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O JUDEU DE TETTENHALL

No documento O Fisico Noah Gordon (páginas 175-200)

Só restava agora esperar a primavera. Novas porções do Específico foram preparadas e engarrafadas. Todas as ervas apanhadas, exceto a beldroega, depois de secas foram reduzidas a pó ou mergulhadas no tônico. Estavam cansados de treinar malabarismo, fartos de mágica, e Barber não agüentava mais o norte e só fazia beber e dormir.

- Não tenho mais paciência para esperar que o inverno acabe - disse numa certa manhã de março e deixaram Carlisle bem cedo, viajando lentamente para o sul pelas estradas em péssimo estado.

Encontraram a primavera em Beverley. O ar suavizou-se, o sol apareceu e com ele uma multidão de peregrinos que visitava a grande igreja de pedra da cidade dedicada a São João Evangelista. Rob e Barber lançaram-se ao trabalho e sua primeira grande audiência da estação respondeu com entusiasmo. Tudo correu bem durante o tratamento, até que, ao levar o sexto paciente para a privacidade do biombo, Rob segurou as mãos macias de uma bela mulher.

Seu pulso acelerou.

- Venha, senhora - disse com voz fraca.

Sentia arrepios temendo que suas mãos estivessem unidas para sempre. Voltou-se e olhou para Barber.

Barber empalideceu. Quase com selvageria, empurrou Rob para um canto onde não podiam ser ouvidos.

- Tem certeza? Precisa ter certeza.

- Ela vai morrer logo - disse Rob.

Barber voltou para a mulher, que não era velha e parecia estar bem. Não se queixava de nenhuma doença e estava ali para comprar um filtro.

- Meu marido é um homem de idade. Seu ardor está diminuindo, mas ele me admira.

Falava calmamente e os modos refinados sem falsa modéstia davam-lhe dignidade. Estava com roupas de viagem de boa qualidade. Evidentemente era uma mulher de posses.

- Não vendo filtros. Isso é mágica, não medicina, minha senhora. Ela murmurou sua pena. Barber ficou apavorado vendo que ela não corrigia o tratamento de senhora usado por ele; ser acusado de feitiçaria pela morte de uma dama da nobreza era sem dúvida o fim.

- Um gole de bebida geralmente produz o efeito desejado. Forte e tomado antes de ir para a cama.

Barber não aceitou pagamento. Logo que ela saiu, pediu desculpas aos pacientes que esperavam na fila. Rob já estava carregando a carroça. Assim, fugiram outra vez.

Quase não falaram durante a fuga. Quando estavam a uma distância segura acamparam para a noite e Barber quebrou o silêncio.

- Quando uma pessoa morre de repente, um vazio aparece nos seus olhos - disse em voz baixa. - O rosto perde a expressão, às vezes fica arroxeado. Um canto da boca fica flácido, uma pálpebra se fecha, os membros se transformam em pedra. -Suspirou. - Não é uma morte cruel.

Rob não respondeu.

Armaram as camas e tentaram dormir. Barber levantou-se e bebeu por algum tempo, mas dessa vez não estendeu as mãos para o aprendiz.

Rob sabia, no fundo do coração, que não era feiticeiro. Mas era a única explicação e ele não entendia. Deitou-se e rezou. Por favor, quer tirar de mim esse dom imundo e devolvê-lo ao lugar de onde ele veio? Furioso e desanimado, não podia evitar de falar assim, pois a brandura não tinha levado a nada.

É uma coisa que só pode ser inspirada pelo demônio e não quero nada com ela, disse para Deus.

Aparentemente sua prece foi ouvida. Naquela primavera não houve nenhum incidente. A temperatura continuou boa e depois melhorou, com dias ensolarados mais quentes e secos do que nos outros anos, muito bons para os negócios.

- bom tempo no dia de São Swithin - disse Barber certa manhã, em triunfo. - Qualquer pessoa sabe que isso significa mais quarenta dias de tempo firme.

O mestre lembrou do seu aniversário! Na terceira manhã depois do dia de São Swithin, Barber deu a ele o maravilhoso presente de três penas de ganso, tinta em pó e uma pedra- pomes.

- Agora pode rabiscar rostos com alguma coisa mais que gravetos queimados - disse ele.

Rob não tinha dinheiro para retribuir no aniversário de Barber. Mas certa tarde, quando passavam por um campo, viu uma planta. Na manhã seguinte saiu do acampamento às escondidas e caminhou meia hora até o campo onde apanhou grande quantidade da erva. No aniversário de Barber ele o presenteou com a beldroega, a erva contra a febre, que o barbeiro-cirurgião recebeu com imenso prazer.

A harmonia entre os dois retletia-se no traoamo. Antecipavam os movimentos um do outro e o espetáculo adquiriu um brilho e um entusiasmo que provocavam aplausos esplêndidos. Rob nos seus devaneios imaginava os irmãos e a irmã entre os espectadores; fantasiava o orgulho e o espanto de Anne Mary e de Samuel Edward vendo o irmão mais velho fazer mágica e malabarismos com cinco bolas.

Devem estar crescidos, pensava. Será que Anne Mary se lembrava dele? Samuel Edward seria ainda aquele garoto selvagem? Jonathan Carter já devia estar andando e falando, um perfeito homenzinho.

Era impossível a um assistente dizer ao mestre para onde conduzir seu cavalo mas quando pararam em Nottingham, Rob teve oportunidade de consultar o mapa e viu que estavam perto do coração da ilha da Inglaterra. Para alcançar Londres deveriam continuar para o sul, mas também desviar um pouco para o leste. Decorou os nomes e localização das cidades, para reconhecê-las e saber se estavam viajando para onde queria ir tão desesperadamente.

Em Leicester, um fazendeiro, ao retirar uma rocha do seu campo, encontrou um sarcófago. Cavou em volta dele, mas era pesado demais e a parte de baixo estava presa à terra como um rochedo.

- O duque vai mandar homens e animais para tirar o sarcófago e vai levar para seu castelo - disse o fazendeiro com orgulho.

No mármore áspero com granules brancos havia uma inscrição: DIIS MANIBUS, VIVIO MARCIANO MILITI LEGIONIS SECUNDAE AUGUSTAE. IANUARIA MARINA CONJUNX PIENTISSIMA POSUIT MEMORIAM.

- Aos deuses do mundo inferior - traduziu Barber. - A Vivius Marcianus, soldado da Segunda Legião de Augusto. No mês de janeiro sua devotada esposa, Marina, mandou construir este túmulo.

- Gostaria de saber o que aconteceu com a boneca, Marina, depois de enterrar o marido, pois estava muito longe de casa - disse Barber sobriamente.

Como todos nós, pensou Rob.

Leicester era uma cidade populosa. O espetáculo atraiu grande número de espectadores e quando terminaram a venda do tônico, começaram a trabalhar arduamente. Em rápida sucessão Rob ajudou Barber a lancetar o furúnculo de um jovem, encanar o dedo quebrado de outro, dar uma dose de beldroega para uma matrona febril e camomila a uma criança com cólicas. Em seguida conduziu para trás do biombo um homem calvo, atarracado, com olhos esbranquiçados.

- Há quanto tempo está cego? - perguntou Barber.

- Há dois anos. Começou a escurecer a vista e gradualmente foi piorando e agora quase não percebo a luz. Sou escrevente mas não posso trabalhar.

- Não posso devolver a visão, assim como não posso devolver a juventude.

O homem deixou-se conduzir para fora.

- É uma notícia triste - disse para Rob. - Nunca mais enxergar. Um homem que estava perto, magro, com ossos salientes e nariz romano, ouviu e olhou atentamente para os dois. Tinha cabelos e barba brancos mas era ainda jovem, não mais do que o dobro da idade de Rob. Adiantou-se e pôs a mão no braço do paciente.

- Como é seu nome? - falava com sotaque francês, que Rob tinha ouvido muitas vezes na fala dos normandos no porto de Londres.

- Sou Edgar Thorpe - respondeu o cego.

- Eu sou Benjamin Merlin, médico de Tettenhall, aqui perto. Posso examinar seus olhos, Edgar Thorpe?

com os polegares e examinou a opacidade branca.

- Posso fazer o reclinamento2 nos seus olhos tirando a camada branca - disse, finalmente.

- Já fiz antes, mas você terá que ser forte para agüentar a dor.

- Não me importo com a dor - murmurou o homem.

- Então peça a alguém para levá-lo à minha casa em Tettenhall, bem cedo, na próxima terça-feira - disse o homem, afastando-se.

Rob ficou paralisado com o choque. Nunca podia ter pensado que alguém fosse capaz de fazer alguma coisa além do que Barber fazia.

- Mestre médico! - correu atrás do homem. - Onde aprendeu a fazer isso... retirar a névoa dos olhos?

- Numa academia. Uma escola para médicos.

- Onde fica essa escola para médicos?

Merlin viu à sua frente um garoto grande, com roupa malfeita pequena demais para ele. Viu a carroça pintada com cores vivas e o palco onde estavam as bolas e as garrafas de tônico cuja qualidade ele podia adivinhar.

- A meio mundo de distância - disse suavemente.

Montou na égua ajaezada e afastou-se dos barbeiros-cirurgiões sem olhar para trás.

Mais tarde, naquele mesmo dia, Rob falou em Benjamin Merlin enquanto Incitatus puxava a carroça lentamente para fora de Leicester. Barber assentiu com um gesto.

- Já ouvi falar nele. Médico de Tettenhall.

- Isso mesmo, fala como um francês.

- É judeu da Normandia.

- O que é um judeu?

- É outro nome para hebreu, aquela gente da Bíblia que matou Jesus e foi expulsa da Terra Santa pelos romanos.

- Falou de uma escola de médicos.

- Às vezes eles dão esse tipo de curso em Westminster. Todo mundo sabe que é uma porcaria de curso, que forma uma porcaria de médicos. A maior parte deles vai ser assistente de médicos em troca de aprendizado, assim como você está aprendendo a profissão de barbeiro-cirurgião.

- Acho que ele não estava falando de Westminster. Disse que a escola fica muito longe.

Barber deu de ombros.

- Talvez Normandia ou Bretanha. A França está cheia de judeus, e alguns chegaram até aqui, incluindo médicos.

- Li sobre os hebreus na Bíblia, mas nunca tinha visto um antes.

- Há outro médico judeu em Malmesbury, Isaac Adolescentoli é seu nome. Médico famoso. Talvez você possa vê-lo quando passarmos por Salisbury - disse Barber.

Malmesbury e Salisbury ficavam no oeste da Inglaterra.

- Então não vamos a Londres?

- Não.

sentia saudades dos parentes.

- Vamos direto para Salisbury - disse secamente, para aproveitar a multidão da feira de Salisbury. De lá vamos para Exmouth, pois então o Outono já terá chegado. Compreende?

Rob assentiu com a cabeça.

- Mas na Primavera, quando voltarmos para a estrada iremos para leste, passando por Londres.

- Obrigado, Barber - disse Rob com calma exultação.

Ficou animado. O que importava a demora quando sabia que, no fim, iriam a Londres?

Sonhava acordado com os irmãos. Finalmente seus pensamentos tomaram outros rumos.

Barber deu de ombros.

Já ouvi falar dessa operação. Poucos sabem fazer e duvido que o judeu saiba. Mas gente capaz de matar Cristo não tem dificuldade de mentir para um homem cego - disse Barber, incitando o cavalo para andar mais depressa, pois estava quase na hora do jantar.

Capítulo 12

A PROVA

Quando chegou a Exmouth não era o mesmo que voltar para casa, mas Rob sentiu-se menos sozinho do que há dois anos quando conheceu o lugar. A casinha na beira do mar era familiar e agradável. Barber passou a mão na grande lareira, com os apetrechos de cozinha, e suspirou.

Planejaram uma magnífica compra de provisões para o inverno, mas dessa vez sem galinhas, por causa do cheiro das aves.

A roupa de Rob estava novamente pequena.

- A expansão dos seus ossos vai me arruinar - queixou-se Barber, mas deu ao garoto uma peça de fazenda marrom, de lã, que tinha comprado na feira de Salisbury.

- Vou com Incitatus e a carroça até Athelny para escolher queijos e presuntos, e passo a noite na estalagem. Enquanto eu estiver fora, deve limpar o poço e começar a cortar lenha. Mas arranje tempo para levar esta lã para Editha Lipton e peça que faça uma roupa para você. Lembra-se do caminho para a casa dela?

Rob apanhou a fazenda e agradeceu.

- Sei o caminho.

- A nova roupa deve poder ser alargada e encompridada - disse Barber num resmungo. - Diga a ela para deixar bainhas e costuras por dentro.

Levou a fazenda enrolada em pele de carneiro para proteger da chuva gelada que parecia ser permanente no inverno de Exmouth. Sabia o caminho. Há dois anos tinha passado algumas vezes pela casa dela, esperando vê-la.

Editha abriu a porta logo que ele bateu. Rob quase deixou cair o embrulho quando ela segurou suas mãos, tirando o da chuva.

- Rob J.! Deixe olhar para você. Nunca vi dois anos provocarem tanta alteração!

Rob queria dizer que ela quase não tinha mudado, mas a voz não saía. Editha notou o olhar dele e disse com calor.

- Enquanto que eu fiquei velha e grisalha - disse alegremente.

Rob balançou a cabeça, em todos os aspectos, Editha estava exatamente como ele lembrava, especialmente os olhos belos e luminosos.

tinham estado e algumas das coisas que tinham visto.

- Quanto a mim - ela disse - estou melhor do que antes. As coisas ficaram mais fáceis, e agora as pessoas podem mandar fazer roupas outra vez.

Rob lembrou-se do motivo da visita. Desembrulhou a pele de carneiro e mostrou a fazenda, que Editha garantiu ser de ótima lã.

- Espero que tenha bastante - disse ela preocupada - pois você está mais alto do que Barber.

Apanhou a fita métrica e mediu a largura dos ombros, a volta da cintura, o comprimento dos braços e das pernas.

- Vou fazer calça justa, uma túnica folgada e um manto e vai ficar elegantemente vestido.

Rob assentiu com um gesto e levantou-se, sem vontade de ir embora.

- Barber está à sua espera agora?

Explicou onde Barber estava e ela fez sinal para que voltasse a sentar.

- Está na hora de comer. Não posso oferecer o que ele oferece, porque minhas reservas de carne real envelhecida, línguas de cotovia e pudins acabaram. Mas vai me acompanhar no meu jantar de mulher do campo.

Tirou um pão do armário e mandou que Rob saísse na chuva para apanhar um pedaço de queijo e uma jarra de sidra fresca no pequeno depósito de mantimentos perto do riacho. Na noite que chegava, Rob partiu as pontas de dois finos galhos de salgueiro; de volta à casa, cortou o queijo e o pão de cevada e enfiou os pedaços nas varetas para tostar sobre o fogo.

Editha sorriu.

- Ah, aquele homem deixou uma marca permanente em você.

- É sensato esquentar a comida numa noite como esta. Comeram e beberam e depois conversaram amigavelmente. Rob pôs mais lenha no fogo, que tinha começado a assobiar e esfumaçar sob a chuva que pingava pela abertura no teto.

- Está ficando pior lá fora - disse ela.

- Sim.

- Bobagem ir a pé para casa no escuro e com essa tempestade. Rob tinha caminhado em noites muito mais escuras e sob chuvas muito piores.

- Parece que vai nevar - disse ele.

- Então tenho companhia.

Rob saiu meio atordoado para guardar o queijo e a cidra no depósito de mantimentos, sem coragem de pensar. Quando voltou ela estava tirando o vestido.

- Melhor tirar essas roupas molhadas - disse Editha, deitando calmamente na cama só com a camisa de baixo.

Ele tirou a calça e a túnica molhadas e as estendeu ao lado da lareira redonda. Nu, foi depressa para a cama e deitou ao lado dela entre as peles, tremendo de frio.

- Frio!

Editha sorriu.

- Já esteve mais frio. Quando eu tomava seu lugar na cama de Barber.

Editha virou de lado, para ele.

- Pobre criança sem mãe, eu ficava pensando, e tinha tanta vontade de chamar você para a cama.

- Você tocou minha cabeça.

Ela fez o mesmo agora, alisando o cabelo de Rob e apertando o rosto dele contra a maciez do seu corpo.

- Abracei meus filhos nesta cama. - Ela fechou os olhos. Então, abriu a parte de cima da camisa e deu o seio pesado para ele. A carne cheia de vida em sua boca fez com que lembrasse um calor infantil há muito esquecido. Sentiu um ardor sob as pálpebras. A mão de Editha conduziu a dele em exploração.

- Deve fazer isto - ela continuava, com os olhos fechados. Um graveto estalou no fogo mas ninguém ouviu. A lenha húmida soltava muita fumaça.

sonhadoramente.

Rob tirou a coberta e a camisa dela, apesar do frio. Viu com surpresa que Editha tinha pernas grossas. Seus olhos observaram o que os dedos tinham aprendido; a feminilidade dela era como seu sonho, mas agora a luz do fogo permitia que visse os detalhes.

- Mais depressa - Editha teria dito mais, porém Rob encontrou os lábios dela. Não era a boca de uma mãe, e ele notou que ela fazia uma coisa interessante com a língua ávida.

Uma série de murmúrios o conduziram pelo corpo dela e entre as coxas pesadas. Não precisava de mais instrução; instintivamente arremeteu e penetrou.

Deus era um carpinteiro especializado, pensou Rob, pois Editha era o encaixe escorregadio em movimento e ele a peça feita para o lugar.

Editha abriu os olhos de repente fixando-os no rosto de Rob. Seus lábios afastaram-se dos dentes em um sorriso estranho e da sua garganta subiu um som áspero que teria parecido o de uma mulher nos estertores da morte se Rob não os tivesse ouvido antes muitas vezes.

Durante anos tinha observado e ouvido outras pessoas fazendo amor, o pai e a mãe na casa pequena e cheia de gente, e Barber com seu longo desfile de mulheres de uma noite. Rob

estava convencido de que devia haver mágica na vagina das mulheres, para que os homens a desejassem tanto. No mistério escuro daquela cama, espirrando como um cavalo por causa da fumaça da lareira, sentiu que toda angústia e peso eram tirados de dentro dele. Transportado pelo mais assustador dos prazeres, descobriu a vasta diferença entre observar e participar.

Acordada na manhã seguinte por uma batida na porta, Editha foi descalça ver quem era.

- Ele já foi? - murmurou Barber.

- Há muito tempo - respondeu ela, fazendo-o entrar. - Foi dormir como garoto, acordou como homem. Resmungou alguma coisa sobre limpar o poço e saiu às pressas.

Barber sorriu.

- Tudo correu bem?

Ela assentiu, com surpreendente timidez, bocejando.

- Ótimo, pois ele estava mais do que pronto. Melhor para ele ter sua bondade do que uma iniciação cruel com a mulher errada.

Editha viu Barber tirar as moedas da bolsa e pôr em cima da mesa.

- Só esta vez - avisou ele com espírito prático. - Se ele a visitar outra vez...

Editha balançou a cabeça.

- Ultimamente estou quase sempre com um fabricante de carroças. Um bom homem, com uma casa na cidade de Exeter e três filhos. Acho que vai se casar comigo.

Barber fez um gesto afirmativo.

- E você avisou Rob para não seguir meu exemplo?

- Não me lembro de ter pedido para dizer isso.

- Falei por minha própria observação - respondeu ela. Olhou para ele. - Também usei as suas palavras, como mandou. Disse que o mestre dele tinha se desperdiçado com bebida e mulheres sem valor. Aconselhei que procurasse escolher melhor e não seguisse seu exemplo.

Barber escutou com ar sério.

- Ele não permitiu que eu o criticasse - disse ela secamente. - Disse que você é um bom homem quando está sóbrio, um mestre excelente que o trata com bondade.

Editha sabia ler as emoções no rosto de um homem e viu que o de Barber estava inundado de prazer.

Barber pôs o chapéu e saiu. Editha guardou o dinheiro e voltou para a cama ouvindo o assobio dele lá fora.

Os homens, às vezes, eram um conforto e muitas vezes uns brutos, mas sempre enigmas, pensou Editha, virando de lado e dormecendo.

Capítulo 13

LONDRES

Charles Bostock mais parecia um almofadinha do que um comerciante, com o cabelo longo e amarelo atado atrás com laços e fitas. Estava vestido de veludo vermelho, obviamente material caro, apesar de coberto de poeira da viagem, e os sapatos eram altos e pontudos, de couro macio, mais próprios para serem mostrados do que para andar. Mas havia nos seus olhos o brilho frio do verdadeiro comerciante e estava montado num grande cavalo branco

No documento O Fisico Noah Gordon (páginas 175-200)

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