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2 REFORMA AGRÁRIA E O INCRA

2.2 O impacto nas ações do INCRA

Entre os anos de 1995 e 2014, o INCRA ampliou em 991% o número de projetos de assentamentos da reforma agrária. Isto se refletiu em acréscimo de 606% no número de famílias assentadas, e de 541% na área ocupada por assentamentos. Este crescimento estendeu o território reformado, que hoje alcança 2.070 municípios (crescimento de 365%), afetando o quadro político em grande parte destas localidades. Em dezembro de 2014, a área sob domínio do INCRA representava 10,2% do território nacional, abrigando e oferecendo oportunidade de ocupações produtivas a mais de 3,2 milhões de pessoas (

Tabela 2. Variação numérica e percentual - Projetos, Famílias, Área e Municípios. Referência 1995.

Fonte: SIPRA/INCRA

Em que pese sua magnitude, estas ações de intervenção fundiária não foram plenamente acompanhadas por medidas de apoio ao desenvolvimento rural. Ainda que com as competências definidas - já no Estatuto da Terra, para o INDA- em relação ao desenvolvimento rural3, toda uma série de desajustes, desarticulação e interrupções de iniciativas levaram ao que se entende -quando considerados os aspectos meramente produtivos - como escassos resultados da PNRA.

Os problemas tenderam a ser minimizados quando o INCRA recebeu estrutura organizacional compatível com a formulação o estabelecimento e a execução de diretrizes voltadas a consolidação dos projetos de assentamento. Isto se configurou a partir do regimento interno de 2006, aprovado por meio do Decreto 5.735/2006. Cabe dizer que antes de 2003 já existiam ações institucionais voltadas a resultados socioeconômico das famílias assentadas4. Entre as competências do INCRA afetas a área de desenvolvimento de projetos de assentamento, destacam-se:

3

Em especial o disposto no Título III (Da Política de Desenvolvimento Rural), Capítulo III (Da Assistência e Proteção à Economia Rural)

4

Com destaque para as ações de: (i) assistência técnica e extensão rural (1998, com intervalos de inexistência e alterações estruturais); (ii) formação e capacitação de agentes de assistência técnica e extensão rural (2012); (iii) fomento à agroindustrialização e à comercialização em projetos de assentamento – Terra Sol (2004); (iv) licenciamento e gestão ambiental (2008); (v) ampliação das modalidades de crédito (de duas para nove); (vi) educação de jovens e adultos – EJA (1999); (vii) formação e capacitação de nível médio e nível superior (2005); (viii) concessão de bolsas de capacitação e formação profissional (2005)

ITEM 1995 2014 Variação Variação%

Projetos de assentamento 930 9.225 8.295 991%

Famílias Assentadas 159.904 969.403 809.499 606%

Área (em milhões de Hectares) 16,3 88,3 72,0 541%

• Promover o atendimento das necessidades básicas das famílias acampadas até o seu assentamento definitivo, acrescido dos serviços de assistência jurídica social e técnica;

• Promover o planejamento e garantir a execução, mediante planos de desenvolvimento sustentável, das ações inerentes à implantação, ao desenvolvimento, à recuperação e à consolidação dos projetos de reforma agrária e colonização, com a efetiva participação das comunidades beneficiadas;

• Promover e executar serviços sociais básicos e de infra-estrutura física necessária ao processo de desenvolvimento, recuperação e consolidação dos projetos de reforma agrária e colonização;

• Promover os meios ao desenvolvimento dos projetos de assentamento de forma não fragmentada e de modo a estimular o associativismo e o cooperativismo;

• Promover e fortalecer o processo de constituição da capacidade organizativa dos trabalhadores rurais, bem assim a organização da produção no âmbito dos projetos de assentamento, estimulando e apoiando programas voltados à agroindústria, à comercialização e à integração das comunidades no processo associativo e cooperativo, tendo em vista a melhoria das suas condições de vida em termos econômico e social; • Orientar e capacitar os assentados na gestão dos recursos públicos, decorrentes de suas parcerias com os organismos do Estado ou a eles destinados por meios das diferentes linhas de crédito de produção, infra-estrutura, habitação entre outros;

• Integrar as políticas públicas de assistência técnica, extensão rural, educação, saúde, cultura, eletrificação rural, saneamento básico, meio ambiente, dentre outras, necessárias ao desenvolvimento e consolidação dos projetos de assentamento.

Tais alterações regimentais resultaram de processo que se iniciou nos anos anteriores (à publicação das normas) trazendo reflexos orçamentários que se mostraram fundamentais ao funcionamento da máquina pública. Como resultado da modernização institucional instaurou-se discurso (ainda vigente) que prioriza o desenvolvimento econômico dos projetos de assentamento, como decorrência de investimentos em infraestrutura créditos, assistência técnica e demais politicas apresentadas adiante.

A

Figura 5 demostra claramente mudanças de prioridades orçamentárias. Em 1995 o processo de fiscalização da função social da propriedade concentrava 82% dos recursos do INCRA. Em 2014 esta finalidade é atendida com 29% do orçamento. Em contrapartida as ações contabilmente identificadas como implantação e desenvolvimento de projetos de assentamento e crédito instalação, que em 1995 somavam 11,8% dos recursos, atualmente detém 60% das disponibilidades orçamentarias (previsão apontada na Lei Orçamentaria Anual, devidamente identificada no Sistema de informações financeiras do governo federal – SIAFI).

Figura 5. Comparativo de prioridade orçamentarias INCRA entre os anos de 1995 e 2012.

Fonte: SIPRA/INCRA

De fato, a necessidade de investimento em políticas para a estruturação produtiva das famílias assentadas era e permanece sendo assunto candente e de importância central para o estado brasileiro. Esta importância cresce à medida que a sociedade passa a demandar serviços

e utilidades públicas inovadoras, relacionadas a produtos de qualidade e à proteção ambiental. Isto implica em necessidade de alteração em processos produtivos, com o estabelecimento de matrizes tecnológicas capazes de concatenar a busca de renda a ações de conservação ambiental, com vistas a produção de alimentos saudáveis. Passa, portanto, pela definição de modelos a serem perseguidos com apoio em políticas de crédito e assistência técnicas, conforme discutimos mais adiante.

No momento cabe constatar que apesar do crescimento no orçamento global do INCRA, isto pouco se reflete em termos de valores nominais (

Gráfico 1) destinados ao desenvolvimento de cada família. Em termos práticos é mais expressivo o crescimento no número de assentamentos e famílias assentadas, incorporando demandas por ações para o desenvolvimento, do que o acréscimo no orçamento a elas destinado. Isto resulta em passivos anuais que se acumulam no decorrer do tempo, forçando uma imagem de escassos resultados, quando considerados valores médios de produto gerado ou indicadores qualitativos de sucesso da política.

Gráfico 1. Evolução Orçamentária INCRA conforme LOA (1995 – 2011), deflacionado pelo IPCA.

Fonte: SIPRA/INCRA

Nota-se que os valores absolutos do orçamento não acompanharam o aumento da ação fundiária do órgão. Ou seja, não houve incremento real no valor disponibilizado à autarquia ao longo do período. Além disso, houve redução no número de servidores ativos e de cargos de provimento externo, previstos na estrutura regimental.

Figura 5 possibilitou avanços importantes nas ações de apoio ao desenvolvimento/consolidação de assentamentos. Merecem destaque transformações observadas na assistência técnica e extensão rural, possibilitando discussões consistentes sobre orientações estratégicas com vistas a oferta de alimentos limpos, proteção ambiental, ocupação de áreas improdutivas, ocupação de empregos e geração de renda. Estes e outros pontos serão demostrados mais adiante.

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