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O INCONSCIENTE NA TEORIA PSICANALÍTICA

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3. O INCONSCIENTE E OS ARQUÉTIPOS

3.1. O INCONSCIENTE NA TEORIA PSICANALÍTICA

O conceito de inconsciente foi retomado e sistematizado por Freud (1856- 1939), pai da psicanálise, quando este percebeu que seus pacientes tinham comportamentos que não condiziam com a sua realidade consciente. Eram comportamentos desvinculados, desconexos, dirigidos por uma vontade alheia, contrária à do individuo e até desconhecida por este. Freud (1911) concluiu que estes comportamentos eram ocasionados por conteúdos reprimidos, recalcados pelo indivíduo frente aos traumas ou às exigências da sociedade. Estes conteúdos, por sua vez, se manifestavam em forma de neuroses, psicoses, angústias, e eram compostos de comportamentos agressivos, animalescos e instintivos, que, por não serem aceitos pelo consciente, eram lançados num lugar obscuro da psique, que foi então denominado de inconsciente. Por serem estes conteúdos causadores de certa

estranheza, adquiriram uma imagem terrificante, resultando por parte do consciente a sua rejeição.

O recalque dos conteúdos dolorosos obedece a um processo praticamente inevitável, no qual o que não pode ser encarado e elaborado no momento do conflito vem à tona em outros momentos, por meio de atos falhos ou lapsos, revelando o que está oculto, hermético e, por conseguinte, colocando o indivíduo em situações complicadas devido às atitudes involuntárias manifestas. Assim, para Freud (1911), o inconsciente é o senhor dominador da psique humana.

Segundo Laplanche e Pontalis (1992, p. 236), o inconsciente,

É constituído por conteúdos recalcados aos quais foi recusado o acesso ao sistema pré-consciente-consciente. (...) Os seus conteúdos são representantes das pulsões; (...) fortemente investidos pela energia pulsional, procuram retornar à consciência e à ação (retorno do recalcado); (...) depois de terem sido submetidos às deformações da censura. (...) São, mais especialmente, desejos da infância que conhecem uma fixação no inconsciente.

A partir do surgimento da psicanálise, o inconsciente passa a ser reconhecidamente importante no processo psíquico.

O inconsciente não obedece à lógica da razão com a qual o consciente trabalha. Assim, a única oportunidade para que os conteúdos do inconsciente venham à consciência é no estado de não-vigília, próprio do sono ou da situação de distração. O relaxamento da consciência pode ser claramente percebido nos momentos dos lapsos, nos quais por uma distração, e através de palavras verbalizadas, ou pela fala do corpo, as contradições declaram e revelam algo diferente daquilo que o indivíduo tinha intenção de revelar.

A verbalização, ferramenta importante no fluir destes conteúdos, seria uma das possibilidades de integração, pois “é na linguagem que o homem encontra um substituto para o ato, substituto graças ao qual o afeto pode ser ab-reagido quase da mesma maneira” (LAPLANCHE e PONTALIS, 1992, p. 60). Esta evocação visa

“reviver os acontecimentos traumáticos a que esses afetos estão ligados, e ab-reagi- los” (LAPLANCHE e PONTALIS, 1992, p. 60), superando o que causava o incômodo no indivíduo, mas estava em nível inconsciente.

Em certos momentos, o inconsciente exerce uma força de atração dos conteúdos recalcados; em outros momentos, expele-os de acordo com o que lhe convém. Daí deriva a função do consciente que é de perceber a realidade e fazer, através dos processos psíquicos, a censura desta pulsão, buscando ser um filtro através do qual emergirão tais conteúdos, de acordo com o que a realidade propõe como positivo ou negativo.

Ao teorizar sobre a personalidade, Freud (1916) descreveu a topografia do aparelho psíquico, definindo as instâncias do consciente, pré-consciente e inconsciente. Também teorizou sobre a estrutura do aparelho psíquico, definindo o modo como às pulsões operam, bem como se dá a tentativa de controle sobre elas. Como estrutura da psique definiu: id, ego e superego (FREUD, 1925).

O id é a parte mais primitiva da psique, sendo de natureza instintiva e totalmente inconsciente. O id atua no princípio de prazer, que consiste na busca de saciar os desejos, e na fuga do sofrimento, desconforto e frustração. Nele se manifestam as pulsões.

O ego é a parte psíquica responsável pela adaptação das exigências internas do próprio indivíduo ao meio, à realidade, organizando através da lógica as pulsões advindas do id, evitando o sofrimento futuro em decorrência da realidade. Por não ter o id capacidade para a reflexão, isto fica a cargo do ego, que busca o equilíbrio psíquico, estabelecendo quando poderá acontecer a satisfação desejada pelo id. Isso acontece se o ego estiver fortalecido, saudável. “O ego procura aplicar a influência do mundo externo ao id e às tendências deste, e esforça-se por substituir

o princípio do prazer, que reina irrestritamente no id, pelo princípio de realidade” (FREUD, 1925, CD-Rom).

O superego é a parte responsável pela assimilação de regras e normas, visando dar ao indivíduo a capacidade de discernimento entre o certo e o errado, propiciando uma adaptação ao meio sócio-cultural-político-religioso. O superego será tão mais severo e punitivo quanto mais fraco for o ego. O ego tem, portanto, a função de controlar também as forças advindas do superego, equilibrando a balança do prazer com as regras, a partir da razão. Qualquer indivíduo religioso que não tenha o seu ego forte pode viver em função de um superego severo e punitivo e ser extremamente radical ao ponto do prazer ser aniquilado de sua vida, tamanho o seu poder de controle e rigidez, o que resulta em sofrimento para si, bem como para a sua comunidade.

O ego está para a consciente assim como o id e o superego estão para o inconsciente. Desta forma, o inconsciente se torna o porão, no qual são colocados os conteúdos afetivos e ideativos do indivíduo, que por algum motivo precisaram ser reprimidos ou esquecidos.

Uma importante técnica utilizada para trazer à consciência o que foi recalcado consiste na análise de sonhos, fantasias, histórias e símbolos, com vistas ao reconhecimento de tais conteúdos inconscientes e conseqüente mudança de atitude, através de uma consciência do que foi rejeitado e não vivenciado adequadamente.

Freud teorizou sobre um universo psíquico pessoal; entretanto, as análises de alguns materiais projetivos dão indício de conteúdos inconscientes que estão além da vivência pessoal do indivíduo que os projetou. Jung (1875-1961), inicialmente discípulo de Freud, percebeu isto, e em suas análises assumiu que o inconsciente

possuía conteúdos que não se limitavam ao próprio individuo, mas a toda a humanidade, surgindo daí a definição de inconsciente coletivo.

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