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4 ESTADO BRASILEIRO, POLÍTICAS PÚBLICAS E TRÁFICO SEXUAL DE

4.1 O I Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas

O I Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas – I PNETP foi elaborado por um Grupo de Trabalho Interministerial coordenado de forma conjunta, pela SPM/PR, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República – SEDH/PR e o Ministério da Justiça - MJ. Colaboraram na construção do I Plano, o Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho e a sociedade civil organizada, incluindo organizações não-governamentais, especialistas e organismos internacionais64. O I PNETP, promulgado pelo Decreto Presidencial nº 6.347 de 8 de janeiro de 2008, vem com o discurso

63 http://www.brasil.gov.br/turismo/2013/02/cartilha-alerta-populacao-sobre-trafico-de-pessoas

64 A Portaria Conjunta nº 631, de 13 de março de 2007, designou os membros do Grupo de Trabalho

Interministerial (GTI), que foi coordenado pela Secretaria Nacional de Justiça, do Ministério da Justiça, Secretaria de Direitos Humanos e Secretaria de Políticas para as Mulheres, as duas da Presidência da República.

de aprofundamento e concretização da Política Nacional65 e consiste em um programa de ações e metas a serem alcançada.

O objetivo do I Plano foi o de prevenir e reprimir o tráfico de pessoas, bem como responsabilizar os seus autores e garantir atenção e suporte às vítimas66. Segundo o Ministério da Justiça, o I PNETP ampliou-se ―a articulação entre diferentes experiências no planejamento, implementação e avaliação das ações previstas na Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas‖. Como resultados, o MJ aponta: ampliação de assistência às vítimas, aumento significativo dos estudos e pesquisas sobre o tema, crescimento do número de denúncias e inquéritos instaurados.

Destaco que a elaboração do I Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de

Pessoas (instituído pelo decreto nº 6.347, de 08 de janeiro de 2008), contou com a participação de diversos órgãos governamentais67, sociedade civil e organismos internacionais, consistindo em um programa de ação e metas a serem alcançadas.

De acordo com o documento oficial, entre junho e novembro de 2011, houve um conjunto de reuniões nas quais as seguintes propostas foram gestadas: 12 reuniões de trabalho periódicas e uma oficina de diagnóstico sobre os avanços do I Plano com o GTI; 3 colóquios em Brasília com especialistas, líderes sociais, agências internacionais, Estados e municípios, e equipes técnicas do sistema de justiça e direitos; Análises dos compromissos internacionais do governo brasileiro e das pesquisas sobre tráfico de pessoas; Reuniões bilaterais sobre os Planos Plurianuais (PPAs) de Ministérios e Secretarias; Diálogos com a CPI do Senado sobre o tráfico de seres humanos; Consulta virtual on-line no site do Ministério da Justiça, com participação de 135 pessoas; 57 plenárias livres com participação de 1.500 pessoas, destas, 20 plenárias foram em países estrangeiros; II Encontro Nacional da Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas em Recife (BRASIL, 2013).

Como desdobramentos da Política Nacional, em 2004, foram criados escritórios de combate e prevenção ao tráfico em vários estados brasileiros, atendendo a uma das metas do I Plano Nacional. A implementação de Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP‘s) insere-se no contexto do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania

65 Secretaria Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. Secretaria de Políticas para as Mulheres

– Presidência da República. Tráfico de Mulheres; Política Nacional de Enfrentamento. Brasília, 2011, p. 44.

66 http://www.justica.gov.br/sua-protecao/trafico-de-pessoas

67 A Portaria Conjunta nº 631, de 13 de março de 2007, designou os membros do Grupo de Trabalho

Interministerial (GTI), que foi coordenado pela Secretaria Nacional de Justiça, do Ministério da Justiça, Secretaria de Direitos Humanos e Secretaria de Políticas para as Mulheres, as duas da Presidência da República.

(Pronasci), que tem como um dos princípios a criação de Núcleos e Postos Avançados, em parceria com os Governos estaduais. Atualmente, estão em funcionamento dezesseis (16) Núcleos (BRASIL, 2016). Aos Núcleos, cabe executar, enquanto unidades administrativas, ações previstas na Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, nos seguintes eixos de atuação: prevenção ao tráfico de pessoas (art. 5º); responsabilização de seus autores (art.6º) e atenção às vítimas (Art.7º). Uma importante função dos Núcleos é articular, estruturar e consolidar, a partir dos serviços e redes existentes, uma rede estadual de referência e atendimento às vítimas do tráfico de pessoas68 (BRASIL, 2016).

Além disso, os Núcleos: articulam e planejam o desenvolvimento das ações de enfrentamento ao tráfico de pessoas, integrando órgãos públicos e sociedade civil; operacionalizam, acompanham e avaliam o processo de gestão das ações, projetos e programas de enfrentamento; fomentam, planejam, implantam, acompanham e avaliam políticas e planos municipais e estaduais de enfrentamento; articulam, estruturam e consolidam, a partir dos serviços existentes, um sistema educacional de referência e atendimento às vítimas; integram, fortalecem e mobilizam os serviços e redes de atendimento; fomentam e apoiam a criação de Comitês Municipais e Estaduais de Enfrentamento ao Tráfico; sistematizam, elaboram e divulgam estudos, pesquisas e informações sobre tráfico; capacitam e formam atores envolvidos direta ou indiretamente com o enfrentamento ao tráfico na perspectiva dos direitos humanos; mobilizam e sensibilizam grupos específicos e comunidade em geral sobre o tema do tráfico; potencializam a ampliação e o aperfeiçoamento do conhecimento sobre o enfrentamento ao tráfico nas instâncias e órgãos envolvidos na repressão ao crime e responsabilização dos autores; favorecem a cooperação entre os órgãos federais, estaduais e municipais envolvidos no enfrentamento ao tráfico para atuação articulada na repressão a esse crime e responsabilização dos autores; impulsionam, em âmbito estadual, mecanismos de repressão ao tráfico e responsabilização dos autores; definem, de forma articulada, fluxo de encaminhamento que inclua competências e responsabilidades das instituições inseridas no sistema estadual de disque denúncia; prestam auxílio às vítimas do tráfico, no retorno ao local de origem, caso seja solicitado; instam o Governo Federal a promover parcerias com governos e organizações estrangeiras para o enfrentamento ao tráfico; articulam a implementação de Postos Avançados a serem instalados nos pontos de entrada e saída de pessoas, a critério de cada Estado ou Município (BRASIL, 2016).

Com relação aos postos, a principal função é prestar serviços de recepção a brasileiros não admitidos ou deportados nos pontos de entrada. Compete aos postos, implementar e consolidar uma metodologia de serviço de recepção a brasileiros (as) não admitidos ou deportados nos pontos de entrada; fornecer informações sobre documento referentes a viagens nacionais e internacionais; direitos e deveres de brasileiros (as) no exterior; direitos e deveres de estrangeiros (as) no Brasil; serviços consulares. Além disso, presta apoio para pessoas desaparecidas no exterior e orienta sobre procedimentos e encaminhamentos para as redes de serviços (BRASIL, 2016).

A atuação de Núcleos e Postos tem mostrado o novo formato nas ações de enfrentamento ao tráfico no Brasil. Da mesma forma, a perspectiva de gênero é subsumida à ideia de pessoas e articulada à Secretaria Nacional de Justiça:

E a Rede de Núcleos e postos é estadual e aí a responsabilidade pela coordenação é via Secretaria Nacional de Justiça e aí lá eles têm um trabalho muito semelhante com o que a gente tem um trabalho muito semelhante com o que a gente tem com a nossa rede de enfrentamento à violência contra a mulher que também é estadual. A política é descentralizada também. Então, os Estados têm autonomia para criar seus núcleos e postos e aí o papel do governo federal é mapear onde eles estão sendo construídos, o que tá acontecendo e fazer com que eles estejam inseridos dentro da Política Nacional. E aí que eles sigam então a matriz de capacitação, que eles sigam o sistema de informação e aí todo esse é um trabalho para conseguir essa unificação ao máximo que é parte mais difícil. Agora também os Estados tendo autonomia, mas não tendo o recurso financeiro é muito comum eles recorrerem ao governo federal em busca de convênio pra criação dessas redes de núcleos e postos né. E então acontece a mesma coisa que acontece com a gente nos centros de fronteira: o Estado procura, o governo federal dentro de um edital convenia, o governo federal repassa o recurso para construção daquele serviço, pra capacitação das pessoas, mas a parte de recursos humanos cabe ao Estado ou ao município. Também pode ser municipal; município que tem fluxo muito grande, grande número de denúncias pode por ele próprio também querer criar um núcleo ou posto dentro do seu município.

A rede toda de núcleos e postos até então era autogerminada por conta disso. Os Estados e municípios que tinham alto índice de denúncia criaram suas redes. A CNJ está tentando fazendo todo trabalho de mapeamento será que todos esses postos estão nos lugares certos, será que existem outros lugares estratégicos pra se criar esses núcleos? Enfim, eles têm mais prioridades, conhecem melhor a realidade, eles fazem o monitoramento, eles vão até os municípios, nas redes de núcleos e postos69.

Assim, há uma perspectiva de intersectorialidade entre diversos organismos de políticas públicas, se expressando na chamada Coordenação Tripartite da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (CONATRAP) comentado anteriormente.

O I Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas – I PNETP, documento, de caráter operacional, expressar a ideia de que as mulheres são as maiores vítimas do tráfico e por isso, necessitam de políticas públicas. Com relação à ideia de gênero,

69 Entrevista com Elisa Colares, coletada no trabalho de campo junto à Secretaria de Política para as Mulheres da

há, em todo o texto, apenas a seguinte afirmação: ―garantir os recortes de gênero, orientação sexual, raça/etnia, origem social, procedência, nacionalidade, atuação profissional, religião, faixa etária, situação migratória, especificidades regionais entre outros, é uma preocupação que perpassa todo o plano e será levado em conta na implementação de todas as suas ações‖ (BRASIL, 2008, p.16). Há uma tentativa de articulação entre estado e governo federal no enfrentamento ao tráfico, no entanto, a perspectiva de gênero não é institucionalizada no discurso.

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