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O Espaço Urbano e o Cotidiano das Famílias

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CAPÍTULO IV:O Espaço Urbano e o Habitat de Moradias do Programa Minha Casa

4.1. O Espaço Urbano e o Cotidiano das Famílias

A cidade é um espaço urbano que pode ser analisado como um conjunto de pontos, linhas e áreas. A sua abordagem pode ser vista a partir da percepção dos seus habitantes como também de seus segmentos, o espaço urbano e suas partes. Outra forma de análise refere-se à espacialidade em suas conexões com a estrutura social, processos e funções urbanas. O espaço urbano, como qualquer outro objeto social, pode ser abordado segundo um paradigma de consenso ou de conflito (CORRÊA, 1995).

A pesquisa teve foco nos processos e nas formas como a cultura do consumo reflete na ocupação do espaço construído por famílias moradoras de habitações de interesse social.Esses aspectos refletem e nos parecem mostrar significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, e do cotidiano de famílias que residem nessas moradias, ou seja, habitação de interesse social.

Em termos gerais, espaço urbano é o conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si. Tais usos definem áreas, como: o centro da cidade, local de concentração de atividades comerciais, de serviço e de gestão; áreas industriais e áreas residenciais, distintas em termos de forma e conteúdo social; áreas de lazer; e, entre outras, aquelas de reserva para futura expansão. Este conjunto de usos da terra é a organização espacial da cidade ou simplesmente o espaço urbano fragmentado. Eis o que é espaço urbano: fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas. É assim a própria sociedade em uma de suas dimensões, aquela mais aparente, materializada nas formas espaciais.

Os agentes sociais que fazem e refazem a cidade produzem o espaço urbano, que segundo e Monteiro (2008) são:

a) Os proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais; b) Os proprietários fundiários;

c) Os promotores imobiliários; d) O Estado;

e) Os grupos sociais excluídos.

Os grandes proprietários industriais e as grandes empresas comerciais são, em razão da dimensão de suas atividades, grandes consumidores de espaço. E

esses necessitam de terrenos amplos e baratos que satisfaçam requisitos locacionais pertinentes às atividades de suas empresas junto a portos, a vias férreas ou em locais de ampla acessibilidade à população. Essas são as estratégias e ações concretas que desempenham o processo de fazer e refazer as cidades.17

Outro fator relevante para esta pesquisa consiste no fato de que, através da apreciação dos projetos arquitetônicos em uso, nos deparamos com os problemas da pós-ocupação dessas famílias no que tange às dimensões desses imóveis com espaços mínimos, o que torna difícil a sua organização devido às dimensões dos móveis e eletrodomésticos existentes no mercado.

Também supomos pouco conhecimento por parte das famílias, o que vem a ser antropometria e ergonomia, envolvendo assim um trabalho árduo, do quem vem a ser a ergonomia do ambiente construído. E falando a esse respeito, essas famílias terão de fazer várias tentativas, no que refere à disposição/arrumação de seus móveis e eletrodomésticos nesses espaços minúsculos, comprometendo muitas vezes o desempenho das atividades cotidianas/domésticas das pessoas que moram naquelas residências.

Além das questões funcionais, as residências contemplam ainda fatores simbólicos, como representação de status, papel social, personalidade e poder. Assim, dependendo de cada época e da configuração da sociedade naquele momento, a residência se organiza e se apresenta de uma forma (TREVISAN et al., 2014, p.43).

Nessa perspectiva, chamamos a atenção para as ideias formuladas e as reflexões sobre o fenômeno urbano, onde destacamos contradições no interior das cidades latino-americanas, ou seja, a realidade urbana brasileira, a partir de 1970, está relacionada aos problemas gerados pelo mercado imobiliário, tais como depredação ambiental, inexistência de infraestrutura, violência, transporte deficiente e os movimentos sociais correlatos a esses temas.

Daí o problema da autoconstrução, por esse processo excluir os custos com a mão de obra na construção da habitação, através da força de trabalho, para a produção da moradia, necessidade básica de qualquer ser humano (KOWARICK, 1993). Sob essa perspectiva o autor supracitado argumenta:

17

Resumo do livro O Espaço Urbano, de Roberto Lobato Corrêa (Editora Ática, Série Princípios, 3ª. edição, n. 174, 1995. p.1-16).

[...] a origem de espoliação urbana e a interpretação aos movimentos sociais no Brasil, as situações de extrema pobreza e a exclusão, ás lutas pela terra, habitação ou bens de consumo coletivo, pois os movimentos sociais urbanos se manifestam de maneira diversa. Dessa maneira a espoliação urbana é o processo de acumulação do capital, e da dinâmica das lutas e reivindicações populares (KOWARICK, 1993).

Ao discutir sobre política habitacional no Brasil, é imperioso ressaltar a luta dos movimentos e entidades por moradia e por conseguirem incorporar ao Sistema Nacional de Habitação - SNH, princípios e reivindicações históricas por meio das diretrizes e programas, definidos para operacionalizar a política habitacional.

Tal conquista é encarada como importante vitória, principalmente no que concerne à implementação de Programas Federais como o Programa de Aceleração do Crescimento - PAC e o Programa Minha Casa Minha Vida – PMCMV, os quais direcionaram recursos aplicados para o atendimento das demandas habitacionais da população da baixa renda18.

O Programa Minha Casa Minha Vida foi criado pelo Governo Federal, em 2009, com objetivo de tornar a moradia acessível às famílias organizadas por meio de cooperativas habitacionais, associações e demais entidades privadas sem fins lucrativos.

Observamos, com isso, um grande crescimento habitacional no Brasil. Mas não basta apenas aumentar a quantidade de habitações, mais a forma como essas habitações vem sendo produzidas e no atendimento aos pressupostos e finalidades.

Nesse sentido, pode-se afirmar que a política habitacional vem atendendo as demandas específicas de famílias de baixa renda, uma vez que mais observamos que realmente vem dando acesso, a partir dessa demanda retirando famílias de áreas de risco e possibilitando assim a uma melhor qualidade de vida. No entanto, nos deparamos com outros problemas sociais constatados durante a pesquisa.

18 REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL – Ministérios das Cidades/Secretaria Nacional de Habitação. Programa Minha Casa Minha Vida. Disponível:

<http://www.sedhab.df.gov.br/mapas_sicad/conferencias/programa_minha_casa_minha_vida.pdf> Acesso: 12/06/2015.

4.2 Caracterização das Moradias Habitacionais da Região Metropolitana do Recife -

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