• Nenhum resultado encontrado

O financiamento do Governo: A alternativa para rentabilidade bancária

3. O COMPORTAMENTO DA FIRMA BANCÁRIA E A EVOLUÇÃO DO

3.1 A EVOLUÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO

3.1.2 O período de 1994 – 2004: O fim dos ganhos inflacionários

3.1.2.2 O financiamento do Governo: A alternativa para rentabilidade bancária

Diante da necessidade de equilibrar o balanço de pagamento e financiar de forma não inflacionária o déficit fiscal, o governo federal recorreu ao aumento da

62 emissão de títulos públicos.Tais promessas de dívida mantiveram os gastos do governo e permitiram aos bancos reencontrar uma forma de manter sua rentabilidade. Justificando mais uma vez sua capacidade de adaptação, os bancos refizeram sua estratégia de atuação e voltaram a comprar títulos do governo, os quais passaram a ser o grande alvo de seus ativos financeiros. O gráfico a seguir (Gráfico 9) indica um aumento sobre a alocação dos ativos financeiros dos bancos em operações de tesouraria de aproximadamente 13% durante o período de 1995 a 2003. Isto ocorreu devido a prática de uma taxa de juros básica elevada que tornava os papéis do governo muito atraentes, pois o rendimento de grande parte destes é indexado à taxa Selic32.

Gráfico 9: Composição do ativo dos Bancos múltiplos Privados

Fonte: BACEN (2003)

Outro fator que possui suma importância para esta análise é o caráter de alta liquidez que estes títulos oferecem diante de uma conjuntura permanente de instabilidade econômica, onde aliados à alta rentabilidade que os títulos do tesouro oferecem, formam um produto extremamente favorável à estrutura do sistema bancário, tornando-se o “sustentáculo fundamental de rentabilidade do setor bancário” (CARVALHO, 2005b).

Logo, torna-se perceptível que, como afirmado por Carvalho (2005b) e Jacob (2003), a sistemática que envolve o SFB está intimamente ligada a fatores macroeconômicos, pois tais instituições financeiras, por terem acesso a uma opção que lhes garantiam alta rentabilidade, alta liquidez e baixo risco (praticamente nulo, por se

32 Para maiores informações sobre a indexação dos títulos públicos consultar:

63 tratar de títulos do Tesouro Nacional) abriam mão dos altos spreads que poderiam obter mediante a aplicação dos ativos em crédito privado, os quais possuíam, por outro lado, maior risco e menor liquidez.

Para Paula, Alves e Marques (2001) a partir de 1997 os bancos retomaram a estratégia principal também utilizada no período de alta inflação, sobre a qual se contraía o crédito e aumentava as aplicações em títulos públicos, os quais, na época, eram indexados, em sua maioria, à taxa de câmbio ou overnight. Analisando as operações de crédito do SFB, Gregório (2005) afirma que em 1994 o crédito girava em torno de 36% do PIB nacional. Após sete anos tal índice encontrava-se em aproximadamente apenas 24% do PIB, conforme apresentado anteriormente (Gráfico 3). Quando comparado com outros índices de países desenvolvidos esta relação se mostra muito abaixo, indicando que o país está fora do padrão dos níveis internacionais para países do primeiro mundo. A economia brasileira encontra-se em níveis parecidos com outros subdesenvolvidos, como Argentina e México.

Gráfico 10: Crédito do Sistema Financeiro ao Setor Privado (em % do PIB)

Fonte: Fundo Monetário Internacional (apud Oliveira, 2006)

Em termos microeconômicos, a firma bancária brasileira agiu de acordo com suas expectativas em busca de maior rentabilidade e liquidez, traçando diferentes estratégias de acordo com cada oportunidade oferecida pelo mercado. Diante desta análise é possível dizer, como afirmado por Carvalho (2005b), que, nesse sentido, elas aproveitam de forma ótima tais possibilidades de ganhos. Os bancos tornaram-se especialistas em definir estratégias de acordo com o contexto em que se situam a fim de garantir sua rentabilidade, independentemente de estarem, ou não, seguindo o papel

64 esperado pela visão pós-keynesiana, ou seja, de financiar o desenvolvimento econômico, conforme abordado no capítulo teórico.

A firma bancária, segundo Paula (2003), aproveitou-se do contexto de instabilidade econômica do país para adotar uma política defensiva da alocação de seu portfólio, considerando que, também como os demais agentes, sob condições de maior incerteza, possuem preferência pela liquidez. Essa estratégia permitiu que, no Brasil, os bancos não enfrentassem o trade-off clássico que relaciona liquidez e rentabilidade, pois a alocação dos ativos em títulos do governo permite à instituição obter ambos os quesitos sob uma mesma aplicação, gerando, assim, uma alternativa altamente rentável.

Para Paula (2003), “as aplicações em títulos públicos representam um piso para o rendimento dos bancos”, haja vista que definem o mínimo que tais instituições podem lucrar diante de uma aplicação com riscos praticamente nulos. Isso representa um encalço para a expansão da carteira de crédito, pois diante de um alto custo de oportunidade, os bancos passam a cobrar um prêmio alto de risco na concessão de empréstimos. Além disso, com o intuito de diminuir os riscos inerentes ao sistema de crédito, os bancos optam pela realização de empréstimos de curto prazo, os quais representam um menor risco para a carteira.

Em condições de uma economia semi-estagnada e com crédito retraído, a estratégia de curto prazo dos bancos só pode ser entendida considerando [...] o contexto macroinstitucional específico da economia brasileira, em que os bancos extraem vantagens das altas taxas de juros e das condições em que o governo tem gerenciado uma dívida pública elevada e predominantemente indexada. (PAULA, 2003)

Sob tais problemáticas é de se esperar que a estrutura do sistema financeiro nacional permita e, de certa forma, influencie os bancos a emprestarem dinheiro sob um custo muito alto, ou seja, este sistema permite que altos spreads bancários sejam manipulados pelos bancos, tornando-se mais uma alternativa de altíssima rentabilidade para tais instituições financeiras.