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MAPA 12 ± Mapa de densidade dos suicídios no período 2000-2015

2. Estado da Arte ~ Suicídio e Geografia

2.5 As categorias de análises geográficas e a saúde

2.5.1 O espaço

Partindo da conceituação de espaço geográfico de Milton Santos (2002, p. 63); o espaço é ³IRUPDGRSRUXPFRQMXQWRLQGLVVRFLiYHOVROLGiULRHWDPEpPFRQWUDGLWyULRGH sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no quaODKLVWyULDVHGi´ Aonde o autor vê a primeira natureza como a

que provê as coisas, as quais são transformadas em objetos pela ação do homem através da técnica. Para Santos³1RSULQFtSLRWXGRHUDPFRLVDVHQTXDQWRKRMHWXGRWHQGHD ser objeto, já que as próprias coisas, dádivas da natureza, quando utilizadas pelos KRPHQVDSDUWLUGHXPFRQMXQWRGHLQWHQo}HVVRFLDLVSDVVDPWDPEpPDVHUREMHWRV´

(SANTOS, 2002 p.65). Em Santos, a técnica é ³DSULQFLSDOIRUPDGHUHODomRHQWUHR KRPHPHDQDWXUH]D´ e é definida como ³XPFRQMXQWRGHPHLRVLQVWUXPHQWDLVHVRFLDLV FRP RV TXDLV R KRPHP UHDOL]D VXD YLGD SURGX] H DR PHVPR WHPSR FULD HVSDoR´

(ibidem, p.29). Santos em Metamorfose do espaço habitado afirma que não se pode estudar o todo pelo todo. Fragmentar o todo para poder iniciar sua investigação é, portanto, uma tarefa imprescindível:

³SUHFLVDPRV GHVFREULU DV FDWHJRULDV DSURSULDGDV que nos capacitarão a apreender a marca da sociedade sobre a natureza e as relações existentes antes, durante e depois dessa metamorfose (...). Essas categorias são: estrutura, processo, função e forma, que definem o espaço HPUHODomRjVRFLHGDGH´ (SANTOS, 1985 p. 71)

A forma é o aspecto visível de um objeto, seu arranjo material. Já a função seria uma atividade ou uma tarefa relacionada a uma forma (um objeto). A estrutura é a relação desse sistema de objetos, ou seja, a forma e função, representa assim a organização espacial. E, finalmente, o processo é definido como uma ação contínua, estrutural, implicando a necessidade do conceito de tempo (continuidade) e mudança (SANTOS, 1997). A forma é o visível, o material palpável que é também um conjunto de objetos, a função é a atividade desses objetos em si, a estrutura é definida por um

processo histórico aonde as funções e formas mudam de acordo com o mesmo. O processo é essa relação constante de mudança.

Em Por uma geografia nova (1978), o conceito de espaço é central e entendido como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relações que estão acontecendo e mostram-se através de processos e funções. ³2 HVSDoR p XP YHUGDGHLUR FDPSR GH forças cuja formação é desigual. Eis a razão pela qual a evolução espacial não se apresenta de igual forma em todos os OXJDUHV´ (SANTOS, p.122). Desta forma, o

espaço se mostra de diferentes formas, pois;

(...) O espaço por suas características e por seu funcionamento, pelo que ele oferece a alguns e recusa a outros, pela seleção de localização feita entre as atividades e entre os homens, é o resultado de uma práxis coletiva que reproduz as relações sociais, (...) o espaço evolui pelo movimento da sociedade total. (SANTOS, 1978, p. 171).

O espaço e a saúde de Milton Santos se relacionam nos conceitos de totalidade, assumindo que a saúde perpassa a totalidade do ser que está inserido no espaço, desde a localização dos equipamentos de saúde enquanto prevenção e promoção, e pelo espaço também que se tem os processos de adoecimento e de acolhimento em suas redes comunitárias. Na palestra que foi convidado pela Fiocruz Santos fala sobre saúde e ambiente no processo de desenvolvimento:

A área da saúde é responsável por um belo momento da história da humanidade, belíssimo momento da história da ciência que buscou alicerçar as condições pelas quais a vida se tornaria não apenas mais longa, mas também mais digna de viver. Essa busca de possibilidades da medicina se baseou numa ciência em que houve um encontro entre preocupações morais e preocupações científicas. (Conferência magna proferida no I Seminário Nacional Saúde e Ambiente no Processo de Desenvolvimento, em 12 de julho de 2000)

O espaço como construção social, segundo Santos (1988) tem como elementos constitutivos: ³os homens; o meio ecológico ² base física do trabalho humano; as infraestruturas ² PDWHULDOL]DomR GR WUDEDOKR KXPDQR HP IRUPDV DV ³ILUPDV´ ² responsáveis pela produção de bens, serviços, ideias e as instituições encarregadas de

produzir normas, ordens e legitimações´ SANTOS, 1988). Assim, a identificação e localização dos objetos, seus usos pela população e sua importância para os fluxos das pessoas são de grande relevância para o conhecimento do corpo social, os gêneros de vida e a determinação de vulnerabilidades de saúde, essas são originadas nas interações de grupos humanos em determinados espaços geográficos (MONKEN, 2003).

Nessas desigualdades socioespaciais gera-se a necessidade da apropriação de novas ferramentas teóricas, metodológicas e conceituais para uma compreensão dos fenômenos e seu dinamismo no espaço. Nos estudos que envolvem a saúde, é notório o grande uso de categorias de análise eminentemente da ciência geográfica como o espaço, território e lugar e sua relação com a organização espacial e os usos das categorias espaciais.

Para Barcellos (2002), o uso da categoria espaço na análise da situação de saúde e na análise de risco não se limita exclusivamente à mera localização de eventos de saúde. Suas características vão depender da diversidade de seus próprios conceitos e conteúdos, onde o espaço é, ao mesmo tempo, produto e produtor de diferenciações sociais e ambientais.

Os espaços são conjuntos de territórios e lugares onde fatos acontecem ao mesmo tempo, e seus resultados são experimentadas em sua totalidade de modos diferentes, por serem espaços diferenciados. Cada ato e cada fato são percebidos de acordo com organização socioespacial, cultural, político e econômica dos indivíduos que participam na produção desses espaços. Essa pluralidade de territórios e lugares modifica a percepção dos indivíduos sobre os riscos, vulnerabilidades e acessos distribuídos espacialmente.

Assim os conceitos de espaço-território-lugar vão muito além de representar um recorte apenas de revisão de literatura em saúde, e sim são o locus onde acontece a relação indivíduos e serviços e, portanto, todas as relações que permeiam o processo de saúde e doença. Esses indivíduos são os mesmo que compartilham e vivem em tempo e espaços próprios.

A análise do espaço geográfico presta-se não só para a compreensão do real, através de uma avaliação empírica e objetiva do material, como está necessariamente relacionada a uma apreensão subjetiva do espaço como meio percebido pelos indivíduos que nele vivem.

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