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1 INTRODUÇÃO

1.5 O Inquérito de Soroprevalência de Dengue no Município de Belo Horizonte (ISDBH)

1.5.1 A população amostrada

Para o ISDBH foi definida uma amostra aleatória de moradores de três Distritos Sanitários – Centro-Sul (DSCS), Leste (DSL) e Venda Nova (DSVN) – escolhidos por critérios de riscos epidemiológicos. O DSCS, por ter sido a região de menor incidência durante epidemia de Dengue de 1997-1998 (1107,5/100.000 hab.); o DSL, por ser a região de maior incidência durante mesma epidemia (6258,9/100.000 hab.) e o DSVN, dado o registro de maior incidência durante a epidemia de 1996 (729,6/100.000 hab.).

1.5.2 O cálculo da amostra

O cálculo da amostra foi realizado tendo como base a população do censo de 1996 (IBGE) e a soroprevalência estimada para cada Distrito Sanitário selecionado. Considerou-se a ocorrência de casos e uma relação de cinco infecções para cada caso de Dengue conhecido, com nível de confiança de 95% e precissão de 0,05. Foi utilizado o software EpiInfo 6.04, para cálculo de tamanho de amostras em inquéritos populacionais, determinando-se os seguintes valores por região: Distrito Sanitário Centro-Sul, 80 pessoas; Distrito Sanitário Leste, 331 pessoas e Distrito Sanitário Venda Nova, 231 pessoas.

Determinou-se como elegíveis, para participar do estudo, os indivíduos moradores dos três Distritos Sanitários, com idade igual ou superior a um ano. Para o sorteio das amostras, tomaram-se como base os domicílios cadastrados pelo Serviço de Controle de Zoonoses/SMSA-PBH e, em cada residência, foi sorteado aleatoriamente um morador para participar do inquérito, por meio de respostas a um questionário e autorização para coleta de sangue venoso. Adicionou-se ao universo amostrado de cada distrito sanitário um percentual de recomposição, considerando as perdas advindas de recusas e da existência de domicílios fechados durante a visita. Trabalhos semelhantes que dependeram de visita domiciliar, realizados pela Secretaria Municipal de Saúde-PBH, observaram percentuais significativos, diferentes em cada região, de ausências, recusas e outras causas variadas de perdas, o que impôs o acréscimo, na amostra deste estudo de (n / (1 – x), onde n é o tamanho da amostra e x é o fator de recomposição, sendo 0.30 para os Distritos Sanitários Leste e de Venda Nova e 0.50 para o Distrito Sanitário Centro-Sul), resultando numa amostragem final de 963 indivíduos, assim distribuídos por região: Distrito Sanitário Centro-Sul, 160 pessoas; Distrito Sanitário Leste, 473 pessoas e Distrito Sanitário Venda Nova, 330 pessoas (SMSA, 1999).

O banco do ISDBH, após conclusão da coleta de dados, registrou 1010 questionários; 165 entrevistas para DSCS, 511 para DSL e 334 para o DSVN.

1.5.3 Seleção do indivíduo dentro do domicílio

A seleção do entrevistado dentro do domicílio foi realizada por meio de uma tabela anexada ao questionário (Marques e Berquó, 1976). O uso da tabela exigiu que os moradores do domicílio com idade superior a um ano fossem ordenados segundo sexo e idade: em primeiro lugar ficou o homem mais velho recebendo o número de ordem um, seguido pelo homem imediatamente mais velho – número 2 –, até que os moradores homens fossem esgotados. A partir daí eram listadas as mulheres, começando pela mulher mais velha até a mais jovem moradora no domicílio. Depois desta ordenação, a pessoa a ser entrevistada no domicílio foi selecionada com a utilização de tabelas de sorteios, previstas para domicílios com até seis pessoas. Interrompia-se o sorteio na sexta pessoa listada, nos domicílios com mais de seis pessoas. Foram geradas tantas tabelas quanto o número de questionários aplicados (Assunção, 1998).

1.5.4 Coleta e obtenção dos dados

Durante o inquérito – além da coleta de sangue venoso, posteriormente encaminhado ao Laboratório de Virologia do ICB-UFMG para testes de soroneutralização – aplicou-se um questionário estruturado composto por 62 perguntas, para obtenção de informações sociodemográficas, conhecimento sobre a doença, deslocamentos intra-urbanos e interurbanos e condições de moradia, dentre outras.

Foi definido como caso positivo todo resultado que apresentou reação a qualquer sorotipo de vírus Dengue no teste de soroneutralização.

1.5.5 Teste sorológico

Para o teste de neutralização foram empregados vírus (DEN-1 e 2 de amostras, cedidas pelo Dr. Luiz Tadeu Figueiredo, isoladas de epidemia ocorrida em Ribeirão Preto/SP) multiplicados em células de mosquitos C6/36 titulados em células Vero, fornecidas pela American Type Culture Collection (ATCC), Maryland (EUA). Os testes foram realizados em placas de microtécnica de 96 wells. Foram processadas amostras de soro, tituladas em duplicata (em diluição fator 2) (50 ul/well), partindo-se da diluição 1:10 em meio mínimo de Eagle contendo 1% de soro fetal bovino. Volumes iguais de vírus e diluições do soro foram misturados para dar uma concentração final de 1000 PFU/ml. Essa mistura foi incubada por 1 hora a 37oC. Suspensão de células Vero (1 x 105 células num volume de 100 ul) foi adicionada e as células incubadas a 37oC durante quatro dias. Os títulos de NT (NT50) são

expressos como a recíproca da diluição do soro capaz de reduzir em 50% o efeito citopático (ECP) nas células. Títulos maiores que 1:10 foram considerados positivos. Em cada teste, foram titulados os vírus-controle na ausência de anticorpos e um soro positivo e negativo.

Sabe-se que o teste de soroneutralização é altamente específico, de uso reservado para os casos em que existam dúvidas quanto à especificidade dos anticorpos detectados em outros testes e, principalmente, no caso de respostas do tipo secundário. Seu alto grau de especificidade imunológico o credencia como padrão, quando outros procedimentos sorológicos são avaliados (MS-FNS, 1994).

1.5.6 A área e sua organização administrativa

Belo Horizonte, capital do Estado de Minas Gerais, possui uma população de 2.238.526 habitantes. A taxa de crescimento da cidade no período de 1996 a 2000 foi de 1,71% ao ano (IBGE, 2000). O município é dividido em nove regiões político-administrativas, que apresentam entre si grandes diferenças demográficas, sociais, urbanas e econômicas. Cada região político-administrativa constitui também uma área de responsabilidade sanitária do município denominada Distrito Sanitário.

O Distrito Sanitário Centro-Sul (DSCS) representa a área central com 252.368 habitantes, circunscrita pela Avenida do Contorno, o espaço mais tradicional de Belo Horizonte. Atualmente a região pode ser dividida em nove subáreas: Hipercentro Comercial, Floresta, Setor Hospitalar, Alto da Afonso Pena, Savassi, Liberdade, Lourdes/Santo Antônio, Assembléia e Barro Preto. Apresenta diferenças evidentes em relação às outras regiões e homogeneidade intrínseca: verticalidade, concentração de atividades econômicas, alto padrão de ocupação. Região que apresenta mais trechos de alta densidade demográfica e habitacional do município abriga a segunda maior população favelada da cidade. A área do Distrito Sanitário Leste (DSL) com 247.595 habitantes é região de ocupação antiga e de forte identidade, sendo uma das mais consolidadas da cidade. Contígua à Área Central, é constituída por bairros que, na maioria, não apresentam marcante mudança de uso ou crescimento populacional, possuindo baixo estoque de lotes vagos, com exceção das áreas do Extremo Leste da região, que têm condições geomorfológicas precárias e apresentam crescimento populacional significativo. A região do Distrito Sanitário Venda Nova (DSVN) com 218.192 habitantes é a segunda do município em crescimento populacional. O crescimento ocorre com a ocupação de áreas vazias, de pouca valorização imobiliária, propícias para moradias unifamiliares, num processo de verticalização pouco intenso. Região muito antiga da cidade polariza municípios da região metropolitana e detém relativa autonomia em relação à cidade (SMP-PBH, 1995).

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