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A revolução liberal de 1820 provocou uma ruptura na estrutura administrativa do país, sucederam-se reformas nas instituições e na sua divisão geográfica. Nesta altura as províncias – entidades supra municipais – foram consagradas como autarquias.

A Constituição de 1822, de cariz democrático, por um lado limitava os poderes do monarca, e, por outro, consagrava o princípio da soberania popular, radicada na Nação. Em termos territoriais fazia referência a seis províncias: Minho, Trás-os-Montes, Beira, Estremadura, Alentejo e Reino do Algarve. Em relação a administração local, estabelecia a divisão do país em distritos e concelhos.

Por sua vez, a Carta Constitucional de 1826, em sentido contrário a Constituição de 1822, de índole antidemocrática, considerava o rei a chave de toda a organização politica, não se encontrando este sujeito a qualquer responsabilidade, consagrando,

todavia, a mesma divisão provincial.

O Decreto de 16 de Maio de 1832, de Mouzinho da Silveira dividiu o país em províncias, comarcas e concelhos. Eram oito as províncias: Minho, Trás-os- Montes, Douro, Beira Alta, Beira Baixa, Estremadura, Alentejo e Algarve. A frente de cada província colocou um "Prefeito" com amplos poderes, perspectivando-se aqui uma certa influência francesa, de expressão centralista.

Este diploma, pela sua extrema centralizado, suscitou reacções adversas, manifestando-se uns contra as províncias, enquanto outros visavam, antes, suprimir as comarcas.

Alcançou-se um compromisso através da lei de 25 de Abril de 1835, que indicava que o país seria dividido ate dezassete distritos, enquanto autarquias de dimensão intermédia entre as províncias e as comarcas, as quais deixariam de ser consideradas para fins administrativos. Esta lei estabelecia que os distritos se dividiam em concelhos, podendo existir em cada freguesia uma junta de paróquia. O Distrito é instituído como circunscrição administrativa, mas só em 1872 e que assume a natureza de autarquia local. A lei de 18 de Julho de 1835, de Rodrigo da Fonseca Magalhães, oficializou esta divisão em dezassete distritos. A legislação de 1835 inaugurou, portanto, um ciclo de relativa descentralização que durou até 1840.

De facto, com Passos Manuel foi publicado o primeiro Código Administrativo português, em 1836, de tendência descentralizadora, consagrando a divisão em distritos, concelhos e freguesias. Entretanto, por portaria de Passos Manuel de 6 de Novembro desse mesmo ano, e na sequência de trabalhos preparatórios opera-se uma importante reforma territorial dos concelhos que eram mais de 800, reduzindo-se o seu número a 351. Foi nessa época estabelecido no essencial o actual mapa concelhio do

país (Oliveira, 1997:72). Repare-se que quer os distritos, quer os concelhos, foram traçados por um decreto, sem qualquer referendo ou outra forma de consulta popular. As fronteiras são o produto de um artifício e na altura ninguém se queixou de crise identidade porque não foi levantada a questão por parte dos agentes políticos. Pouco tempo depois reconheceu-se a necessidade de o reformar, tomando por base argumentos centralizadores. Numa conjuntura caracterizada por dificuldades económicas e sociais, num país saído de uma guerra civil, onde a conflitualidade política era intensa, com um Estado em mutação e em profunda crise financeira, a aplicação daquele sistema administrativo revelou-se desastrosa, contribuindo para dificultar a afirmação da autoridade pública. A reacção a esta situação viria a fazer-se sentir a partir de 1838 e culminou na aprovação da legislação de 1840-1842, que inverteu o ciclo descentralizador iniciado alguns anos antes.

Essa reforma viria a acontecer com Costa Cabral, em 18 de Marco de 1842, data em que foi promulgado um novo código de espírito fortemente centralizador, o qual iria vigorar durante 36 anos, tendo introduzido reformas de fundo a nível institucional, mas mantendo a divisão distrital existente. Assistiu-se então ao reforço da influência do poder central e a uma maior controlo das câmaras municipais; por outro lado, restringiu-se o eleitorado ao nível local e reforçou-se o poder dos homens mais ricos nos respectivos concelhos. Os órgãos paroquiais, que concorriam com as formas tradicionais de autogoverno das pequenas comunidades a que os povos faziam resistência, deixaram, por alguns anos, de pertencer á organização administrativa (Silveira, 1998:98).

Procurando-se operar uma mudança na estrutura administrativa de Portugal, a Lei de 26 de Junho de 1867, de iniciativa de Martens Ferrão, tinha por base a

vontade de levar a cabo uma descentralização administrativa, sem contudo tocar na eficaz acção do poder central, pretendendo uma larga representação popular nos corpos electivos. Reduzia ainda o número de distritos de 17 para 11. Contudo, esta reforma não foi aplicada devido a queda do Governo em 1868.

De 1878 a 1892 os distritos detiveram uma função expressiva, nomeadamente em 1878 com o Código de Rodrigues Sampaio. Com este código caminhou-se para o fortalecimento e autonomia das instituições locais, dissociando-se claramente o poder local da administração local do Estado, retirando ao poder central uma grande parte dos seus poderes de inspecção. Todavia, não obteve aplicação prática. Seguiram-se-lhe o Código de 1886 de José Luciano de Castro, de cariz centralizador, e, após, os Códigos de 1895 e 1896, também de inclinação centralizadora.

De 1892 a 1913 o distrito volta a ser uma mera circunscrição administrativa do Estado, tendo readquirido o papel de autarquia local, durante a I Republica, mediante a aprovação de uma lei, em 1913.

A discussão entre os partidários da província e os partidários do distrito terminou nesta altura na aprovação, pelo Senado de 1914, da divisão do país em seis províncias: Douro e Minho, Trás-os-Montes, Beira, Estremadura, Alentejo, Algarve (por sua vez divididas em distritos), atribuindo-lhes funções reduzidas, como situação intermédia e como meio evolutivo para a sua extinção. Porem, o Código em que se inseriam não foi aprovado pela Câmara e a legislatura extinguiu-se.