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O Estado Democrático de Direito e os direitos e garantias fundamentais

2.3. Governança do Estado

2.3.2. O Estado Democrático de Direito e os direitos e garantias fundamentais

O Estado é uma sociedade politicamente organizada, que é constituída por ordem coercitiva, denominada de Direito. Segundo Matias-Pereira (2010, p. 157), o Estado de Direito é:

(...) uma relativa ordem jurídica centralizada, da qual a administração e a jurisprudência seguem por meio de leis, isto é, um conjunto de normas gerais,

a qual se forma por um parlamento eleito pelo voto popular e encontra na cúpula do governo o Chefe de Estado; os membros do governo são responsáveis pelos seus atos, os tribunais são independentes e são garantidos os direitos de liberdade dos cidadãos, em especial o de pensamento e consciência e da liberdade de expressão.

O Estado Democrático de Direito diferencia-se do Estado de Direito descrito acima pela necessidade de legitimação e controle do poder do Estado. Assim, o Estado Democrático de Direito é conformado por uma Constituição juridicamente constitutiva das estruturas básicas de justiça e pressupõe um modelo de legitimação reconduzível à “legitimação democrática” (CANOTILHO, 1993).

O Estado Democrático de Direito tem o dever de proteger os direitos fundamentais, políticos, sociais e econômicos da sociedade. Em outras, palavras, a constituição do mesmo visa o bem-estar social, que se efetiva mediante o atendimento das demandas da população, como saúde, educação, segurança, moradia, etc.

Segundo Musgrave (1974), o Estado possui três funções básicas: alocação de recursos, distribuição de renda; e estabilização. As demandas da população mencionadas antes nada mais são do que função da alocação de recursos. No Brasil, pensando em termos de competência relativas às funções do Estado, o governo federal tem responsabilidade para com todas as três funções, enquanto que os governos estaduais e municipais trabalham basicamente com a alocação de recursos e distribuição de renda (SLOMSKI, 1999). Daí provém a ideia do presente trabalho em utilizar indicadores relativos a essas funções como parâmetros de mensuração do nível de governança dos estados brasileiros.

A função de alocação consiste na provisão das necessidades públicas, entendidas como “as que não podem ser satisfeitas pelo mecanismo de mercado, porque sua fruição não pode sujeitar-se a pagamentos de preço” (MUSGRAVE, 1974, p. 30) Segundo a teoria do bem-estar social, nas economias capitalistas são os mercados competitivos que geram a alocação de recursos. Entretanto, nesse processo existem distorções, denominadas de “falhas de mercado”, que impedem a alocação eficiente dos recursos. Tais distorções podem desestimular, ou mesmo inibir, a alocação de recursos, pela iniciativa privada, para determinadas necessidades da população. A partir disso surge a ideia de bens públicos.

Os chamados bens públicos possuem duas características que os definem: o seu consumo é não-rival; e há o princípio de não exclusão. A não rivalidade vem do fato de que o consumo de um bem público por um indivíduo não prejudica o consumo dos demais, pois todos se beneficiam da sua oferta. Ou seja, ao se produzir bens públicos, todos são beneficiados, independente de quem paga a conta. O princípio da não- exclusão versa sobre a quase impossibilidade de impedir um indivíduo usufruir de um bem público e também de avaliar o quantum de benefício do usufruto do bem por cada um. São exemplos de bens públicos: a iluminação pública; a infra-estrutura urbana (ruas, praças, etc); a segurança pública; a justiça; etc.

Adicionalmente, existem outros tipos de bens, chamados de bens meritórios ou semi-públicos, normalmente definido como algo entre os bens públicos e os de mercado. São bens que, apesar não possuem as características dos bens públicos de não- rivalidade e não-exclusão descritos anteriormente, não há incentivo ao setor privado para prover uma quantidade mínima desejada, podendo até optar por não ofertar. Assim, o setor público pode se encarregar de ofertar, total ou parcialmente, em decorrência dos benefícios sociais e das externalidades positivas geradas. Saúde e educação são bons exemplos de bens meritórios.

As necessidades públicas definidas por Musgrave podem diferenciadas entre necessidade sociais e meritórias, e são providas, respectivamente, por bens públicos e bens meritórios descritos acima. Segundo Slomski (1999), o Estado foi criado inicialmente para atender as necessidades sociais. Com o passar do tempo, por deficiências ou desinteresse da iniciativa privada, também passou a atender certas necessidades meritórias. O (Quadro 2.1) apresenta exemplos de necessidades públicas sociais e meritórias.

Quadro 2.1: Exemplos de Necessidades Públicas

NECESSIDADES

PÚBLICAS SOCIAIS

Campanha sanitária que eleve o nível geral de saúde;

Despesas com sistema judiciário; que garante a segurança interna e impõe o cumprimento de obrigações contratuais; Proteção contra a agressão estrangeira;

Proteção dos direitos legais de propriedade;

Projeto de controle de enchentes.

MERITÓRIAS

Merenda escolar;

Subsídio para casas de baixo custo; Educação gratuita;

Distribuição de livros e material didático; Subsídios à cesta básica de alimentos; Atendimento de saúde gratuito.

Fonte: Slomski (1999)

Outra função que também é de responsabilidade dos estados e municípios é a de distribuição de renda. Programas de renda mínima, bolsa escola, auxílio desemprego, subvenção ou auxílio na construção de residências populares são clássicos exemplos de políticas de distribuição de renda.

Foi dito antes, no que concernem às necessidades públicas meritórias o Estado opta por prover bens meritórios com o intuito de gerar bem-estar social. Entretanto, ao observarmos a Constituição Federal veremos que não é uma questão de opção, mas obrigatoriedade, dado que muitos dos bens ditos meritórios são Direitos Sociais garantidos. Segundo o artigo 60 da Carta Constitucional, “são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.” A escolha de muitos dos indicadores utilizados na construção do índice de Governança dos Estados Brasileiros foram amparados, em parte, na garantia desses referidos direitos sociais.

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