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O Exame Nacional de Cursos (Provão)

CAPÍTULO 3 A formação de professores

4. O Exame Nacional de Cursos (Provão)

O aspecto mais evidente da resposta do curso ao Exame Nacional de Cursos do MEC que tanta polêmica gerou ao estabelecer um novo sistema de avaliação para os cursos de graduação das universidades brasileiras, foi a modificação feitas "às pressas" na disciplina Metodologia do Ensino de Química (ED-03092), que passou a ter um caráter de disciplina de fundamentos, em lugar do caráter eminentemente instrumental que vinha tendo até então. A ementa da disciplina até então estabelecia como conteúdos a serem tratados no curso:

1. Importância e objetivos do ensino de Química no nível médio. 2. Métodos e técnicas para o ensino de Química.

3. Conteúdos programáticos de Química: análise da organização de currículos. 4. Currículos “oficiais” x “alternativos”.

5. O livro didático de Química para o ensino médio. 6. O laboratório de ensino e a experimentação. 7. A história da ciência.

8. Planejamento e avaliação: planos de ensino e técnicas de avaliação. 9. O estudante de Química: sala de aula x cotidiano.

A reação ao provão deu-se a partir de uma solicitação feita em 2000 pela coordenação do curso a mim, professor da disciplina, para que organizasse um mini-curso preparatório para os licenciandos em Química que fariam o exame naquele ano. Pareceu à coordenação do curso, na ocasião, que a disciplina que mais se aproximaria dos conteúdos específicos para Licenciatura em Química constantes do programa do provão seria justamente a Metodologia de Ensino. O mini-curso foi realizado e, em seguida, a disciplina

passou provisoriamente a ter seus conteúdos pautados pelo provão, passando- se a discutir com mais profundidade temas como "O uso da história da ciência no ensino de química", "Os livros paradidáticos e seu papel em aulas de química", "Uma visão crítica em relação à experimentação", "A evolução do ensino de ciências no Brasil desde o pós-guerra até os anos 90" ,dentre outros71. Parecia que as demandas para o Licenciado exigiam mais do que o curso poderia oferecer e depreendia-se isso de forma imediata a partir do simples cotejamento entre o desenho curricular vigente para o curso e o programa do provão.

Segundo a Portaria no. 3802 do Ministério da Educação, de 24 de dezembro de 200272 o exame nacional de cursos para Química tinha como objetivos

I. Contribuir para a: a) avaliação dos cursos de graduação em Química, com o intuito de promover a melhoria da qualidade e o contínuo aperfeiçoamento do ensino oferecido, por meio da verificação de competências, habilidades e domínio de conhecimentos necessários para o exercício da profissão e da cidadania; b) construção de uma série histórica, a partir de levantamento de informações e dados quantitativos e qualitativos, por meio da análise dos resultados de prova escrita e questionários, visando a um diagnóstico do ensino de graduação em Química; c) identificação de necessidades, demandas e problemas do processo de formação do químico, considerando-se as exigências sociais, econômicas, políticas culturais e éticas, como expressam as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Química. II. Oferecer subsídios para: a) a formulação de políticas públicas para a melhoria do ensino de graduação no País; b) o acompanhamento, por parte da sociedade, da qualificação oferecida aos graduandos pelos cursos de Química; c) a discussão do papel do curso de graduação na formação do profissional de Química; d) a discussão e reflexão sobre o processo de avaliação institucional no âmbito dos cursos de graduação em Química; e) a auto- avaliação dos graduandos. III. Estimular as instituições de educação superior a promoverem: a) a formulação de políticas e programas voltados para a melhoria da qualidade do ensino de graduação em Química; b) o aprimoramento das condições do

71É bom destacar que na disciplina já se refletia sobre questões dessa natureza, embora de forma um tanto ainda ingênua e sem o grau de objetividade requerido a partir da necessidade dos alunos serem submetidos especificamente àquela avaliação.

processo de ensino-aprendizagem e do ambiente acadêmico dos cursos de graduação em Química.

No seu artigo 2º a portaria ministerial estabelece que o exame verificaria, dentre outras coisas, se o licenciado teria recebido alguma formação "humanística" durante sua graduação o que, como visto, não fazia parte da formação do Licenciado em Química da UFPA até então.

Como programa específico para a Licenciatura em Química, o documento estabelecia que ele deveria constar dos seguintes itens: "a utilização da História da Química no ensino; principais tendências no ensino de Química a partir da década de cinqüenta; papel da experimentação no ensino de Química; concepções baseadas no senso comum e saber popular, relacionadas com o ensino de Química; o cotidiano no ensino de Química; estratégias didáticas mais comumente usadas no ensino de Química: análise crítica; a avaliação no processo ensino-aprendizagem em Química; o livro didático no ensino de Química: uma análise crítica; o papel dos materiais paradidáticos na contextualização e interdisciplinariedade no ensino de Química; estratégias para o ensino de modelos em Química".

O exame buscava ainda verificar se o licenciando teria recebido, durante sua formação, oportunidade para o desenvolvimento de habilidades gerais e específicas necessárias à formação de um profissional em consonância com as demandas sociais já mencionadas anteriormente.

5. O novo vestibular da UFPA

Quando da publicação do programa do vestibular 2002, assim se referiu a instituição:

A Universidade Federal do Pará, em 2001, aplicou novo modelo de processo seletivo para o ingresso nos cursos de graduação, visando adequar seus procedimentos às Diretrizes Curriculares do Ensino Médio e às recomendações do parecer CP 95/98-CNE.

Seguindo o curso das mudanças pretendidas e, ainda, em fase de transição, apresentam-se os conteúdos programáticos das disciplinas que irão compor o Processo Seletivo 2002. Estes conteúdos programáticos são fundamentalmente os de 2001, com os ajustes necessários e melhor adequados às habilidades e competências definidas, buscando atender à proposição pedagógica que fundamenta a atual concepção de ensino.

Compreende-se que o processo seletivo deverá verificar a prontidão dos candidatos para ingressarem no Ensino Superior, posto que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional define o Ensino Médio como "etapa

final da educação básica" (Art. 36), passando a atribuir-lhe a

característica da terminalidade.

Assim considerando, foi construído o conteúdo programático tentando abordar os conhecimentos estudados naquele nível de ensino, nas disciplinas que fazem parte da Base Nacional Comum, organizando os assuntos em eixos temáticos, numa perspectiva de interdisciplinaridade e contextualização*. (...)

(Programa Vestibular 2002. *grifo nosso)

Esse novo vestibular exigiu a realização de oficinas de esclarecimento e treinamento para professores do ensino médio, que por sua vez reclamavam73 durante os eventos contra o fato de que não haviam recebido formação, durante graduação na UFPA, capaz de oportunizar-lhes a prática de um ensino em concordância com o que o novo vestibular exigia. Armas químicas, defensivos agrícolas, produtos de limpeza de uso doméstico, o enfoque químico sobre a realidade74, e tudo isso estabelecido não mais a partir de objetivos a serem atingidos, mas a partir de competências e habilidades a serem desenvolvidas, sem dúvida colocou em questionamento a formação de professores ( na UFPA) para o ensino de química no nível médio.

Todo esse quadro convergia para a iminência de uma reforma curricular no curso, o que não tardou. As primeiras reuniões se deram ainda no final do 1º semestre de 2002 (logo após a publicação das resoluções CNE/CP 1 e CNE/CP 2), num processo que se estendeu até janeiro de 2004, quando foi aprovado em reunião extraordinária pelo Colegiado do curso o PPP-2004. Foram mudanças profundas. Alterações, desta feita, de natureza estrutural e epistemológica.

Como bem destaca o PPP-2004: "Adequar-se a esta nova concepção educacional não é tarefa fácil e não basta apenas adequar a proposta curricular ou usar novas tecnologias, mas deve-se estimular uma

73Fazendo coro, aliás, com a voz uníssona dos alunos do curso, insatisfeitos com a formação recebida. 74Conteúdos claramente inspirados nos PCN's para o Ensino Médio.

mudança profunda na postura e na prática pedagógica dos docentes formadores* do futuro professor de Química." (pag. 4) (*grifo nosso) no sentido de que as alterações não visavam, desta feita, resumir-se a rearranjos de disciplinas ou de carga horária, mas buscavam alteração em uma concepção de curso de graduação, para o que, e o PPP-2004 evidencia clareza disso, é necessário definir-se que profissional deseja-se formar e em que ambiente acadêmico espera-se que se dê essa formação. O documento básico da Licenciatura em Química da UFPA será objeto de exame no próximo capítulo, confrontando-se aquilo que ele apresenta e o que diz a literatura a respeito do assunto.

CAPÍTULO 4

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