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Capítulo IV – Metodologia do estudo

1. A metodologia da investigação

1.1. O paradigma qualitativo de investigação

1.1.1. O estudo exploratório

Face às questões de investigação que elaborámos e ao nível de conhecimento do assunto em estudo, optámos por realizar um estudo exploratório. Quando os conhecimentos existentes em relação a um dado fenómeno são poucos, assim como a bibliografia existente sobre determinado assunto é escassa, costuma orientar-se a investigação para a descrição, identificação e reconhecimento dos fenómenos. Tal como refere Mota (2011, p. 21),

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(…) neste tipo de estudos, a investigação privilegia, essencialmente, a compreensão dos comportamentos a partir das perspectivas dos sujeitos de investigação. Para Benner (1994), citado por Fortin (1999), pretende-se descrever o universo perceptual de pessoas que vivem uma experiência específica, e o trabalho do investigador consiste em se aproximar dessa experiência, em descrevê-la nas palavras dos participantes da investigação, em explicitá-la da forma mais fiel possível, e em comunicá-la.

Assim, se o conhecimento empírico do investigador sobre um determinado fenómeno for insuficiente e se ele estiver interessado em adotar uma atitude de observação da realidade e de escuta atenta dos testemunhos dos atores implicados, deve privilegiar o contexto de descoberta como contexto de partida para a sua investigação. Foi uma postura deste género que assumimos nesta investigação.

O significado que as pessoas atribuem às suas experiências, bem como o processo de interpretação, são elementos essenciais e constitutivos, não acidentais ou secundários, àquilo que é a experiência. Assim, para compreender o comportamento é ainda necessário compreender as definições e o processo que está subjacente à construção destas (Bogdan & Bicklen, 1994, p. 55).

No caso do estudo que realizámos, pretendíamos compreender os efeitos da AAE no desenvolvimento de projetos de EpS nas escolas. Para o efeito, estudámos mais em profundidade as perceções que os atores escolares têm sobre a implementação e o desenvolvimento destes projetos nas escolas e a influência da AEE nesse processo.

Os dados recolhidos são designados por qualitativos, o que significa que são ricos em pormenores descritivos relativamente a pessoas, locais e conversas, e de complexo tratamento estatístico (Bogdan & Biklen, 1994, p. 16).

A escolha dos participantes fez-se com base em critérios de seleção, que garantissem que existia uma relação íntima com a experiência que se quer analisar e descrever, sendo o número de sujeitos variável em função da profundidade da descrição pretendida.

No caso particular do estudo que desenvolvemos, optámos, inicialmente, por selecionar os directores, coordenadores de EpS e professores envolvidos na sua implementação em duas escolas não agrupadas e/ou agrupamento de escolas de um Concelho localizado no litoral do distrito do Porto.

Posteriormente, sentimos necessidade de aumentar o número de participantes, tendo optado por ouvir professores que desempenhassem funções idênticas em duas escolas não agrupadas e/ou agrupamento de escolas de um Concelho localizado no interior do mesmo distrito.

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A seleção dos sujeitos participantes no estudo, tal como referem Bogdan e Biklen (1994), ou Almeida e Freire (2008), socorreu-se de um método não probabilístico de amostragem, uma vez que esse método se revela de grande utilidade quando se pretende estudar determinado grupo e não amostras de sujeitos. Este procedimento consiste numa escolha prévia dos sujeitos a serem observados, resultando desta forma numa amostra “intencional”, tal como é definida por Almeida e Freire (2008, p. 124), em virtude de que “determinado grupo de indivíduos ‘representa’ particularmente bem determinado fenómeno, opinião ou comportamento e, por esse facto, são escolhidos para o seu estudo”. Com pensamento semelhante é de destacar a posição de Coutinho (2013) ao defender que, num estudo qualitativo, a amostra é sempre intencional uma vez que não é pretendido que seja representativa da população.

Importa, ainda, referir que os estudos de grupos são vantajosos quando se pretende estudar um determinado assunto exaustivamente. No entanto, perde-se “qualquer possibilidade de generalização dos dados e das conclusões obtidas para outras situações ou amostras para além daquelas em que a investigação se concretizou” (Almeida & Freire, 2008, p. 123). No entanto, isso não contraria o estudo que se deseja levar a cabo uma vez que, embora as conclusões não sejam generalizáveis, não é impeditivo de poderem ser transferíveis para uma situação idênticas e/ou um contexto semelhante.

Relativamente à validade e ao rigor científico deste tipo de estudos, Fortin (1999, citado por Mota, 2011, p. 22) lembra que, na maioria dos casos, estes estudos são criticados

(…) no que concerne ao pequeno tamanho das amostras e à sua não representatividade, à falta de fidelidade e à pouca validade dos dados. No que diz respeito à validade interna, ou seja à capacidade do estudo realmente responder às questões propostas inicialmente, estes estudos demonstram a sua validade interna pela intensidade da sua análise do fenómeno, pelas suas múltiplas observações, pela construção das explicações.

Em relação à análise dos dados, Quivy e Campenhoudt (2008, p. 233) salientam que, “para cada investigação, os métodos devem ser escolhidos e utilizados com flexibilidade, em função dos seus objetivos próprios, do seu modelo de análise e das suas hipóteses”. Neste caso, como trabalhámos com dados qualitativos, a análise de conteúdo permitiu identificar comportamentos tipo, temas e relações que foram posteriormente classificados com a ajuda de um processo de análise síntese, de acordo com as finalidades e os objetivos do estudo.

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Por tudo o que referimos constata-se que a abordagem aqui desenvolvida configura um método de investigação que procura descrever e analisar experiências complexas. Daí que o foco do investigador qualitativo ofereça uma oportunidade para fazer emergir pontos de vista diferentes e habitualmente desconhecidos (Tuckman, 2000). Nesta ordem de ideias, a qualidade e utilidade da investigação não dependem da sua capacidade de ser reproduzida, mas do valor dos significados gerados pelo investigador. Compreende-se, desta forma, a riqueza deste tipo de investigação, bem como os importantes contributos que pode trazer para o desenvolvimento do conhecimento.