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2. O AUTO-CONCEITO

3.1. O ENVOLVIMENTO NA PARENTALIDADE

O nascimento de um filho é considerado um dos acontecimentos mais importantes e marcantes na vida dos indivíduos e da família (MOURA-RAMOS e CANAVARRO, 2007). A gravidez e parto, enquanto processo de mudança, condicionam a vida do casal, pois é um momento de espera, com grandes expectativas e simbolismo, que se consolidarão com o assumir dos novos papeis exigidos (LEAL, 2005 cit. por BRANDÃO, 2009).

A valorização do envolvimento do homem no nascimento de um filho não se pode justificar unicamente pelo seu contributo no acompanhamento e apoio à grávida, mas essencialmente, pelo facto de este ser um momento ímpar para o assumir do seu papel de pai. A gravidez, o parto e o puerpério não devem pois ser tomados como acontecimentos isolados, pelo contrário, estes são partes integrantes e indissociáveis do processo de maternidade/paternidade, sendo a relação estabelecida pela tríade (mãe/ pai/ filho) de extrema importância (CARVALHO et al., 2009).

A participação do pai no contexto do nascimento tem a sua origem nos primórdios, sendo um dos seus primeiros relatos aquele que remonta ao costume de povos primitivos, denominado Couvade, em que o homem colaborava activamente no nascimento do filho, auxiliando na compressão do abdómen da mulher durante a expulsão do feto, corte do cordão umbilical e acolhimento do bebé nos seus braços, como forma de demonstração de protecção e auxílio à díade mãe/filho (ALEXANDRE; MARTINS, 2009).

As autoras supracitados mencionam que, durante o século XIII, e em algumas culturas, a presença do homem no trabalho de parto e no parto tornou-se menos frequente, em consequência de dogmas que coibiam a sua entrada no quarto da parturiente. Contudo, no final da Idade Média, quando os partos eram assistidos em ambientes familiares, começou-se a aceitar a participação do companheiro/marido, compreendendo também os filhos, as amigas, entre outros (ALEXANDRE; MARTINS, 2009).

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As representações do papel do pai têm vindo a mudar, constatando que os pais mais velhos têm uma imagem do pai como sendo uma figura de autoridade e de pouco envolvimento emocional na vida da criança. Já os mais novos, que são maior abertura à mudança, dão mais importância ao facto de serem sensíveis, compreensivos e dialogarem, de estarem presente na vida da criança e de partilhar a autoridade (MONTEIRO et al., 2008).

Ao longo dos anos, o papel do pai ganhou maior importância, principalmente durante a gravidez e o nascimento do filho. Consequentemente, este assume uma participação mais activa, nomeadamente na preparação pré-natal, no parto e nos cuidados ao recém-nascido (SUTTER; BUCHER-MALUSCHKE, 2008). Contudo, tal como a mãe, o pai necessita de se ajustar à sua nova identidade, durante o tempo de gestação. Este percurso, descrito por Brazelton e Cramer (2007 cit. por PEREIRA, 2009) como tarefas psicológicas, inicia-se com a adaptação à notícia da gravidez, seguida do reconhecimento do bebé, a percepção que este se irá separar da mãe, aceitando-o como pessoa individual, promovendo assim a sua identidade parental. Para os autores, as mães e pais que conseguem ultrapassar estas tarefas e satisfazer as alterações psicológicas adjacentes, conseguem lidar melhor com os seus novos papéis e as transformações provocadas pela gravidez.

A relação estabelecida entre a mãe e o bebé ao longo da gravidez, pode ser afectiva ou simplesmente biológica. Esta “sente-o a mexer e só com a separação imposta pelo nascimento a mãe o pode ver, cheirar e sentir nos seus braços fortalecendo a relação já iniciada durante a gravidez” (PEREIRA, 2009, p. 27). Porém, o pai só poderá contactar fisicamente com o seu filho após o nascimento, ainda que durante a gravidez possa ter um envolvimento emocional com o bebé idealizado. Este, pode igualmente conversar com ele e sentir os seus movimentos no ventre materno. Assim, o pai é convidado a encetar o seu processo de ligação afectiva com o feto em desenvolvimento durante a gravidez (PEREIRA, 2009).

O período de gestação é pautado por uma pluralidade de emoções vivenciadas pelo indivíduo. Mesmo quando a gravidez é planeada e desejada pelo casal, o pai poderá experimentar sentimentos de exclusão. Considera-se que a sua integração e participação na gravidez, trabalho de parto e parto pode atenuar estes sentimentos (PEREIRA, 2009).

Actualmente o homem propende a “uma paternidade mais activa e enriquecedora da sua vivência pessoal como pai e do seu relacionamento com o filho, o que o leva a desejar e a assumir um protagonismo cada vez maior no parto” (CARVALHO et al., 2009, p. 113). Assim, partilhar do nascimento do filho é um meio, através do qual, os homens podem ser incluídos em todo o processo. Contudo, a decisão de estar ou não presente durante o trabalho

de parto e parto deve ser tomada conscientemente, feita conjuntamente com a companheira e sem pressões familiares e/ou sociais (MAZZIERI; HOGA, 2006).

Neste sentido, a participação do pai no trabalho de parto e no parto confere ao casal a oportunidade de partilhar o nascimento como parte da vida conjugal, transformando-se numa circunstância indispensável para o desenvolvimento da relação e para a aceitação da parentalidade. Esta, é uma decisão que tem de ter subjacente a preparação do casal, particularmente do pai, para que este seja capaz de perceber e colaborar nas diferentes fases do processo e acompanhá-lo com serenidade (CARVALHO, 2003).

Em Portugal, com a publicação da Lei n.º 14/85 de 6 de Julho de 1985, que estipula que a parturiente tem o direito legal de escolher alguém da sua confiança para estar presente durante o trabalho de parto e nascimento do filho, assume-se a importância da humanização da assistência à grávida. Com a elaboração do “Guia Prático para a Assistência ao Parto Normal” (1996), criado pela Organização Mundial de Saúde (1996), releva-se a importância que está a ser dada ao papel do pai no parto.

Desta forma, os benefícios sobrevindos da presença do pai na sala de partos traduzem- se em vantagens para os dois, como casal e para a tríade em formação. Para o pai, o parto é um momento de fortes emoções, que lhe faculta a primeira interacção com o seu bebé (CARVALHO et al., 2009). Este, ao assistir ao nascimento do filho, vive sentimentos e experiências positivas, também pelo suporte emocional que proporciona à companheira, os quais podem favorecer o maior envolvimento emocional precoce com o filho. Contudo, a presença do pai na sala de partos pode ser condicionada pelo medo deste, ou a vergonha da esposa na exposição da sua intimidade (CARVALHO, 2003).

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