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O Exercício Físico e o Aproveitamento Escolar

Capítulo 5 Hábitos Alimentares dos Adolescentes

5.3. O Exercício Físico e o Aproveitamento Escolar

Os benefícios para a saúde pela prática regular de exercício físico são resultantes de respostas e adaptações dos sistemas respiratório, cardiovascular e muscular. Para além destas melhorias fisiológicas, há também um impacto positivo em termos psicológicos, visto que dá a sensação de bem-estar e prazer diminuindo a ansiedade e depressão, melhorando o ânimo para realizar outras tarefas menos desafiantes. (Dubow et al., 2003 in Vancini et al., 2008).

A prática do exercício físico também afecta outros sistemas, tais como, o sistema imunitário (Pedersen et al., 2000 in Vancini et al., 2008) o sistema nervoso (Cotman, Berchtold, 2002 in Vancini et al., 2008) e o aparelho digestivo (Casey et al., 2005 in Vancini et al., 2008). O efeito do exercício físico sobre o sistema nervoso tem sido alvo de vários estudos (Cotman e Berchtold, 2002; Park et al., 2008; Perrey, 2008; White e Castellano, 2008 in Vancini et al., 2008).

A realização de exercício físico tem revelado uma melhoria da função cognitiva (Rogers et al., 1990 in Vancini et al., 2008) assim como estimula a vascularização cerebral (Black et al., 1990 in Vancini et al., 2008) estimula neurogénese e melhora a aprendizagem (van Praag et al., 1999 in Vancini et al., 2008).

A capacidade cerebral ou mental consiste no desempenho cognitivo dos indivíduos. Foram feitos vários estudos, em adultos, sobre os efeitos positivos do aumento da capacidade cardiorespiratória sobre a cognição (Etnier et al., 2006 in Vancini et al., 2008) relação aos jovens, existe pouca informação disponível. Há pouco tempo, verificou-se, nos jovens, que a capacidade física, principalmente a cardiorespiratória, está relacionada positivamente com o desempenho escolar (raciocínio matemático, na leitura e outras capacidades) (Castelli et al., 2007 in Vancini et al., 2008).

Um aumento da capacidade cardiorespiratória provoca melhorias no estado de humor, na auto-estima, na ansiedade e na depressão (Ortega et al, 2008 in Vancini

et al., 2008) assim como no desempenho escolar das crianças (Castelli et al., 2007 in Vancini et al., 2008).

Tal como acontece com os adultos, existem fortes manifestações que a prática de exercício regular beneficia a saúde mental e cerebral das crianças. (Hallal et al., 2006 in Vancini et al., 2008)

Os benefícios do exercício físico ultrapassam os efeitos tradicionais sobre os sistemas cardiovascular, respiratório e muscular. Existem moléculas que podem potenciar os benefícios do exercício, entre as quais podemos destacar o factor neurotrófico derivado do cérebro (BDNF – Brian-derived neurotrophic factor) existente no sistema nervoso central e periférico (Cotman e Berchtold, 2002 in Vancini et al., 2008)

O BDNF é uma proteína que, nos humanos, é codificada pelo gene BDNF (Jones & Reichardt, 1990; Maisonpierre et al., 1991). O BDNF é um membro da família de factores de crescimento, que estão relacionadas com a " Nerve Growth Factor", NGF. A função BDNF é actuar sobre certos neurónios do sistema nervoso central e periférico, ajudando a suportar a sobrevivência dos neurónios existentes e incentivar o crescimento e diferenciação de novos neurónios e sinapses (Acheson et al, 1995; Huang & Reichardt, 2001). No cérebro, esta proteína é activa no hipocampo, córtex cerebral e o prosencéfalo. São áreas vitais para a aprendizagem, memória e pensamento avançado (Yamada & Nabeshima, 2003). O BDNF por si só é importante para memória de longo prazo (Bekinschtein et al., 2008)

Embora a grande maioria dos neurónios, nos mamíferos, sejam formados antes do nascimento dos bebés, existem partes do cérebro adulto que mantêm a capacidade de crescer, os neurónios nascem por um processo conhecido como neurogénese. As neurotrofinas são produtos químicos que ajudam a estimular e a controlar a neurogénese. O BDNF é um dos mais activos. (Zigova et al., 1998; Benraiss et al., 2001; Pencea et al., 2001)

Existem vários estudos que demonstram que existe uma relação entre baixos níveis de BDNF e neuropatologias como a depressão, a esquizofrenia, o transtorno obsessivo-compulsivo, a doença de Alzheimer e a esclerose múltipla. (Cotman, Engesser-Cesar, 2002 in Vancini et al., 2008). O BDNF tem uma grande influência na flexibilidade «cerebral assim como na aprendizagem e memória. É também sintetizado e libertado pelo músculo esquelético, exercendo uma função trófica nos neurónios motores» (Vancini et al., 2008). Consequentemente o exercício físico também contribui para uma maior quantidade de BDNF disponível. Tem-se observado em estudos em humanos, que há um aumento dos níveis de BDNF em determinadas zonas do cérebro em virtude do exercício físico. (Cotman e Berchtold, 2002 in Vancini et al., 2008).

«Um estudo da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, indica que a prática de exercício físico pode ter efeitos positivos no desempenho escolar das crianças. De acordo com os pesquisadores, aulas de educação física e programas de exercícios fora da escola podem aumentar a atenção dos alunos em sala de aula, resultando em melhores notas nas provas.

Foram avaliadas, com testes de atenção visual, 20 crianças de nove anos de idade após um período de 20 minutos de descanso e, no dia seguinte, após 20 minutos de caminhada numa passadeira. Durante os testes de controlo cognitivo, os participantes utilizaram um “boné” com eléctrodos para medir a actividade cerebral. Com as análises, os pesquisadores concluíram que a prática de exercícios pode melhorar o desempenho escolar das crianças. “O que descobrimos é que seguindo a sessão intensa de caminhada, as crianças tiveram melhor desempenho no „flanker task‟ (teste de atenção visual)”, disse o pesquisador Charles Hillman. “Eles tinham maior taxa de exactidão, especialmente quando a tarefa era mais difícil”, complementou.

Os especialistas notaram também que, após os exercícios, além dos efeitos no comportamento, havia mudanças no potencial cerebral relacionado a eventos – “nesses sinais neuroeléctricos que são uma medida de cobertura da alocação dos recursos de atenção” –, o que estaria associado à melhora na capacidade de concentração em situações mais difíceis, como num ambiente barulhento.» (Neuroscience, 2009).

Há portanto que estimular e promover a prática do exercício físico regular visto que podemos actuar na prevenção e tratamento de doenças degenerativas.

Capítulo 6

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