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5. DISSIPANDO A FUMAÇA

5.3 O início de uma História

Em março de 1973, por determinação do Comandante do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina, foram enviados a Rio do Sul, materiais e instrumentos de combate a incêndio, além de profissionais bombeiros, a fim de guarnecer os 22 Municípios que compõem a Região do Alto Vale do Itajaí. Assim, no dia 31 de março de 1973, a inauguração da Estação de Bombeiros de Rio do Sul, deu início à história da atual 3ª Companhia de Bombeiro Militar, ou seja, do campo do estudo em questão. Esta estação foi implantada no mesmo local onde até hoje se encontra localizado o quartel do Corpo de Bombeiros da cidade, que desde aquela época até os dias atuais vem apresentando um desenvolvimento e modernização cada vez mais acentuada tanto em sua estrutura de funcionamento, como nos equipamentos e aparelhos utilizados.

A cidade cresceu e se desenvolveu novas indústrias nela se instalaram e atualmente, a jurisdição do Corpo de Bombeiros de Rio do Sul compreende 29 Municípios e tem como responsabilidade atender uma população de 251.217 habitantes, englobando uma área de 7.865.99Km. Esta se encontra dividida basicamente em quatro Micro-Regiões, abrangendo as cidades de: Rio do Sul, Taió, Ituporanga e Ibirama. A Companhia de Bombeiro Militar – CBM -, nos últimos anos, vem descentralizando suas atividades, através da instalação de pelotões de Bombeiro Militar, na microrregião de Ituporanga e Taió e ainda de um grupo menor no município de Pouso Redondo.

Após a efetivação de alguns convênios firmados entre o Corpo de Bombeiros do Estado de Santa Catarina com o Município de Rio do Sul40, tornou-se possível a aquisição de novos materiais e equipamentos, bem como a viabilização da especialização do profissional Bombeiro Militar, melhorando, segundo informações disponibilizadas em campo, a qualidade do atendimento prestado para a comunidade do Alto Vale do Itajaí. Assim, as viaturas utilizadas foram atualizadas no decorrer do tempo, sendo que hoje o quartel possui uma frota de 10 (dez)

39As informações deste histórico foram organizadas a partir de relatos orais e escritos dos bombeiros, bem como através da análise de fotos e documentos históricos da instituição, realizadas pelos próprios profissionais do quartel (Comunicação pessoal, 4 de outubro de 2007).

40 Lei Municipal nº 2.118, de 29 de Novembro de 1988, a qual possibilitou a implantação do FUNREBOM (Fundo de Reequipamento do Bombeiro Militar). Lei Municipal nº 2.499, de 12 de Dezembro de 1991, a qual definiu a forma de cobrança das Taxas de Vistoria para Funcionamento, e, pela Lei nº 2.941, de 11 de Novembro de 1994, que regulou e definiu os valores para cobrança da Taxa de Segurança Contra Incêndios. Informações disponibilizadas pelos Bombeiros e obtidas em documentos oficiais do histórico do Corpo de Bombeiros de Rio do Sul (Comunicação pessoal, 7 de novembro de 2007).

Viaturas: 01 Auto Tanque (AT), 02 Auto Socorro de Urgência (ASU); 03 Auto Transporte de Pessoal (ATP), 02 Auto Bomba Tanque Resgate (ABTR), 01 Auto Resgate (AR) e 01 Auto Moto (AM).

Segundo informações obtidas em campo, durante os 35 anos de existência do quartel, fatos importantes para o desenvolvimento dos serviços oferecidos foram registrados, entre eles, a substituição do velho Caminhão por novas viaturas e a ampliação do ramo de atividade, implementada com a Seção de Atividades Técnicas e o Serviço de Atendimento Pré-Hospitalar (APH). Convém destacar que, estas mudanças são oriundas do crescimento da cidade, bem como das determinações das leis federais que regem a coorporação, estabelecidas a partir das demandas sociais contemporâneas. Estas, por apresentarem características peculiares, diferentes de outros momentos históricos, trazem consigo situações e exigências diferenciadas, que, conseqüentemente, vão gerar necessidades distintas e inusitadas.

Os serviços de atendimento pré-hospitalar (APH) constituem-se assim, como produto deste processo de inovação e mudança, levando à necessidade de aperfeiçoamento das condições laborais, bem como de profissionais específicos para atuar nessa área. Deste modo, esses atendimentos emergenciais, quando surgem, passam a ser atribuídos aos bombeiros, pois, de acordo com Marx (1985) o objetivo primordial do capitalismo é a obtenção de mais-valia, então, torna-se menos dispendioso a utilização de trabalhadores já existentes no mercado. Neste contexto, os bombeiros além de combatentes do fogo, passam a ser também profissionais do resgate e socorro41. Vale lembrar que este fato aumenta a abrangência e as especificidades de sua profissão, implicando sobre os sentidos que eles vão outorgar ao seu labor.

As alterações no universo e na estrutura de trabalho do bombeiro devem-se, portanto, ao processo de desenvolvimento social e tecnológico que ocorre concomitante ao da existência humana, desde seus primórdios. Segundo Marx e Engels (1996), a partir de sua capacidade teleológica, ou seja, da possibilidade que o ser humano tem de planejar e de transformar em atos suas idéias, o homem muda a si mesmo, a materialidade e o contexto onde está inserido. Assim, na busca pela satisfação de suas necessidades, ele cria e recria, ousa, transforma, aperfeiçoa,

41 Em Santa Catarina, desde o início da década de 90 os bombeiros são responsáveis pelas atividades de Atendimento Pré-Hopitalar (APH). Somente há, aproximadamente, três anos o Governo Federal criou o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), o qual conta com uma equipe formada por profissionais de enfermagem e por médicos, mas que realiza praticamente as mesmas funções dos bombeiros, atendendo casos clínicos diversos, auxiliando-os na realização destas funções. Segundo informações disponibilizadas pelos bombeiros do campo de estudo (Comunicação pessoal, 18 de setembro de 2007).

constrói ferramentas e instrumentos que possam auxiliá-lo neste processo. Essas transformações, porém, vão implicar tanto sobre o contexto social global, quanto sobre a vida particular dos sujeitos, pois estes pólos apresentam-se como categorias inseparáveis e impossíveis de serem dicotomizadas (Aguiar & Ozella, 2006).

Esta situação contempla, de forma singular a realidade do quartel do Corpo de Bombeiros da cidade de Rio do Sul, uma vez que sua característica principal, segundo os sujeitos entrevistados, pode ser atribuída à freqüente busca por conhecimento e atualização. Conforme as palavras de Mike

”É um trabalho que necessita muito conhecimento técnico, tático, necessita de uma constante busca por aprendizado e mais informação, até porque este sistema de atendimento pré-hospitalar é uma coisa que está sempre... É muito dinâmico, tá sempre mudando bastante, então a gente tem que estar sempre correndo atrás, pra está se atualizando...”.

Luciano também compartilha estas concepções quando diz

“Temos plena convicção de que as mudanças são necessárias, para que a mentalidade de Prevenção seja difundida entre todos os cidadãos de nossa Região de forma adequada, para que possamos continuar levando nossa Bandeira de “Vidas Alheias e Riquezas a Salvar.”

A partir destas palavras, pode-se perceber que o objetivo principal do trabalho dos bombeiros é a preservação e manutenção da vida humana, vindo na seqüência o cuidado com o patrimônio. As próprias diretrizes de atendimento que eles seguem preconizam que seu bem-estar e saúde, bem como o da população atendida, devem ser sempre prioridade. Eles são, inclusive, impedidos de realizar “ações heróicas”, qual sejam, atos que coloquem em risco sua própria vida para socorrer alguém ou preservar algum bem, pois, de nada adianta perder um profissional em detrimento de outro ser humano ou em prol de bens materiais. E, pela fala de Luciano, como também na de outros bombeiros, é possível notar que eles possuem essa compreensão acerca de suas possibilidades e limites de atuação, buscando, inclusive, atuar de forma preventiva, a fim de alcançar suas metas primordiais.

Aqui é necessário lembrar que o fato apresentado nem sempre teve estas características e finalidades. Conforme já discutido, a inclusão de novas funções ao trabalho realizado pelos bombeiros, acarreta uma série de alterações, entre elas, este aspecto ligado à vida humana, isto é,

em períodos anteriores, o foco de sua atuação era combater incêndios, preservando o patrimônio adquirido pelo homem e também sua saúde. Com a inserção nos serviços de atendimento emergenciais, estes profissionais passaram a ter como meta principal a vida do ser humano, o que propicia o desenvolvimento de significados diferenciados por parte da população, que tende a elevar o nível de cobrança e exigência, bem como dos sentidos edificados pelos bombeiros a respeito de seu ofício, frente toda esta situação.

Tendo em vista os depoimentos dos bombeiros, nota-se que seu trabalho encontra-se permeado pela urgência, cuidado e atenção, exigindo atualização constante, tanto em seus conhecimentos quanto nos instrumentos utilizados, e eles, ao terem essa percepção, buscam contemplar essa realidade, visando alcançar os objetivos do seu ofício, bem como não sofrer riscos desnecessários e prejuízos em sua atuação profissional. O próximo capítulo apresenta o contexto onde estes profissionais encontram-se inseridos, enfatizando sua estrutura, funcionamento e seu cotidiano de trabalho.