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CAPÍTULO 6 A CARACTERIZAÇÃO DOS AGRICULTORES

6.5. O LEITE E A ASSISTÊNCIA TÉCNICA

A EPAGRI promove uma série de "cursos de

profissionalização do agricultor", inclusive no setor leiteiro, onde a CRAVIL também participa, sendo ela quem distribui os

convites entre seus associados. Dos 26 entrevistados que

responderam a esta questão, 7 já participaram do curso, sendo 3 grandes produtores, 2 médios, 1 pequeno e 1 micro. Com exceção do micro produtor, todos que participaram disseram que o curso foi muito bom, que puderam melhorar bastante sua produção. Para

o micro, porém, o curso não surtiu resultados porque ele não

teve condições de implementar as técnicas aprendidas, por falta

de recursos. Como a maioria dos convites foi destinada aos

ensinadas implicam em disponibilidade de recursos. Sete

produtores não fizeram o curso, apesar de terem recebido

convite da cooperativa: 3 grandes, 1 médio, 2 pequenos e 1 micro. Esta ausência é explicada pelos produtores pelo fato de terem muito trabalho na unidade agricola, não tendo quem possa substituí-los no período. Eles só pensam em ir quando o período do curso coincide com a época de menor trabalho na propriedade.

Há 12 produtores que nunca participaram dos cursos: 1 grande,

4 médios, 3 pequenos e 4 micro. Dentre estes, há os que querem

ir, pedem convite e não ganham:

‘Eu já gostaria de ter participado, mas nunca vem um convite pra ir. Aqui tão indo de vez em quando, mas pra mim nunca ninguém falou pra ir (...) pelo o que eu vi esse ano, foi só gente que produz mais. Então os pequenos tão ali também já levando desvantagem” (Pequeno produtor).

A desvantagem é que o pequeno não tem acesso à

informação, não podendo melhorar sua produção. Mas podemos

levantar outro ponto, como já foi visto: mesmo tendo acesso à informação, ele teria acesso ao investimento necessário para utilizar essa informação? A quem são destinados esses cursos: aos poucos produtores que investem muito no leite na região, ou à maioria que não investe, por ser outro seu produto principal, devido ao baixo preço do leite? Os cursos de treinamento mereceriam um estudo à parte.

No que diz respeito à assistência técnica direta na unidade agrícola, a maioria - 73,5% - coloca que os técnicos

vêm somente quando solicitados. Fora o estrato dos micro

ela distribui-se homogeneamente. Sem o pedido, é muito rara a visita de algum técnico à propriedade. Geralmente os produtores chamam o técnico (no caso, um veterinário) quando uma vaca adoece, ou para fazer a inseminação artificial. Mas mesmo em caso de doença do rebanho, não é sempre que os produtores sentem necessidade de assistência:

“...muita coisa a gente já resolve já sozinho mesmo, até que , até vir o veterinário, o gado já morreu e a gente já resolveu o problema e o gado tá bom de novo” (Grande produtor).

Os próprios produtores já conhecem o gado e eles mesmos cuidam quando ele adoece. É comum a reclamação de que os técnicos demoram muito para atender aos pedidos de ajuda e, às vezes, chegam tarde demais. A assistência é feita pela EPAGRI e pela CRAVIL, esta última se responsabilizando pela inseminação artificial. A cooperativa também, às vezes, promove reuniões com a finalidade de instruir em conjunto os produtores.

A valorização da assistência técnica não é unânime.

Quem valoriza mais são os pequenos produtores. Quanto aos

médios e grandes, alguns fizeram o curso de treinamento e

outros consideram que já sabem o suficiente. Os micro

produtores dispensam esse tipo de orientação porque criam o gado de uma maneira bastante rústica. Pode-se concluir, com segurança, que o papel da assistência técnica hoje na região estudada, está muito longe daquele que desempenhou nos anos 70, período da modernização agrícola, quando esta assistência teve

como suporte o crédito subsidiado. Atualmente, segundo os

"paternalismo" por parte de um Estado que não deve intervir na economia, este mesmo Estado que manteve por mais de 4 0 anos o preço do leite tabelado e mudou de orientação, liberando-o, sem consultar os próprios produtores. Em outras palavras, quando

havia financiamento disponivel, o preço do. leite não era

compensador. Agora que não há, exige-se uma especialização

autonomamente financiada.

É interessante notar que a grande maioria dos

produtores não tem conhecimento do tipo de leite que produz (tipo O ® e nem da marca pela qual é industrializado (DoVale). A exceção fica com os grandes produtores. Nem mesmo o preço com

que o leite está sendo vendido no mercado é conhecido. Quando

informados, é comum uma reação de espanto devido à grande

diferença entre o preço pelo qual entregam o produto e aquele pelo qual é comercializado.

Quando perguntados acerca do tipo de leite, alguns produtores apenas diziam que devia ser o de tipo mais barato. Mas muitos tomavam uma atitude de defesa de seu leite, pois não é rara a desconfiança de que a cooperativa adultera o produto entregue, juntando-lhe água:

“Ah, 0 meu leite é um leite bom, eu sei que ele tem de gordura quatro vírgula não sei o quê, deve ser um leite A ou B, uma coisa assim, né, não s e i...” (Pequeno produtor).

‘Eu pra mim nós tiramoSdo melhor das vacaà, depois lá...lá eles desnatam e botam água e... sei lá! Aqui é do melhor tipo, depois.. (Médio produtor).

® As diferenças entre os tipos de leite se dão pelas diferenças na ordenha. Os tipos A e B exigem sala de ordenha ladrilhada no piso e nas paredes e ordenha mecânica. Para o tipo C, a sala é de cimento ou terra, e a ordenha é manual. A diferença do tipo A para o B é que o A não tem nenhum contato com o meio externo, sendo transportado da ordenhadeira para a sala de beneficiamento por tubulações. Ele já sai pasteurizado e

Vemos que é possivel perceber a tão "famosa" alienação do trabalhador, que não reconhece o produto final de seu trabalho, portanto, que não se reconhece nele. Se um desses produtores for a um supermercado, na cidade, comprar um litro de leite, ele não saberá identificar o leite que ele próprio produz. Evidencia-se, também, a falta de informação proveniente

da cooperativa a esse respeito. Esta, porém, é apenas uma

pequena pista indicativa do quanto o produtor está separado da "sua" cooperativa. Ele perde totalmente o controle do que ocorre desde a entrega de seu produto ao freteiro, até quando seu leite chega ao supermercado. 0 capitulo a seguir vai tratar justamente de como o produtor vê sua relação com a CRAVIL.

CAPÍTULO 7 - A PERSPECTIVA DOS AGRICULTORES SOBRE A

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