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TEMA II – Obstipação crónica nos idosos

2. O intestino grosso: anatomia e fisiologia

O intestino grosso possui aproximadamente 1,5 metros e nele podem distinguir-se três partes: o cego, o cólon e o reto76.

A parede do cólon intestinal é constituída por várias camadas musculares: a mucosa, a submucosa e a camada externa dividida em duas, a camada interna constituída por músculo liso circular e a camada externa constituída por músculo liso longitudinal77.

É ainda importante referir que o trato gastrointestinal (TGI) possui o seu próprio sistema nervoso local, conhecido como sistema nervoso entérico (SNE), cuja função consiste em coordenar os movimentos colónicos que misturam e expulsam a matéria fecal do cólon76,77. O

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entre a camada longitudinal e circular de músculo liso) e o plexo submucoso ou de Meissner (localizado na submucosa; Figura 7) 76,77. O plexo de Auerbach é responsável pelo controlo dos

movimentos gastrointestinais, enquanto o controlo das secreções digestivas são da responsabilidade do plexo de Meissner77.

Figura 7 – Estrutura da parede do trato gastrointestinal, numa secção longitudinal. Adaptado de Vander et al., 2001.

Para além dos SNE, o intestino grosso é também regulado pelo sistema nervoso autónomo, constituído pelo sistema nervoso simpático e parassimpático77.

A principal função do intestino grosso consiste, essencialmente, na absorção de fluidos, transporte, armazenamento e concentração de matéria fecal até chegar ao reto, local onde é expelida ou armazenada até que o processo de defecação seja conveniente76,78. Deste modo, o

intestino grosso apresenta uma superfície epitelial bastante menor, relativamente à superfície epitelial do intestino delgado, apesar de possuir um diâmetro superior79. Tal pode ser facilmente

explicado pelo facto de o seu comprimento constituir metade do comprimento do intestino delgado, não esquecendo a falta de microvilosidades na sua mucosa, cuja principal função é aumentar a área de superfície de absorção79.

2.1. Absorção de água e secreção de eletrólitos

O intestino grosso recebe aproximadamente 1,5 litros de líquido proveniente do intestino delgado, e apenas cerca de 200-400 ml desse líquido é excretado nas fezes, sendo o restante novamente absorvido pelo organismo78. A absorção de água a partir da matéria intestinal trata-

se de um processo dependente do tempo e ativamente regulado78. A partir do lúmen intestinal,

o Na+ é reabsorvido por transporte ativo, resultando na passagem passiva da água em direção

às membranas, em resposta ao gradiente osmótico criado76. A secreção de Cl- ocorre através da

sua passagem por canais (ex. CFTR), permitindo o movimento de iões potássio e bicarbonato, do sangue para o lúmen do intestino (Figura 8) 76,78. A disfunção deste tipo de canais pode levar

à formação de fezes totalmente desidratadas, e consequentemente à ocorrência de obstipação78.

Com o tempo, o material fecal remanescente no cólon torna-se gradualmente mais desidratado, compacto e estriado, podendo dificultar a passagem através do ânus78.

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Figura 8 – Absorção de água e secreção de eletrólitos no intestino grosso.

Para além disso, ao longo do IG ocorre também a fermentação de polissacarídeos não digeridos, realizada pelas bactéricas que compõem a flora intestinal, originando a formação de produtos gasosos que consistem numa mistura de nitrogénio e dióxido de carbono, com pequenas quantidades de hidrogénio, metano e sulfureto de hidrogénio76.

2.2. Motilidade

Ao nível da motilidade colónica podem ser identificados dois tipos de movimentos responsáveis pelas funções de absorção e transporte: as contrações repetitivas não-propulsivas (CRNP) que movimentam a matéria fecal de forma a promover a absorção e mistura do conteúdo fecal e as contrações coordenadas de alta amplitude (CCAA) que transportam o material fecal em movimentos de massa, do colón ascendente até ao seu segmento distal78.

As CCAA ocorrem tipicamente durante o período da manhã após o despertar e podem ser acentuadas por outros fatores, nomeadamente a ingestão de alimentos ou líquidos. Por outro lado, estão fortemente atenuadas durante o sono, por forma a impedir a incontinência fecal78.

A nível molecular, a motilidade intestinal consiste num processo que engloba um complexo controlo neuronal e hormonal desde o cólon ao SNC78. O peristaltismo (movimentos

que ocorrem com mais frequência no intestino) é predominantemente mediado pelo NT 5-HT. Quando a matéria fecal se distende pela parede intestinal, as células enterocromafins libertam 5-HT, que atua nos recetores 5-HT4 causando um reflexo local através dos nervos entéricos que

libertam acetilcolina, aumentando assim a contratilidade muscular a nível do intestino78,79.

Simultaneamente, a ativação dos recetores 5-HT4 também estimula a libertação de

neurotransmissores inibitórios (ex. óxido nítrico), originando relaxamento muscular 78,79. Este

processo coordenado de contração e relaxamento causa o impulsionamento da matéria fecal ao longo do cólon até ao reto78,79.

2.3. Defecação

Uma defecação normal, bem como a manutenção da continência fecal engloba vários componentes, nomeadamente os esfíncteres anais (interno e externo), os músculos puborretal (ex. pavimento pélvico) e as curvaturas retais (ex. ângulo retoanal) 78. O esfíncter anal interno

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anal externo (EAE) é constituído por músculo estriado e está sob controlo voluntário e consciente78. O puborretal mantém o ângulo retoanal em repouso, relaxando no momento da

defecação (Anexo 9)76.

A distensão retal provocada por gás ou matéria fecal induz um reflexo de relaxamento do EAI, conhecido como reflexo retoanal inibitório (RRI)78. Este reflexo é mediado através do

SNE e não requer qualquer controlo externo proveniente do sistema nervoso central ou periférico78. Durante o processo normal de defecação ocorre a distensão do EAI e

consequentemente, a ativação da perceção da urgência em defecar78. Se a ocasião não se

revelar a mais adequada, o reto reajusta-se com o objetivo de armazenar o material fecal temporariamente, levando à dissipação das contrações e da perceção de urgência em defecar permitindo a acomodação de mais matéria fecal78. Se, pelo contrário a altura for conveniente,

ocorre a contração do diafragma e dos músculos abdominais e retais. Simultaneamente ocorre o relaxamento do EAE e do músculo puborretal78. Este processo coordenado de contração e

relaxamento muscular leva à abertura do ânus e à expulsão das fezes78.

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