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O Jornal Escolar: no contexto da Inovação Pedagógica

PARTE IV – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

9. O Jornal Escolar: no contexto da Inovação Pedagógica

As práticas pedagógicas subjacentes à realização do jornal na sala de aula contribuem para a melhoria do Jornal Escolar: O Lobinho, como recurso de apoio didático, de modo específico para as áreas de Linguagens e Códigos e Ciências Humanas, contempla, assim, o desenvolvimento da cultura e da cidadania; sob a luz dos estudos de Célestin Freinet, que constituem uma das eficientes formas de promover o exercício da inclusão social e cidadã, na inclusão do campo do letramento dos alunos.

O processo comunicativo de linguagem escrita envolvendo texto, na sua forma e no seu conteúdo, como leitor, amplia suas expectativas e conhecimentos prévios na interação entre o leitor, o texto e o contexto explorado, tendo como fundamento primordial a leitura para um possível avanço na escola e na comunidade, acreditando que atualmente seja uma das maiores preocupações e desafios da escola pública, a construção do processo de formação de leitores dentro e no exterior da escola.

Nesse viés de pensamento, o Jornal Escolar favorece o manuseio da informação e da comunicação propriamente dito, quando trabalhado nas dimensões de pesquisa para a coleta de informações na sua organização, socialização e exposição, desenvolvendo o senso crítico e criativo do aluno em processos de leitura e escrita, a partir da produção de textos e das matérias para a construção do Jornal Escolar e de seu uso pedagógico para ensino de aspectos gramaticais, leituras, análises e interpretações na perspectiva do letramento.

Do ponto de vista da pedagogia freinetiana, são visíveis as vantagens pedagógicas em volta da prática educativa com o Jornal Escolar, contribuindo, de modo significativo, para a produção dos textos, facilitando, dessa forma, uma aprendizagem atrativa e, sobretudo, formadora na emancipação cidadã dos alunos, afirmando que:

A criança sente a necessidade de escrever, exatamente porque sabe que seu texto, se for escolhido, será publicado no jornal escolar e lido, portanto, pelos seus pais e pelos correspondentes; por isso sente a necessidade de expandir o seu pensamento por meio de uma forma e de uma expressão que constituem a sua exaltação. (FREINET, 1974, p.81)

Para efeito de uma concretização na articulação do Jornal Escolar junto aos alunos, pais e comunidade, será preciso investir na sistematização dos processos da

construção do Jornal Escolar, pois o envolvimento de ambos, e de maneira interativa, legitimará traços de inovação pedagógica, disseminando a importância da comunicação entre comunitários, promovida em reuniões de pais e mestres, eventos escolares realizados na escola e por meio de registro de culminâncias exitosas que podem ser discutidas e avaliadas nos planejamentos da prática educativa e, consequentemente, legitimadas na aprendizagem dos alunos.

Considerando a prática educativa do Jornal Escolar entre os alunos, com as trocas interescolares, as permutas dos alunos, as reuniões, as cartas, os inquéritos e as exposições, tudo isso constitui igualmente uma preparação direta e indispensável para a vida contemporânea.

(FREINET, 1974, p.119) recomenda os devidos cuidados com a formação das equipes de trabalho, com os alunos na produção das matérias para o Jornal Escolar, advertindo que:

A constituição destas equipas – o que constitui a coisa mais delicada – é baseada nas necessidades e nos desejos das escolas que a compõem. Estas escolas pertencem o mais possível, ao mesmo nível e têm os mesmos interesses ou, pelo contrário, interesses complementares: escolas das planícies com escolas das montanhas, escolas do continente com escolas da orla marítima, Norte com o Centro ou Sul.

A atuação dos segmentos formativos da comunidade escolar é um fator bastante relevante, pois eles apresentam observações e relatos específicos, quanto à efetivação no processo educativo de seus filhos e nas relações da execução das atividades promovidas pela escola, sendo medidos pelo conhecimento da inserção do jornal no contexto escolar, desta forma despertará, principalmente na comunidade educativa (alunos e professores), uma visão ampliada da realidade e do seu entorno e, quando construídos no chão da sala de aula, alargará cada vez mais o conhecimento dos conteúdos curriculares, ampliando novos horizontes a nível local, regional e mundial.

Nessa perspectiva de inovação por meio da produção do Jornal Escolar com os alunos e participantes, reside o cuidado com o tratamento na construção das produções, pois, se não forem respeitados os processos de inovação, o Jornal Escolar não atingirá seu objetivo e cairá nas antigas práticas tradicionais, que descaracterizam essa linha de atuação perante os alunos e a comunidade escolar.

Freinet (1974) assevera tais cuidados que devemos ter no processo de aprendizagem junto às práticas do Jornal Escolar, afirmando que:

O nosso receio é de que, nalguns casos, as exigências do jornal escolar nos façam cair numa nova escolástica que acabaria por impor às crianças normas de trabalho e formas de atividades que não se inserem no processo de evolução que deve ser a nossa primeira preocupação pedagógica. Estas observações são válidas, sobretudo para as classes de mais pequenos, em relação à idade em que o interesse das crianças é vivo mas passageiro, em que a cada dia correspondem novos centros de interesse com cuja síntese teremos muito a aprender.

Outra contribuição significativa para a construção do Jornal Escolar é a diversidade de informações, uma vez que ela propicia o acesso à vivência cultural e social dos indivíduos envolvidos. Embora algumas características sejam gerais, cada informação tem seu foco e pode ser adotada em sala de aula, atendendo às especificidades de acordo com a realidade dos alunos e seus conhecimentos. Eventuais motivações que, em sala de aula, contribuem para a pesquisa na comunidade, possibilitam detectar as necessidades e os interesses do local investigado, servindo, dessa forma, de elementos para a produção de textos/matérias do Jornal Escolar e para a promoção da leitura e da escrita.

Nesse passo, Freinet (1974, p.114) assevera a importância das experiências vivas entre os alunos na escola do futuro, afirmando que: Na Escola de amanhã, onde o verbalismo dará lugar à experiência viva e à criação, os utensílios e as técnicas de trabalho torna-se-ão elementos activos da nova pedagogia; Entre estes utensílios, a imprensa na Escola, o jornal escolar e as permutas desempenharão um importante papel cujas virtudes e perspectivas estão interessadas em demonstrar; Mas o progresso não se faz sozinho; são necessários trabalhadores esforçados e compreensivos para continuar e desenvolver a obra preparada pelos pioneiros da Escola moderna.

Neste sentido, para considerar o Jornal Escolar como um dos instrumentos de aprendizagem dos alunos, será necessário investir em práticas inovadoras de leitura, escrita e interpretação de textos como ferramentas indispensáveis no processo educativo, tendo em vista contemplar a aquisição do conhecimento desses alunos, ou seja, promover condições de aprendizagens para que eles possam adquirir as reais habilidades e se tornarem proficientes leitores e construtores de textos.

A eficiência da prática social leitora por meio das ações do Jornal Escolar se relaciona, de forma interligada, com o letramento, pois possui um instrumento precioso

para penetrar no amplo universo do conhecimento e estimula o intelecto do aluno, que enriquece o texto graças a sua contribuição. À medida que vai lendo, ele raciocina, critica, infere, estabelece relações, tirando suas próprias conclusões. Tudo isso se traduz numa poderosa estimulação intelectual que repercute na aprendizagem em sua totalidade.

As práticas pedagógicas utilizadas na construção do Jornal Escolar se constituem como inovação pedagógica frente às dificuldades nos processos de leitura e escrita, detectadas no desempenho acadêmico dos alunos do Ensino Fundamental, contribuindo, dessa forma, para as possíveis melhorias no processo educativo.

Nas observações realizadas em sala de aula, percebemos que, quando os alunos realizam pesquisas, participam de oficinas na produção do jornal e socializam oralmente suas percepções construídas por meio dos textos. Isso sob a orientação do professor, que, em seguida, trabalha pedagogicamente a correção ortográfica, a pontuação e o sentido das produções, no sentido de elencar a qualidade e a legitimidade dos textos que serão norteados para a publicação no Jornal Escolar.

Ainda sobre as deficiências detectadas na produção dos textos por parte dos alunos, os professores procuram estimulá-los de tal forma que eles percebam que os erros não serão motivos de exclusão das matérias na publicação do jornal, mas momento de intervenção com responsabilidade e respeito às dificuldades encontradas no processo de aprendizagem, oportunizando, de forma coletiva, a escolha de textos para a composição do jornal.

Com o predomínio crescente da globalização que ora impera em nossa sociedade junto aos meios de comunicação, que trazem, em fração de segundos e em tempo real, as mais diversas informações, são exigidas do leitor investigadoras práticas de leituras e interpretações para uma compreensão sólida sobre os fatos publicados, tornando-o consciente dos acontecimentos.

Em comparação com outros meios de comunicação, no jornal, o leitor tem liberdade para escolher o lugar, o tempo e a modalidade de leitura que queira e julgue conveniente. Ele pode escolher por si mesmo, de acordo com seus interesses, os seus gostos ou suas necessidades pessoais, os melhores e mais adequados textos do passado e do presente. O individuo pode ler em seu próprio ritmo, adaptando flexivelmente a sua velocidade aos propósitos que se apresentam, e, se o material é interessante, fácil ou

conhecido, pode lê-lo com rapidez; mas, se o material é complexo, novo, ou quando se quer ler criticamente, a velocidade pode ser diminuída.

Freinet (1974, p.105) relata a importância da prática pedagógica por parte dos professores que investem na produção e no manuseio do Jornal Escolar com os alunos na sala de aula, afirmando que “um professor que realize na sala de aula um jornal escolar não tem de ser fatalmente um iniciado nas fórmulas mais ou menos escolásticas da psicologia moderna, mas conhecerá melhor os seus alunos, o que é essencial, e estará numa posição ideal para agir em face das necessidades e tendências manifestadas”.