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O Ensino Profissional

No documento Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (páginas 51-55)

A formação profissional é definida como uma experiência planeada de aprendizagem que é concebida com o objectivo de resultar uma mudança permanente de conhecimentos, atitudes ou competências, críticos para o bom desempenho da função de um indivíduo. De acordo com a Lei de Bases do Sistema Educativo, a formação profissional para além de completar a preparação para a vida activa iniciada no ensino básico visa, essencialmente, uma integração dinâmica no mundo de trabalho através da aquisição de conhecimentos profissionais no sentido de responder às necessidades irracionais de desenvolvimento e à evolução tecnológica (LBSE, artº 19, nº1, in ME).

Todos os itinerários de Aprendizagem, que correspondem no seu todo a uma carga horária situada entre as 2800 a 3700 horas de formação integram três componentes de formação: Sócio-Cultural, Científico-Tecnológica e Prática. A formação prática em média abrange 50 % do tempo total da formação, integrando a formação em situação de trabalho (30 %) e a prática simulada (20 %).

A componente Sócio Cultural é constituída pelos domínios que visam proporcionar competências transversais, tanto no que se refere a conhecimentos académicos, como a atitudes potenciadoras do desenvolvimento pessoal e relacional, tendo em vista aumentar as condições de empregabilidade e facilitar o exercício profissional e o desempenho de diversos papeis sociais nos vários contextos da vida;

A componente de formação científico-tecnológica é constituída pelo conjunto dos domínios orientados para a aquisição dos conhecimentos necessários as técnicas específicas e das tecnologias de informação, bem como ao desenvolvimento de actividades práticas e de ensaio ou experiência em contexto de trabalho;

A componente de formação Prática, realizada em contexto de trabalho e sob orientação de um tutor, visa consolidar as competências e os conhecimentos adquiridos em contexto de formação, através da realização das actividades

38 inerentes ao exercício profissional, e facilitar a futura inserção profissional dos jovens.

O desenvolvimento dos cursos de aprendizagem pressupõe uma forte interacção entre as diversas componentes e contextos de formação, reconhecendo à situação de trabalho um potencial formativo e encarando a alternância não como uma mera sucessão alternada de contextos de formação, cumprindo cada um o seu papel com reduzido nível de interactividade, mas, como uma sucessão de contextos de formação, articulados entre si, que promovem a realização das aprendizagens com vista à aquisição das competências que integram um determinado perfil de saída.

A valorização crescente da intervenção e do contributo formativo das empresas, assumindo-se como verdadeiros espaços de formação, geradores de progressão das aprendizagens, tem, necessariamente, implícito um maior nível de exigência por parte das empresas que asseguram a formação prática em contexto de trabalho.

A investigação em contextos formativos, sugere que os formandos que estão mais entusiasmados em participar na formação e que desejam aprender o conteúdo formativo estão mais dispostos a adquirir conhecimentos e competências e demonstram níveis mais elevados de mudança comportamental (Holton, 2005). Daí que a motivação dos formandos tem vindo a salientar-se como uma variável fundamental para o sucesso da aprendizagem no contexto da formação (Cheng & Ho 2001; Noe, 1986). Outros estudos realizados nesta área, salientam que as modalidades de formação ao apresentarem-se como alternativas geralmente vocacionadas para os que abandonam o sistema educativo e se encontram em situação de potencial risco de desemprego ou exclusão podem, induzir percursos escolares e profissionais menos prestigiantes (Azevedo, 2002; Guerreiro & Abrantes, 2004), que impedem “a consolidação e o desenvolvimento sustentado de um nível secundário de ensino e formação diversificado, articulado, com qualidade e capaz de atrair a diversidade da procura, sem criar percursos social e escolarmente estigmatizados” (p. 48). Investigações neste domínio consideram que a opção pelos cursos de formação profissional, deve-se entre outros, aos seguintes factores:

39 - Jovens provenientes de contextos familiares caracterizados por fracos recursos económicos, onde à partida parecem não possuir um conjunto de disposições que lhes permitam uma fácil adaptação aos saberes que a escola exige. Se, por um lado, a “herança” escolar, baixo nível de escolaridade dos progenitores, por si só não determina o desenvolvimento das estratégias sociais no desenrolar das trajectórias escolares, por outro, não se pode menosprezar a sua influência na probabilidade de que tal venha a acontecer;

- A par do insucesso escolar, considera-se ainda a interrupção dos estudos como outro indicador que ajuda a compreender a dificuldade de alguns jovens em se adaptarem as exigências da escola e, simultaneamente, de a escola responder às solicitações de um público cada vez mais heterogéneo. Alguns jovens abandonam a escola na expectativa de iniciarem uma carreira profissional, para acabarem por regressar a escola, dadas as dificuldades de obtenção de emprego. Assim ao retomarem a aprendizagem e/ou ao ingressarem na formação, os formandos têm consciência, para alem da aprendizagem de uma profissão (36,2%), a importância em estarem bem preparados para ingressar no mundo do trabalho (54,5%) o que parece revelar uma noção mais abrangente e adaptada aos tempos de incerteza e mudança (Saboga, 2008). Procura-se sobretudo aprender uma área profissional de forma a facilitar a inserção no mercado de trabalho. Encontramos assim um significado de instrumentalidade ligado a esta escolha, que se estende sobretudo pelas vertentes de ligação entre a escola e o mundo do trabalho.

Associados a estes factores, encontramos ainda subjacente a necessidade de obter a certificação e equivalência escolar: 38% dos inquiridos afirma ter escolhido esta modalidade de formação por ser uma forma mais fácil de obter o 12º ano e 12,9% afirma que a escolheu por poder ganhar algum dinheiro e fazer simultaneamente o 12ºano. Os aspectos que os formandos consideram mais positivos são os conhecimentos práticos e a preparação para a vida profissional. O aspecto considerado menos positivo é a preparação para o prosseguimento de estudos. A formação em contexto de trabalho é apontada sem reservas como um aspecto positivo (80,4%). De um modo geral, a componente da formação na empresa é interpretada como a pedra angular do sucesso do

40 sistema de aprendizagem, reconhecendo nela o indicador determinante da qualidade, e através da qual, se garante a eficácia externa.

O efeito do género na aprendizagem não parece ser muito consensual, o que não surpreende dado a falta de suporte teórico para a explicação desses efeitos. A influência da idade parece obter um maior consenso na literatura, uma vez que a maioria dos estudos encontra uma relação negativa entre estas duas variáveis (Colquitt, LePine & Noe, 2000). Apesar da idade contribuir para o aumento da informação adquirida, para a obtenção de mais competências, simultaneamente contribui para a diminuição da capacidade de raciocínio. Alguns autores, salientam que esta relação negativa entre a idade e a aprendizagem pode também estar relacionada com as auto percepções dos formandos que os leva a ter receio de falhar e por isso não procurarem mais oportunidades formativas (Sterns & Doverspike, 1989).

3.4 Síntese Conclusiva

Face ao exposto, constatamos que os diferentes tipos de ensino (académico e profissional) destacam-se de modo bastante distinto na estrutura organizacional dos currículos. Enquanto que na formação os cursos apresentam uma maior carga horária na formação tecnológica e formação prática em contexto de trabalho, o mesmo não acontece no sistema de ensino académico, onde a prioridade fundamental centraliza-se no prosseguimento de estudos, encontrando-se os cursos profissionais, essencialmente direccionados para a inserção profissional. A modalidade de formação afigura-se assim como uma oportunidade para o sistema educativo, confrontado com elevados níveis de insucesso e uma tendência persistente do abandono escolar. A predisposição que os jovens manifestam face ao prolongamento da escolaridade constitui um bom indicador da capacidade que esta formação tem em atrair muitos jovens ao universo escolar, permitindo assim a (re) definição de projectos e expectativas face ao futuro. Por outro lado, esta predisposição pode ser ainda considerada um grande desafio, uma vez que promove o repensar da tradicional incompatibilidade entre a via profissionalizante e a académica.

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SEGUNDA PARTE

OS HÁBITOS DE ESTUDO E OS VALORES PESSOAIS: UM ESTUDO

No documento Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (páginas 51-55)