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O III Quadro Comunitário de Apoio (QCAIII) para o período de 2000-2006

Capítulo 3 – Os fundos estruturais europeus e o turismo

3.3. O III Quadro Comunitário de Apoio (QCAIII) para o período de 2000-2006

No dealbar do século XXI, e como preâmbulo do QCAIII, as entidades europeias reconhecem a existência de significativas disparidades regionais nas condições de vida dos vários países e regiões europeias. A vertente social está presente de forma muito mais profunda

Mapa 2 - Regiões elegíveis no II Quadro Comunitário de Apoio em Portugal | 1994 a 1999

Fonte:Augusto Mateus & Associados, com base em Comissão Europeia.

na política de coesão comunitária, sendo evidente a preocupação com questões como a inclusão social de grupos demográficos desfavorecidos ou o combate às crescentes taxas de desemprego. Não é pois de estranhar que sejam definidas novas estratégias de apoio à formação profissional e de qualificação de recursos humanos. Por outro lado, no horizonte europeu aproximava-se a passos largos aquele que seria o maior alargamento da história da União Europeia, que para além incluir a entrada de dez novos países, prepara a entrada de antigos membros do bloco de leste, o que configura enormes desafios do ponto de vista social, político e cultural. Do ponto de vista meramente económico, o alargamento a leste irá significar um empobrecimento do espaço comunitário, estando os responsáveis europeus perfeitamente cientes de tal facto, pelo que a aplicação criteriosa dos recursos disponíveis no orçamento comunitário assume uma ainda maior importância.

É com este quadro geral que os objetivos gerais definidos são reduzidos a três, a saber: • objetivo 1, que acolhia os apoios à promoção do desenvolvimento e do ajustamento estrutural das regiões menos desenvolvidas;

• objetivo 2, para o apoio à reconversão económica e social das zonas com dificuldades estruturais;

• objetivo 3, que visava o apoio à adaptação e modernização das políticas e sistemas de educação, de formação e de emprego.

Para além destes três objetivos estratégicos, a UE passa ainda a considerar a possibilidade de uma região ser enquadrada num regime de transição, o phasing out, o que na prática se traduz numa diminuição dos fundos disponibilizados.

Neste QCAIII todas as regiões portuguesas continuam a ser enquadradas no primeiro objetivo (com exceção de Lisboa e Vale do Tejo, já em fase de diminuição dos apoios), o que sendo benéfico no que respeita aos fundos comunitários à disposição, não deixa de ser sintomático em relação à eficácia da política de coesão em Portugal, perante o falhanço quase absoluto do objetivo de convergência com a média europeia nos diferentes indicadores económicos.

Sob o lema “fazer do país uma primeira frente atlântica europeia, uma nova centralidade na relação da Europa com a economia global”, a política de coesão portuguesa neste QCAIII continua a focalizar a sua atenção para a necessidade de valorizar o capital humano como fator essencial para alcançar maiores índices de produtividade. Além deste objetivo, continuadamente repetido ao longo dos diferentes Quadros Comunitários de Apoio, surgem também o apoio à atividade produtiva e a estruturação do território como eixos estruturantes da política portuguesa para a aplicação de fundos comunitários de coesão. Além destes objetivos principais, a preocupação com questões relacionadas com a proteção e melhoria

do ambiente, a promoção da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres e o desenvolvimento da sociedade da informação assumem um caráter omnipresente, dando corpo aos diferentes instrumentos de programação (programas operacionais e eixos prioritários) a nível nacional.

Este QCAIII é marcado por uma descentralização do poder de decisão, passando o enfoque a estar dirigido para os órgãos decisores de nível municipal, regional e intermunicipal, numa evidente tentativa de aproximação aos cidadãos e, portanto, aos seus problemas efetivos. Tal mudança estratégica fica também patente pela autonomia concedida às Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores relativamente à gestão e programação dos apoios estruturais.

É também com este Quadro Comunitário de Apoio que é introduzida a regra n+2, que estabelece prazos muito mais apertados para a execução financeira dos diferentes programas.

Perante os paupérrimos resultados alcançados pelos Quadros Comunitários de Apoio anteriores no que diz respeito à convergência com os parceiros europeus, não é de estranhar que o aumento de competitividade da economia portuguesa seja o objetivo último da aplicação dos fundos estruturais neste período, tal como se encontra plasmado nos três domínios prioritários de intervenção definidos pelas autoridades portuguesas, e que passamos a transcrever:

• a valorização do potencial humano, para recuperar o atraso relativo do país em matéria de educação e formação e afirmar os fatores de competitividade da economia, especialmente com vista à criação e consolidação da sociedade do conhecimento;

• o apoio à atividade produtiva, para reordenamento estrutural da economia, modernização do sistema científico e tecnológico, e melhoria das infraestruturas económicas de base, preservando o ambiente;

• a estruturação do território, valorizando o seu ordenamento, o ambiente e a posição geoestratégica de Portugal, como primeira plataforma atlântica da Europa, e impondo uma estreita coordenação entre as intervenções destinadas a reforçar as infraestruturas básicas do país e o desenvolvimento equilibrado das regiões.

Para estes três domínios prioritários, foram considerados quatro eixos prioritários de intervenção:

• elevar o nível de qualificação dos portugueses, promover o emprego e a coesão social; • alterar o perfil produtivo em direção às atividades do futuro;

• afirmar a valia do território e a posição geoeconómica do país;

• promover o desenvolvimento sustentável das regiões e a coesão nacional.

Estes eixos prioritários estavam subjacentes à consecução de objetivos estratégicos como a promoção da coesão económica e social, a busca de um crescimento económico que se

processe a par da coesão social e da proteção do ambiente, e o equilíbrio no desenvolvimento territorial.

Tendo em conta o nosso objeto de estudo, importa pois perceber qual a estratégia adotada pelo governo português no que diz respeito à política de educação e formação profissional. Deste modo, a aplicação dos fundos estruturais centrou-se na elaboração de intervenções operacionais, de que são exemplo o programa operacional da educação (orientada para a formação inicial de jovens, a formação contínua e avançada dos profissionais da educação, a promoção da empregabilidade da população ativa e o apoio às infraestruturas escolares) e o programa operacional emprego, formação e desenvolvimento (delineado para diligenciar a formação qualificante e a transição para a vida ativa, a formação ao longo da vida e a adaptabilidade dos trabalhadores e das empresas, a formação e modernização da administração pública, bem como a promoção do desenvolvimento social).

Salienta-se ainda a existência de outros programas operacionais no âmbito da educação, mas com menor importância e sobretudo com um impacto residual na educação e formação em turismo, como é o caso do programa operacional ciência e inovação, do programa operacional sociedade do conhecimento e do programa operacional da cultura para valorizar o património histórico e cultural, favorecer o acesso a bens culturais e reforçar a cultura como fator de desenvolvimento e de emprego.

No que concerne ao enquadramento das diferentes regiões portuguesas nos objetivos definidos para este quadro comunitário de apoio, verificamos pela primeira vez, a existência de uma região nacional que ultrapassa os 75% do rendimento médio europeu, e portanto deixa de beneficiar do acesso à totalidade dos fundos comunitários.

Tal como podemos verificar pela análise do Mapa 3, a região de Lisboa e Vale do Tejo passa a estar enquadrada no regime transitório, denominado de phasing out deste primeiro objetivo.

Deste modo, a região de Lisboa e Vale do Tejo sofreu uma progressiva e substancial diminuição de fundos comunitários estruturais e de coesão. Tendo em conta a importância dos fundos comunitários para esta região, e aludindo também à heterogeneidade da mesma, foi decidida uma reformulação da configuração da própria região. Assim, e verificando a existência de indicadores de desenvolvimento e de crescimento económico muito díspares na região de Lisboa e Vale do Tejo, as NUTS III do Oeste e Médio Tejo passaram a integrar a NUTS II Centro, enquanto a NUTS III Lezíria do Tejo passou para a nova NUTS II Alentejo, fazendo com que apenas as sub-regiões da Grande Lisboa e Península de Setúbal integrassem a nova NUTS II Lisboa.

Contudo, e apesar de esta alteração nas unidades territoriais para fins estatísticos ter sido delineada no ano de 2002, as transformações apenas tiveram efeitos na distribuição dos fundos comunitários estruturais e de coesão do QREN.

3.4. O Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) para o período