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Como a literatura que trata da chamada era Vargas já consagrou, o Estado Novo (1937-45) tem uma marca fundamental: a ambiguidade. [...] são apenas oito anos – que demarcou a instalação de um modelo de Estado autoritário, muito centralizado politicamente, e cujas margens de intervencionismo sobre a sociedade se ampliaram de forma até então inusitadas no país [...] (GOMES,

2007, p. 45).

Thomas Skidmore (1969), interessado em compreender a estrutura burocrática do Estado brasileiro à época do Golpe Militar de 1964, verificou que a modernização do Estado teve início com a Revolução de 1930. Para o autor, Getúlio Vargas promoveu um conjunto de ações visando à centralização administrativa, tendo como foco a industrialização e urbanização, princípios fundamentais para a construção de uma sociedade considerada moderna.

Para pôr em prática seu projeto político, Getúlio Vargas teve amplo apoio de diversos setores da sociedade brasileira, como de políticos, militares, intelectuais e da Igreja Católica. Nesse empreendimento de construção de um Estado às avessas do estado mínimo da política liberal, era necessário um projeto de Estado e de Nação, que envolvesse o povo no trabalho rumo ao progresso e à civilização.

Boris Fausto (2006), no livro Getúlio Vargas: o Poder e o Sorriso, argumentou que os princípios positivistas em voga no estado do Rio Grande do Sul, defendiam a transformação do Brasil, mesmo que fosse necessário uma intervenção autoritária no Estado, a fim de promover a modernização e a formação do povo brasileiro, que viabilizasse a construção e o progresso desse Brasil idealizado.

Nesse cenário, além das reformas administrativas, o governo de Getúlio Vargas empreendeu ações que objetivavam a construção de uma identidade que estivesse atinente aos princípios deste novo Estado em construção. Ângela de Castro Gomes, no texto Cultura Política

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e Cultura Histórica no Estado Novo, estudou a política cultural e as suas implicações para a constituição de uma cultura histórica entre 1937 e 1945. Argumentando que:

A construção de uma cultura política e de uma cultura histórica, por conseguinte, vincula-se fortemente à implementação de políticas públicas, em particular sob regimes autoritários, que investem de maneira consciente e eficiente na busca de sua legitimidade, mobilizando valores, crenças e tradições da sociedade, com destaque para os que se referem a uma herança e passado comuns.[...] em que a leitura do passado ganha espaço privilegiado; onde o que se está chamando de cultura histórica é dimensão constitutiva e também estratégica da cultura política (GOMES, 2007, p. 49).

Tendo como fonte documental os artigos publicados na revista mensal Cultura Política dirigida por Almir de Andrade, publicada entre 1941 e 1945 pelo Departamento de Imprensa e Propaganda, Gomes constatou algumas características centrais nos textos produzidos com o objetivo de descrever identidade da nação: a necessidade de construção de consciência nacional que serviria de lastro para a manutenção dos vínculos entre os brasileiros, fundamentando a unidade e a homogeneidade cultural da nação; a revalorização do passado nacional, rediscutindo a formação do povo brasileiro, a colonização, e o tipo ideal de brasileiro; por fim, a percepção do fundamento cristão e humanístico da identidade nacional.

Nesse sentido, o Estado empreendeu uma releitura do passado, valorizando-o positivamente e trabalhou para a sua divulgação a um amplo espectro da sociedade por meio de eventos que pudessem dialogar com o passado e deixar evidente à interpretação do Estado, estabelecendo um calendário de comemorações cívicas. A escola, congressos, eventos cívicos, imprensa, contribuíram para a divulgação desses valores, para as gerações em formação e para a sociedade brasileira.

Diante disso, no governo de Getúlio Vargas ocorreu uma trama complexa de ações envolvendo a transformação do Estado e a construção de uma cultura política voltada para a defesa da identidade nacional. Em relação às ações de fortalecimento do Estado, podemos

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destacar as esferas econômicas, políticas, sociais; enquanto para a construção da identidade nacional o foco central esteve na política cultural e na educação.

Alcir Lenharo (1986) em seu estudo clássico sobre a política cultural do Estado Novo intitulado “Sacralização da Política”, aborda o processo no qual o poder do Estado foi mobilizado para a construção de uma determinada memória, valorizando uma identidade específica, em que estivesse de acordo com o Estado autoritário implantado a partir de 1937, essa argumentação de Lenharo contribui para a compreensão da dinâmica em que Joaquim Silva elaborou a sua obra didática.

Segundo o autor, o Estado Novo assumiu a postura de que era o único sujeito histórico capaz de fazer as reformas econômicas e sociais em que a sociedade brasileira ansiava. Devido ao processo de industrialização e urbanização, e a imigração de grupos étnicos de algumas regiões do mundo, sobretudo da Europa, o Estado qualificou o ideal de trabalho e trabalhador, objetivando “[...] o forjamento do trabalhador despolitizado e produtivo” (LENHARO, 1986, p. 15).

Em relação aos princípios políticos e culturais dos grupos sociais no Brasil, somente as elites políticas regionais possuíam claramente uma ideologia, ainda que em detrimento de uma consciência nacional. A classe operária e a classe média urbana, em construção, não possuíam princípios ideológicos claros e seguros que viabilizassem a construção de um projeto político. Assim sendo, o Estado Novo, incumbiu-se da missão de nacionalizar a cultura política das elites regionais, e criar uma cultura política voltada para os operários e para a classe média, havia o interesse em construir um ideal cultural e político para os diversos segmentos do povo brasileiro.

Para a realização desse objetivo, o Estado Novo procurou transformar a ideia de luta de classes, pois viabilizava as disputas sociais, para a concepção de colaboração entre grupos

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sociais, estabelecendo a noção de solidariedade entre os diversos segmentos da população brasileira.

Segundo Lenharo, o poder do Estado elaborou a concepção de Nação como um conceito acabado, tendo em vista a colaboração entre os vários grupos sociais dispersos no território nacional, a Nação supera as desigualdades e disparidades do país. Para a divulgação dessa representação, o Estado montou um sistema burocrático responsável pela propaganda, uma máquina voltada para a dominação da cultura, possibilitando a transmissão de um ideal de identidade, por meio de comemorações cívicas, publicações, e principalmente pelo rádio. O rádio serviu para divulgar uma educação cívica e as ações do Estado. O rádio estabeleceu a ligação entre o homem e a Nação, edificando e fortalecendo a união nacional.

A família foi o centro da propagando política do Estado, sendo considerada o seu microcosmo. O chefe do Estado era a consequência natural da representação do chefe da família, assim como a autoridade paterna não deveria ser questionada, a figura do chefe da nação deveria estar acima de todos os poderes. A religião católica era considerada o fundamento da família e o culto a Pátria era o fundamento do Estado e da identidade nacional, a religião católica tinha como templo a igreja, e a Pátria tinha como templo a escola (LENHARO, 1986).

No Estado Novo, a família idealizada foi a classe média e a figura de Getúlio Vargas era o símbolo a ser divulgado nas escolas. Para a construção da Nação, Getúlio Vargas inseriu na burocracia administrativa os intelectuais que eram favoráveis à modernização do Brasil via um Estado autoritário, esses intelectuais construíram o corpo ideológico do Estado ao mesmo tempo em que combatiam as ideias contrárias aos postulados do Estado.

O Estado Novo, para a consecução do objetivo de reconstrução de Nação, procurou impedir a participação ativa das massas no cenário político, sobretudo a partir da ideologia da

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classe operária, e incentivou a sua atuação nos movimentos cívicos. No interior desse cenário, a política cultural do Estado Novo construiu uma relação afetiva entre Getúlio Vargas e os seus súditos, os súditos eram os depositários do amor de Getúlio Vargas, que em contrapartida deveriam se sacrificar em prol desse amor do soberano, deixando de lado as suas pretensões de classe a favor do desenvolvimento da comunidade estatal.12

Para Lenharo, o Estado Novo colocou na pauta política a ideia da Nação em marcha para o desenvolvimento do Brasil, com base em dois processos: a industrialização e urbanização, e o processo de colonização/povoamento do interior do país. Em relação à colonização do interior, foi necessário fundamentar as características da identidade nacional, constituindo o par identidade/alteridade, o brasileiro idealizado e a imagem do inimigo da nação.

O processo de imigração pautado no conceito de embranquecimento da raça brasileira, provocou um efeito inesperado e inusitado para a interpretação do Estado Novo, pois quando esses grupos se instalaram no Brasil, eles procuraram manter as tradições de sua terra natal, em muitos casos não aceitando a cultura brasileira e construindo sociedades autônomas no interior do país, sobretudo na região Sul. No processo de colonização e povoamento do interior, o Estado Novo adotou a política para nacionalizar os núcleos de imigrantes que preservavam integralmente os princípios culturais de sua origem, Alcir Lenharo destacou a construção idealizada do par identidade/alteridade da Nação brasileira, o “inimigo” é o estrangeiro em território nacional que não tem interesse em se abrasileirar.

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De acordo com Lenharo, “[...] A política, assinala Roberto Romano, passa a ser entendida por Novalis como ato amoroso a envolver, reciprocamente, súditos e governantes, ficando subtraídos os traços agressivos das relações de poder. Aos súditos, depositários do “amor” do governante, cabia se alegrar no “desejo de limitar suas pretensões e sacrificar-se pelo amor deste grande e belo indivíduo”, a comunidade estatal [...]” (1986, p. 55).

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Segundo Schwartzman, o projeto do Estado Novo para a reconstrução da Nação teve dois aspectos fundamentais: o ideológico e o repressor. Do ponto de vista ideológico, foi construído simbolicamente os fundamentos da Nação, e do repressor, foi adotada uma política agressiva de exclusão e inserção das comunidades estrangeiras no Brasil que mantinham quase que inalterada a cultura de sua terra de origem. “[...] Parecia impossível construir uma nacionalidade com a simultânea convivência de diferenças culturais. Construir o nacionalismo era, ao mesmo tempo, destruir as diferenças e proceder a uma seleção na formação da cidadania brasileira [...]” (SCHWARTZMAN, 2000, p. 165). Assim sendo, o Estado proibiu a importação de livros didáticos, escolas foram fechadas, e o ensino no Brasil somente poderia ser ministrado em português. No sentido ideológico, o sistema de ensino cumpriu um papel fundamental de divulgação dos princípios valorizados pelo Estado.

Ao definir o inimigo da Nação, não necessariamente construía a representação do brasileiro, assim era fundamental responder a indagação de quem era o brasileiro? Como desdobramento dessa questão, mas com uma tensão entre o presente e o passado nos anos 1930, havia a preocupação de qualificar quem era o povo brasileiro, como foi a sua formação, e definir o seu caráter fundamental.

Para Lenharo, a figura heroica dos bandeirantes foi compreendida como o modelo ideal de brasileiro, da Nação, e do Estado, pois, o bandeirante simbolicamente representava a ideia de expansão e consolidação do território, de ímpeto transformador e da conquista de riqueza e do progresso, uma estrutura administrativa pautada na mistura étnica e na hierarquização.

Nesta democratização pela mestiçagem, três traços psicológicos formam a trama moral de cada bandeira: comando, obediência e movimento. O índio contribui com o seu alto grau de adaptação e mobilidade no meio natural; o negro com a abundância de sentimento, calor humano e experiência sedentária nas lavras e na agricultura; o português com o seu espírito de aventura, capacidade de organização e comando (LENHARO, 1986, p. 62).

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Neste aspecto, podemos inferir que o Estado Novo optou por uma interpretação sobre a formação e o povo brasileiro, valorizando positivamente a figura do português, pois a partir da relação entre os elementos étnicos: índio, branco, e o negro, elaboraram uma cultura com características próprias, o brasileiro, tendo como base a miscigenação, as diferenças no seio de seu povo em um vasto território, que, no entanto, viviam organicamente sobre a tutela do Estado. Apresentamos a dinâmica da política cultural empreendida pelo Estado Novo a fim de reconstruir a Nação; passamos, então, a dialogar sobre o cenário intelectual desse período, os debates que tiveram como enfoque o caráter do Brasil, pois é o corpus documental que Joaquim Silva utilizou para construir suas interpretações sobre a História do Brasil. Assim, apresentaremos as análises e conclusões de pesquisas que tratam dessa temática com recorte temporal que varia do final do século XIX e as primeiras décadas do século XX, o período de formação profissional e intelectual de Joaquim Silva.

O primeiro trabalho que destacamos é a dissertação de mestrado de Márcia Regina Capelari Naxara (1998), intitulada “Estrangeiro em sua própria Terra: Representações do Brasileiro 1870/1920”, em que discute a construção de representações culturais, por meio da história e da literatura, sobre a formação do povo brasileiro, tendo como indagações: quem é o povo brasileiro? Quais são as suas características culturais? De que maneira essas características contribuem para a construção e desenvolvimento do Estado brasileiro?

O segundo trabalho é o livro de Noé Freire Sandes (2000), intitulado “A Invenção da Nação entre a Monarquia e a República”, adotou o eixo de discussão da construção simbólica da Nação, tendo como recorte analítico a maneira como os eventos históricos foram interpretados pelos historiadores e pela sociedade, por meio de intelectuais, políticos, artistas, que possibilitaram a construção de uma memória que fundamenta a organização social, cultural,

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política do Estado brasileiro. Ainda, ele compreendeu que o marco fundador do Estado e da Nação brasileira é o processo de Independência, reinterpretado pela Monarquia e pela República. Por fim, o terceiro trabalho que destacamos é a publicação da professora Maria Stella Martins Bresciani (2007), “O Charme da Ciência e a Sedução da Objetividade: Oliveira Vianna entre Intérpretes do Brasil” que trata do debate intelectual sobre o caráter da nação brasileira em torno dos anos 30 do século XX, apresentando os dilemas em que os intelectuais brasileiros se defrontaram no período, e a maneira como eles construíram suas interpretações sobre a formação do povo brasileiro, do Estado e da sua alma.

Joaquim Silva não pretendia produzir uma interpretação que se colocasse no mesmo patamar que a dos intelectuais de renome da época, como Capistrano de Abreu, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Oliveira Vianna; os seus textos didáticos possuem várias notas de rodapé com as indicações desses autores, a sua obra para o público escolar está envolvida nessas discussões sobre o caráter do povo brasileiro, da construção do Estado e da Nação.

O foco central do trabalho da historiadora Márcia Regina Capelari Naxara foi à representação de identidades sobre o brasileiro e a sua relação com a organização política e social. Do ponto de vista político, nesse período é o momento de construção de ideais sobre a sociedade, em que havia a perspectiva evolucionista, ou seja, as sociedades mais ricas eram consideradas as mais desenvolvidas. Ao olhar para a situação do Brasil, era nítido o descompasso entre a sociedade europeia e a brasileira, em que predominava uma sociedade rural e agrária, e com baixo índice de escolaridade. Diante desse cenário, compreendia-se que o Brasil era um país atrasado.

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A passagem do século XIX para o XX constitui um momento privilegiado para o estudo do imaginário sobre a população brasileira, por ser um período em que apareceram diversas tentativas de compreensão globalizadoras da sua cultura e da sua história, no âmbito mais amplo da cultura ocidental. “O fio condutor dessas análises pautou-se por uma concepção evolucionista da história, tendo o progresso como ideia central e uma angústia quanto à possibilidade da sua realização num país visto como ‘atrasado’ em relação ao mundo ‘civilizado’.” (NAXARA, 1998, p. 17-18).

Diante desse cenário, o brasileiro foi tido como um estrangeiro em sua própria terra, pois a partir da sua formação por meio da mestiçagem, produziu um ser humano incapaz de dominar a natureza e enriquecer o seu país.

[...]o momento da lenta e contraditória gestação das representações que levariam à cristalização de uma imagem instituidora do brasileiro enquanto desqualificado, indolente, vadio, que permaneceu como uma pecha ou mito, generalizando-se e abrangendo, de certa forma, o povo brasileiro, dando-lhe como características básicas a preguiça, o conformismo, e a ideia da inadequação à civilização em marcha (NAXARA, 1998, p. 19).

Os textos científicos e literários compreendiam que o povo brasileiro não era capaz de construir uma sociedade civilizada. Diante disso, o Estado brasileiro deveria elaborar estratégias políticas a fim de superar a inferioridade do povo brasileiro e construir um país desenvolvido. Tal circunstância serviu de arcabouço argumentativo para defender a imigração, ao mesmo tempo em que produziu outra representação, o imigrante foi considerado o elemento crucial para o desenvolvimento do Brasil, reafirmando mais uma vez a inferioridade do brasileiro.

A importação de imigrantes europeus tornou-se pauta importante nas discussões a partir da construção mítica de um determinado trabalhador imigrante – o trabalhador ideal – aquele que reunia em si, enquanto agente coletivo, de forma acabada, todas as qualidades do bom trabalhador – sóbrio e morigerado. Elemento capaz de, por si só, promover a recuperação da decadente raça brasileira nos mais diversos aspectos: sangue novo, raça superior (branca), civilizado, disciplinado, trabalhador, poupador, ambicioso ... No extremo oposto

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desse imaginário, como contrapartida, estava o brasileiro – vadio, indisciplinado, mestiço, racialmente inferior. Foi, portanto, da depreciação do brasileiro como tipo social que emergiu a valorização do imigrante (NAXARA, 1998, p. 63).

Naxara argumentou que essa representação sobre o brasileiro perdurou por um longo período na sociedade, sendo formulada no século XIX, ancorada em concepções liberais, positivistas e pelo darwinismo social, que fundamentaram a construção de um racismo científico, argumentando que há sociedades e povos que são considerados mais desenvolvidos do que outros, e que, portanto, merecem mais riquezas e dominar outras sociedades. Essa concepção foi abalada no decorrer da Segunda Guerra Mundial, pois esses argumentos serviram como justificativa para o massacre de milhões de pessoas.

Assim sendo, a obra didática de Joaquim Silva tinha que dialogar com os debates sobre a formação do povo brasileiro, por um lado, o brasileiro, o elemento mestiço por natureza, era considerado incapaz de desenvolver o Brasil, ao mesmo tempo, em que era considerado um grupo inferior em relação ao europeu; por outro, o Estado Novo empreendia a construção de uma ideologia de valorização do povo brasileiro e da cultura nacional. Diante desse cenário, Joaquim Silva teve que fazer escolhas interpretativas para explicar para os alunos do ensino secundário o processo de formação do brasileiro e as suas principais características sociais e culturais.

Noé Freire Sandes (2000) justificou o seu trabalho, afirmando a importância da Independência Política do Brasil para a construção da identidade brasileira, pois é considerado o momento em que começou o Estado e a construção da Nação brasileira. A sua preocupação analítica não é com o evento em si, mas com as interpretações construídas socialmente sobre o tema, argumentou que há uma cronologia dividida em três períodos diferentes das representações sobre a Independência do Brasil: entre 1848 e 1889 foi o momento de fundação e consolidação da memória da independência de acordo com os fundamentos monárquicos, tendo como principal

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elemento construtor dessa narrativa o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; a geração de 1860 que questionava as interpretações da monarquia; e, o período entre 1922 e 1925, a comemoração do centenário da independência, a refundação da memória nacional no centro da consolidação da república.

A sociedade brasileira do século XIX, por meio da elite intelectual e política construiu uma identidade nacional para o Brasil, tendo como foco principal a empresa colonial portuguesa e a atuação da monarquia na construção e manutenção do Estado. Entretanto, a Proclamação da República e as mudanças que ocorreram no início do século XX, a memória nacional foi reelaborada, principalmente no momento de comemoração do centenário da Independência.

A celebração do centenário ensejou a refundação da memória nacional com base na constituição de um campo comum entre a República e a Monarquia. Na verdade, a República apoderou-se da tradição monárquica, fundando uma tradição nacional sob a perspectiva evolucionista da qual derivava o próprio movimento republicano (SANDES, 2000, p.14).

Na construção da memória republicana sobre o processo de independência, o evento deixou de ser a personificação da ação de heróis, como D. Pedro I, para tornar um evento com novos ideais e novos heróis, construindo novos monumentos. Assim sendo, o Sete de Setembro, o

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