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4 DIAGNÓSTICO DAS ATIVIDADES

4.2 O lócus da pesquisa

A pesquisa foi realizada em uma Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio, localizada em uma vila do Município de Igarapé-Açu, a 18 km da sede. A escola possui uma infraestrutura razoável, com biblioteca, salas de informática e multimídia; e, segundo a opinião da própria comunidade, oferece também um ensino diferenciado, tendo em vista as atividades extracurriculares que desenvolve.

3 Entre o período de 25 de março de 2015 e 05 de junho do mesmo ano, os professores da rede

estadual de ensino estiveram em greve no Estado do Pará, reivindicando o pagamento do piso salarial, a ampliação das horas-atividade, o calendário de reforma das escolas, dentre outros direitos. Após descontos no contracheque pelos dias paralisados, os professores, coagidos, decidiram suspender a greve, sem nenhuma negociação formal com o governo.

Geralmente são projetos que promovem a valorização cultural e histórica do município e também a reflexão sobre acontecimentos relacionados às questões sócio-políticas e econômicas do cenário atual do país.

Como exemplo, podemos citar o trabalho dos alunos no aniversário da escola em dezembro de 2015, representando em uma peça teatral a polêmica atuação do departamento de trânsito, que há pouco tempo tinha sido instalado no município. A maneira como se deu a ação dos agentes para tentar organizar o trânsito foi considerada violenta por grande parte das pessoas, tendo em vista que a população não havia recebido, até então, informações da possível chegada do DETRAN e também não havia sido instruída pelos órgãos competentes do município em relação às leis de trânsito. Diante da situação polêmica, os alunos reproduziram algumas cenas que ocorreram, mostrando para a comunidade os reflexos negativos e positivos da ação sobre a realidade econômica e social do município e, de modo particular, na vila.

A principal atividade econômica da vila é a agricultura. Os pequenos produtores, que dependem de veículos (carros e motos) para escoarem sua produção, foram extremamente penalizados, pois tiveram seus veículos apreendidos, tendo em vista que não estavam legalizados. Dessa forma, eles não tinham como levar seus produtos para a cidade e, em contrapartida, o centro comercial do município sofreu também as consequências, pois as pessoas do interior e até mesmo as da cidade, não saiam de suas casas com receio de perderem seus veículos, como aconteceu com muitas pessoas que não tiveram condições de pagar as multas em atraso.

Algumas pessoas, revoltadas, se manifestaram e atearam fogo em pneus, na frente da sede do DETRAN. Assim, as opiniões se dividiram e os alunos construíram um momento no qual a comunidade pode avaliar as razões para o DETRAN estar ali, realizando seu trabalho, como também as razões que levaram a população a se revoltar. Sabemos que intervenções como essas acarretam situações favoráveis e também desfavoráveis. A população que depende de seus veículos para manter seu trabalho não viu com bons olhos a presença do órgão na cidade, porém as mães que perderam seus filhos em acidentes de moto e carro por conta das irresponsabilidades de condutores embriagados aprovaram, tendo em vista que o número de acidentes diminui bastante. Nos debates e atividades realizados na escola sobre esse assunto, os alunos concluíram que as leis de

trânsito são importantes, sim, e devem ser respeitadas, mas a formas de colocá-las em pratica também devem respeitar o cidadão, sem o abuso de poder.

O fato é que atitudes como essas dos alunos retratam bastante o perfil dos moradores da vila: eles são muito críticos e exigentes, inclusive em relação a si mesmos. Eles têm a autoestima bastante elevada, não se aceitam como “vila” e demonstram muito orgulho ao dizer que são de lá, até mesmo aqueles que já foram embora.

A vila é referência para a cidade por causa das manifestações culturais que realiza a fim de valorizar a história do município e da própria comunidade, fundada por nordestinos que chegaram para a construção da estrada de ferro, que ligava Belém à Bragança, no final do século XIX, além das apresentações dos blocos carnavalescos e das festas religiosas, como o auto do Natal e a festa do padroeiro. As aprovações nos vestibulares dos alunos da única escola pública de ensino médio da vila também são motivo de muita satisfação para eles. A escola, na verdade, talvez seja a grande formadora do perfil daquela comunidade, pois lá verificamos muitas marcas de luta pelo bem comum. Quando há gincanas na escola, sempre acontece uma prova beneficente, nas quais os alunos devem arrecadar roupas ou comidas para as pessoas mais carentes ou até mesmo, como já aconteceu, arrecadarem papel “chamex” e alimentos para outras escolas da redondeza.

Presenciamos muitas ações, durante o período de trabalho, realizadas com a parceria dos alunos, da escola e da comunidade. Vimos, por exemplo, que os fundos que a escola recebe do governo não suprem a demanda de necessidades, assim, a direção consegue algumas doações, realiza quermesses e com o apoio dos alunos e os professores, faz venda de comidas e bingos para arrecadar dinheiro, a fim de custear, por exemplo, os temperos, legumes e o gás para a merenda escolar. Porém, nesse período, o gás estava sendo “doado” pela secretaria municipal de educação pelo espaço cedido para o desenvolvimento de uma atividade da escola do município. Diariamente também há vendas de chopp e pipoca. Com esse dinheiro, já foram comprados um datashow, um bebedouro e uma roçadeira elétrica. Quando perguntamos para a diretora se isso era fruto de sua administração, ela respondeu que é fruto do que ela aprendeu lá, porque desde quando era aluna, sempre foi assim.

Na primeira visita à escola, no dia 07 de outubro de 2015, não foi possível o encontro com os alunos, tendo em vista que, na ocasião, estava acontecendo o

período da segunda avaliação. Dessa forma, tivemos apenas uma conversa informal com a professora a respeito das turmas.

No dia 21 de outubro, retornamos à escola e desenvolvemos a primeira atividade de leitura (Anexo 1) com as duas turmas do 6ºano. Ressaltamos que a turma que tem aulas pela manhã, denominamos A; e a outra, a qual tem aulas no horário da tarde, foi nomeada B. Participaram da atividade 20 alunos da turma A e 25 alunos da turma B.

Na segunda atividade de leitura (Anexo 2), realizada no dia 04 de novembro, tivemos a participação de 22 alunos, em cada uma das turmas.

No dia 11 de novembro, realizamos a atividade de produção escrita (anexo 3), da qual participaram 22 alunos da turma A e 21 alunos da turma B.

No dia 25 de novembro, fizemos a busca pelos dados socioculturais e econômicos, através de um questionário com os alunos nas duas turmas. O questionário (Anexo 4), apesar de ser composto por vinte questões, foi elaborado para verificarmos cinco pontos, que consideramos mais relevantes para o trabalho:

- a faixa etária predominante em cada turma; - onde os alunos concluíram o 5º ano;

- se na escola que estudaram anteriormente havia biblioteca; - quem já repetiu alguma série/ano.

A partir destes procedimentos, partimos para o diagnóstico e, sem seguida, para as ações de intervenção.

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