• Nenhum resultado encontrado

O ESPAÇO 1 – O Espaço Físico

No documento RESUMO - Os Maias (páginas 31-35)

São múltiplos os espaços físicos referidos em Os Maias e muitos deles são profundamente caracterizados

Lisboa ocupa a centralidade da acção, ganhando uma representatividade superior aos outros locais. Na verdade, é na capital que decorrem os acontecimentos fundamentais das intrigas secundária e principal.

O conhecimento profundo de Eça de Queirós, relativamente à componente geográfico- arquitectónica de Lisboa, possibilita ao leitor reconhecer os traçados das ruas, as fachadas dos edifícios, os monumentos referidos, os hotéis e restaurantes nomeados (grande parte deles ainda existem, como por exemplo, a Havaneza, o Teatro da Trindade, o Tavares, etc.).

Neste espaço central, observamos a movimentação das personagens, sendo Carlos, protagonista da intriga principal, quem nos conduz, ora para a Ruas de S. Francisco de Paula (Ramalhete), ora para a Baixa, para o Chiado, para o Aterro, locais frequentados pela elite da época. Também acedemos frequentemente ao interior de espaços descritos com fino pormenor, não sendo descurado elemento algum, de modo a captar-se a interacção entre o

homem e o ambiente, concretizando uma regra da estética naturalista/realista (o meio influencia o homem, sendo um elemento determinante no seu carácter).

São ainda importantes na obra outros espaços físicos: os arredores de Lisboa (Olivais), Sintra, Santa Olávia, Coimbra bem como a referência a países estrangeiros.

É interessante notar as afinidades dos percursos dos elementos da família Maia. personagem Lisboa Santa

Olávia Inglaterra Itália França/ Paris Coimbra Europa Áustria

Afonso X X X

Pedro X X X X X

Carlos X X X X X X

Maria

Eduarda X X X X

A análise do esquema permite concluir que todos os elementos da família frequentaram Lisboa e outras cidades europeias.

Maria Eduarda nasce em Lisboa, vive na Europa, regressa à capital, por fim, radica-se nos arredores de Orléans. Também Carlos ficará a viver em França (Paris). Os protagonistas da intriga principal não se adaptam à mediocridade e subdesenvolvimento do país.

Por uma análise, leve que seja, concluímos a existência duma grande variedade de espaços com predominância do espaço interior, o que está perfeitamente de acordo com as características da obra. Efectivamente, no romance realista, o cenário tende a funcionar como pano de fundo, fora das personagens, escrito como um universo, súmula de pormenores que permitem reconstituir não só ambientes, mas até retratos físicos das personagens.

Em Os Maias, o espaço exterior abrange a província e a cidade: Santa Olávia, Benfica, Inglaterra, Lisboa, Sintra, Olivais, etc.

ESPAÇOS EXTERIORES

SANTA OLÁVIA • Infância e educação de Carlos

COIMBRA • Estudos de Carlos

• Primeiras aventuras amorosas LISBOA:

• Baixa

• Aterro

• Campo Grande

• Olivais

• Vida social de Carlos

• Local onde passa a intriga principal

• Local privilegiado para a visão crítica da sociedade portuguesa da 2ª metade do século XIX

ESPAÇOS INTERIORES

O RAMALHETE • Salas de convívio e de lazer

• O escritório de Afonso tem «uma severa câmara de prelado»

• O quarto de Carlos tem um ar de «quarto de bailarina»

• O jardim tem um valor simbólico A VILA BALZAC • Reflecte a sensualidade de Ega O CONSULTÓRIO DE CARLOS • Revela o dandismo de Carlos

• A predisposição para a sensualidade

A TOCA • Espaço carregado de simbolismo

• Revela amores ilícitos ETC.

É no espaço interior, porém, que desfila numa série de pormenores requintados de luxo que deixam transparecer o gosto aristocrático, burguês e cosmopolita de Carlos e de quem ele se rodeia, como reflexo de uma época e de um modo de vida:

«… entregou-lhe as quatro paredes do Ramalhete, para ele ali criar, exercendo o seu gosto, um interior confortável, de luxo inteligente e sóbrio…»

«… pôs-lhe o nome de Paço de Celas, por causa de luxos então raros na Academia, um tapete na sala, poltronas de marroquin, panóplias de armas, e um escudeiro de libré…»

»… (consultório) Carlos mobilou-o com luxo. Numa antecâmara, guarnecida de banquets de marroquin, devia estacionar, à francesa, um criado de libré… papel verde de ramagens prateadas, , as plantas em vasos de Ruão, quadros de muita cor, ricas poltronas… até um piano mostrava o seu teclado branco…»

«… um dos maiores cuidados dele, agora, era embelezar a Toca: nunca voltava de Lisboa sem trazer alguma figurinha de Saxe, um marfim, uma faiança…»

2 – O Espaço Social

A ilusão da realidade é conseguida pela arte de individualizar os cenários exteriores, pela identificação toponímica de uma artéria, pelo rigor da numeração de um edifício ou de um andar, pela indicação precisa de um pormenor decorativo ou paisagístico.

O romance realista de carácter objectivo preocupa-se em localizar e caracterizar geograficamente o espaço onde as personagens actuam ou se movimentam. Tal espaço, observado sob uma análise rigorosa e pormenorizada, é determinante (à maneira de Taine – para este escritor a raça, o meio físico e as condições do momento são as determinantes que explicam o comportamento humano).

Para criar no leitor a sensação de autenticidade da sua ficção, Eça utilizou o diálogo natural e descreveu com perícia espaços (cénicos/ naturais, habitacionais e urbanos) onde decorre a acção dos seus romances e onde as personagens se movimentam, relacionado-se intimamente com eles.

Episódios Ambiência Crítica

Hotel Central (cap. VI)

Alta sociedade lisboeta caracterizada por:

• Ociosidade

• Futilidade

• Valorização do estrangeiro

À literatura e à crítica literária: exageros do ultra-romantismo – Alencar; distorção das teses naturalistas – Ega; crítica literária – Ega/ Alencar (Craveiro)

Às finanças: irresponsabilidade e incompetência do director do Bando Nacional – Cohen

À mentalidade retrógrada Corrida de Cavalos

(cap. X)

Alta sociedade lisboeta, caracterizada por:

• Inadequação do espaço

• Feição provinciana

• Falta de motivação

• Contraste entre o ser e o parecer

À imitação do estrangeiro Ao provincianismo

• Inadequação dos comportamentos Jantar em casa do Conde de Gouvarinho (cap. XII)

Alta burguesia e aristocracia, caracterizada por:

• Futilidade

• ociosidade

À mediocridade mental À ignorância

À falta de conhecimento sobre o estrangeiro

À incapacidade de diálogo da camada dirigente do País

Jornal A Tarde (cap. XV)

Director de um jornal/ político/ deputados da província, caracterizados por:

• macrocefalia da capital em relação à província

Ao jornalismo político, parcial e tendencioso

Teatro da Trindade (cap. XVI)

Alta sociedade lisboeta caracterizada por:

• superficialidade

• valores ultra-românticos

• ignorância

Aos comportamentos postiços À permanência dos valores ultra- românticos

Passeio de Carlos e de Ega (cap. XVIII)

Alta sociedade lisboeta, caracterizada por: • subdesenvolvimento • ociosidade • ridículo À estagnação de Portugal À falta de originalidade À incapacidade de evoluir 3 – O Espaço Psicológico

Além do espaço físico de que, exteriormente se salienta Lisboa («Lisboa é Portugal»), devemos referenciar ainda o espaço psicológico, isto é, o espaço dos conflitos e das preocupações íntimas, da imaginação e da memória, das recordações e dos sonhos.

É numa bebedeira e num acesso de idealismo que Ega revela o passado da mãe de Carlos que, nessa noite, «não pudera dormir com a ideia daquela mãe, tão outra do que lhe tinham contado, fugindo nos braços de um desterrado…».

Ao constatar a catástrofe pela morte do avô, Carlos ficara defronte dele «… sem chorar, perdido apenas no espanto daquele brusco fim! Imagens do avô, do avô vivo e forte, cachimbando ao centro do fogão, regando de manhã as roseiras, passavam-lhe na alma, em tropel, deixando-lha cada vez mais dorida e negra…».

É o espaço perspectivado pela subjectividade das personagens, por pensamentos, por sonhos, etc.

• Sonho – «Eram três horas quando se deitou. E apenas adormecera na escuridão dos cortinados de seda, outra vez um belo dia de Inverno morria sem a aragem, banhado de cor-de-rosa: o banal peristilo do hotel alargava-se, claro ainda na tarde; o escudeiro preto voltava, com a cadelinha nos braços, ; uma mulher passava, com um casaco de veludo branco de Génova.» (cap. VI)

• Imaginação - «Agora já ela estava em Lisboa; e imaginava-a nas rendas do seu “peignoir”, com o cabelo enrolado à pressa…» (cap. VIII)

• Memória - «Imagens do avô, do avô vivo e forte, cachimbando ao canto do fogão, regando de manhã as roseiras, passava-lhe na alma em tropel…» (cap. XVIII)

• Reflexão - «Mas, tendo por um dia só dormido com ela, na plena consciência da consanguinidade que os separava, poderia recomeçar a vida tranquilamente? (...)» (cap. XVII).

Constituído pelas zonas da consciência da personagem, manifesta-se em momentos de maior densidade dramática. É sobretudo Carlos que desvenda os meandros da sua consciência, ocupando também Ega lugar de relevo.

CARLOS • Sonho de Carlos, no qual evoca a figura de Maria Eduarda (cap. VI)

• Nova evocação de Maria Eduarda em Sintra (cap. VIII)

• Reflexões de Carlos sobre o parentesco que o liga a Maria Eduarda (cap. XVII)

• Visão do Ramalhete e do avô, após o incesto (cap. XVII)

• Contemplação de Afonso da Maia, morto, no jardim (cap. XVII)

EGA • Reflexões e inquietações após a descoberta da identidade de Maria Eduarda (cap. XVI)

NARRADOR

Quanto à presença, o narrador de Os Maias é heterodiegético; narra os acontecimentos na 3ª pessoa.

A focalização é de dois tipos: omnisciente e interna.

A focalização omnisciente predomina nos primeiros capítulos: renovação do Ramalhete; juventude de Afonso; educação de Pedro; suicídio de Pedro; formação de Carlos em Coimbra.

A partir do capítulo IV, predomina a focalização interna sob o ponto de vista de algumas personagens, como Carlos e Ega, embora surja já no capítulo III sob a visão de Vilaça quando visita Santa Olávia.

A focalização interna ganha particular significado com a visão de Carlos da maia que dá um contributo fundamental na construção das personagens Afonso da Maia, Ega e Maria Eduarda.

Pelos olhos críticos de Carlos são dados a conhecer grande parte dos espaços sociais que a personagem passa a frequentar quando chega a Lisboa.

A focalização interna de Ega ganha particular relevo nos episódios do Jornal A Tarde e no sarau do Teatro da Trindade.

No documento RESUMO - Os Maias (páginas 31-35)

Documentos relacionados