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2. GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

2.4 PROGRAMAS DE COLETA SELETIVA

2.4.1 O exemplo de Londrina – PR

O município de Londrina possui 506.645 habitantes e área territorial de 1.653 Km2, de acordo com dados do IBGE (2010).

A coleta seletiva no município de Londrina - PR destaca-se no cenário brasileiro dos programas de coleta seletiva em parceria com organização de catadores, devido à sua rápida implantação, abrangência, elevado número de catadores envolvidos, alto índice de coleta seletiva alcançado e pela mudança na gestão de resíduos sólidos, ao adotar a modalidade de contratação de coleta regular de lixo por preço global. Esta modalidade de contratação, diferentemente do pagamento do serviço por tonelada, contraria interesses econômicos de empresas prestadoras de serviços de limpeza urbana e aponta caminhos para a redução da geração de resíduos, a inclusão social e a melhoria da eficiência dos programas de coleta seletiva de lixo (BESEN, 2006).

O Programa de Coleta Seletiva de Londrina – Reciclando Vidas consistia na implementação da coleta seletiva por meio de uma parceria entre a prefeitura e vinte e seis organizações não-governamentais (ONGs)6. Esse programa foi iniciado com a retirada, por ação do Ministério Público, de catadores que trabalhavam em um lixão e a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para sua incorporação na coleta seletiva (BESEN, 2006).

O programa envolvia 474 pessoas, que eram ex-catadores de lixão, catadores de rua e desempregados. Para a realização da coleta seletiva, vinte e seis setores foram demarcados na cidade pela prefeitura, sendo que as ONGs ficaram responsáveis pela coleta, triagem e comercialização do material reciclável. Além disso, as ONGs promoviam a conscientização dos moradores e entregavam sacos de lixo de cor verde para a colocação dos materiais recicláveis (BESEN, 2006).

6 O programa de coleta seletiva de Londrina chamava as associações de catadores de “ONGs”. Por isso, será mantida neste trabalho a nomenclatura utilizada pelo programa.

A coleta seletiva começou em 1996, com um projeto piloto de coleta porta a porta do material reciclável, realizada por caminhões da prefeitura. Inicialmente a coleta seletiva foi implantada em 10.000 residências, sendo ampliada gradativamente para 30.000 residências até o ano 2000 (LIMA, 2007).

Em 2000 as ONGs iniciaram, em parceria com a prefeitura, um projeto de coleta seletiva porta a porta com carrinhos. A prefeitura ficou responsável pelo transporte dos materiais para as centrais de triagem e pelo fornecimento de sacos plásticos verdes de 100 litros, para armazenamento dos recicláveis nas residências (BESEN, 2006).

A coleta seletiva era realizada de forma variada, com veículos, carrinhos de mão e carroças. O material reciclável coletado era estocado em alguns pontos denominados “bandeiras”7, nos quais era recolhido por caminhões da prefeitura que faziam o transporte até os galpões de triagem (LIMA, 2007).

Em 2002, por demanda das ONGs e com o apoio da prefeitura, foi criado um Conselho das Organizações de Profissionais de Reciclagem de Londrina – CEPEVE, que ficou denominada Central de Pesagem e Prensagem. Tratava-se de uma instância que coordenava a venda conjunta dos materiais pelas associações, com o objetivo de aumentar o preço de venda e eliminar atravessadores, aumentando a renda dos associados. Assim, as vendas do material reciclável realizadas conjuntamente via CEPEVE obtinham preços de 50 a 100% maiores do que as vendas individualizadas (BESEN, 2006).

As vinte e seis ONGs encontravam-se, em 2006, em diferentes estágios de organização. Todas integravam a CEPEVE, mas nem todas comercializavam seus materiais via CEPEVE. Cerca de doze encontravam-se em galpões alugados pela prefeitura, algumas

7 O termo “bandeiras” é utilizado nas colheitas de milho, nas quais o colhedor apanha as espigas e coloca-as em balaios, despejando-as, posteriormente, em pequenos montes denominados bandeiras (LIMA, 2007).

já haviam assumido o aluguel dos galpões, quatro possuíam sede própria e as demais estavam em processo de identificação de área para alugar (BESEN, 2006).

A prefeitura tinha um contrato de coleta seletiva de lixo, no valor de R$ 79.950,00 mensais. O contrato incluía cinco veículos (um caminhão basculante para as caçambas de rejeitos das ONGs; quatro caminhões baús para o transporte dos materiais recolhidos das bandeiras para as centrais de triagem e das centrais de triagem para o Centro de Pesagem e Prensagem) e 150.000 sacos verdes de 100 litros (BESEN, 2006).

A quantidade de resíduos sólidos coletados e comercializados na coleta seletiva era, segundo a Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização de Londrina – CMTU, em média, 90 toneladas/dia. Em relação às 307 toneladas dispostas diariamente no aterro, representava um índice de 23% de material desviado do aterro. O índice de recuperação de materiais recicláveis (IRMR) de Londrina era de 22,6% e o índice de rejeito era, em média, de 7%, segundo dados de 2005 (BESEN, 2006).

De acordo com Besen (2006), apesar de não existirem dados sistematizados sobre a taxa média de desvio de materiais recicláveis do aterro atingida pelos programas de coleta seletiva nos municípios brasileiros, uma taxa de 23% pode ser considerada alta, tanto para o Brasil quanto para países da América Latina.

Além do alto índice de recuperação de materiais recicláveis, o programa de coleta seletiva de Londrina também se destaca pelo contrato de prestação de serviços firmado entre a prefeitura e as cooperativas, que foram contratadas pelo serviço de limpeza urbana prestado.

Por outro lado, os principais problemas enfrentados pelo programa de coleta seletiva eram falta de mercado para os recicláveis; inexistência de um fundo para que a CEPEVE pudesse remunerar as ONGs de forma mais rápida; e dificuldades nos pagamentos das

comercializações via CEPEVE, o que fazia com que algumas ONGs passassem a comercializar diretamente, obtendo rendimento financeiro menor (BESEN, 2006).