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O Impacto do Congresso de Milão e a Implantação do Oralismo

No documento Download/Open (páginas 46-48)

O Congresso em Milão, realizado em 1880, foi um marco obscuro na História da Educação dos Surdos. Um grupo de professores ouvintes que faziam parte do comitê, tomaram a decisão de banir a Língua de Sinais e implantar o Oralismo.

A questão do “ouvintismo” e “oralismo”, como ideologia dominante, foi, segundo Skliar (1998):

Ainda que seja uma tradição mencionar seu caráter decisivo, o Congresso de Milão, de 1880 onde os diretores das escolas para surdos mais renomadas da Europa propuseram acabar com o gestualismo e dar espaço à palavra pura e viva, à palavra falada não foi a primeira oportunidade em que se decidiram políticas e práticas similares. Essa decisão já era aceita em grande parte no mundo inteiro. Apesar de algumas oposições individuais e isoladas, o referido Congresso constituiu não o começo do ouvintismo e do oralismo, mas sua legitimação oficial (SKLIAR, 1998, p. 16).

Assim, podemos dizer que após o Congresso de Milão (1880), a legitimação do oralismo invadiu a Europa, transformando a fala como forma de comunicação, com a finalidade da educação. Isto é, os educadores defendiam que o Oralismo facilitaria o processo de ensino e aprendizagem do surdo no país onde seria implantado, visto que, acreditavam que “O Oralismo respeitava todas as concepções aristotélicas, tais como: mundo das ideias, abstrações e da razão, que só poderia ser representado pelas palavras” (SKLIAR, 1998, p. 17).

Nenhum outro evento obteve um impacto tão forte na Educação dos Surdos como o Congresso de Milão (1880). Skliar (1998) explica os acontecimentos com a chegada da abordagem oralista nas escolas, como também o fracasso escolar e, consequentemente, o aumento da evasão escolar dos Surdos. Estes estudantes ficaram subjugados com a prática da oralidade, tiveram que abandonar sua identidade e sua cultura surda para se submeterem ao “ouvintismo” imposto.

Segundo esse autor, ouvintismo:

Trata-se de um conjunto de representações dos ouvintes, a partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e a narrar-se como se fosse ouvinte. Além disso, é nesse olhar-se, e nesse narrar-se que acontecem as percepções do ser deficiente, do não ouvinte; percepções que legitimam as práticas terapêuticas habituais (SKLIAR, 1998, p. 15).

A partir do Congresso de Milão (1880), nota-se também, na história, que houve uma ruptura crescente de apontamentos de dados pelos pesquisadores, pois

a partir daí, se fala mais sobre fracasso na Educação dos Surdos. Com a decisão de proibir a Língua de Sinais nas escolas, vigoravam a abordagem oralista, ocasionando um grande fracasso na Educação dos Estudantes Surdos. Por isso, muitos pesquisadores procuraram descobrir os motivos do fracasso, dentre eles, Skliar, que ressalta:

A falta de compreensão e de produção dos significados da língua oral, o analfabetismo massivo, a mínima proporção de surdos que tem acesso a estudos de ensino superior, a falta de qualificação profissional para o trabalho, etc., foram e são motivos para três tipos de justificações impróprias sobre o fracasso na educação dos surdos. Em primeiro lugar, está a atribuição aos surdos do fracasso - fracasso então da surdez, dos dons biológicos naturais. Em segundo lugar, está a culpabilização aos professores ouvintes por esse fracasso. E, em terceiro lugar, está a localização do fracasso nas limitações dos métodos de ensino o que reforça a necessidade de purificá-los. De sistematizá-los ainda mais, de torná-los mais rigorosos e impiedosos com relação aos surdos (SKLIAR, 1998, p. 18).

O Oralismo ganhou forças a partir da segunda metade do século XIX e era baseado somente na oralidade do sujeito, como a única forma de comunicação e, como mencionamos anteriormente, a Língua de Sinais era banida. Segundo os Professores da época, atrapalhavam o processo de ensino e o Surdo era obrigado a falar, conforme expressa Moura:

A criança surda é exposta à língua falada e aos sons sempre. Ela usa aparelho de amplificação sonora, se possível, e é feito treinamento auditivo. O método começa com o treinamento de atenção para a leitura orofacial e inclui elementos sonoros isolados, combinações de sons, palavras e finalmente a fala (MOURA, 2000, p. 53).

A partir daí vários educadores foram desenvolvendo métodos orais de ensino. Moura (2000) descreve vários métodos em sua pesquisa, dentre eles: Oralismo puro ou Estimulação Auditiva, Método Multissensorial/Unidade Silábica, Método de Linguagem por Associação de Elementos ou Método da “Língua Natural”, Método Unissensorial ou Abordagem Aural. Todos utilizados na tentativa de oralizar o Surdo. Como vimos, o Congresso de Milão foi marcado por uma crise histórica entre a Cultura Surda e a sua Educação, pois a partir daí o domínio do ouvintismo foi total, em todos os aspectos sociais e educacionais.

De acordo com a história, foram mais de cem anos de perpetuação do oralismo puro e a proibição da Língua de Sinais. Devido essa predominância, vimos vários fracassos dos Métodos Oralistas, mas, mesmo assim, esses métodos não foram banidos totalmente e ainda perpetuam na atualidade.

Para Strobel, a Língua de Sinais sobreviveu:

Em consequência do Congresso de Milão, que proibiu por muitos anos os surdos de usarem a língua de sinais, ela sobreviveu graças à resistência do povo surdo contra essa prática ouvintista. Muitas crianças em escolas para surdos onde a língua de sinais é proibida, muitas vezes a praticam às escondidas entre si (STROBEL, 2018, p. 125).

Podemos observar também nos estudos de Moura (2000), que essa ruptura da língua na História da Educação dos Surdos foi aos poucos sendo vencida, após um período longo. Ao chegarem na adolescência os Surdos começaram a encontrar com outros Surdos adultos em Associações (internatos) e formavam as comunidades que utilizavam a Língua de Sinais para se comunicarem.

Assim, podemos afirmar que o histórico da educação dos Surdos brasileiros é permeado por lutas de inclusão, na busca e legitimidade do direito à educação. Essa História poderá ser interpretada como um processo lento e, muitas vezes, são ignoradas as suas raízes e seus imortais pensadores. Assim, é importante dedicar espaço para expor esses fatos, por meio de uma breve retrospectiva, afim de identificar que métodos, atualmente, utilizados em nossas escolas, são heranças dos nossos antepassados. Dedicaremos a essa retrospectiva, na seção, a seguir.

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