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O estado de arte da aplicação de compostagem a resíduos avícolas

Capítulo 3. Compostagem

3.3. O estado de arte da aplicação de compostagem a resíduos avícolas

completamente nova pelo que alguns estudos e trabalhos foram já desenvolvidos no sentido de avaliar a aplicabilidade deste método ao tratamento de resíduos avícolas ou estudar as vantagens do uso destes mesmos resíduos em situações de co-compostagem5.

Com o objetivo de avaliar a eficiência da compostagem enquanto método de tratamento deste tipo de resíduos Júnior et al. (2010) conduziram um estudo que incorporou cama de aviário e carcaças de aves. Aqui a ser analisado paralelamente, dadas as semelhanças entre ambos os

5 Co-compostagem é definida como a compostagem de uma mistura de dois ou mais tipos de resíduos,

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estudos, o trabalho conduzido por Sunada et al. (2015) utiliza resíduo proveniente de centros de abate tais como vísceras, tecido muscular, adiposo e ósseo, sangue e penas combinados com casca de arroz como fonte de carbono. Ambos os trabalhos de compostagem são realizados em pilha revirada ou windrow, sistema onde se realizam revolvimentos mecânicos periódicos, no entanto nos dois trabalhos foi realizada uma primeira fase designada de pré-compostagem concretizada em compostor de alvenaria e betão, sem qualquer revolvimento. As razões apontadas para este procedimento são a necessidade de uma decomposição prévia, as características físicas do próprio material que dificultam o manuseamento e a elevada presença de microrganismos patogénicos (Sunada et al., 2015). Na segunda fase, a compostagem propriamente dita foi então realizada em pilha, com revolvimentos semanais. Uma das conclusões mais importantes retiradas destes trabalhos é a grande capacidade destes resíduos sofrerem um auto-aquecimento e conseguirem atingir temperaturas relativamente altas, o que proporciona boas condições de higienização do material. Tal é comprovado pela total eliminação de organismos patogénicos conseguida nestes estudos resultado das temperaturas elevadas que foram registadas, sobretudo na fase de pré- compostagem, e que se mantiveram altas durante um considerável período de tempo. Mais semelhanças destes dois estudos residem na grande redução de sólidos totais conseguida e no aumento da concentração de nutrientes, sendo a última justificada, em ambos os casos, pela redução de massa e consequente concentração destes elementos e não necessariamente um ganho do processo. Apesar de se concluir que o processo de compostagem é um método eficaz na estabilização, redução de volume e higienização de resíduos avícolas, os dois trabalhos demonstraram também que se verificam perdas acentuadas de azoto ao longo do processo.

Não são só os resíduos mais comuns como a cama de aviário ou os desperdícios do abate das aves que podem ser sujeitos a compostagem. Um resíduo que pode ser visto como não sendo um resíduo direto das atividades avícolas é a lama residual industrial que é produzida no tratamento dos efluentes gerados no processo de abate e também esta pode ser utilizada no processo de compostagem junto com outros resíduos do mesmo setor.

Marcinkowki (2010) conduziu um estudo sobre compostagem que incluiu excrementos de frango e ganso, desperdícios de vísceras de ganso resultante do abate, penas e lama residual resultante do tratamento de águas de centros de abate e unidades de processamento de aves. No estudo em questão o processo decorreu em pilha, no entanto em pilha estática, havendo apenas dois momentos de revolvimento ao longo de todo o tempo de operação. De forma análoga ao que se verificou para os trabalhos já referidos, verificam-se perdas apreciáveis de azoto e os substratos conseguem atingir temperaturas consideráveis garantindo assim a eliminação de organismos patogénicos.

Embora se constate, pelos trabalhos analisados, que a compostagem de misturas compostas apenas por resíduos produzidos no setor avícola funciona em termos de estabilização dos mesmos, as características de alguns destes resíduos fazem com que haja também um interesse na sua utilização em situações de co-compostagem. Materiais como a cama de aviário, que são uma fonte de azoto e existem geralmente em abundância, são muitas vezes escolhidos para processos de compostagem com outro tipo de resíduos.

O estudo realizado por Lhadi et al. (2006) fez utilização de estrume avícola e da fração orgânica de resíduos sólidos urbanos em contexto de co-compostagem. Ao contrário dos estudos já

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mencionados, este decorreu em reator à escala laboratorial com arejamento forçado mas sem imposição de temperatura. As misturas utilizadas variaram em termos de fração de cada um dos resíduos e granulometria, isto é, foram efetuadas misturas com as mesmas frações de ambos os resíduos mas que previamente ao processo de compostagem sofreram moagem. Em ambas as situações, com e sem moagem, os vários substratos atingiram temperaturas consideráveis sendo que os picos registados foram superiores (cerca de 60ᵒC) para os substratos que sofreram moagem prévia. Esta situação permite perceber que uma granulometria da mistura mais baixa pode ser benéfica para uma degradação mais eficaz.

Igualmente em contexto de co-compostagem Thomas et al. (2013) estudaram a viabilidade da utilização de uma mistura de estrume avícola com turfa de côco, isto é os desperdícios resultantes da extração da fibra de côco, com o processo compostagem a decorrer em pilha. De forma análoga aos estudos supracitados verifica-se um incremento considerável da temperatura. Especificamente no estudo realizado por Thomas et al. (2013), foi verificado que a adição de cama resulta em picos maiores de temperatura o que vem comprovar a capacidade de auto- aquecimento encontrada regularmente para os substratos constituídos por este tipo de resíduos. Porém são constatadas novamente perdas consideráveis de azoto sendo uma situação preocupante dado que representa a perda de um nutriente importante para a produção agrícola. Ainda os mesmos autores concluíram que a utilização de estrume, assim como a adição de cal, produzem nesta situação compostos de melhor qualidade, avaliada em termos de parâmetros de crescimento.

A revisão bibliográfica referente à utilização de resíduos produzidos pelo setor avícola em processos de compostagem permite ainda verificar que os substratos, de uma forma global, degradam de forma eficaz conseguindo-se atingir temperaturas elevadas de operação e que são numa grande parte das situações adequadas à pasteurização do material e eliminação de microrganismos patogénicos. As perdas de azoto podem ser uma situação problemática difícil de contornar uma vez que o substrato atinge naturalmente temperaturas elevadas mas que são necessárias à correta estabilização dos materiais, podendo ainda assim haver outros fatores influenciadores destas perdas. Com base nos estudos analisados constata-se ainda que o tempo necessário à estabilização destes resíduos, sobretudo quando sujeitos a condições ambientais naturais, pode ser bastante longo rondando os quatro meses.