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O Espaço Edificado

No documento Uma Aldeia Perdida na Serra (páginas 98-107)

Capítulo 5 | Aldeia de Cortes do Meio

5.4. Análise Morfológica da Aldeia

6.4.3. O Espaço Edificado

Através da análise “in loco” do conjunto arquitetónico da aldeia, foi possível averiguar que no seu núcleo antigo ainda existem um elevado número de edifício de caracter tradicional que datam entre os séculos XVI/XVII e o século XIX.

Sabe-se, que desde sempre o homem aproveitou para a construção das usas habitações os materiais que tinha á mão, assim, da materialidade tradicional existente hoje em dia na aldeia fazem parte a pedra de granito emparelhada, a pedra de xisto, e a antiga telha de canudo, substituída, entretanto por telha marselha. As paredes dos edifícios mais antigos têm espessura média de cerca de 60cm e são autoportantes, sendo a estrutura interior de madeira de pinho, castanho ou carvalho.

Ao caminhar pelas ruas estreitas da aldeia notam-se diferenças entre as casas mais antigas e as menos antigas, as primeiras são térreas, têm pouca área útil e são construídas praticamente só de pedra de granito, facilmente se bate com a cabeça no lintel da porta e quase não possuem vãos. As segundas têm pedra de granito nos cunhais e nos vãos onde são exigidos esforços maiores e pedra de xisto no enchimento das paredes, a sua estrutura interior de madeira é ligeiramente mais complexa por haver dois pisos. Neste tipo a habitação encontra-se no primeiro andar enquanto o rés-do-chão serve para armazenar os utensílios agrícolas e recolher os animais.

Hoje em dia existem edifícios (re) construídos por de tudo um pouco. Alguns habitantes possuem casas de pedra que reabilitaram e optam por reparar apenas as juntas mantendo a estereotomia do edifício, noutras rebocam tudo com cimento e pintam de branco ou revestem a azulejo, outras optam por simplesmente tapar a parede com chapa metálica ou mesmo demolir totalmente o edifício existente e construir uma casa “moderna”. Também é muito frequente a construção de mais um piso adicionado aos outros que se destaca com um acabamento diferente.

É fácil perceber que apesar da grande maioria dos edifícios de carácter tradicional se encontrarem no núcleo antigo da aldeia (figura 36), existe um número ainda razoável de edificações que não respeitam os materiais e tipologias tradicionais, tornando-se dissonantes das restantes, sendo que as construções maiores e mais recentes se localizam nas áreas periféricas da aldeia, encontrando se no entanto alguns exemplares na zona antiga (figura 37).A permanência num espaço onde existem elementos que chocam entre si modifica a perceção desse mesmo espaço, quando na aldeia onde ainda é possível sentir que se está perante uma aldeia de caracter serrano da Beira Interior, a presença de algumas edificações onde é usada a nos telhados chapa metálica, azulejos nas fachadas, cores “chocantes”, ou mesmo pelo simples facto da sua volumetria possuir proporções exageradas, levam á descaracterização do lugar, que poderia fazer uso da sua tradição arquitetónica para promover a aldeia, nomeadamente através do turismo.

Figura 37 – Edifícios dissonantes na aldeia (Fonte: Autoria Própria, 2018).

Dado não existir nenhum plano de ordenamento, a liberdade construtiva é total, percebendo- se o caracter vanguardista ou conservador do dono através do edifício. A aldeia não está propriamente estagnada, tem-se vindo a adaptar lentamente á contemporaneidade, bem ou mal.

Em anexo é apresentado um exemplo das fichas de levantamento do edificado, onde podemos verificar os vários parâmetros tidos em conta na avaliação dos edifícios.

Em primeiro lugar definiu-se o edificado em relação ao seu uso, podendo este ser habitacional, serviços, comércio, equipamentos sociais/culturais, anexos/garagem e ruína.

Verificando-se um elevado número de edifícios de uso habitacional e em alguns casos pontuais é possível encontrar edifícios em que a localização do comércio é no rés-do-chão da habitação, tendo um pequeno número de edifícios de uso misto, de serviços e de equipamentos (figura 38).

Figura 38 - Gráfico e planta da relação uso/funções dos edifícios (Fonte: Autoria Própria, 2018). 79%

2% 3% 2% 11%

3%

RELAÇÃO DO USO/FUNÇÃO DOS EDIFÍCIOS

Habitação Equipamentos Sociais/Culturais Serviços Comércio (misto) Anexos/Garagem Ruina Ribeira Ruina Anexos/Garagem

Equip. Sociais e Culturais

0 20 40 60 80 m

Anexos/Garagem

Quanto á tipologia dos edifícios é percetível a maioria da existência de edifícios com dois pisos (figura 39), tendo nalguns casos a existência de trapeiras e mansardas na cobertura. Os edifícios mais recentes e reconstruções dos antigos têm três ou mais pisos, onde se aproveitou o desnível do terreno e a totalidade do sótão para habitação. Verificou-se também que a maioria do edificado no núcleo antigo é caracterizada por uma frente urbana estreita, desenvolvendo-se em profundidade. No que concerne os materiais nos edifícios existe um uso do granito, a nível estrutural as paredes-mestras são em alvenaria de pedra e a cobertura de telhas cerâmicas, com os telhados de duas águas.

Figura 39 - Gráfico e planta da relação do número de pisos dos edifícios (Fonte: Autoria Própria, 2018).

6%

65% 3%

26%

RELAÇÃO DOS NÚMEROS DE PISOS

1 Piso 2 Pisos

2 Pisos + Sótão 3 ou mais Pisos

Ribeira 1 piso 2 pisos

0 20 40 60 80 m

N

Uma outra questão relevante foi o ponto de estado de conservação do edificado, critério que reflete o estado do edifício no que concerne aos seus atributos construtivos. Para tal, foi feita uma avaliação em quatro níveis – bom, razoável, mau e ruina, mediante a análise da estrutura, cobertura, fachada e vãos. Não foi possível incluir fatores do interior dos imoveis devido a impossibilidade de poder entrar nas construções.

Tabela 7 - Análise dos diferentes componentes de uma edificação de modo a classificar o seu estado de conservação ( Fonte: Autoria Própria, 2018).

ESTADO DE CONSERVAÇÃO DO EDIFICADO

ANÁLISE /

CLASSIFICAÇÃO BOM RAZOÁVEL MAU ESTADO RUÍNA Estrutura Estrutura em bom estado Estrutura: boa a necessitar conservação Estrutura: com fissuras e danificada Estrutura em ruina Cobertura Telhas em bom estado Telhas desgastadas, mas com estrutura boa Telhas desgastadas, mas com estrutura fissurada Telhas inexistentes e estrutura fissurada e danificada Fachada Revestimento em bom estado Revestimento fissurado Revestimento degastado e/ou a descascar Sem revestimento Vãos /caixilharia Boa A precisar de conservação e manutenção Com fissuras e degradada Inexistente ou danificada Como resultado, verificou-se edifícios maioritariamente com bom ou razoável estado de conservação (figura 40), este resultado deve-se a intervenções e construções que ocorreram sobretudo a partir do seculo XX. Entre os edifícios classificados com uma má conservação destaca-se o mau estado das coberturas e caixilharias, existindo cerca de 11 construções em ruina, num total de 316 construções observadas.

Figura 40 - Gráfico e planta síntese do estado de consevação do edificado (Fonte: Autoria Própria, 2018).

Quanto á classificação dos edifícios relativamente ao seu valor arquitetónico, tentou-se abranger a importância dos edifícios individualmente e em conjunto como património, como entendimento dos valores sociais, culturais e materiais de uma sociedade no seu determinado tempo. A importância local e simbólica expressa pelo valor que o edifício tem como marco visual e o que simboliza ou representa dentro da comunidade. Neste tipo de aldeias os

42% 34%

21% 3%

ESTADO DE CONSERVAÇÃO DO EDIFICADO

Bom Razoável Mau estado Ruina Ribeira Bom 0 20 40 60 80 m N Ruina Mau Estado

edifícios são geralmente considerados como património representativo de um modo de vida ou de uma época, e por isso valorizados quer pela sua arquitetura quer pela sua construção. Também é necessário valorizar edifícios que são exemplares de um tipo de construção vernácula portuguesa e que corresponde a tipologias de habitação rural de caracter modesto, em detrimento de novas construções que possam ir contra estes modelos, como por exemplo o caso de casas dos emigrantes.

Valorizam-se, igualmente aqueles que sejam contemporâneos na estrutura do núcleo antigo, mas que não destoem na composição dos seus elementos.

É na sua relação com estes valores que se avaliou a qualidade dos edifícios quanto:

Tabela 8 - Análise dos diferentes componentes de uma edificação de modo a classificar o seu valor arquitetónico( Fonte: Autoria Própria, 2018).

VALOR ARQUITETÓNICO DO EDIFICADO

Monumento Nacional Denuncia o caracter histórico-cultural do edifício no contexto nacional.

Interesse Público Capacidade que o edifício tem de servir no presente e no futuro as necessidades dos seus habitantes.

Qualidade Caracteriza a qualidade relacionando o uso do edifício com a sua tipologia e com a localidade.

Neutro

O edifício é apreciado no sentido de perceber se constitui elementos marcante na paisagem rural, demostrando a sua arquitetura algum interesse na sua integração no conjunto da aldeia, mesmo necessitando de pequenas obras de adaptação ou de reabilitação.

Dissonante

Este fator revela sobretudo elementos ou parte da edificação, discordantes ou em desarmonia com a tipologia e arquitetura tradicional do lugar. Na generalidade este género de construções erigidas há puco tempo apresenta características desajustadas ao contexto da aldeia, nomeadamente os revestimentos exteriores. No resultado, verificou-se uma grande percentagem de edifícios de valor neutro, a existência da maioria dos edifícios de qualidade no núcleo antigo e uma percentagem significativa de edifícios dissonantes (figura 41) o que a aumentar prejudicará a identidade do aglomerado.

Figura 41 - Gráfico e planta síntese do valor arquitetónico do edificado (Fonte: Autoria Própria, 2018). 2% 26% 40% 29% 3%

VALOR ARQUITETÓNICO DO EDIFICADO

Interesse Público Qualidade Neutro Dissonante Ruina Ribeira Edificio Dissonante 0 20 40 60 80 m N Ruina

No documento Uma Aldeia Perdida na Serra (páginas 98-107)

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