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O trabalho que deu origem ao Instituto Atende – Consultoria em Desenvolvimento Humano5 tem como alicerce as histórias das profissionais que compõem o seu quadro. O desejo de suplantar os obstáculos criados por limites impostos por outras instituições deu origem ao anseio de produzir um trabalho independente. O empreendimento é fruto do desejo de romper com as imposições das classes dominantes que são capazes de cercear a condução de propostas democráticas, pois são pragmáticas.

O poder ideológico foi capaz de concatenar os interesses de três profissionais Assistentes Sociais. Elas foram amplamente motivadas pelo interesse em participar das estratégias de lutas populares e optam por se comprometerem com os segmentos oprimidos6 em prol de buscas democráticas no exercício profissional.

Em 1984, essas profissionais, começaram a reunirem-se e em busca de alternativas de trabalho realizam a proposta que denominaram de “Serviço Social Independente”.

[...] o desvelamento da dimensão política da profissão coloca, necessariamente, a necessidade de redefinição do trabalho institucional, posto que a referência básica do esforço de ruptura é a clientela do Serviço Social, representada pelos setores populares. (SILVA, 2007, p. 90).

Iamamoto (2005) enfatiza que nos anos de 1980 os assistentes sociais descobriram, através da dinâmica das instituições e das relações de poder institucional, a importância de pensar o Serviço Social, as políticas sociais e os movimentos sociais.

E para este grupo de assistentes sociais criar um trabalho alternativo apresentou-se muitas dificuldades. A recente formação profissional, aliada à organização curricular dos “restritos” meios necessários não contribuíram para a efetivação desta “nova“ proposta de trabalho. Começaram a entender na prática as dificuldades da “profissão liberal”:

5 A história descrita neste tópico faz parte de material produzido e utilizado pela equipe técnica do Instituto

Atende – Psicologia e Serviço Social, em palestras e oficinas.

6 “O termo “oprimido” é utilizado por alguns autores para designar a subordinação política, ideológica

econômica e cultural direcionada ao conjunto das classes dominadas, a partir de um processo histórico de subalternização inerente às estruturas periféricas, dependentes. (SOUZA, 2007,p.143).

Embora regulamentado como uma profissão liberal na sociedade o Serviço Social não se realiza como tal. Isso significa que o Assistente Social não detém todos os meios necessários para a efetivação de seu trabalho; financeiros, técnicos, humanos necessários ao exercício profissional autônomo. Depende de recursos previstos nos programas e projetos da instituição que o requisita, que o contrata, por meio dos quais é exercido o trabalho especializado. (IAMAMOTO, 2005, p.63, grifo da autora).

Outras indagações permearam as reflexões deste grupo. Como construir um trabalho diferenciado numa cidade com características conservadoras, elitista e proletária que, ao mesmo tempo respeitasse sua cultura, valores e que desenvolvesse propostas comprometidas com o povo? Este constitui em mais um dos desafios desse grupo.

No contexto social, a pressão dos movimentos sociais populares coloca de maneira mais clara, novas demandas para a prática do Serviço Social e assim, o grupo de assistentes sociais se predispõe a prestar assessoria a estes movimentos sociais por acreditar que o exercício da verdadeira solidariedade, ou seja, da busca por efetivação de direitos, de relações mais horizontalizadas, de práticas educativas e coletivas diluiriam os padrões tradicionais vinculados na história de escravismo, clientelismo, assistencialismo, autoritarismo e coronelismo que tanto corroborava para a manutenção da sociedade, na qual impera a desigualdade e injustiça.

Neste momento, surgem outras dificuldades: em uma sociedade como esta, em que o mínimo necessário para sobreviver não é garantido: como poderia a população sentir a necessidade de um trabalho como esse e ainda remunerado? “[...] a condição de trabalhador assalariado não só enquadra o Assistente Social na relação de compra e venda da força de trabalho, mas molda a sua inserção socioinstitucional na sociedade brasileira”. (IAMAMOTO, 2005, p. 63). As Assistentes Sociais não desistem desta caminhada, porém não encontram alternativas viáveis para a atuação do projeto.

Em 1986, o grupo composto por mais duas novas integrantes da área da psicologia, conduziu a proposta de trabalho para assessoria às escolas da rede oficial de ensino, preocupadas e motivadas em assegurar a população, a saúde e educação. A educação vista como um dos pilares de transformação social e a saúde, voltada para a emocional e a mental.

Iniciou-se então a “Assessoria Integrada de Educação e Saúde”, através de encaminhamentos de ofícios às escolas estaduais divulgando o trabalho. Na ocasião os professores encontravam-se mobilizados e reivindicando remuneração justa. E nesta conjuntura de luta da categoria, a Escola Estadual de 1º e 2º Grau “João Marciano de Almeida” - Franca – SP, interessou-se pelo trabalho da assessoria. Iniciaram-se várias indagações pela equipe de profissionais que demonstravam imaturidade para a ação. Entre eles, a questão do valor financeiro que seria solicitado, a título de “honorários”, para a realização das atividades. Como estabelecer um valor monetário se historicamente este tipo de trabalho sempre compreendido como sendo de doação, de amor ao próximo?

Para a realização do trabalho a Assessoria Integrada optou pelo levantamento da situação para conhecimento da realidade. Assim, consultou todos os níveis hierárquicos da escola, e outros sujeitos que compõem a realidade do local, quanto ao interesse pela proposta de trabalho. A abordagem realizada surtiu efeitos considerados positivos, pois o projeto foi bem vindo pela equipe técnica e pelos pais dos alunos, porém posteriormente várias indagações foram surgindo por essas pessoas, ora favoráveis, ora desfavoráveis. E após, reuniões, desgastes pessoais e muitas explicações, o projeto não foi concretizado.

A experiência gerou desconforto na equipe de profissionais e estas, sentindo-se incapazes, resolvem cessar temporariamente as atividades, objetivando refletir sobre a filosofia de trabalho, a atuação profissional, as dificuldades enquanto grupo.

Em 1987 o grupo foi convidado para falar desta experiência aos alunos do segundo ano do Curso de Serviço Social na UNESP-Campus de Franca. Os alunos e professores impulsionaram as profissionais e somados às próprias reflexões, retomaram a proposta, mas amadurecidas e convencidas da necessidade de realizar um trabalho alternativo, inovador, não filantrópico, acessível e comprometido com os anseios da população oprimida.

A proposta toma novos rumos, se fortalece e o grupo agora composto por outros profissionais se encorajou, e resolveu a organizar um espaço formalizado: a clínica. Em 1988 iniciou-se o projeto de trabalho interdisciplinar denominado Clínica Atende – Psicologia e Serviço Social.

Nesta entidade – Clínica Atende- Psicologia e Serviço Social as profissionais sentiram a verdadeira motivação para a efetivação de uma “práxis” na perspectiva da interdisciplinariedade. A possibilidade de concretamente relacionar teoria e prática, direcionada aos aspectos teóricos - metodológico, ético - político orientou o projeto profissional da equipe que constituía a Clínica Atende.

Em sua trajetória o trabalho desenvolvido na clínica sedimenta-se e amplia-se adquirindo novas dimensões. O aumento considerável das possibilidades de atuação sugere a alteração na sua denominação. Em 1998 passa a se denominar Instituto Atende - Psicologia e Serviço Social – Área Clínica e Desenvolvimento Humano, mais coerente com a estrutura de trabalho atual. (anexo A).

Com sede em Franca - São Paulo tem como objetivos: desenvolver estudos, visando o aprofundamento do conhecimento e aplicação da ciência em Saúde Mental; contribuir com o aprimoramento profissional de trabalhadores, técnicos e não técnicos, através de cursos, palestras, grupo de estudos; ter como elemento principal o trabalho e o respeito à dignidade do povo, algo essencial; participar, coordenar e promover congressos, conferências entre outros dentro e fora do país, na área de desenvolvimento humano; manter relacionamento com Universidades, Associações, Hospitais, Clínicas, Empresas, quer nacionais ou internacionais, nos quais se dê enfoque à saúde mental e educação. 7

O Instituto Atende expande suas atividades principalmente para a área de desenvolvimento humano sem desprezar sua atuação na área clínica. A preocupação com as demandas dos sujeitos atendidos, o conhecimento da realidade nas suas diversas dimensões: socioemocional, política, cultural, ideológica, entre outros e a formação continuada técnico - científica sempre estiveram presentes nas ações cotidianas.

Em 2001 com uma equipe formada com três profissionais: uma assistente social e duas psicólogas e denominado Instituto Atende – Consultoria em Desenvolvimento Humano, a prática profissional se reorganiza em duas áreas:

clínica: psicoterapias, orientação vocacional, orientação profissional e grupos

educativos, tais como assessoria a profissionais das ciências humanas e sociais aplicadas e de transtornos alimentares e obesidade; educativa: educação continuada nas organizações, gestão e empreendedorismo social. O trabalho 7 Objetivos extraídos do Contrato Social do Instituto Atende – Psicologia e Serviço Social.

desenvolvido por estas duas áreas se entrelaça visando e priorizam o mundo emocional e social das pessoas e grupos atendidos.