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CAPÍTULO I O ENSINO DE LÍNGUAS VIA WEB: FOCO NA

1.2 Vantagens e desafios do ensino de línguas on-line

1.2.3 O estudo automonitorado

A proposta de estudo automonitorado está contemplada em “um modelo pedagógico ligado às raízes do Ensino à Distância, que, dada a dificuldade existente para a comunicação entre alunos e professor, privilegia a forma individual de aprendizagem” (Costa, 2001:62). Como essa proposta exclui a presença ou intervenção do professor para direcionar ou supervisionar a aprendizagem, o material pedagógico e as suas atividades devem ser bem estruturados para antecipar as dificuldades a serem deparadas pelo aluno, e prover todas as diretrizes necessárias para a realização das tarefas e construção do conhecimento.

Braga (2004b) salienta que essa proposta de aprendizagem independente é criticada por alguns educadores como Garrison (1993), por exemplo. Esse autor defende que a aprendizagem é um processo que requer interação e diálogo entre seus participantes (alunos e professores), e não um processo interno individual. As interações e a troca de informações facilitam uma aprendizagem crítica e desenvolvem aprendizes mais criativos, pois, segundo Garrison, no ambiente interativo os conceitos são trabalhados por todos, contrário a uma recepção passiva de informação como aquela propiciada num material pronto e fechado.

Contestando Garrison e em defesa do estudo automonitorado, Kember (1994, apud Braga, 2004b) alega que é a abordagem do professor e não o tipo de curso que determinará o ensino como simples transmissão de informações ou como um processo de construção de conhecimento. Segundo Kember, a possibilidade de interação durante um curso não garantirá uma abordagem de ensino que visa a construção de conhecimento, pois o professor poderá utilizar o canal de comunicação para simplesmente proferir uma preleção ou aula expositiva. Em outras palavras, é a orientação de ensino escolhida pelo professor que definirá se a proposta pedagógica do curso será baseada na recepção passiva de informação ou na atuação crítica do aluno durante sua aprendizagem. Por essa razão, o estudo independente não impede que os professores estruturem um material de ensino que incentive a reflexão e que demande uma participação ativa do aluno na construção de sentidos.

Além disso, uma outra forma de desenvolver a reflexão e o papel ativo do aluno no estudo independente é apontada nos estudos de Victori e Lockhart (1995) e White (1995), e também retomada em Braga (2004b). Esses autores sugerem que o uso freqüente e o desenvolvimento de reflexões metacognitivas9 no ensino automonitorado podem preparar o aprendiz para esse contexto pedagógico e auxiliá-lo a aumentar sua autonomia e participação ativa no estudo independente à distância. Assim, entendemos como Braga (2004b), que o desafio de estruturar material pedagógico para a aprendizagem automonitorada é, sobretudo, de engajar o aluno em um diálogo reflexivo com seu conhecimento prévio e levá-lo a uma interação interna e silenciosa com o

professor virtual que, em algum momento e lugar, preparou aquele material para esse aluno desconhecido (Moore, 1993).

Pode-se perceber, assim, que o contexto de estudo automonitorado requer possivelmente novas habilidades e posturas do aprendiz, visto que o professor não está presente para direcionar cada lição ou para prover explicações, correções e encorajamento. De acordo com White (1995), essa proposta de estudo exige uma aprendizagem autodirecionada, isto é, o aluno deverá desenvolver uma compreensão do seu processo de aprendizagem de línguas e entender a necessidade de controlar seu próprio desempenho. Com isso, ele terá condições de planejar suas próprias maneiras de aprendizagem e como controlar esse processo. Segundo a autora, quando o aprendiz se vê confrontado com a tarefa de trabalhar na língua-alvo por si mesmo, ele relata uma sensação inicial de falta de preparo, segurança e capacidade. Além disso, ele parece tomar um certo tempo para encontrar suas próprias maneiras de estudar a LE nesse contexto, e isso talvez explique porque o estudo autônomo é um processo cuja importância nem sempre é valorizado pelos alunos.

Uma vez que o aluno esteja engajado no contexto de estudo independente, segundo White (op. cit.), ele terá mais oportunidades e liberdade que nas aulas presenciais de escolher o que e como ele vai conduzir sua aprendizagem, de determinar as tarefas que efetuará, de ignorar atividades ou seções do material que considera não serem úteis para atender seus interesses no desenvolvimento das habilidades da língua- alvo. Essa proposta pedagógica lhe oferece, também, flexibilidade de horário, local, distância geográfica etc. (ver seção 1.2.1 neste capítulo).

Discutindo o estudo automonitorado no meio digital, Braga (2004b) salienta as vantagens de acesso e custo, pois esse tipo de material pode atender simultaneamente um grande número de alunos com um custo baixo a médio e longo prazo. Além disso, segundo a autora, o ambiente hipermídia tem vantagens que favorecem o estudo reflexivo, como por exemplo, a possibilidade de contraste rápido entre diferentes informações Estudando o desempenho de alunos no curso Read in Web, Braga indica que a possibilidade de navegação favorece a postura reflexiva necessária pra o desenvolvimento de habilidades metacognitivas. O curso Read in Web, analisado por Braga e que será também utilizado como fonte de dados na presente pesquisa, está orientado por um material digital construído para estudo automonitorado de leitura em língua inglesa (para uma descrição mais detalhada ver capítulo 3).

A reflexão apresentada neste capítulo, em direção à aprendizagem independente no ensino de línguas via web, aponta que a implementação de novas tecnologias dentro dessa proposta de estudo exige uma postura consciente tanto dos benefícios disponibilizados pelo contexto eletrônico, como de suas dificuldades e limitações. Cientes desses aspectos e dos fatores que contribuem para o bom desempenho do aluno on-line no contexto de ensino automonitorado, poderemos desenvolver, com maior possibilidade de sucesso, propostas pedagógicas apropriadas que visam uma aprendizagem independente, ativa e reflexiva no contexto eletrônico.

No próximo capítulo focalizaremos, de modo mais específico, o ensino de leitura em LE via computador, procurando explorar o ambiente digital como um meio de enriquecer a aprendizagem do aluno.