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1.5.2 – O fumo do tabaco

No documento Benzeno no ar interior e no ar exterior (páginas 38-40)

Outra das principais causas da exposição humana ao benzeno, é o fumo do tabaco [8,21], que é mesmo a principal fonte de exposição dos humanos no caso de fumadores activos [9]. O fumo do tabaco contém benzeno, e no caso da população dos Estados Unidos, contribui com cerca de 50% da exposição da população ao benzeno [9].

A composição química do fumo do tabaco depende do tipo de tabaco usado, mistura, desenho do cigarro, presença ou ausência de filtro, tipo de papel, aditivos usados, da ventilação no local, e da forma como o indivíduo fuma. O tabaco é fumado principalmente na forma de cigarros, charutos e em cachimbo. A combustão do tabaco origina várias correntes de fumo. A corrente a principal é aquela que é inalada pelo próprio fumador no acto de fumar (ao inalar), a corrente lateral é a libertada na combustão do tabaco durante os intervalos entre as inalações do fumador. Estas duas correntes diferem grandemente na composição físico-química, sendo que a corrente secundária contém maiores quantidades de substâncias identificadas como cancerígenas do que a corrente principal. À mistura do ar ambiente, com o fumo da corrente lateral e com o fumo da corrente primária após ser expelida pelo fumador dá-se o nome de “fumo em 2ª mão” [14,15].

Numa das revisões dos conhecimentos sobre o fumo do tabaco, a IARC em 1986 [14] apresentava os resultados de vários estudos sobre o acto de fumar e as suas consequências para o ser humano. Neste relatório era apresentado o cancro do pulmão, como sendo a causa mais importante de morte de cancro no mundo, com uma estimativa de 1 milhão de pessoas anualmente. O risco de cancro dos pulmões está directamente relacionado com o número de cigarros que se fumam, e há quanto tempo é que se fuma, sendo que o risco aumenta com ambos os parâmetros.O acto de fumar (cigarros, charutos ou cachimbo entre outros), é uma importante causa de vários tipos de cancros do pulmão, bem como de cancro da cavidade oral, da laringe, da faringe e do esófago. O risco de aparecimento destes cancros é substancialmente aumentado com grandes doses de exposição ao consumo de álcool. Os fumadores de tabaco também apresentam mais riscos de contrair o cancro nos lábios. O hábito de fumar é ainda uma importante causa de cancro no pâncreas, bem como de adenocarcinoma renal, e cancro na bexiga. No entanto, a proporção destas doenças provocadas pelo fumo, não pode ser identificado exclusivamente como cancro dos pulmões. Por sua vez, os dados disponíveis não permitiam apresentar relações entre hábito de fumar com o cancro do fígado e do estômago. Neste documento, eram apresentados uma série de compostos químicos presentes no fumo do tabaco, encontrando-se entre eles o benzeno, acetaldeído, acetona, amónia, benzo[α]pireno, ciclopentano, ciclohexano, etilamina, dimitilamina, formaldeído, furfural, hidrazina, nicotina, óxido nítrico, dióxido nítrico, 2-nitropropano, PAH’s, piridina, pirrolidina, alcatrão, trimetilamina, uretano, cloreto de vinilo, entre outros.

Como avaliação final desta análise era apresentada no documento a seguinte conclusão: “Existem evidências suficientes que o fumo do tabaco é cancerígeno para os humanos”[14].

Posteriormente em 2002, a IARC [15] apresentou um novo documento, onde foi revista a informação mais recente existente sobre o fumo do tabaco. Neste documento era apresentado que nos anos mais recentes, têm-se verificado que as emissões de nicotina, alcatrão e de dióxido de carbono têm diminuído nos cigarros vendidos nos países desenvolvidos. No entanto, as emissões de nicotina ou de alcatrão, têm pouca importância na exposição humana aos cancerígenos. Por sua vez a legislação em vários países foi-se adaptando, criando taxas e áreas onde é proibido fumar, para assim proteger os não fumadores. Continua a verificar-se a situação de que há quanto mais tempo se fuma e quantos mais cigarros se fumam, maior o risco de cancro a que se está sujeito. Da mesma forma o risco é menor entre aqueles que deixam de fumar e os que continuam, e apresenta uma tendência decrescente quando se deixa de fumar. Este documento apresentava outros dados associados ao hábito de fumar. O acto de fumar aumenta a concentração de dióxido de carbono, benzeno e compostos orgânicos voláteis no ar exalado. A concentração na urina de certos matabolitos resultantes de alguns produtos cancerígenos encontrados no fumo do tabaco, são consistentemente superiores em fumadores do que em não fumadores. Isto inclui metabolitos do benzeno, bem como metabolitos de vários cancerígenos que causam tumores em animais. Tem sido demonstrado que ligações covalentes entre as proteínas do sangue e certos cancerígenos presentes no fumo do tabaco, ocorrem em altos níveis de forma mais significativa em fumadores do que em não fumadores. Estas ligações são derivadas de vários compostos incluindo o benzeno. A avaliação apresentada neste documento foi que existiam evidências suficientes em como fumar tabaco causa cancro da cavidade nasal e paranasal, sinusites, estômago, pâncreas, fígado, rins, bexiga, e medula óssea (além dos já referidos cancro do pulmão, da cavidade oral, laringe, faringe e esófago). No entanto existia falta de evidência que fumar tabaco origine cancro da mama nas mulheres.

Como avaliação final, foi apresentado que o acto de fumar e que o fumo do tabaco é cancerígeno para os humanos (Grupo 1).

A IARC também apresentou num documento de 2002, uma análise dos estudos realizados sobre o acto involuntário de fumar e as suas consequências [25]. O acto involuntário de fumar, consiste na exposição ao “fumo de tabaco em 2ª mão” produzido por outro indivíduo que se encontra a fumar. Trata-se de um fenómeno universal nos locais onde fumar é comum, pois o fumo do tabaco não afecta só a pessoa que se encontra a fumar, mas também as pessoas que fiquem expostas a esse mesmo fumo, no entanto, os fumadores involuntários não ficam tão sujeitos aos efeitos do fumo como os verdadeiros fumadores. O fumar involuntariamente envolve a inalação de substâncias cancerígenas e mutagénicas, bem como uma série de outras substâncias tóxicas. Das substâncias cancerígenas que estão presentes no fumo do tabaco, inclui-se o 1,3-butadieno, benzo-α-pireno, 4- (metilnitrosamino)-1-(3-piridil)-1-butanona e o benzeno entre muitas outras substâncias. O acto de fumar involuntariamente, envolve a exposição do indivíduo às mesmas substâncias carcinogénicas e tóxicas que estão presentes no fumo do tabaco produzido pelo acto de fumar activo, a qual é a principal causa de cancro do pulmão. O fumo de tabaco em “2ª mão”, consiste de uma fase gasosa e de uma fase de partículas, sofrendo diluição durante a sua distribuição no ar ambiente e com o tempo. A concentração de partículas respiráveis, pode elevar-se consideravelmente em espaços fechados contendo fumadores. O fumo de tabaco produzido pelo consumo de cigarros por terceiros tem sido muito sujeito a estudos. O fumo de tabaco contém nicotina bem como outras substâncias cancerígenas e tóxicas. A concentração de nicotina no interior das habitações de fumadores ou nos locais de trabalho onde seja permitido fumar, atinge vulgarmente os valores de 2 a 10 mg/m3 [25].

Nos últimos 25 anos, foram publicados mais de 50 estudos, envolvendo fumadores passivos e indivíduos com cancro nos pulmões e que nunca foram fumadores. Estes estudos, mostraram a existência de um aumento do risco, especialmente para os cônjugues de fumadores. Estes estudos demonstraram a existência de uma significância estatística e uma associação consistente, entre o

risco em contrair cancro do pulmão nos cônjugues de fumadores expostos ao fumo de tabaco inalado pelo cônjugue. O excesso do risco é da ordem dos 20% para as mulheres e de 30% para os homens, e o risco aumenta com o aumento da exposição.

Este documento apresentava como avaliação final que o acto de fumar involuntário é cancerígeno para os humanos (Grupo 1).

No entanto, nestes estudos não é atribuída uma relação directa entre o benzeno e o potencial cancerígenodo fumo do tabaco, apesar de em todos os estudos ser confirmada a presença de benzeno nesse fumo. Os métodos mais utilizados para a determinação da exposição de um indivíduo ao benzeno são através da medição da concentração de benzeno presente na respiração ou no sangue desse indivíduo. Também é comum determinar a concentração dos compostos originados na degradação do benzeno presentes na urina. No entanto, estes testes têm de ser realizados pouco tempo após a exposição, e não são muito utilizados na determinação de baixos níveis de exposição [4].

1.6 – LEGISLAÇÃO

No documento Benzeno no ar interior e no ar exterior (páginas 38-40)