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3.2 Respirar ou lecionar? As particularidades do quadro docente do curso de

3.2.1. O estágio supervisionado obrigatório e a supervisão

A Política Nacional de Estágio em Serviço Social (2010) que delibera balizas e diretrizes para garantir a integralidade teórico-prática na formação sustenta que, como elemento indissociável do processo de estágio, juntamente com a supervisão de campo, a supervisão acadêmica constitui-se pelo acompanhamento de professor orientador, cujo papel consiste em avaliar o processo de ensino-aprendizado do discente, em diálogo continuo com o(a) supervisor(a) de campo, com vistas a capacitar o(a) discente nas dimensões teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas da profissão.

Em consonância com a referida política, a Resolução CCGSS52 n° 03 /201453 estabelece as atribuições do professor supervisor acadêmico do curso de Serviço Social da UFCG, dentre elas destaca-se:

Supervisionar as atividades desenvolvidas pelos/as estagiários/as na UFCG por meio de encontros sistemáticos, com horários previamente estabelecidos, e no local de desenvolvimento do estágio, quando da realização das visitas sistemáticas aos campos de estágio, contribuindo na efetivação da supervisão direta e de qualidade, juntamente com o/a supervisor/a de campo. (UFCG, 2014, p. 05)

Nesse sentido, considerando a demanda de acompanhamento sistemático do(a) estagiário(a) inserido numa realidade sócio institucional, o cotidiano da supervisão acadêmica na curso de Serviço Social da UFCG tem encontrado diversos desafios. A começar pela divisão do número de estagiário e quais políticas incumbe a cada docente o acompanhamento, visto que o número de discentes matriculados por semestre é significativo, a última matrícula 40 alunos. A distribuição atual da atividade de supervisão acadêmica demonstra que nem todos os docentes realizam tal atividade, no momento 5 (cinco) docentes supervisionam e três deles acompanham alunos em políticas diferentes.

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Coordenação de Curso de Graduação em Serviço Social.

53 “Regulamenta o Estágio Supervisionado, do Curso de Graduação em Serviço Social, na modalidade Bacharelado, do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais, do Campus de Sousa, desta Universidade, e dá outras providências”. (UFCG, 2014, p.01)

A média de aluno estagiário por supervisor(a) acadêmico está entre 7 e 9 estagiários, superior a média apontada na Oficina da ABEPSS Itinerante54 , que foi entre 4 a 6 alunos por docente nas IE´s públicas paraibanas. Ainda não temos documentos na área do Serviço Social que regulamentem um parâmetro deestagiários por supervisor acadêmico, que indica uma lacuna na nossa legislação profissional, que, a meu ver, precisa ser debatida e enfrentada pela organização política da categoria profissional, pois, essa imprecisão fragiliza e corrobora com a manutenção do quadro de precarização do trabalho docente, que impacta na qualidade da supervisão acadêmica e no acompanhamento do (a) aluno(a) estagiário. Nessa perspectiva, Ortiz (2014, p. 213) reitera que:

A sobrecarga de trabalho para ambos os supervisores impactam sobre a qualidade do processo de supervisão, [...] e à capacitação permanente em si. [...] Esse dado incide também diretamente sobre o resultado final da supervisão e põe em xeque a indissociabilidade entre a supervisão de campo e a acadêmica.

No que se refere à quantidade de horas destinadas a supervisão acadêmica, alguns docentes afirmaram destinar 3 (três) horas semanais ou mais para a efetivação da processualidade da supervisão acadêmica em consonância com a Política Nacional de Estágio (2010) que sustenta a carga horaria mínima de 03 horas/aula semanais.

Majoritariamente, os campos de estágio têm se concentrado nas políticas de Assistência Estudantil, inclusive com maior número de estagiários, seguida da política de Assistência Social e de Saúde.

As Instituições apresentadas pelos docentes, como campo de estágio são a UFCG (10 estagiários/as), os Centros de Atenção Psicossocial (CAP´s) (8 estagiários/as) e o Instituto Federal da Paraíba (IFPB) ( 4 estagiários/as) que incorporam o maior número de estagiários (as). Existem também outros campos como o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) de Sousa e também de outros municípios paraibanos, como Santa Cruz e Marizópolis, os quais aglutinam 6 estagiário; CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) (3

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Oficina realizada entre os dia 04 e 05 de Setembro de 2014 na UEPB que teve enfoque o debate “[...] debate dos “nós críticos” do estágio junto às UFAs paraibanas e à construção de estratégias coletivas para a implementação da Política Nacional de Estágio (PNE)[...]” (ABEPSS, 2014, p.02)

estagiários/as), na Vigilância Sócio Assistencial (3 estagiários/as)e a Assessoria a Assentamentos (1estagiário/a).

Desse modo, percebe-se que a pulverização dos campos de estágios, e o elevado quantitativo da relação supervisor acadêmico e estagiário tem sido um traço predominante na realidade do curso de Serviço Social da UFCG. Está realidade adensa a sobrecarga do docente, que muitas vezes fica impossibilitado de acompanhar a totalidade dos campos de estágio. É importante destacar que o processo de supervisão acadêmica não termina quando se encerram nas 3 horas/aulas semanais, mas, dada a natureza do estágio e da indissociabilidade entre supervisão acadêmica e campo, demanda-se tarefas extraclasses, como participar de fóruns de estágio, visitas institucionais, cursos de capacitação, entre outros (PNE, 2010)

[...] do ponto de vista didático-pedagógico, a pulverização das vagas ocasiona também dificuldades quanto ao acompanhamento por parte do docente supervisor acadêmico em face dos inúmeros campos de estágio, multiplicando a quantidade de visitas institucionais, contatos, reuniões etc. (ORTIZ, 2014, p. 215).

E, de fato, as condições objetivas e subjetivas de trabalho conduzem o quadro docente para condição de sobrecarga e precarização. A precarização das condições objetivas do trabalho docente como produto das determinantes da política macroeconômica tecida para a educação superior no Brasil tem desafiado a materialização da transversalidade do ensino teórico-prático na sua integralidade, da qual a sobrecarga do trabalho docente tem feito parte.

Tecidas tais considerações acerca do perfil docente, seus encargos e as condições de trabalho que tem se configurado um óbice ao fortalecimento do ensino teórico-prático, buscamos analisar como a transversalidade do ensino teórico prático tem sido impressa na proposta pedagógica do curso de Serviço Social da UFCG, tema que será abordado a seguir.

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