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O FUTURO DO HOMEM

No documento I DO PASSADO AO FUTURO (páginas 65-76)

Comprova-se que a evolução vai para a espiritualização. O espírito não é criação da vida, mas revelação através da vida. Tudo caminha para Deus que é Espírito. A escada de Jacó. As construções psíquico-espirituais da biologia do futuro. Do inferno ao paraíso (passado e futuro). A moral e a evolução. A vida dirigida pela Providência. O esforço do homem e a ajuda de Deus. A evolução, por uma atração íntima caminha para Ele, como o rio para o mar. O futuro do homem e da vida. Os sistemas planetários, seu apoio.

Matéria, energia, vida, para o mesmo telefinalismo. A vida

desmaterializada, sem mais sustento planetário.

Até aqui quisemos penetrar nas causas e na estrutura do fenômeno da evolução, para compreender sua substância. Foi-nos assim revelado que, guiando todo o processo,existe um telefinalismo que o dirige. Parece-nos agora suficientemente provado que a evolução é um fenômeno pré-ordenado, nunca abandonado ao acaso, mas dirigido por uma inteligência e vontade para determinados fins preestabelecidos. É mister agora esclarecer qual a direção e provar o que já muitas vezes afirmamos, ou

seja, que ela é dada pela espiritualização do ser.

E como poderia ser de outra forma, se o processo da evolução não é — como o demonstramos em outros volumes — senão um regresso do anti-sistema ao sistema, o que significa caminhar da matéria para o espírito? Nesse sentido é que se desenvolve o fenômeno da evolução, que é uma superação continua de dimensões, consistindo num processo de desmaterialização e espiritualização. Se tudo, em seu caminho ascensional, caminha na direção de Deus, única meta universal, e se Deus só pode ser espírito, o telefinalismo da evolução só pode significar espiritualização. Pelo fato de que Deus é espírito, de que o anti-sistema em que ruiu o sistema é dado pela matéria, e de que a evolução vai deste aquele estado da substância, essa evolução não pode caminhar senão para o espirito.

Ora, a biologia concebeu, até hoje, a evolução, num sentido materialístico, compreendendo-o como um processo de transformismo morfológico, e não lhe viu as causas profundas e o telefinalismo para a qual estas fazem caminhar o fenômeno. Na verdade, apresentar a essa ciência uma continuação da

evolução, no sentido da espiritualização, representa uma novidade tão grande, que parece uma revolução biológica, dificilmente admissível. Mas a evolução só caminhou até hoje também por meio de revoluções, e, assim sendo, não farão elas também parte de seu método de transformismo? Não é novidade que este, após longas e lentas maturações, chegado as curvas decisivas, precipita-se para novos estados que parecem muito distantes dos precedentes, para poder-se aceitar que aqueles sejam a continuação destes. Não é a primeira vez que a evolução dá saltos semelhantes para a frente. E a cada um deles vemos nascer um mundo, regido por novos princípios. Por que não deveria agora a evolução poder realizar, chegada a este ponto, esta nova transformação, que, relativamente, não representa um desvio maior do que os realizados no passado? Por que agora, que chegou diante da espiritualização do homem, deveria a evolução mudar de método e fazer uma exceção, detendo a sua marcha? Já observamos a técnica íntima com que se desenvolvem essas revoluções. Agora que vimos o princípio determinante da evolução, que a anima e a guia, ficam elas logicamente explicadas e compreensíveis. Não é necessário que,no estágio inferior da evolução, sejam visíveis as causas de seu futuro desenvolvimento, porque estão sempre em ato causas mais profundas, suficientes para provocar o deslocamento para um plano superior. De todo o processo evolutivo, são elas que o impelem para a frente, para seu fatal telefinalismo.

Assim como da matéria e da energia nasceu a vida, mesmo que elas sozinhas sejam insuficientes para gerá-la, assim da vida poderá nascer o espírito, ainda que ela sozinha seja insuficiente para produzi- lo. E nada mais lógico, quando se sabe que o caminho de toda a evolução vai da matéria ao espírito, sabendo-se que esta é a meta final que deve ser atingida por todo o processo da evolução. Como a evolução utilizou as construções precedentes de matéria e energia para chegar a vida, é também lógico que o mesmo aconteça para o espírito, ou seja, que para chegar a isto, a evolução utilize as construções precedentes de matéria, energia e vida. Não pode ocorrer diversamente na construção de um edifício, senão por sucessivos planos superpostos.

Explicamos pouco atrás como pode verificar-se esse estranho fenômeno do "mais" que nasce do "menos", e podemos agora compreender como se pode realizar, por evolução, esse processo de espiritualização da vida O espírito, repetimos, não é uma criação da vida, mas uma revelação através dela, disto que agora simplesmente reaparece, porque já existia no sistema antes que ele caísse. Não é a vida que cria o espírito, mas é o viver que permite, com a experiência, o despertamento dele, ainda latente, ainda não revelado naquela fase de evolução, como muito menos se revelara nos planos mais baixos dela. Assim, a vida não é um trabalho inútil, sem objetivo, fim de si mesma, nem se esgota apenas com seu funcionamento, sem nada produzir; mas é um meio para atingir conquistas mais altas, como acontece sempre a cada passo do processo evolutivo. Como o plano da matéria gerou e sustenta o da energia, como o da energia gerou e sustenta o da vida, assim o plano da vida gera e sustenta o do espírito.

Vemos verificar-se aqui o mesmo fenômeno que comprovamos nos casos precedentes, na passagem de um plano inferior ao superior, pelo qual a quantidade se destila na qualidade. Assim, neste caso, o poder dirigente da evolução consegue extrair da vida os valores substanciais do funcionamento biológico, que são os da inteligência e do espírito. É assim que poderá fixar-se na raça humana um novo biótipo, o

do evoluído sensibilizado, psicológica e espiritualmente desenvolvido.

Tudo isto é lógico, sem dúvida. Mas estas afirmações estão em contraste estridente com a realidade do mundo de hoje, diante das quais elas podem parecer otimismo leviano. A humanidade parece caminhar precisamente pela estrada oposta. Aquelas afirmações caberia objetar-se que não se pode impedir que a luta pela vida, num sistema livre, leve a inteligência a desenvolver-se — ao contrário — no sentido da esperteza e do abuso. E é isto justamente que hoje está acontecendo no mundo. O homem é livre de desenvolver a inteligência mesmo na direção do mal, tanto mais que isto lhe poderá aparecer falsamente

como vantajoso atalho, para chegar primeiro a vitória. Mas então, como vai o homem para a espiritualização, que inicialmente deve ser consciência da Lei, para disciplinadamente enquadrar-se em sua ordem?

Em primeiro lugar, o momento atual é apenas um encrespamento na superfície de uma das grandes ondas da evolução,e poderá desaparecer entre os movimentos de alcance tão mais amplo. Virão reações e corretivos para tornar a pôr a vida humana em seu justo caminho.

Em segundo lugar, justifica-se o fenômeno com a técnica da tentativa, que a evolução costuma usar, como vimos. Isto significa que a humanidade é totalmente livre de seguir esse caminho, ou seja, desenvolver a inteligência, caminhando para o mal, em vez de dirigi-lo para o bem. Pode fazê-lo, mas a seu risco e perigo. Mas o passado da evolução mostra-nos que ela abandonou, depois, ao extermínio, essas tentativas erradas, que não correspondem ao telefinalismo que ela quer atingir. Ao homem pertencerá um futuro mais alto, quando mostrar-se digno dele Mas não é impossível o caso de uma humanidade, que teimosamente querendo desenvolver-se as avessas, descendo pelas estradas do mal, ao invés de subir pelas do bem seja liquidada, justamente pelo fato de que se rebela contra o princípio fundamental da evolução, que é subir para Deus, e não descer ao pólo oposto. Neste caso não faltam outras formas de vida e modelos biológicos atualmente concorrentes, prontos a substituir o homem em sua posição biológica se este quisesse obstinadamente engolfar-se num erro decisivo. E o pior seria exatamente isto: querer revoltar-se tentando derrubar a Lei, querendo ir em sentido contrário ao estabelecido por ela. Renovar-se-ia assim o processo da queda, filha da revolta, da qual só pode nascer involução. A raça humana regrediria automaticamente, em proporção à revolta que ela quis. O desenvolvimento da inteligência, se não for torcido por má vontade, deve levar, pelo contrário, a consciência da Lei, a obediência na ordem, e não, portanto, a revolta. O desastre ocorreria se a humanidade inteira estivesse estragada. Mas não o está totalmente. Assim é mais fácil que a vida resolva o problema por meio de uma separação ou depuração, afastando do ambiente terrestre s6 a parte que, com a revolta, gerou as causas de seu retrocesso.

O certo é que o impulso fundamental da vida, o de atingir o seu telefinalismo cedo ou tarde por um caminho ou por outro, imporá a sua vitória. E se esse telefinalismo significa espiritualização, a fase vida terá fatalmente que desembocar na fase espírito.

A evolução tem um caminho traçado e não pode sair dele. E a humanidade, mesmo que possa permitir-se temporárias digressões, terá de seguir, nas linhas gerais, a direção própria da evolução, que cada vez mais se torna dinamizante, libertadora da forma e do determinismo da matéria. Isto é também imposto pela necessidade lógica, implícita no transformismo, que é a de substituir, com uma continuação do existir numa forma nova, aquela sua contínua decadência que lhe é própria, pela qual o inferior deve ser abandonado e o passado superado. Se não quisermos que tudo acabe, é necessário que essa caducidade universal do ser seja compensada com uma correspondente criação contínua reconstrutora. Só o equilíbrio entre os dois impulsos opostos, o destruidor e o reconstrutor, pode permitir que eles sejam canalizados no caminho do transformismo, e assim disciplinados como instrumentos da evolução. Se o primeiro impulso não fosse continuamente corrigido pelo segundo,venceria o poder negativo que leva a dissolução, o que, além da absurda destruição da substância, cujas formas se sucedem subindo,constituiria, com o fim de tudo, a falência da obra de Deus.

Eis então, que, automaticamente, pelo princípio da indestrutibilidade da substância, a destruição do universo, expresso na forma do plano físico, implica a gênese do universo no plano espiritual. Não há razão para que não continue verdadeiro, também neste nível, o princípio geral que vemos dominar em

toda a evolução, pelo qual, se nada se cria e nada se destrói, mas tudo se transforma, a cada morte só pode seguir-se outra forma de existência. E o que estabelece a natureza dessa forma só pode ser a direção em que caminha toda a evolução, coisa que agora conhecemos. Tudo morre e tudo renasce, e assim se transforma, mas não ao acaso, e sim seguindo um caminho preestabelecido por uma inteligência que bem sabe aonde vai. Sobe-se, dessa forma, por uma escada, em que cada degrau é um ponto de chegada,ao mesmo tempo que um ponto de partida Os seres que estão ao longo da escada, podem ocupar níveis diferentes, adiantar-se, deter-se e até retroceder, mas não podem mudar o traçado estabelecido por ela.

Assim podemos compreender a imagem bíblica da escada de Jacó, como uma intuição do processo evolutivo. Os seres encontram-se escalonados em varias alturas, enquanto Deus os aguarda em cima. Corresponde isto perfeitamente a concepção da existência em planos superpostos, sendo que a inferior desemboca na superior. Cada plano representa uma etapa do transformismo, na qual a evolução faz uma parada. É por isso que cada plano é dirigido por uma lei diferente que lhe é própria, justamente porque representa uma forma diversa de existência, que é tal por achar-se situada a maior ou menor distância da meta final: Deus. Ao subir cada novo degrau, acontece como se o ser saísse do sistema precedente para entrar em outro, que imprime novo endereço, ao processo evolutivo, mesmo seguindo sempre a estrada que o leva a meta. Podemos agora explicar-nos tudo o que dissemos nesta obra, ou seja, que desaparecerá, por evolução, a lei da luta pela seleção do mais forte, própria ao plano animal-humano, sendo substituída pela lei que leva a seleção do mais justo e inteligente. Explica-se desta maneira a razão pela qual podemos ver no Evangelho a verdade biológica que dirigirá a vida do homem civilizado do futuro. Se o poder do impulso telefinalístico da evolução soube guiá-la até aqui, operando a transformação da matéria em energia, e desta em vida, não lhe faltará de certo o modo de continuar o mesmo trabalho, transformando o mundo biológico no espiritual. O Evangelho é apenas a Lei deste plano superior da vida.

* * *

Que nos reserva o ilimitado futuro? Já tendo caminhado tanto no passado, até onde poderá a evolução levar o homem? Agora, que nos parece suficientemente esclarecido, a direção que o telefinalismo impõe a evolução é precisamente a da espiritualização, possuímos elementos para responder a essas perguntas, e concluir este assunto, explicando cada vez mais e confirmando tudo o que acima dissemos.

Que existe no universo também o elemento pensamento, é fato que não se pode negar. Os astros e planetas constituem o corpo físico deste universo, enquanto a alma é representada por Deus, assim como o esqueleto e a carne constituem nosso corpo físico, cuja alma é o nosso eu. E o dinamismo radiante move o universo físico, dirigido pela Lei que representa o pensamento e a vontade de Deus, assim como o sistema nervoso move o nosso corpo, que é dirigido pelo pensamento e vontade do nosso eu. A presença do pensamento no universo é-nos provada pelo funcionamento e pela evolução do mesmo.

Ora, o nosso futuro é representado, justamente, pelo desenvolvimento desse pensamento. Hoje está o homem apenas nos primeiros passos nesse caminho, tanto que não lhe é fácil conceber quais serão os seus futuros desenvolvimentos nesse sentido. A biologia do futuro compreenderá uma nova forma de evolução que substituirá essa fisiológico-morfológica, para tornar-se cada vez mais nervosa, psíquica, espiritual. A vida atenderá. a uma construção própria, diferente, que se dirigirá para a conquista do conhecimento e da ética, dos valores espirituais e sociais, das grandes idéias abstratas e sintéticas. O tipo precedente de evolução tendia a uma perfeição mecânica do corpo. Mas para cada perfeição existe um limite natural de desenvolvimento, que se atinge quando se chegou ao rendimento máximo e ao resultado melhor,

utilizando o meio mínimo. Então aquela perfeição mecânica se detém, porque não é mais susceptível de progresso como tal, e, se ainda quiser avançar, deve transformar-se em qualquer outra coisa.

Fisicamente pouco mais tem o homem a construir. Não é desta forma, na qual progrediu bastante, que poderá encontrar um futuro a sua evolução. Não é no plano físico, de que já foi percorrida e superada a amplitude total e esgotadas as possibilidades, que o homem pode continuar a avançar. Com as religiões e o desenvolvimento do pensamento, com o Evangelho e a ciência já se iniciou essa nova forma de evolução. Ela gerará novo biótipo: o homem moral, dotado de instinto ético. A nova construção se está apenas iniciando. O sentido moral — que disciplina a própria conduta, em função de princípios mais altos do que a imediata satisfação da utilidade individual — é completamente desconhecido nos planos inferiores de existência, em que a vida ainda não chegou ao estado orgânico social humano. Desse novo sentido, a humanidade está esboçando as primeiras formações. Ele é indispensável para poder atingir, substituindo-se o caos pela ordem, a pacífica convivência nas grandes coletividades sociais do futuro.

Se a evolução quiser continuar através de seu mais alto produto, que é o homem, terá de continuar precisamente através das mais altas qualidades deste, que são as psíquico-espirituais. Para uma evolução, que vemos ter-se encaminhado já pela estrada da especialização psíquica, é absurdo que o progresso biológico volte exclusivamente ao sistema do passado, ou seja, a construção de órgãos que revolucionem a estrutura anatômica no plano físico. O homem físico representa um ponto de chegada da evolução orgânica, como aperfeiçoamento da forma, em nosso planeta. Já, agora, não é anatomicamente que os mais evoluídos diferem dos menos, mas é por suas qualidades intelectuais e morais. O médico vê e cura o mesmo corpo no delinqüente ou no selvagem, como no gênio ou no santo. Os homens hoje se diferenciam, mais do que pelo corpo, pela personalidade, que é agora a verdadeira base das distinções sociais. Embora teoricamente, as qualidades mentais e morais já começam a ser mais valorizadas que as físicas. O homem, em verdade, é o resultado muito mais de outras finalidades do que as que são apenas do seu organismo corpóreo. O homem futuro não será um animal forte, nem um astuto lutador, mas um cidadão consciente do universo.

A humanidade já procurou responder as perguntas que agora fizemos a nós mesmo. Ela possui, de formas diversas, nas várias religiões, a idéia do inferno e do paraíso. Ora, conceitos tão universais, como essas idéias que predominam no mundo, não podem ter nascido do nada, se não corresponderem a uma realidade profunda que as gerou. Se essas idéias existem de forma tão difusa, devem exprimir algo de fundamental na vida. Não podemos explicar a sua presença impressa na alma humana, quase como um instinto, senão como uma lembrança do passado e um pressentimento do futuro. Referimos acima, rapidamente, esses conceitos que aqui desenvolvemos. Estas idéias não apareceram no mundo por acaso, fruto de fantasia ou por vontade de chefes religiosos, mas fazem parte do desenvolvimento da vida, assumindo um significado biológico.

A idéia de paraíso exprime, justamente o estado a que a evolução levará o homem no futuro. Isto confirma tudo o que dissemos, porque já vemos existir nas religiões o conceito do telefinalismo que, segundo nos mostram, consiste exatamente na espiritualização. Se o inferno é matéria, o paraíso é espírito, e o atingimos fazendo da vida um processo evolutivo de purificação, que consiste em nos espiritualizarmos. Isto é o que ensinam as religiões, que demonstram assim admitir, elas também, a nossa tese do telefinalismo da evolução.

Esta se dirige do inferno, que exprime o passado involuído e bestial, cujo limite extremo é o anti-sistema, para o paraíso, que exprime o futuro evoluído e angélico, cujo limite extremo é o sistema. Inferno e paraíso indicam os dois pólos do processo involutivo-evolutivo, ou seja, Satanás e Deus. Por

isso o inferno é situado em baixo, na fase de maior involução (matéria) e o paraíso no céu, na fase de maior evolução (espírito). O inferno é constituído, então, pela aterradora lembrança, que ficou impressa no subconsciente, daquele nosso estado feroz animal e dos sofrimentos a ele ligados; e os demônios são apenas as forças e criaturas inimigas que nos fizeram sofrer.

O mesmo que pudemos dizer do Evangelho, considerando-o como antecipação da lei que regulará a humanidade civilizada do futuro, podemos agora dizer destas idéias de inferno e paraíso; ou seja, que isto não tem apenas um sentido religioso, puro objeto de fé, mas outro mais profundo, e que constitui um fato biológico positivo que racionalmente se impõe a ciência. O subconsciente humano registrou o passado, tão duramente vivido, e agora no-lo restitui com as impressões que ele gerou, nesta forma de instintivo terror. De fato, é nesse passado biológico involuído que são buscadas as figuras demoníacas, de que se julga povoado o inferno, reconstruindo-se o ambiente em que elas se movem. Os diabos são, com efeito, seres extremamente involuídos, monstros pré-humanos, com pêlo, rabo, garras, chifres, presas, como os animais: seres ferozes, capazes de todas as crueldades. O ambiente, por sua vez, é de natureza vulcânica, como fogo, enxofre, agitado por conturbações telúricas e atormentado por chuvas incandescentes. Mas este era apenas o estado do homem primitivo, indefeso, a mercê das feras e dos fenômenos naturais, num planeta que ainda era teatro de desencadeamento caótico de forças primitivas.

A terra situada em baixo, campo de tantas lutas, continha muitos perigos de morte. Do céu, no alto, vinham luz e calor, trazendo a vida. Em baixo, dor; em cima, alegria. A passagem do primeiro ao segundo nível de altura forneceu a imagem, e formou a idéia da subida que se eleva do inferno ao paraíso Assim a evolução foi concebida como um processo de redenção, que significa libertação da matéria baixa e suas

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