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O Governo Fernando Collor de Mello e a Implantação do Modelo Neoliberal no

CAPÍTULO 02: AS POLÍTICAS ECONÔMICAS DA MACROECONOMIA

02.1 O Governo Fernando Collor de Mello e a Implantação do Modelo Neoliberal no

No Brasil, o neoliberalismo, teve seu marco introdutório ainda durante o governo do Presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) com o processo de liberalização comercial, o aprofundamento da abertura financeira da economia e as privatizações, em resposta ao suposto esgotamento do modelo de substituição de importações e a crise econômica do Estado (Lacerda, Bocchi, et al., 2010).

[...] Collor avançou a implantação das políticas neoliberais com a redução das tarifas de importação, a partir de 1990, a formulação de uma ―nova‖ política industrial e a reforma do comércio exterior. Em agosto de 1990, deslanchou o processo de privatização das empresas estatais com a regulamentação do Plano Nacional de Desestatização, peça fundamental do projeto neoliberal (Batista, 1994, p. 09).

Neste aspecto a introdução do neoliberalismo em terras tupiniquins surge de uma congruência de diferentes fatores como: (i) o insucesso dos sucessivos planos econômicos39 que vislumbravam tirar o país de um processo de inflação crônico, mas que acabavam gerando mais inflação (ver Gráfico 05); (ii) a desconfiança em relação à competência de gerenciamento do Estado da economia (Sodré, 1997); (iii) da demanda de parte da classe empresarial nacional que enxergava no neoliberalismo vantagens econômicas40 e acolhendo-o ―como a novidade do Primeiro Mundo, aquilo que não se pode perder, a última receita de

felicidade‖ (Comblin, 1999); (iii) da pressão internacional que colocava a adesão do país a

39 Até o Governo Collor o Brasil, o poder público já havia implantado vários planos de combate à

inflação – Cruzado (1986); Bresser (1987) e Verão (1989) – todos não obtiveram sucesso e causaram no seu término um aumento da inflação.

40 O neoliberalismo como demanda da classe empresarial encontra-se na publicação “Livre para Crescer. Proposta para um Brasil Moderno‖ elaborada pela FIESP em 1990. Nele a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, propõe a adoção das políticas neoliberais como solução para a crise econômica nacional, o que pode representar uma incongruência haja visto que tal proposta representava uma redução do peso da industria a favor da agricultura de exportação (Sodré, 1997). Como salienta Batista (1994, p. 06-07): ―A proposta

da Fiesp inclui, entretanto, algo que o Consenso de Washington não explicita mas que está claro em documento do Banco Mundial de 1989, intitulado "Trade Policy in Brazil: the Case for Reform". Aí se recomendava que a inserção internacional de nosso país fosse feita pela revalorização da agricultura de exportação. Vale dizer, o órgão máximo da indústria paulista endossa, sem ressalvas, uma sugestão de volta ao passado, de inversão do processo nacional de industrialização, como se a vocação do Brasil, às vésperas do século XXI, pudesse voltar a ser a de exportador de produtos primários, como o foi até 1950 [...] Tudo se passaria, portanto, como se as classes dirigentes latino-americanas se houvessem dado conta, espontaneamente, de que a gravíssima crise econômica que enfrentavam não tinha raízes externas - a alta dos preços do petróleo, a alta das taxas internacionais de juros, a deterioração dos termos de intercâmbio - e se devia apenas a fatores internos, às equivocadas políticas nacionalistas que adotavam e às formas autoritárias de governo que praticavam. Assim, a solução residiria em reformas neoliberais apresentadas como propostas modernizadoras, contra o anacronismo de nossas estruturas econômicas e políticas”.

esse modelo como pré-condição para adesão do país aos acordos internacionais de renegociação da dívida externa latino-americana.

Gráfico 5: Evolução Anual do IPCA (1980-1993)

Fonte: Elaborado pelo autor com dados do Ipea (2009)

Sendo assim, o processo de abertura comercial, como defendia Friedman, ocorreu de forma unilateral através da eliminação de grande parte dos instrumentos de contenção das importações, que durante 1980 se baseavam em medidas não tarifárias, como a Lei do Similar Nacional, os Programas Especiais de Importação e as licenças de importação (Lacerda, Bocchi, et al., 2010), resultando em alterações profundas na economia brasileira.

A abertura provocou uma profunda reestruturação industrial no Brasil, trazendo benefícios para os consumidores pela maior disponibilidade de bens e serviços, com melhores preços e tecnologia, embora com impactos negativos sobre o nível de emprego. A abertura brasileira se deu em condições particulares, sem que os fatores de competitividade sistêmica fossem adaptados, o que provocou um desafio exemplar para os produtores locais. Estes, ao contrário dos concorrentes internacionais, foram prejudicados com tributação e juros elevados, carência de infraestrutura e excessiva burocratização41 (Lacerda, Bocchi, et al., 2010).

41 Neste aspecto é valido citar que a despeito da federação empresarial paulista que aparentemente

negligenciou os malefícios da abertura comercial para o setor, o presidente da General Motors Mundial, em visita ao Brasil, defendeu ―a necessidade de se conter o ímpeto da abertura comercial, com o natural receio de

não poder a GM norte-americana competir no mercado brasileiro com os veículos de origem japonesa ou coreana, caso aquele processo prosseguisse.” (Batista, 1994, p. 07). Sendo assim, coube, como afirma Batista

0% 500% 1000% 1500% 2000% 2500% 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 Plano Cruzado Plano Bresser Plano Verão Plano Collor I Plano Collor II

No que diz respeito à abertura financeira, o Governo Fernando Collor de Mello, (Painceira e Carcanholo, 2002), promoveu alterações na legislação nacional de forma a facilitar o livre fluxo de capitais, merecendo destaque a criação e diversificação de instrumentos de captação externa e a redução de entraves burocráticos ao envio de recursos ao exterior (Biancareli, 2004). Neste caso a liberalização estava baseada na crença de que esta:

[...] seria a tábua de salvação para a realização de novos investimentos que proporcionassem condições mais favoráveis de competitividade aos setores produtivos voltados para o comércio exterior. Essa estratégia de crescimento induzida para o comércio internacional resultaria, em etapa posterior, numa posição mais favorável desses países para enfrentarem os desequilíbrios de seus respectivos balanços de pagamentos e uma inserção internacional em condições mais propícias na economia globalizada. Os ganhos de competitividade, entretanto, fariam crescer a capacidade exportadora. O aumento da capacidade de exportação resultaria em aumento do estoque de divisas estrangeiras conversíveis, mediante os superávits em conta corrente. Essas divisas estrangeiras, então, serviriam para melhorar as condições para a realização dos pagamentos dos encargos e amortizações das dívidas contraídas no período anterior, no momento da liberalização financeira e entrada de capitais de empréstimos42 (Gomes, 2009, p. 208).

Em 1990, o Governo Collor também lançaria as bases para outro componente importante do programa econômico neoliberal – as privatizações. Através do Programa Nacional de Desestatização (Lei 8.031/1990), o governo do então presidente transformou as privatizações esporádicas da década anterior em um programa definido e abrangente que visava à privatização de sessenta e oito empresas (Lacerda, Bocchi, et al., 2010). Tal programa seria também utilizado nos governos posteriores como componente importante da política econômica nacional.

Muito defendida em nome da eficiência da gestão privada dos negócios, a privatização é também promovida em função de objetivos fiscais de curto prazo. A saber, a necessidade de assegurar aos Tesouros depauperados recursos não inflacionários e não tributários necessários ao equilíbrio das contas governamentais, sem necessidade, portanto, de aumentar impostos ou cobrá-los com mais rigor. Com a vantagem adicional de proporcionar, ao mesmo tempo, bons negócios ao setor privado. Na realidade, do ponto de vista da retomada do desenvolvimento, mais válido seria canalizar os recursos do setor privado para os novos investimentos (Batista, 1994, p. 20).

(1994, p. 07), “aos investidores americanos e europeus, e não aos empresários nacionais, assumir a defesa da

indústria instalada no país através da política de substituição de importações condenada pela onda neoliberal”. 42 Porém, os que afirmavam que a liberalização seria a tabua de salvação só esqueceram de “[...]combinar os termos da continuidade da reestruturação e modernização econômica, bem como da ampliação dos prazos de financiamento com a comunidade financeira internacional” (Gomes, 2009, p. 208). O

que releva por sua vez o erro já denunciado décadas atrás por Keynes, de que ―a teoria clássica represente o caminho que a nossa economia, segundo o nosso desejo, deveria seguir, mas supor que na realidade ela assim se comporta é presumir que todas as dificuldades estejam removidas” (KEYNES, 1996, p. 66).

Além dessas políticas, o Governo Collor promoveu alterações na política industrial brasileira e uma ampla reforma administrativa que também pactuavam com o arcabouço político-econômico neoliberal (Lacerda, Bocchi, et al., 2010).

Porém, o Presidente Collor não teve tempo para ir além nas suas reformas neoliberais. Após sofrer grande desgaste no campo econômico, provocado tanto pelo insucesso do Plano Collor II como pelo confisco promovido pela Ministra Zélia Cardoso de Mello no plano Collor I. E grande desgaste político motivado por denuncias de corrupção. Fernando Collor de Mello foi impeachmado em outubro de 1992. Em seu lugar, assumiu o então Vice-Presidente da República, Itamar Franco, que mantendo os compromissos com a política iniciada pelo seu antecessor, vislumbrava por um fim ao mal da inflação.

02.2 O Plano Real e o Primeiro Governo Fernando Henrique Cardoso – A