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Anexo 6 – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos

3.3 O impacto da notificação do desligamento e as redes de apoio

A notificação do desligamento é um momento permeado por diversos sentimentos de acordo com a visão dos entrevistados que viveram nas Instituições pesquisadas, ainda mais quando a notícia é dada próximo ao momento do desligamento em si. De acordo com o P1, o recebimento da notícia foi uma surpresa que na verdade, provocou um choque, medo, incertezas, afirma:

“Foi (...) complicado (...) vamos dizer assim, um choque. Na hora você sente medo. É como se não tivesse na onde pisar, não tem chão mais. Você fica inseguro (...) não sabe para onde vai.”. Completa:

“(...) uma notícia que pega você de surpresa (...) é cruel, assim, na hora, você sente medo (...) porque às vezes você não está preparado para aquilo (...). É como se tivesse que dá um tiro no escuro”. Ressalta: “Fui avisado uns quatro meses antes (...)’”.

Para o entrevistado em foco a preparação gradativa para o desligamento deveria acontecer pelo menos um ano antes, o que daria tempo para se profissionalizar e ter onde morar, porque no caso dele em específico foi residir com um amigo que visitava esporadicamente e este, também não estava preparado para recebê-lo no momento:

“(...) fiquei sem rumo (...) sobrou à casa de um amigo (...) ele não estava preparado para me receber. Foi assim por acaso (...)”.

Sob essa perspectiva P3 cita que o momento é de tristeza ainda mais devido ao fato de se ter morado por um longo período de tempo na Instituição: “(...) é triste (...) tem que sair (...) é meio embaçado quando sai não tem para onde ir (...)”. Ainda segundo o entrevistado, ele foi comunicado que deveria se desligar da Instituição três semanas antes e acredita ser necessário um tempo maior para preparação para o desligamento, afirma:

“(...) para organizar, ver um lugar para onde vai, comunicar os parentes (...) porque a gente só tem parente longe, sem ter parente perto, fica meio complicado”. Antes de

estabelecer moradia fixa ressalta que foi morar em diversos lugares e contou com a ajuda de diversas pessoas:

“(...) fui para São Paulo, voltei, procurei meu colega (...) fui pra (...) vim pra (...) fui pra São Paulo mais uma vez, não deu certo, daí eu voltei, agora to aqui”. Completa: “um patrão me ajudou, colegas, muitas pessoas me ajudaram”.

P4 também enfatiza que mesmo não ter sido necessário comunicá-la da decisão judicial, o fato de ter que deixar a Instituição também a deixou chateada devido ao fato de não ter para onde ir e devido ao fato de as coisas terem acontecido da forma em que aconteceu. P4 aponta:

“(...) fui ver os meus irmãos, eu cheguei e minhas coisas já não estavam mais no lugar, já estavam em outro lugar (...) eu não tinha alternativa a não ser ir com o meu namorado. Então eu fiquei um bom tempo na casa dele, depois eu casei e estou casada até hoje”. E ainda, cita:

“(...) fiquei chateada porque primeiro lugar não tinha família, não tenho família aqui (...) fui pra casa do meu namorado e foi surpresa para eles, mas, me receberam com o maior carinho”. Como a participante não teve tempo para se preparar, ela acredita que é necessário que o adolescente ao menos tenha um trabalho para se manter, para pagar aluguel, completa: “(...) para se preparar pra vida, porque do contrário, como a pessoa pode se preparar sem ter um lugarzinho?”.

A noticia do desligamento também deixou P7 muito chateada, porém, esta não exitou em deixar vir à emoção, isto é, no momento em que soube através do contato telefônico com a irmã, de que deixaria a Instituição dentro de dois meses: “chorei bastante”, afirma P7. O choro era resposta a uma situação inusitada em que tudo já estava preparado:

“(...) tudo já estava encaminhado (...) não podia, tipo, é revidar (...) eu não estava preparada (...) acho até, que por mais que se prepare, quando você está acostumado, assim, sempre dá um baque”, aponta P7. No caso especifico desta participante, o seu desligamento foi permeado por mais um agravante que era o fato de a pessoa que a recebeu, não estar preparada a tal intento, e sobre essa questão, esta cita que:

“(...) porque na verdade, quem ia me receber era minha irmã que tinha falecido. Como ela faleceu uma outra irmã me recebeu (...) pra falar a verdade, eu acho que ela nem estava preparada e nem estava querendo”.

“(...) uma tragédia (...)”, foi o que pensou P9 no momento em que recebeu a notícia de que deixaria a Instituição. E a tragédia se dá ao fato de que a entrevistada considera que voltar a viver com a mãe novamente, não daria certo:

“Não estava preparada porque viver com a minha mãe ia ser uma tragédia (...) ela não sabe cuidar de ninguém (...)”. Mas, se preparar também não é necessário, segundo a participante: “(...) saiu de lá, já era”. Foi possível observar que a adolescente, na ocasião, foi morar com a avó apesar desta não estar preparada para recebê-la, de acordo com a sua visão. Depois morou com a tia, e finalmente, casou-se e foi morar com o seu esposo. Assim que se desligou da Instituição P9 também recebeu apoio de amigos, do seu irmão que também vivera na Instituição e juntos, jogavam bola, andavam de bicicleta, momentos descritos com alegria pela participante no ato da realização da pesquisa.

Mesmo sabendo, desde quando foi acolhida, que deixaria a Instituição ao fazer 18 anos, P11 retrata a tristeza presente no momento da notificação, através da sua fala:

“(...) o coraçãozinho já ficou na mão. Triste, né? Porque no momento você está num lugar bem acolhida (...) você sabe que vai completar aquela certa idade, você vai ter que sair, é meio difícil (...) você vai contando os dias (...) não para você ir embora logo, mas pra vê se você podia fazer alguma coisa (...)”. O apoio dos funcionários da Instituição foi algo marcante para a vida da entrevistada, pois, segunda esta, estes sempre estavam passando mensagens positivas, animadoras, para ajudá-la a se preparar para o momento em si, porém, P11 ressalta:

“(...) não me sentia preparada para ir de volta lá pro mundo, porque do portão pra fora é mundo, né? Eles falavam você vai conseguir, você vai ter sua casa, você vai ter... Pra me animar (...) e de tanto eles falarem isso, que eu saí lá fora e falei: “eu e Deus agora””.

3.4 Redes de apoio presentes no ato do desligamento: e suas possibilidades de contatos

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