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O Grupo Escolar Getúlio Vargas em Guanambi

3. OS GRUPOS ESCOLARES NA BAHIA: (retro)perspectivas para a pesquisa

3.2 O Grupo Escolar Getúlio Vargas em Guanambi

a memória da escola mais antiga da cidade.

3.2 O Grupo Escolar Getúlio Vargas em Guanambi

Guanambi é parte integrante da Sesmaria da Casa da Ponte. O povoamento do território iniciou-se por volta de 1742, por portugueses que se estabeleceram na região, desenvolvendo a agropecuária. Cotrim (1995) indica registros de onde os gentios74 foram perseguidos e seus moradores escravizados pelos colonizadores portugueses:

Com a colonização do sudoeste baiano, surgiram várias vilas e povoados na região, destacando-se os gentios, locais habitados pelos índios ainda segregados da civilização... o povoado de Nossa Senhora do Rosário do Gentio (Ceraíma), não foi diferente (COTRIM, 1994, p. 13-15).

Em 1870, Joaquim Dias Guimarães, proprietário da Fazenda Carnaíba, construiu a igreja de Santo Antônio, iniciando a formação do povoado denominado Beija Flor75. Guanambi até o ano de 191976 pertencia aos Montes Altos, quando foi emancipado. Em 1962, teve seu território desmembrado para formar o município de Candiba. O Grupo Escolar Getúlio Vargas representa o primeiro estabelecimento público de ensino e nesta modalidade.

De acordo com Meira (2007), o prédio fora edificado por Odimiro Brito Silva (mestre-de-obras), Osvaldo Silva Pires (pedreiro), Francisco Silva Pires (pedreiro) e Trajano da Silva Pires (carpinteiro) em 1928, quando ointendente José Ferreira Costa administrava o município, mas inaugurado como Grupo Escolar em 1938, em comemoração ao aniversário do marco político, o Golpe de Estado, praticado por

74 Eram assim denominados os habitantes do povoado Nossa Senhora do Rosário do Gentio (Ceraíma), atual território de Guanambi.

75 Guanambi, resultado das variantes das palavras guainumbi, guanumbi e guanambi que, segundo os estudos etimológicos em tupi-guarany, é a designação comum aos pequeninos beija-flores... tinham como seu habitat as vazantes do rio Carnaíba de Dentro e os vales da região do Gentio (COTRIM, 1994, p. 34). 76 Segundo o IBGE, Integrantes da sesmaria da Casa da Ponte, o território foi adquirido no início do século XVIII pelo alferes Francisco Pereira Barros. Em 1742, Pereira Barros construiu a capela de Nossa Senhora Mãe de Deus e dos Homens, iniciando a povoação denominada Praia das Palmas de Monte Alto. Em 1840, o povoado elevou-se à freguesia. O topônimo foi alterado em 1943 para Palmas de Monte Alto, em virtude da existência da Serra de Monte Alto nas proximidades da Cidade. No decorrer de sua história, Palmas de Monte Alto teve seu território desmembrado para formar os municípios de Riacho de Santana (1878), Guanambi (1919) e Sebastião Laranjeiras, (1962). Para saber mais:

Getúlio Vargas.Sua estrutura arquitetônica é originalmente mantida para a atualidade e posta a tombamento cultural.

Documento 3: Fase inicial da construção do Grupo Escolar Getúlio Vargas, Guanambi – 1937

Fonte: MEIRA, Dulce da Silva (Dizinha), Rimando a História – Volume 2, 2007, p. 100.

Documento 4: Etapa final da construção do Grupo Escolar Getúlio Vargas, Guanambi, 1937

Aos 10 dias do mês de novembro de 1938, dar-se-ia a inauguração do majestoso Grupo Escolar Getúlio Vargas, ato público, cívico e patrimonial, registrado em ATA:

Fonte: Acervo pessoal – GuaJCL03 - Destaque nosso.

O início das atividades escolares no GEGV/Gua, o primeiro Grupo Escolar da cidade, foi acompanhado de festejos em comemoração ao Estado Novo e ao “Egregio Presidente Getúlio Vargas”, com “rojões e foguetes”. Aos poucos, o estabelecimento do GEGV/Gua confrontou-se com o processo de urbanização e modernização da cidade. A estrutura da construção assemelha-se, em vários aspectos, ao modelo de Grupo Escolar de outras cidades da Bahia ou de outros estados do Brasil, caracterizando essa modalidade de ensino como escola-modelo.

Ata da sessão solene de inauguração do Prédio do Grupo Escolar Estadual desta cidade:

Aos dez dias do mês de novembro de mil novecentos e trinta e oito, às dezenove horas na cidade de Guanambi, Estado da Bahia, reuniram-se em sessão solene as pessoas abaixo assinadas, compostas de autoridades locais e representantes de todas as classes sociais deste município, para o fim de proceder à inauguração do Prédio destinado ao Grupo Escolar Estadual desta cidade.

Atendendo o excepcional dia, comemorativo do primeiro aniversário do advento do Estado Novo, deliberou a mesa que, nesta ata, constam em tratamento das festas cívicas realizadas nesta cidade: A uma hora de hoje, a mocidade masculina local fez uma passeata pelas ruas e praças, precedida de um Jazz band, durante a qual foram queimados rojões e foguetes e erguidos calorosos vivas ao Egrégio Presidente Getúlio Vargas, ao Eminente Doutor Landulfo Alves, ao Estado Novo e outras autoridades do Estado e da República. A passeata alongou-se até quase cinco e meia da manhan. Às seis horas em ponto, o povo reuniu-se em frente à Prefeitura Municipal para o hasteamento da Bandeira.

Documento 5: ATA de inauguração do Grupo Escolar Getúlio Vargas/ Gua, 10 de Novembro de 1938

Documento 6: Vista Panorâmica da Praça da Bandeira, Guanambi, 1950

Fonte: Arquivo institucional – GEGV/Gua

Nos anos de 1950, a composição espacial-geográfica de Guanambi acrescia-se de aspectos populacionais e urbanos em desenvolvimento, onde o processo de industrialização, que praticamente se iniciou em 1930, tomou corpo em 1940 e intensificou-se na década de 1950, provocando o surgimento de novas forças sociais, como a burguesia industrial e o operariado urbano, dando início à contestação da escola de elite no país (CABRAL; AMARAL, 2000, p. 21).

Documento 7: Vista Panorâmica da cidade de Guanambi, anos 1950

As belas construções datadas de 1938 (em Brumado e Guanambi), com cunho político, econômico e social, figuradas na pessoa do então Presidente da República, Getúlio Vargas, foram arquitetadas com caráter monumental e propagandístico político. Os suntuosos prédios escolares, principalmente os dos Grupos Escolares, como vimos, marcaram a nova feição urbana em pleno processo de mudança e serviram, por conseguinte, para embelezar a cidade e dar-lhe um ar de modernidade (PINHEIRO, 2002, p. 148).

O autoritarismo, símbolo do governo ditatorial, imperava a partir do momento em que o Estado tratou de organizar a educação de cima para baixo, sem envolver uma mobilização da sociedade, mas sem promover também, consistentemente, uma formação escolar totalitária, abrangendo todos os aspectos do universo cultural (FAUSTO, 2010, p. 188).

Como estratégia de governo, os Grupos Escolares se constituíram também em medida cautelar em relação às despesas orçamentárias, já que a reunião de várias escolas primárias de uma determinada área em um único prédio era entendida pela administração pública como um benefício financeiro aos seus cofres por não ter de arcar com as despesas com aluguel, por exemplo, das diversas casas que abrigavam as então escolas isoladas (COSTA, 2012, p. 80).

Documento 8: Vista frontal da Escola Municipal Getúlio Vargas, Guanambi, Outubro/2014

Fonte: Registro Fotográfico por Rosemeire dos Santos Amaral

Em 2014, o GEGV/Gua encontrava-se em atividade, com a denominação Escola Municipal Getúlio Vargas, com Autorização de Funcionamento pela Portaria 3129 D.O.

de 08/05/81. A Escola foi municipalizada pelo convênio 270/2006, firmado entre o Governo do Estado e a Prefeitura Municipal de Guanambi em 17/04/2009 e atende a uma clientela de ensino fundamental I (antigo curso primário de 1ª a 5ª série) no diurno e a EJA (educação de jovens e adultos) no noturno.