1.3. A Relatividade Restrita: os axiomas de Einstein
1.3.5. Transformações de Lorentz
1.3.5.2. O Grupo de Lorentz
Seja M o espaço-tempo de Minkowski. Uma transformação de Lorentz é uma função linear L : M M que, para quaisquer x, y M, satisfaz a condição
Lx.Ly x . y ( 1.197 )
Se Ljiforem os coeficientes da matriz L (com i, j 0, 1, 2, 3), tem-se
Lx Ljixj
xi . ( 1.198 )
As transformações de Lorentz são, então, definidas como um conjunto de transformações do tipo
xi xi L j
ixj ( 1.199 )
das coordenadas de Minkowski que deixam a métrica de Minkowski invariante, i.e.,
LkiLrjij kr ( 1.200 )
e
Lx.Ly ijLkixkLrjyr LTLkrxkyr ( 1.201 )
Lx.Ly x . y LTL
krxkyr krxkyr ( 1.202 )
quaisquer que sejam x, y M. Conclui-se que uma matriz de Lorentz, L satisfaz a condição
LTL . ( 1.203 )
Será impostante referir que se L for uma matriz de Lorentz, então LT
também o será.
Por ( 1.203 ), tem-se que det L 1. Se x y em ( 1.197 ), então x é um vector temporal se e só se Lx é um vector temporal; x é um vector espacial se e só se Lx é um vector espacial; e, pela propriedade da não-degenerescência do produto interno, x é um vector nulo se e só se Lx for um vector nulo.
O grupo das transformações de Lorentz em M formam um grupo a que se dá o nome grupo de Lorentz que se representa por L.O elemento identidade deste grupo éji e o elemento inverso é dado pela matriz inversa.
A matriz Ljié invertível, pois, de ( 1.200 ), vem
det L2 1 det L 1
pelo que a matriz é não singular, logo invertível.
1.3.5.3. Dilatação do tempo
Considere-se que um relógio fixo emxxA , no referencial
S, regista dois
Figura 1.9. : Acontecimentos sucessivos registados por um relógio fixo emS.
Os acontecimentos sucessivos em S são xa ,
t1 e xa , t1 T0 .
Utilizando as transformações de Lorentz, em S, tem-se
t1 t1 xA c2 , t2 t1 T0 xA c2 . ( 1.204 )
pelo que o intervalo de tempo, em S, definido por T t2 t1 é
T T0 ( 1.205 )
o que demonstra que os relógios em movimento se atrasam através do factor
1 2/c212.
A este fenómeno chama-se dilatação do tempo. A taxa mais rápida de tempo corresponde ao relógio em repouso (relógio ideal) e chama-se taxa
própria.
O tempo medido por um relógio ideal, aquele que não é afectado pela sua aceleração e cuja taxa depende da sua velocidade instantânea, chama-se tempo próprio. Este tempo entre t1 e t2 é dado por
t 1 t2 1 2 c2 1 2dt. ( 1.206 )1.3.5.4. Contracção do comprimento
Considere-se a barra fixa no referencial S de extremidades xA e xB ,
descrita na figura seguinte
Figura 1.10. : Movimento de um corpo com velocidade em relação a S.
O referencialS move-se com velocidade em relação a S. No referencial S, o corpo tem coordenadas xAe xB obtidas pelas transformações de Lorentz
xA xA tA e xB xB tB. ( 1.207 )
O comprimento da barra em repouso, i.e., medido emS é dado por l0 xA xB x, ( 1.208 ) medido em S, no instante t tA tB é l xA xB x. ( 1.209 ) De ( 1.207 ), vem que l 1l 0 ( 1.210 )
verificando-se, assim, que o comprimento de um corpo na direcção do seu movimento, com velocidade uniforme , tem uma redução de 1 2/c2. A
este fenómeno dá-se o nome de contracção do comprimento.
O corpo tem maior comprimento no referencial onde se encontra em repouso, neste caso, emS. Este comprimento é o comprimento próprio.
1.3.6. 4-Vectores
1.3.6.1. 4-posição
A formulação tensorial da relatividade restrita assenta na invariância de
ds2
dxdx
sendo as coordenadas no espaço-tempo M representadas por x, em que
0, 1, 2, 3 e
x0 t x1 x x2 y x3 z
A x chama-se vector 4-posição.
1.3.6.2. 4-velocidade e 4-aceleração
Considere-se o movimento de uma partícula de acordo com a curva x
no referencial inercial S. O movimento é parametrizado pelo tempo próprio.
Para uma partícula, a sua 4-posição x é temporal, isto é, xx
0, o que
que a sua velocidade não pode ser superior à da luz. No referencial S, a partícula move-se com a 3-velocidade
v dr
dt .
A 4-velocidade será definida pela variação do vector posição da
partícula em relação ao tempo próprio:
dx
d , 0, 1, 2, 3. ( 1.211 )
Como dxé um 4-vector e d é um invariante, é um 4-vector.
Pelo fenómeno da dilatação do tempo, tem-se que
d dt. ( 1.212 )
Uma vez que
dxd dxd d2 dxdx dxdx d2 0 ( 1.213 ) e ds2 dxdx c2d2, ( 1.214 ) verifica-se que
c2 0, ou seja, a 4-velocidade é um vector temporal
e invariante.
Por analogia com a Mecânica Clássica, pode definir-se a 4-aceleração pela relação
a d
d . ( 1.215 )
1.3.6.3. 4-Força e 4- Momento
segunda lei de Newton, sabe-se que a força é dada por
F dp
dt ( 1.216 )
em que p é a quantidade de movimento. Analogamente, é possível definir um 4-vector da forma
F dp
dt , 0, 1, 2, 3 ( 1.217 )
em que F é a 4-força e p o 4-momento. A definição de 4-momento vem
da Mecânica Clássica e, assim, o 4-momento será
p m0, ( 1.218 )
sendo m0 a massa inercial da partícula no seu referencial de repouso e a
4-velocidade. A m0 dá-se o nome de massa de repouso ou massa própria
(a massa da partícula medida por um observador que se desloca com ela) e é um invariante. Assim, ( 1.217 ) pode escrever-se na forma
F dp
dt m0 d
dt ( 1.219 )
onde se assume que a massa em repouso, m0, não varia durante o
movimento.
m m0 é a massa inercial da partícula, i.e., m m0
12/c2 m0 ( 1.220 )
representa a massa em movimento da partícula que se move com uma velocidade. O 4-momento definir-se-á, então, por
p m
0 m. ( 1.221 )
1.3.6.4. A 4-força de Minkowski
transformação de Galileu, não são invariantes na transformação de Lorentz. Têm que ser generalizadas de forma a obter-se uma lei para a força que satisfaça os requisitos covariantes da Relatividade Restrita.
Considere-se F a força de Minkowski e f a força de Newton. A 4-força é definida pela relação
F dp
d 0, 1, 2, 3
o que faz com que a generalização que se procura seja tal que, para velocidades muito pequenas quando comparadas com c, a equação se reduza à forma clássica
fi dpi
dt i 0, 1, 2, 3
sendo f a força de Newton.
Como d e dt estão relacionados através da expressão ( 1.212 ), a
equação para a força de Newton pode escrever-se na forma
fi dpi
d ( 1.222 )
ou seja
fi dpi
d . ( 1.223 )
Esta expressão mostra que as componentes espaciais do 4-vector da força de Minkowski estão relacionadas com a força de Newton através da relação
Fi fi i 1, 2, 3 ( 1.224 )
Incluindo a parte temporal do 4-vector da força de Minkowski, chega-se à expressão para a 4-força de Minkowski:
F 1
1.4. A Relatividade Geral
Em 1915, Einstein desenvolveu a Teoria da Relatividade Geral na qual considerava todos os objectos acelerados em relação a outros. Esta teoria foi desenvolvida numa tentativa de explicar conflitos aparentes entre as leis da relatividade e as leis da gravidade, baseada num novo conceito de gravitação e atendendo a vários princípios.
1.4.1. Os princípios
Há cinco princípios que, explícita ou implicitamente, guiaram Einstein na sua busca da Teoria da Relatividade Geral: Princípio de Mach, Princípio de Equivalência, Princípio da Covariância, Princípio da Acoplamento Mínimo Gravitacional e Princípio da Correspondência.
1.4.1.1. Princípio de Mach
A essência dos dois primeiros princípios vem da compreensão da natureza das leis de Newton que se aplicam apenas a referencias inerciais e são os seguintes os postulados do princípio de Mach relevantes para a formulação da teoria da Relatividade Geral:
M1. A distribuição de matéria determina a geometria. (Este postulado
incorpora o essencial das ideias de Mach.)
M2. Se não há matéria, não há geometria. (Aqui é referida a
M3. Um corpo, no vácuo, não possui propriedades inerciais. (Uma
vez que, sendo o corpo único, nada há que interaja com ele.)