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DELINEAMENTO DA PESQUISA

4.3 O local de estudo

Este estudo foi desenvolvido no curso de Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), campus Tubarão.

A UNISUL foi criada em 1964, recebendo o título de universidade em 1989. Atualmente, caracteriza-se como uma universidade comunitária, sem fins lucrativos. Possui quatro campi, nas cidades de Tubarão, Araranguá, Palhoça e Florianópolis, oferecendo mais de 50 cursos de graduação, além dos cursos de pós-graduação e ensino à distância.

O curso de Fisioterapia do campus Tubarão teve seu início em 1998, sendo reconhecido pelo Ministério da Educação e Cultura em fevereiro de 2002. Este curso conta com o ingresso semestral de 40 alunos, sendo dividido em 8 semestres letivos, com regime de funcionamento integral (matutino e vespertino) e com uma carga horária total de 3690 horas-aula.

4.4 Os Instrumentos

Em uma pesquisa qualitativa, os dados não são coisas isoladas ou acontecimentos fixos capturados em um instante de observação, mas se dão em um contexto fluente de relações – são fenômenos que não se restringem às percepções sensíveis e aparentes, mas se manifestam em uma complexidade de oposições, revelações e ocultamentos (CHIZZOTTI, 1991).

A fim de investigar o modelo de ensino vigente na Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), campus Tubarão, a coleta de dados foi realizada através de pesquisa qualitativa, onde a pesquisadora buscou um maior entendimento sobre o modelo norteador

da formação, com discussões de grupo com alunos formandos e professores fisioterapeutas, que pudessem evidenciar suas concepções sobre o processo saúde-doença, o papel do fisioterapeuta e suas atribuições, o processo de formação acadêmica, as perspectivas relativas à profissão e o trabalho em equipe.

Como instrumentos de coleta de dados foram utilizados a discussão de grupo direcionada e questionários abertos. Para a interpretação dos dados obtidos foi utilizada a análise de conteúdo.

4.4.1 Discussão de grupo

A discussão de grupo é um tipo de entrevista coletiva utilizada em pesquisas qualitativas na qual o pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores sociais (MINAYO, 2000).

Nesta pesquisa, foram realizadas duas discussões em grupo: uma com os professores fisioterapeutas e outra com os alunos formandos do curso de Fisioterapia da UNISUL, campus Tubarão, Santa Catarina. Optou-se pela entrevista em grupo porque o grupo se mostra mais que a soma das partes. A emergência do grupo caminha lado a lado com o desenvolvimento de uma identidade compartilhada (BAUER E GASKELL, 2002).

O emprego da entrevista qualitativa para mapear e compreender o mundo da vida dos respondentes é o ponto de entrada para o pesquisador, que a partir dela introduz esquemas interpretativos para compreender a realidade dos atores em termos mais conceituais e abstratos. A entrevista qualitativa, pois, fornece os dados básicos para o desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores sociais e sua situação. O objetivo é uma compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e motivações em

relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos (BAUER E GASKELL, 2002).

Segundo Bauer e Gaskell (2002), a discussão de grupo direcionada é o método mais eficiente pelo qual o pesquisador pode adquirir uma compreensão profunda da visão dos participantes sobre o assunto sendo estudado. Estes autores sugerem que existem três razões pelas quais os pesquisadores usam grupos direcionados: a maioria das pessoas sente- se mais confortável em conversar sobre quase qualquer assunto quando envolvidas em uma discussão como parte de um grupo; a interação entre os elementos do grupo resultará em participantes mais comunicativos devido ao estímulo gerado pelo sentimento de outros; as dinâmicas de grupo fornecem discernimentos sobre como pressões sociais têm um papel no grau de aceitação geral de um conceito, produto ou idéia que está sendo apresentado.

A discussão de grupo é realizada em reuniões com um pequeno número de informantes (seis a oito) e a presença de um moderador que intervém, tentando focalizar e aprofundar a discussão. Tem duração aproximada de uma hora. Os participantes são escolhidos a partir de um determinado grupo, cujas idéias e opiniões são do interesse da pesquisa (MINAYO, 2000). Formado o grupo, este é estimulado pelo moderador a discutir um roteiro com alguns temas pré-selecionados. Então o encontro é gravado e analisado (VASCONCELOS, 2002).

As discussões realizadas nesta pesquisa contaram com a participação da pesquisadora, no papel de moderadora, e de mais três participantes: alunos formandos na primeira discussão e professores fisioterapeutas na segunda.

Para orientar as discussões é utilizado um tópico guia, composto por um conjunto de títulos ou temas com a finalidade de focar a discussão. Para as discussões com alunos e professores foi utilizado um tópico guia com seis temas para discussão: concepção de

saúde, concepção de Fisioterapia, atribuições do fisioterapeuta, formação universitária, perspectivas profissionais e trabalho em equipe interdisciplinar (Anexo B).

O tópico guia funciona como um lembrete para o pesquisador, criando um referencial para discussão, fornecendo uma progressão lógica e plausível através dos temas em foco. À medida que o tópico guia é desenvolvido, ele se torna um lembrete para o pesquisador de que questões sobre temas sociais devem ser apresentadas em linguagem simples, empregando termos familiares adaptados ao entrevistado (CHIZZOTTI, 1991).

Para o registro das entrevistas foram utilizadas filmagem e gravação das discussões de grupo.

A gravação tem a vantagem de registrar todas as expressões orais, deixando o entrevistador livre para prestar atenção no entrevistado. Por outro lado, ela só registra as expressões orais, deixando de lado as expressões faciais, os gestos e as mudanças de postura (LÜDKE E ANDRÉ, 1986).

Para um registro mais completo também foi realizada a filmagem em vídeo das discussões. O vídeo tem a função de registro de dados sempre que algum conjunto de ações humanas é complexo e difícil de ser descrito compreensivelmente por um único observador, enquanto ele se desenrola (BAUER E GASKELL, 2002).

4.4.2 Questionário aberto

Segundo Gil (1994), questionário é “a técnica de investigação composta por questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo como objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas, etc”.

O questionário aberto possibilita que o sujeito discorra sobre o tema proposto sem condições pré-fixadas pelo pesquisador, o que favorece a liberdade de expressão.

Para esta pesquisa foram utilizados questionários de diretrizes contextuais com o objetivo de focar as discussões de grupo de alunos e professores, aumentando a profundidade e a qualidade das informações delas derivadas. Estes foram compostos por 6 grupos de questões abertas, apresentado aos participantes com espaços suficientes para estes pudessem escrever suas respostas durante ou após a discussão de grupo (Anexos C e D).

4.4.3 Análise de conteúdo

Para a análise e interpretação dos dados obtidos, foi utilizada a técnica de Análise de Conteúdo.

Para Bardin (1977), a análise de conteúdo envolve “um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo e mensagens”. É aplicada para o estudo das motivações, atitudes, valores, crenças e tendências. Através dela, o pesquisador busca compreender os conteúdos manifestos e ocultos, compreender as significações, ultrapassar o olhar imediato das aparências, estudar o problema a partir da própria expressão dos indivíduos.

Foi utilizada a análise temática. Conforme Bardin (1977), fazer uma análise temática consiste em descobrir os “núcleos de sentido” que compõem a comunicação e cuja presença ou freqüência de aparição podem significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido.

A análise de conteúdo se desenvolveu em três fases: pré-análise; exploração do material e interpretação dos resultados obtidos.

A primeira fase consiste na organização do material a ser analisado e na construção de categorias. Foram criados eixos temáticos (saúde, Fisioterapia, formação universitária, perspectivas profissionais e trabalho em equipe) para que cada questão possa ser categorizada, sendo as respostas dos participantes agrupadas por tema.

Na segunda fase, após a identificação dos temas ou “núcleos de sentidos”, os dados foram codificados, classificados e agregados.

Na terceira fase foram realizadas a interpretação e a inferência dos resultados da pesquisa, tentando-se desvendar o conteúdo subjacente ao que está sendo manifesto. Neste processo de decodificação das mensagens, o receptor utiliza não só o seu conhecimento formal, lógico, mas também um conhecimento experiencial onde estão envolvidas sensações, percepções, impressões e intuições (LÜDKE E ANDRÉ, 1986).