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Édipo Rei:

- Encenada pela primeira vez em 430 a.C., aproximadamente.

Personagens:

Édipo rei (rei de Tebas) Jocasta (esposa de Édipo) Creonte (irmão de Jocasta) Tirésias ( velho adivinho)

Sacerdote ( intermediário entre os deuses e o homem) Corifeu ( principal figura do coro)

Coro ( grupo de cantores)

De forma geral, a peça Édipo Rei narra o mito de Édipo, um rei que tem a preocupação em esclarecer os mistérios de um assassinato que foi realizado por ele próprio.

ENREDO:

38 Esfinge: Imagem representativa, geralmente com corpo de leão alado e cabeça de mulher, possuindo ainda uma calda de serpente. No mito de Édipo, a esfinge é vista como uma criatura que traz malefícios para a cidade de Tebas, onde os cidadãos não conseguiram decifrar seu enigma. Édipo foi o único que respondeu a questão enigmática, que indagava: “Que criatura pela manhã tem quatro pés, ao meio dia tem dois, e à tarde tem três?”. A resposta é o Homem (BRANDÃO, 1985, p. 39)

Uma epidemia de peste assola a cidade de Tebas. A população encontra-se temerosa, pedindo aos deuencontra-ses uma solução para aquela situação. Édipo promete ao seu povo tomar a medida necessária para afastar o mal no qual a cidade se encontra submetida e anuncia que enviou o seu cunhado, Creonte, para consultar o Oráculo de Delfos, para indagar a respeito dos motivos da peste em Tebas, que estava levando a mesma ao declínio.

Ao regressar Creonte esclarece que na cidade encontra-se um criminoso, assassino de Laio, primeiro marido de Jocasta, e que se faz necessário castigá-lo por tal feito, para satisfazer a justiça divina.

Édipo propõe-se cumprir a ordem do deus, e, seguindo orientações do Corifeu39, na tentativa de melhor esclarecer o acontecido, procura o velho adivinho, Tiresias, que tinha proximidade com o Oráculo de Delfos. O velho se recusa a falar, mas compelido, acaba declarando que o assassino é o próprio rei Édipo.

Após revelação de Tirésias, Édipo o acusa de conspiração junto a Creonte para tomar o governo de Tebas. No entanto, com a interferência de Jocasta, Édipo relaciona suas palavras com que havia ocorrido há anos numa encruzilhada entre os caminhos de Dáulia e Delfos. Dessa forma, a personagem se encontra com seu destino e seu passado esclarecido e se descobre como o assassino a quem procurava.

Ao se ver na condição como outrora fora previsto pelo Oráculo de Delfos, e, tendo desposado o seu próprio filho, e dessa união incestuosa nascido seus filhos, (Poliníces, Etéocles, Ismene e Antígona), que carregariam o infortúnio que Génos de Édipo estava submetido, Jocasta se enforca. Édipo, sentindo-se culpado, furou os próprios olhos, com um broche, arrancado das vestes de Jocasta. Cego e sozinho é condenado ao exílio.

4.2.1. ÉDIPO REI: O PENSAMENTO RACIONAL COMO BASE PARA EXPLICAÇÃO DA VIDA DO HOMEM

39 O corifeu, nos diálogos de Sófocles, formula de bom grado verdades elementares ou proverbiais, conselhos e máximas cuja ingenuidade ou mesquinharia por vezes nos fazem sorrir ( ROBERT, 1987, p.34).

Em Édipo Rei, o tragediógrafo demonstra, por meio da personagem Édipo, um homem “[...] que possui uma inteligência crítica e aguçada” (KNOX, 2002, p.

14), capaz de usar a sua inteligência e a sua capacidade de reflexão para resolver os problemas relacionados a si mesmo e aos da sociedade.

Os caracteres elaborados pelo autor e que compõem a figura de Édipo, representam o homem grego que corresponderia à sociedade do período clássico. O rei de Tebas revela-se um homem sábio que busca compreender a totalidade da sua existência para além do mito e dos deuses, de forma precisa e consistente.

A obstinação por conhecimento e clareza totais são características de sua inteligência. Édipo exige uma fundamentação racional para sua existência: não admite mistérios, meias-verdades, meias medidas. Jamais se contentará com menos que a verdade absoluta: [...] Sua compreensão do que lhe ocorreu deve ser uma estrutura racional plena (KNOX, 2002, p.14).

A necessidade revelada pela figura de Édipo em desvendar, de forma precisa, as causas dos problemas que afetam a sua vida e a da sociedade, sem, no entanto, esperar a solução por meio de explicações míticas, expressa a coragem de o homem assumir as consequências dos seus atos, na medida em que se afasta das respostas dadas pelo passado e suas certezas e vai ao encontro de um futuro que se apresenta de forma inesperada e incerta.

Esta atitude de enfrentar a dor imposta pelo conhecimento propõe ao homem a possibilidade de assegurar a si próprio, mesmo em decorrência das consequências da sua atitude, os rumos da sua existência.

Ao se deparar com a verdade a respeito da sua vida: sua origem e responsabilidade no assassinato de Laio, Édipo passa a viver em uma condição de dor e de sofrimento. Dessa forma, o conhecimento ameaça os homens e os fragiliza, conforme aponta Tirésias:

TIRÉSIAS

... Pobre de mim! Como é terrível a sapiência quando quem sabe não consegue aproveitá-la.

Passou por meu espírito essa reflexão

mas descuidei, pois não deveria vir (Édipo Rei, vv. 377-380, p.

34).

Porém, o sofrimento e a dor purificam e asseguram o homem para enfrentar os conflitos ocasionados pelas mudanças vividas pelo mesmo na forma de produzir a vida. A possibilidade de poder refletir a respeito de si mesmo e das coisas do mundo, fundamenta e conduz o grego a buscar na razão os meios para avançar na sua humanidade.

CORIFEU

Vede bem, habitantes de Tebas, meus concidadãos!

Esse é Édipo, decifrador de enigmas famosos;

ele foi um senhor poderoso e por certo o invejastes em seus dias passados de prosperidade invulgar.

Em que abismo de imensa desdita ele agora caiu!

Sendo assim, até o dia fatal de cerrarmos os olhos não devemos dizer que um mortal foi feliz de verdade antes dele cruzar as fronteiras da vida inconstante

sem jamais ter provado o sabor de quaisquer sofrimento (Édipo Rei, vv. 1801-1810, p. 96).

Sófocles, na sua narrativa trágica, revela a condição humana, que se apresenta constituída de dor e sofrimento. Esta condição, natural da humanidade, fundamenta o homem na sua existência ao se deparar com os problemas.

Este fortalecimento acontece na medida em que a dor e o sofrimento o eximem da culpa e, ao mesmo tempo, faz com que o homem alcance a superação de si mesmo.