• Nenhum resultado encontrado

4.1 Primeira Parte

4.1.3 Sistema experimental de Co-Compostagem

4.1.3.3 O experimento

O primeiro dia de disposição dos resíduos orgânicos – virada de bombonas – nas leiras ocorreu na sexta-feira, dia 6 de dezembro de 2019. Nos dias 09, 12 e 16 de dezembro também houve a virada das bombonas com resíduos orgânicos.

No dia 19 de dezembro, quando as leiras já estavam em fase termofílica, ocorreu a primeira virada de bombonas de excretas. As 30 bombonas armazenadas foram divididas em 3 grupos, com o objetivo de as leiras receberem aproximadamente a mesma quantidade de excretas, em quilos, e em fases de maturação parecidas.

As viradas de excretas ocorreram por mais duas vezes, com intervalo de 11 dias entre elas. Além disso, durante os intervalos, ocorreram outras seis viradas de bombonas com resíduos orgânicos, sendo a última virada no dia 16 de janeiro de 2020 (Tabela 1).

Nos dias em que houve a disposição dos resíduos nas composteiras, foram medidas as temperaturas internas das leiras e do ambiente. A leitura nas leiras foi realizada às 8 horas da manhã, com termômetro culinário digital, com haste de 30 cm, nos pontos 1, 2 e 3 de cada leira, apresentado na Figura 31.

Figura 31: Pontos de medição de temperatura e coleta das amostras

Fonte12: Arquivo da autora

As datas de virada da bombonas, o tipo de resíduo e o peso, em quilos são apresentadas na Tabela 1. Para facilitar as análises, o processo foi dividido em duas etapas: a fase inicial de compostagem, exclusiva de resíduos orgânicos, e a fase de co-compostagem com resíduos orgânicos e excretas.

Tabela 1 – Data de virada das bombonas, tipo e peso de resíduos em kg

Dia Data Tipo de Resíduo Peso [kg] Fase inicial 1 06/12 Orgânicos 401,4

de compostagem exclusiva de resíduos org. 3 09/12 Orgânicos 337,6 6 12/12 Orgânicos 416,5 10 16/12 Orgânicos 365,6 Operação do sistema com a co- compostagem de resíduos org. e excretas 1 19/12 Excretas 320 4 23/12 Orgânicos 374,2 7 26/12 Orgânicos 484,6 11 30/12 Excretas 320 14 02/01 Orgânicos 398,7 18 06/01 Orgânicos 376,8 21 09/01 Excretas 320 25 13/01 Orgânicos 370,9 28 16/01 Orgânicos 345,9 4.2 SEGUNDA PARTE 4.2.1 Amostragem

Foram realizadas 8 coletas no decorrer do processo para realizar as análises físico- químicas e microbiológicas. A primeira coleta foi uma amostra composta de cada um dos grupos de bombonas, antes de serem dispostas nas leiras. As seguintes já foram coletadas diretamente das leiras.

Assim como as temperaturas, as coletas foram realizadas no formato de amostra composta com amostragens dos pontos 1, 2 e 3 de cada leira. As amostras foram coletadas com um cano de um metro de comprimento e 50 mm de diâmetro para possibilitar a coleta de partículas em todo o perfil vertical do ponto.

O Quadro 3 descreve as coletas realizadas.

Quadro 3: Data e descrião das coletas

Data Coleta Descrição

11/11/2019 C0

Coleta das bombonas de excretas antes do tratamento. As 30 bombonas foram divididas em três grupos. A amostra realizada foi uma amostra composta por grupo, totalizando três amostras (C01, C02, C03).

19/12/2019 C1 Coleta das leiras antes de receberem a primeira carga de excretas.

30/12/2019 C2

Coleta das leiras 11 dias após a primeira carga de excretas, imediatamente antes da disposição da segunda carga.

09/01/2020 C3

Coleta das leiras 21 dias após a primeira carga de excretas, imediatamente antes da disposição da terceira carga.

20/01/2020 C4 Coleta das leiras 11 dias após a última carga de excretas.

17/04/2020 C6 Coleta das leiras em momentos finais da fase de maturação.

15/06/2020 C7 Coleta do composto pronto, após reviramento e homogeneização das leiras.

4.2.2 Análises microbiológicas

As análises microbiológicas foram realizadas com as amostras das oito coletas. As atividades foram acompanhadas pela equipe do Grupo de Pesquisas de Recuperação de Recursos em Sistema de Saneamento (RReSSa) e realizadas no Laboratório de Microbiologia, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC.

Os microrganismos indicadores avaliados para concluir o nível de eficiência de sanitização do composto foram:

Escherichia coli; Enterococcus faecalis; Salmonella;

Bacteriófagos RNA F-específico e Colifago Somático;

Para a Escherichia coli e o Enterococcus faecalis, foi realizada a análise por meio do crescimento em placas de ágar do tipo MacConkey e SLABA (Slanetz Bartley Agar Base), respectivamente. O plaqueamento dos micro-organismos foi realizado após diluição seriada de base 10 das amostras em solução salina de peptona a fim de obter número de colônias por placa adequado à quantificação por meio de contagem. As placas foram incubadas a 37ºC ± 2°C por 24 horas e 48 horas, para as bactérias E. coli e Enterococcus, respectivamente, e quantificadas as unidades formadoras de colônia por grama (UFC.g-1).

Para a Salmonella, o procedimento seguiu o Método 1682: Salmonella em lodo de esgoto (biosólidos), da Environmental Protection Agency (EPA), com modificações, para estimativa do Número mais Provável (NMP) de Salmonella sp. Inicialmente, foi realizado o crescimento em meio TSB 1x e 3x (Caldo Triptona de Soja) e incubadas a 37ºC por 24 horas, seguido de crescimento em placas de RAPPAPORT-VASILIADIS (RAPPA) semissólido, incubadas a 41ºC ± 2ºC por 18 horas. Após 24 horas foi feito um “esfregaço” em ágar XLD

(Xilose Lisina Desoxicolato) com antimicrobiano Novobiocina, a partir das colônias formadoras de halos no ágar RAPPA, e incubadas novamente. Colônias típicas de Salmonella sp. foram submetidas a confirmação bioquímica nos meios TSI (Agar Tríplice Açúcar Ferro), LIA (Agar Lisina Ferro) e Caldo de ureia.

Os bacteriófagos Colifago Somático e RNA F-específico, modelos virais, foram analisados através do método de ágar duplo e ISO 10705-1 (1995) e ISO 10705-2 (2000). Foram utilizadas as placas de ágar MSA (Modified Scholten’s Agar) e TYGA (Tryptone Yeast Extract Glucose Agar), respectivamente, e as bactérias hospedeira E. coli ATCC13706 e Salmonella entérica WG49 NCTC12484. A concentração de bacteriófagos foi determinada após incubação das placas a 37ºC ± 2°C por 18h, seguido de contagem em termos de unidades formadoras de placas por grama (UFP.g-1).

4.2.3 Análise Físico-química

Os parâmetros físico-químicos analisados durante todo o processo foram os sólidos totais e a temperatura. Para as amostras da última coleta foram realizadas análises de pH, ortofosfato e nitrogênio amoniacal. Para a análise dos sólidos totais, foram pesados 30 g de cada amostra, colocados em estufa à 105°C por 24 horas e pesados novamente.

As temperaturas foram medidas na parte superficial dos pontos (1, 2 e 3) das coletas de amostragem. Não houve medição de temperatura em outros pontos, como em diferentes alturas ou regiões.

A análise do pH foi realizada em triplicata com 10 g de amostra de composto de cada umas das três leiras e 50 mL de água destilada, de acordo com a metodologia de “Determinação do pH em resíduos orgânicos” de Tedesco (1995).

“Na aurora do terceiro milênio, é preciso compreender que revolucionar, desenvolver, inventar, sobreviver, viver, morrer, anda tudo inseparavelmente ligado.” (MORIN, 1994)

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS

Os parâmetros físico-químicos analisados durante o decorrer de todo o processo de compostagem foram a temperatura e os sólidos totais. Outros parâmetros como pH, ortofosfato e nitrogênio amoniacal foram analisados somente na última coleta, com o intuito de detalhar as características do composto pronto.

5.1.1 Temperaturas

As TabelasTabela 2,Tabela 3 eTabela 4 apresentam os valores das temperaturas nas três leiras ao longo do tempo de co-compostagem, respectivamente, sendo que T1, T2 e T3 são referentes aos três diferentes pontos de medição em cada uma das leiras. A temperatura ambiente (Tamb) foi medida nos mesmos dias para avaliar a diferença entre as temperaturas internas e externas da leira (Tabela 5). As medições iniciaram em 13 de dezembro, mas somente no dia 19 é que se iniciou o processo de co-compostagem. Até então somente os resíduos orgânicos haviam sido compostados.

Os gráficos representados nas Figuras 32, Figura 33 e 34 apresentam as curvas da temperatura em função do tempo e a Figura 35 apresenta as temperaturas médias das leiras, calculadas com base nos valores de T1, T2 e T3, em comparação com a temperatura ambiente.

As três leiras apresentaram temperaturas acima de 50ºC logo na primeira semana de atividade e mantiveram as altas temperaturas até o último dia de medição. A última virada de resíduos nas leiras foi no dia 28 e as temperaturas medidas no dia 82 ainda estavam altas. Isto é, as leiras permaneceram em fase termofílica por mais de 50 dias para além do período de disposição de novos resíduos.

Quando analisada separadamente, a leira 2 apresentou uma queda de temperatura no ponto T3 por três medições consecutivas (dias 10 – da fase inicia, 1 e 5 – da co- compostagem). Essa queda se deu por uma má distribuição dos resíduos orgânicos durante as viradas de bombonas, resultando em uma baixa concentração de matéria a ser decomposta, o que diminui o metabolismo microbiano.

Ao perceber esse decréscimo nas temperaturas, foi realizada a manutenção da leira de forma a distribuir os resíduos igualmente e o resultado foi um aumento de 19ºC no ponto T3 na medição seguinte (dia 8).

As leiras 1 e 3 apresentaram temperaturas semelhantes nos três pontos de medição no decorrer de todo o processo. Isso indica que os resíduos foram distribuídos de maneira homogênea na leira, possibilitando a atividade microbiológica ativa e contínua.

Tabela 2: Temperaturas em graus Celsius obtidas na Leira 1

LEIRA 1 Dia T1 T2 T3 Média 1 - - - - 3 48 45 48 47,0 6 66,7 65,8 57 63,2 10 53,5 63 66,7 61,1 1 58,4 63,2 70 63,9 5 66 68 68 67,3 8 70 70 70 70,0 12 62 64 54 60,0 15 69,3 73,3 71,7 71,4 19 73 69 73 71,7 22 73 68,5 69 70,2 26 72 75,7 66 71,2 28 70,5 72,5 73,1 72,0 33 69,9 70,2 69,4 69,8 36 70,5 73 70 71,2 82 52 60,3 52,5 54,9

Tabela 3: Temperaturas obtidas na Leira 2

LEIRA 2 Dia T1 T2 T3 Média 1 - - - - 3 39 55 60 51,3 6 66 66 60 64,0 10 66,6 60,2 49 58,6 1 61,4 59,5 50,8 57,2 5 68 70,6 48 62,2 8 71 67 67 68,3 12 63 64 65 64,0 15 63,8 72,2 72,7 69,6 19 68 62 72,6 67,5 22 59,6 60,5 69 63,0 26 70,7 70,6 65 68,8 28 70,4 76,5 72,1 73,0 33 62,5 70,7 70 67,7 36 70 65 52 62,3

82 58 54,7 43,5 52,1

Tabela 4: Temperaturas obtidas na Leira 3

LEIRA 3 Dia T1 T2 T3 Média 1 - - - - 3 56 51 54 53,7 6 53 63 57 57,7 10 57,4 60,4 60,6 59,5 1 60 60 61 60,3 5 70,4 67 68,2 68,5 8 70 70 73 71,0 12 59 56 64 59,7 15 70,6 67,3 68 68,6 19 67 66 70,2 67,7 22 65,5 55,7 58,4 59,9 26 58 68,3 66 64,1 28 72 73,4 68,3 71,2 33 66,2 73 68,5 69,2 36 65 69 68 67,3 82 55 54 51 53,3

Tabela 5: Temperatura ambiente ao longo dos dias

Dia T amb 1 22,2 3 20 6 28 10 24,4 1 21,3 5 27,1 8 29 12 25,3 15 24,3 19 23,8 22 28,1 26 26,4 28 30,3 33 27,8 36 25,4 82 27,5

Figura 32: Temperaturas T1, T2 e T3 da Leira 1 ao longo do tempo de co-compostagem

Fonte13: Elaborado pela autora

Fonte: Elaborado pela autora

Figura 34: Temperaturas T1, T2, T3 da Leira 3 ao longo do tempo de co-compostagem

Fonte: Elaborado pela autora

Figura 35: Temperaturas médias e Temperatura ambiente ao longo do tempo de co-compostagem

Fonte: Elaborado pela autora

De acordo com Inácio e Miller (2009), temperaturas acima de 45ºC já caracterizam como fase termofílica de compostagem, onde microrganismos termófilos atuam na faixa de

45ºC a 75ºC. Além disso, Niwagaba (2009) afirma que composteiras em bom funcionamento, atingem temperaturas termofílicas em horas ou poucos dias.

Outros autores como Björklund (2002), Niwagaba (2009) e Vinneras, Björklund e Jönsson (2003) também realizaram estudos de co-compostagem, mas alcançaram temperaturas de pico mais baixas, 34ºC, 22ºC e 40ºC, respectivamente. E diferenças de temperaturas também menores, como 15ºC. Os três autores afirmam a importância da cobertura das leiras na manutenção da temperatura das leiras e atentam para as diferenças de temperatura dentro das próprias leiras. Geralmente, as coberturas, partes mais expostas ao ambiente e com menor atividade microbiológica, tendem a ser mais frias.

Björklund (2002), em seu estudo em Cuernacava, no México, também utilizou a palha como material de cobertura, mas concluiu que por seu caráter descompacto e pelo processo de convecção de ar, o calor se perdia mais facilmente.

Vinneras, Björklund e Jönsson (2003) e Niwagaba (2009) salientam a importância de misturar as excretas com resíduos sólidos orgânicos, pois estes contém grandes quantidades de energia que podem ser biologicamente transformadas de maneira rápida, acelerando e aumentando a produção de calor. Niwagaba (2009) também discorre sobre o uso da maravalha/serragem como aditivo do banheiro seco como forma de aumentar ainda mais a concentração de matéria orgânica e, portanto, o calor.

Diferente do presente estudo, que trabalhou com leiras estáticas, Niwagaba (2009) afirma sobre a importância de revirar o material da leira com frequência para que todas as partes da composto alcancem temperaturas acima de 50ºC por, pelo menos, 1 semana. Segundo o autor, a garantia de que todas as partículas atinjam essas temperaturas aumenta a segurança sanitária do composto pronto.

Entretanto, Bustamante et al. (2008), que realizou experimentos de co-compostagem com resíduos de vinícolas e excretas de vacas e aves, concluiu que as leiras que foram reviradas apresentaram um período termofílico menor do que as leiras estáticas, além de que os comportamentos de redução das concentrações de patógenos também foram menos efetivos do que nas leiras estáticas.

Como o material das leiras não foi revirado e as medições de temperatura foram apenas em três pontos, sendo todos na parte superior da leira, não foi possível garantir que todas as partículas das leiras tenham alcançado temperaturas termofílicas durante o tempo necessário. Ainda, os resíduos dispostos em cada leira, apesar de orgânicos, apresentavam características diferentes, as vezes variando o tipo, como frutas, legumes, carnes e restos de

comida. Isso pode ter influenciado nas diferenças de temperatura entre os pontos de medição e entre as leiras.

5.1.2 Sólidos Totais

Os valores de sólidos totais encontrados são apresentados na Tabela 6. A partir dos resultados encontrados, calculou-se também a umidade contida nas amostras. A Figura xxx ilustra os valores de umidade, em porcentagem.

Os valores de umidade, em porcentagem, das primeiras amostras ficaram em torno de 66% e representam a umidade durante o processo de decomposição. As coletas C61, C62 e C63 foram realizadas já no processo de maturação, momento em que apresentou os menores valores de umidade, com média de 38,33%. As coletas C71, C72 e C73 são do composto pronto e apresentam valor médio de 55,44%, mas vale ressaltar que os dias que antecederam o dia de coleta, foram bastante chuvosos, o que pode ter contribuído para o aumento de umidade nas análises.

Tabela 6: Sólidos Totais e Umidade

Amostra Sólidos Totais Umidade

(%) (%) Leira 1 0,31 31,36 68,64 C1 Leira 2 0,33 33,35 66,65 Leira 3 0,25 24,72 75,28 Leira 1 0,40 40,15 59,85 C2 Leira 2 0,34 34,42 65,58 Leira 3 0,35 34,91 65,09 Leira 1 0,37 36,67 63,33 C3 Leira 2 0,35 34,53 65,47 Leira 3 0,32 31,72 68,28 Leira 1 0,65 64,75 35,25 C6 Leira 2 0,66 66,10 33,90 Leira 3 0,54 54,16 45,84 Leira 1 0,58 58,29 41,71 C7 Leira 2 0,37 37,32 62,68 Leira 3 0,38 38,07 61,93

Figura 36: Quantidade de umidade ao longo do tempo

Fonte: Elaborado pela autora

A quantidade de umidade varia conforme o material utilizado e a estrutura dos sistemas de compostagem. Segundo Cofie et al. (2016), a quantidade de umidade durante a fase ativa de compostagem deve ser monitorada e ajustada para se manter entre 50 e 60%. Já no período de maturação, é interessante manter a quantidade de umidade em 40-50%.

Niwagaba et al. (2009) discorre sobre um “ponto de quebra”, em que a umidade atinge 60 - 65% e impede que as leiras alcancem temperaturas termofílicas e, portanto, o processo de compostagem não ocorre. Entretanto, Fang et al. (1999) realizou um experimento de co-compostagem com lodo de esgoto e cinzas de carvão e os valores de umidade durante todo o processo ficaram na faixa de 60-70% e ainda assim as temperaturas atingiram os 55ºC. O presente estudo verificou que os valores altos de umidade (>65%) encontrados nas primeiras amostras não impediu as leiras de atingirem temperatura altas, tampouco interrompeu o processo de decomposição.

5.1.3 Composto final

5.1.3.1 pH

Os valores de pH encontrados são apresentados na Tabela 7. Os valores de pH do composto final ficaram entre 7 e 8, isto é, um pH levemente alcalino. Vale ressaltar que a proporção excretas:resíduos, em quilos, foi de 1:4.

Tabela 7: Resultados de pH do composto final das leiras 1, 2 e 3

Amostra pH Média Desvio Padrão

Leira 1 8,17 7,86 7,86 7,96 0,18

Leira 2 7,82 7,84 7,93 7,86 0,06

Leira 3 7,30 7,25 7,32 7,29 0,04

Niwagaba et al. (2009) encontrou valores parecidos em seu estudo de co- compostagem. Quando a proporção de fezes:resíduos orgânicos era de 1:3, os valores de pH do composto final variaram entre 7,2 e 7,5, para proporção em volume, e 9,5 e 5,0 para proporção em peso. Na proporção de 1:1, o valor encontrado foi de 8,1 na proporção em volume, e 9,5 na proporção em peso.

Cofie et al. (2009) também analisou o processo de co-compostagem e encontrou valores de pH de 7,8 e 8,1. De acordo com Cofie et al. (2016), durante o período de maturação, quando ocorre a nitrificação da amônia para nitrato, o pH diminui para valores próximos a 8. Os autores ainda afirmam que quando os valores de pH estão acima de 8, é sinal de que a fase de maturação ainda não está finalizada.

5.2 ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS

5.2.1 Bactérias

5.2.1.1 Escherichia coli

As concentrações médias de E.coli ao longo do tempo em cada leira são apresentadas nas Tabela 8Tabela 9 e ilustradas nas Figuras 37 e 38. A apresentação dos dados foi dividida em duas tabelas, pois os dias 1 a 33 representam o processo de co-compostagem (Tabela 8), enquanto os dias seguintes, até o dia 187, as leiras estavam em período de maturação, ou seja, já não receberam mais nenhuma carga de resíduo (Tabela 9).

A Figura 39 ilustra as concentrações médias de E. coli e a média das temperaturas das três leiras ao longo dos primeiros 33 dias. As equações das retas de tendência, coeficiente de determinação (R²) e o T90 para cada leira são apresentados nas TabelasTabela 10 eTabela 11.

Os resultados para as triplicatas, no período do dia 1 ao dia 33, foram semelhantes. Houve decaimento na concentração de E.coli nas três leiras. A leira 2 foi a que apresentou maior variação na concentração, com valor de decaimento de 1,27 log10. Quanto aos valores

de coeficiente de determinação, apenas o valor da leira 1 foi satisfatório. Os outros dois valores ficaram abaixo de 0,6. O T90 representa o tempo necessário para a redução de 1 log10

na concentração de um microrganismo. Os valores de T90 obtidos para as leiras 1 e 2 foram similares, 42 e 39 dias, respectivamente. Já para a leira 3, o valor foi maior, de 101 dias. Como o coeficiente de determinação representa o quanto a reta expressa a tendência dos valores obtidos analiticamente, somente os valores de T90 referentes a reta 1 são confiáveis.

A partir desses valores, pode-se estimar quantos dias serão necessários para a redução total de E.coli, caso as condições sejam mantidas. Entretanto, como apenas a leira 1 teve coeficiente de determinação satisfatório, foi feita a estimativa apenas baseada nela. Seriam necessários cerca de 168 dias para reduzir a concentração de E. coli no composto em 4 log10, valor de redução recomendado pela EPA.

O período de maturação, do dia 33 ao dia 187, apresenta outro comportamento. Nas leiras 1 e 2 as concentrações passaram a aumentar, indicando um recrescimento das colônias. Na leira 1, por exemplo, a concentração no dia 187 foi ainda mais alta do que a concentração inicial. A leira 3, por outro lado, continuou o processo de decaimento, mas a uma velocidade mais lenta, com T90 de 159 dias. Quanto ao coeficiente de determinação, os três valores foram satisfatórios.

Tabela 8: Concentrações médias de Escherichia coli nos primeiros 33 dias

Tempo Leira 1 Leira 2 Leira 3

(dias) (log UFC/g)

1 7,23 7,23 7,28

12 6,67 6,71 6,34

22 6,61 7,86 0,00

33 6,41 5,95 6,81

Decaimento 0,82 1,27 0,48

Tabela 9: Concentrações médias de Escherichia coli do dia 33 ao dia 187

Tempo Leira 1 Leira 2 Leira 3

(dias) (log UFC/g)

33 6,41 5,95 6,81

122 6,00 7,06 0,00

188 7,70 6,95 5,84

Figura 37: Concentração média de Escherichia coli ao longo dos primeiros 33 dias

Fonte: Elaborado pela autora

Tabela 10: Equação das retas e coeficiente de determinação (R²) de Escherichia coli da Figura 37

Leira Equação R² Inclinação (k) T90 (dias)

1 -0,0238x + 7,1367 0,860 0,0238 42,02

2 -0,0259x + 7,3776 0,192 0,0259 38,61

3 -0,0099x + 6,9604 0,117 0,0099 101,01

Fonte: Elaborado pela autora

Tabela 11: Equação das retas e coeficiente de determinação (R²) de Escherichia coli da Figura 38

Leira Equação R² Inclinação (k) T90 (dias)

1 0,0076x + 5,8399 0,438 0,0076 -

2 0,0068x + 5,8812 0,746 0,0068 -

3 -0,0063x + 7,0128 1,00 0,0063 158,73

Figura 39: Concentrações médias de E. coli e média das temperaturas ao longo do tempo de co-compostagem

Fonte: Elaborado pela autora

Mocé-Llivina et al, (2003) analisou o comportamento de microrganismos indicadores presentes em esgoto bruto e lodo de esgoto quando submetido a tratamentos termofílicos e concluiu que a E. coli é o indicador mais sensível ao calor.

Niwagaba (2009) analisou o sistema de co-compostagem também em pequena escala e concluiu que nos experimentos em que as temperaturas permaneceram acima de 50ºC por menos de 4 dias, foi detectada E. coli em todas as amostras em concentrações acima de 10³ UFC/g. Já nos experimentos em que as temperaturas permaneceram altas por mais de 4 dias, as concentrações chegaram a níveis abaixo do limite de detecção, mas depois houve recrescimento. Nos experimentos em que as temperaturas se mantiveram altas por 4 a 8 dias, obteve-se uma redução maior que 3 log10.

Christensen, Carlsbaek e Kron (2002) avaliaram quatro tipos de estruturas de leiras de compostagem com lodo de esgoto e restos de podas e resíduos de jardins, sendo duas estruturas com aeração passiva e duas com aeração forçada. Nas leiras de aeração passiva, houve redução na concentração da ordem 2,3 e 2,6 unidades de log durante o processo de sanitização e continuou com comportamento de redução durante a fase de estabilização. Nas leiras com aeração forçada, o período de sanitização se mostrou mais eficiente, no entanto, durante o período de maturação houve recrescimento, o que resultou em uma concentração maior no composto final.

Lopez Zavala, Funamizu e Takakuwa (2004) realizaram um sistema em pequena escala de co-compostagem com excretas de banheiro seco e resíduos orgânicos e nos dois experimentos as concentrações de E. coli reduziram a valores abaixo de 2 log10 após um mês

sob temperaturas mesofílicas (< 55ºC).

É interessante perceber que a maioria das pesquisas acerca do comportamento de E. coli em tratamentos termofílicos consegue alcançar uma redução expressiva nas concentrações.

Este estudo obteve redução no início do processo, mas os valores foram abaixo do indicado em outros trabalhos. Tais resultados podem ter sido por alguns motivos, como a não homegeneização da temperatura e dos resíduos e um grande recrescimento nas colônias ao longo de todo o processo. Vale ressaltar também, que segundo a OMS (2016), apenas 8% do total de E.coli representa a parcela patogênica.

Documentos relacionados