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O jornalismo nos novos media

No documento O jornalismo de investigação em Portugal (páginas 40-43)

Parte I: Estudo teórico

1. O jornalismo em Portugal

3.3 O jornalismo nos novos media

Não restam dúvidas que vivemos num mundo em constante mudança. A evolução dos meios de comunicação e a inevitável convergência dos mesmos potenciaram alterações na comunicação e na sociedade. O impacto da Internet na comunicação depressa se demonstrou na comunicação social, levando à criação de um novo género jornalístico: o jornalismo online. Apesar de existirem vários vocábulos que definam este conceito, como jornalismo digital, web jornalismo, jornalismo eletrónico, a definição é sempre a mesma: “o exercício da função jornalística na edição digital de um jornal impresso, rádio ou televisão ou numa edição exclusivamente digital” (Sousa, 2003:161).

Assim como defende Pedro Jerónimo no seu artigo de investigação “Jornalismo o(ff)line”, o:

web jornalismo (…) traz novidades na produção, divulgação e consumo de notícias, os blogues, as redes sociais, são exemplos dessas novas maneiras de lidar com a

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informação no ciberespaço”. Ou seja, como existe um espaço interativo gigante, surgem inúmeras formas de comunicar e fazer jornalismo. O mesmo autor explica que o jornalismo deixou de ser praticado numa comunicação vertical para uma comunicação horizontal. “O público deixa de ser encarado como uma massa disforme, passiva, e passa a ser constituída por pessoas ativas, prontas para darem a sua opinião, contribuírem com os seus conhecimentos e/ou contactos (Jerónimo, 2009:1).

Cada vez mais o leitor tem um papel ativo na realização de uma peça jornalística uma vez que, através da Internet e, em especial, das redes sociais, a voz do leitor e do cidadão aumentou. O leitor mantém uma voz ativa e participativa, comentando em tempo real as notícias lançadas pela comunicação social, seja em fóruns, no Facebook ou no Twitter. Foi necessário criar novos postos de trabalho que gerissem este relacionamento entre a comunicação social e o cidadão comum/leitor. Surgem novas profissões como gestor de comunidades, cuja principal função é interagir com o cidadão e gerir esta relação.

Vasco Boto Calheiros, numa investigação académica acerca do papel dos media no jornalismo, defende que o primeiro trabalho de um jornalista digital, um trabalho “a fundo”, foi o trabalho publicado pelo New York Post, onde um só jornalista acompanhou, em 2008, a campanha do partido democrata representado por Barack Obama. Foi criado um website, atualizado ao minuto, onde estava publicada toda a informação – desde a localização do candidato, aos temas que o mesmo abordava nos seus discursos até às conversas com os assessores da equipa de Obama. Vasco Calheiros defende este trabalho jornalístico como o:

primeiro trabalho jornalístico denominado por jornalismo digital porque foi a iniciação da fusão entre jornalismo, Internet e media sociais, onde os jornalistas e chefes de redação compreenderam o potencial dos sites que alojam imagens, áudio e vídeo para um suporte que começava a ganhar cada vez mais audiência (Calheiros, 2009:12).

Portanto, é possível concluir que para trabalhar na nova vertente do jornalismo, no jornalismo digital/online, é necessário que o jornalista concilie as competências do jornalismo tradicional com as competências tecnológicas. Contudo, o papel, funções e competências do novo jornalista serão estudados num capítulo seguinte desta investigação académica.

Importa agora compreender que o jornalismo online é o resultado da convergência entre os meios tradicionais (televisão, rádio e imprensa) com os meios digitais (Internet e redes sociais).

Nos dias de hoje, a Internet já é uma ferramenta base no trabalho jornalístico, “uma ferramenta indispensável para a investigação jornalística” como escreve Jorge Pedro Sousa na

42 obra Técnicas Jornalísticas nos Meios Eletrónicos. Compreende-se que a Internet ocupe um lugar de fonte privilegiada no sentido de consultar informação para background de vários temas ou mesmo para verificar uma informação de caráter de cultura geral, contudo, é importante referir que um trabalho jornalístico não se pode basear exclusivamente em fontes online, uma vez que a veracidade nem sempre é comprovada. A Internet tem aspetos positivos como a rapidez e a facilidade de acesso, porém, nos últimos tempos, os utilizadores têm-se deparado com as fake news.

Mais do que nunca, é imperativo que o jornalista verifique as suas informações junto das suas fontes para evitar que a procura por ser o primeiro a noticiar o transforme em alvo de chacota por publicar informações erradas. Jorge Pedro Sousa, apoiando-se em trabalhos de John Pavlik, sublinha a importância de verificar informações: “aquilo que o jornalista mais precisa é do seu bom senso para ajuizar a veracidade dos factos” (cit. in Sousa, 2003:168).

São vários os autores que defendem que a investigação online não deve substituir a investigação tradicional na prática do jornalismo, independentemente de se tratar de jornalismo online ou não. Stephen Miller defende que “it does not replace shoe leather and traditional reporting. It is just another tool, and like any tool, there are people who don’t understand it and who make mistakes, but is a very powerful and very effective technology” (Miller cit. in Sousa, 2003). O autor Roland De Wolk pronuncia-se no mesmo sentido desta citação e acrescenta que “nem sempre a Internet pode servir como substituta de alguns telefonemas e entrevistas face-to-face” (Wolk cit. in Sousa, 2003).

Em suma, conclui-se que os novos media e a Internet criaram alterações no jornalismo, contudo foi possível adaptá-lo às novas ferramentas disponíveis. Como todas as ferramentas de trabalho, existem vantagens e desvantagens. Neste caso as vantagens são claras: rapidez, facilidade de acesso, possibilidade de conectar com o público e partilha de notícias em tempo real. Em contrapartida, como desvantagens, surge o número crescente de fake news, notícias com informações não verificadas, fontes de informação que não são credíveis e uma maior competição entre os meios de comunicação em serem os primeiros a noticiar. Assim sendo, a regra de ouro mantém-se: verificar informações e verificar factos.

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4. A profissão de jornalista

A definição de jornalista e a própria profissão alterarou-se com a evolução do meio que noticiam. Com os avanços na forma de comunicar, a profissão acompanhou as alterações e moldou-se conforme aquilo que o mundo abraçava como uma nova realidade. Desde o surgimento da imprensa, passando pela televisão, rádio, Internet e mais recentemente, media digitais, o jornalista evoluiu e adaptou-se aos novos meios.

São essas mudanças e evoluções que serão abordadas e estudadas nos subcapítulos seguintes desta investigação.

No documento O jornalismo de investigação em Portugal (páginas 40-43)

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