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CAPÍTULO 5 – OLHAR SOBRE AS PRÁTICAS ACADÊMICAS

6.4 PARTICIPANTES E MEIO ACADÊMICO: a relação dialética

6.4.1 O Grupo de Discussão

O grupo de discussão, conforme mencionado no capítulo metodológico, consistiu na quinta etapa desta pesquisa. Nesse momento da pesquisa foi possível não apenas verificar os posicionamentos das participantes a partir das observações e das entrevistas, mas também considerar como elas apresentam discursivamente seus posicionamentos em um momento de (inter)ação em grupo para discutir o assunto. Cabe ressaltar, que o grupo de discussão foi realizado com as quatro participantes iniciais na pesquisa. No entanto, não cabe neste momento retratar os dados das demais participantes, portanto, apresento somente a discussão sobre as observações no discurso da P1 e da P2.

Na realização do grupo de discussão procurei me colocar também como pesquisadora participante do grupo. Desse modo, considerei minhas percepções do processo de formação acadêmica e os motivos que fizeram com que delineasse a proposta da pesquisa. Com isso, foi possível mostrar às participantes que assim como elas passei pelo processo de inserção nas práticas sociais acadêmicas e da mesma forma senti necessidade de procurar subsídios que contribuíssem para as produções do texto acadêmico.

Além disso, ressaltei minha mudança em relação ao tema e linha de pesquisa, primeiramente na IC, na qual mudei de tema em relação ao Pré-Projeto, depois com a mudança de tema e linha de pesquisa também na IC, por meio da mudança de orientação, linha e tema pelo qual formulei meu Projeto para o TCC e TCC. Por fim, com a entrada no mestrado houve novamente mudança de orientação e consequentemente de tema e linha de pesquisa. Assim, procurei mostrar o meu processo em relação à escrita acadêmica, que até aquele momento havia passado por várias alterações e adequações como forma de enquadramento às novas circunstâncias e exigências específicas do ambiente.

Assim, a P1 e P2 expuseram que conseguiram notar o processo de sua escrita em direção à escrita acadêmica a partir do momento em que começaram a IC, pois alunos que desenvolvem pesquisa na graduação treinam a escrita acadêmica. A P1 fala que antes da IC provavelmente esse processo já existisse, no entanto, ela começou a notar apenas a partir disso. Para P2 as refacções de textos além da IC foram importantes para esse processo, pois antes da fazer parte da comunidade universitária não tinha esse hábito, na escola quando recebiam o texto com correções apenas observavam-nas e guardavam o texto.

Para a P1, na universidade as primeiras ocorrências em que precisou refazer seus textos foram frustrantes, pois no primeiro momento sentia-se mal, mas notou que isso faz parte da mudança em relação às produções de textos, pois há um processo necessário para entender que o texto não é um todo finalizado. Enfatizou que ele é uma construção.

Sobre as necessidades em relação ao comportamento no meio acadêmico a P2 relatou que na universidade se policia para falar, pois para ela o ambiente do curso de Letras implica essa cobrança, principalmente em relação ao uso das palavras. Nesse sentido, percebe-se o uso das palavras como forma de ação no meio e nas práticas sociais do espaço acadêmico. Assim, os atos da fala efetivados nas práticas linguísticas

da P2 na universidade parecem ser regidos pelas circunstâncias e pelo contexto, que resultam nas ações da participante ao se manifestar nessas práticas sociais por meio da linguagem.

Com relação à forma como usa a linguagem no ambiente acadêmico, a P1 diz que devido ao fato de cursar Letras sente que necessita chegar o mais próximo possível de uma boa fala e de uma boa escrita. A participante, no entanto, relata que tem a personalidade descontraída o que, no espaço universitário, a prejudica. Como exemplo, ela conta que em apresentação de trabalhos orais ela usa fichas escritas como forma de regrar seu modo de falar, pois considera que sua linguagem formal ainda é muito informal para os padrões acadêmicos. Percebe-se na P1 a necessidade de adaptação ao ambiente de acordo com as normas e o uso de fichas como mais uma estratégia de adaptação, pois para ela esse ambiente exige mais formalidade. Assim, os usos de especificidades na norma, no conteúdo e no vocabulário são parte dos atos perlocucionários pelos quais a performatividade pode ser retratada nos usos linguísticos da participante nesse ambiente.

Durante o grupo de discussão, a partir da questão da formalidade e da ressalva da P1 em relação a sua personalidade descontraída, o grupo discutiu as diferenças em relação à personalidade e com isso ao modo como as pessoas interagem nos ambientes. Para a P1 a interação é algo pessoal, devido a cada um possuir um histórico da vida diferente. Para ela, no ambiente acadêmico o maior desafio é se adaptar ao meio e ao mesmo tempo manter esse histórico individual, ou seja, é ponderar entre o adaptar e o manter.

Desse modo, percebe-se que unir interesses a padrões sociais, no caso padrões acadêmicos, e fazer escolhas conciliáveis. No entanto, às vezes pode não ser possível ou o sujeito optar por não fazer as concessões, não conseguir equacionar, haja vista que escolhas podem trazer desdobramentos imprevisíveis.

Durante a discussão todo o grupo concordou que manter a todo preço esse histórico individual e mostrar que é diferente pode não se bom, devido à exclusão que pode ocorrer no ambiente e nas praticas sociais, e ao fato de que as pessoas não fazem tudo o que querem em qualquer circunstância.

Com a discussão apresentada em relação ao grupo de discussão é possível perceber que a P1 e a P2 tem consciência das convenções existentes no ambiente, e como acadêmicas que desenvolveram IC optaram em buscar essa adaptação às convenções. Isso poder ser observado também nas especificidades e na evolução do

processo de escrita em seus textos analisados e do mesmo modo na maneira mais formal pela qual elas relatam usar a linguagem no meio acadêmico.