Assim, aparece o oferecimento de cursos de informática, dança, artes, ensino de línguas etc; tais recursos não fazem parte do currículo oficial, mas servem como estratégia para caracterizar uma formação cultural mais abrangente, possivelmente como forma de competir no mercado. Se o

sistema escolar tem que se configurar como mercado educacional as escolas devem definir estratégias competitivas para atuar em tais mercados (Gentili,1995:51).

É interessante ressaltar que a maioria das escolas particulares26 atesta trabalhar, nas séries iniciais, com o construtivismo combinado com o “método tradicional”. Porém, na continuidade do ensino fundamental (5ª a 8ª séries) e médio as escolas afirmam um trabalho mais orientado pelo “método tradicional” e informam adotar apostilas como principal recurso didático.

Outro ponto que chama a atenção diz respeito às atividades extra curriculares que denotam ser um diferencial comprometido com a

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L e v a n t a me n t o r e a l i z a d o n a s i n s t i t u i ç õ e s d e e n s i n o p a r t i c u l a r j u n t o a o s c o o r d e n a d o r e s p e d a g ó g i c o s e / o u d i r e t o r e s .

formação integral da criança, mas que, na verdade, parece mais uma alternativa para a disputa de clientela no mercado educacional.

E, por fim, um aspecto bastante significativo, diz respeito à maneira como as escolas particulares referem-se ao projeto pedagógico norteador das ações educativas desenvolvidas no cotidiano institucional. Percebe-se, de imediato, a inexistência de uma proposta educacional consistente, dadas as confusões teórico/metodológicas relativas às concepções que alicerçam as práticas dos professores. A afirmação da maioria das escolas de que trabalham, nas séries iniciais, com uma combinação entre o construtivismo e o método tradicional, revela contradições de ordem epistêmica nas propostas que embasam a formação dos alunos, uma vez que o construtivismo, ao pautar-se por uma pedagogia centrada na criança, opõe-se ao chamado “método tradicional” em que o professor é o principal agente na transmissão do saber.

A fragilidade das propostas também se esboça na forma como são utilizados os recursos didáticos para a efetivação das ações educativas no interior das escolas. Em muitas delas afirmou-se que o desenvolvimento dos conteúdos das disciplinas se dava a partir da utilização de apostilas e/ou livros didáticos e o trabalho com os temas transversais, que diziam respeito à formação para o exercício da cidadania, era desenvolvido a partir da execução de projetos. Os temas transversais, segundo as informações colhidas, eram trabalhados de acordo com a necessidade do momento ou utilizados para equacionar algum problema do cotidiano da instituição (indisciplina dos alunos, por exemplo). Essa característica dá indícios de que a inserção dessas temáticas não constava na proposta pedagógica das escolas e, muitas vezes, não era desenvolvida de forma articulada com os demais conteúdos.

Parece que as escolas interpretam de forma equivocada o que preconizam os PCN no que tange aos temas transversais, pois, como dito anteriormente, deveriam ser trabalhados de forma a colocar as crianças em contato com um conteúdo que as áreas convencionais não abordam27 e não se inserirem no contexto da instituição como uma atividade complementar para o equacionamento de problemas enfrentados no cotidiano.

Se os temas transversais não forem trabalhados de forma articulada com a proposta educativa da escola, sendo abordados apenas em situações de necessidade, a tendência, na tentativa de articulação com os conteúdos das disciplinas, é que nem um nem outro sejam trabalhados satisfatoriamente. Assim, esse caráter pragmático que é dado ao assunto, também, pode ser um agravante que impede uma melhor formação.

A inserção de diferentes temas no cotidiano das instituições particulares parece se configurar como uma forma pragmática de cumprimento das diretrizes educacionais. No entanto, o desenvolvimento desses temas se caracteriza como mais uma exigência a ser cumprida, sem articulação com as propostas educacionais, e se volta a proporcionar aos alunos um maior número de informações para cumprir determinações oficiais e não para uma educação comprometida com a formação.

Vale lembrar que a transformação do saber em quantidade de informações, adquiridas num menor tempo possível, dificulta ao indivíduo a percepção de que sua apropriação da cultura é superficial uma vez que lhe cabe apenas internalizar conhecimentos utilitários, facilmente descartáveis e rapidamente substituíveis conforme as necessidades do mercado. Por essa lógica, a apropriação da cultura através da socialização do conhecimento historicamente produzido é prejudicada e cria-se a ilusão de uma formação efetiva quando, na

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verdade, o que temos são apenas informações que se tornarão descartáveis à medida que o mercado exigir.

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