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5- ANÁLISE DOS DADOS

5.3 O lugar da mulher no surf

Quando questionadas sobre o lugar da mulher no surf, as participantes da pesquisa concluem assim como Dias (2010, p. 79) que “A prática do surfe entre as mulheres tem crescido consideravelmente nos últimos anos.”

“E aí eu acho que tá crescendo, eu acho que a gente tá desconstruindo muita coisa né... assim de entender que o esporte pode ser feito por qualquer pessoa, homem, mulher, assim como a dança pode ser uma prática de qualquer pessoa, não tem isso do carimbo do papel social, homem, mulher, não faz isso, não faz aquilo... eu acho que a gente tá desconstruindo e que o espaço é nosso mesmo, é de todo mundo. E que eu acho que... ah quando a gente pensa assim, o espaço da mulher no surf, diz também do espaço da mulher na sociedade de uma forma mais ampla né...” E4, surfa a 10 anos

“Eu vejo varias... hoje em dia eu já vejo várias meninas surfando, não só aqui, mas em outras escolinhas da cidade também e se apoiando e se juntando e fazendo grupos para surfarem juntas e tal... e eu acho isso bem legal, porque mostra que o esporte tá crescendo né...” E3, surfa a 1 ano

“(...)tem muito mais mulher no mar e tem muito mais respeito. Eu acho que o surf feminino tá conquistando seu espaço no esporte, tá conseguindo mais respeito, as meninas estão surfando melhor porque você não via muito as meninas no mar, manobrando essas coisas assim(...)” E8, surfa a 8 anos

Sobre a própria trajetória no surf, as narrativas das entrevistadas são cercadas de satisfação pessoal, e uma valorização as experiências proporcionadas pela prática da modalidade. “[...] a pratica intensiva de um determinado esporte determina nas mulheres uma profunda transformação da experiência subjetiva e objetiva do corpo: deixando de existir apenas para o outro [...] ela se converte de corpo-para-o-outro em corpo-para-si-mesma [...]” (BOURDIEU, 2002, p. 97)

“Minha trajetória no surf é... fantástica! Porque fiz novas amizades, quando eu vou surfar eu me desprendo de tudo. Desprendo do trabalho, dos problemas que o trabalho dá, problemas familiares, e... a gente medita bastante e é isso, o surf pra mim foi e é uma realização de um sonho porque, é muito bom quando as vezes você tá descendo numa onda e tem pessoas que admira né...” E11, surfa a 14 anos

“[...]o surf tem sido uma cadeia de realizações, eu vejo a minha história, como algo que eu nuca imaginei.” E14, surfa a 1 ano e 10 meses

“A minha trajetória eu acho que ela passa por um pouco de tudo isso que eu falei, por exemplo, isso de dizer que não se dedica tanto a uma atividade que assim... de entender que é importante o cuidado comigo... são reflexões todas que eu tive estudando e lendo, mas eu tive também sobre a minha vida e a minha prática né assim... do surf inclusive, a minha dedicação ao surf, o meu me lançar ou não em determinados contextos, determinados mares, determinadas situações de eu me perguntar “porque não?(...)” E4, surfa a 10 anos

“O surf muda a vida de muitas pessoas. Minha trajetória fez com que eu conhecesse pessoas agradáveis, aprendi a ter mais tolerância, refletir melhor sobre minha vida, ter uma boa qualidade de vida, respeitar pessoas e o mar. ” E12, surfa a 14 anos

“O surf no início para mim, ele surgiu assim como um desafio e como uma nova possibilidade de eu tentar realizar um sonho esquecido na adolescência que eu acabei deixando de lado por causa dos estudos, mas eu nunca pensei assim que eu ia evoluir e conseguir realmente fazer do surf hoje em dia um modo de viver, um modo de ver o mundo, um modo de interagir com a natureza. Porque para mim, hoje em dia o surf é uma forma de eu meditar reconectar comigo mesmo e com a natureza[...]” E5, surfa a 10 anos

“Muito muito gratificante na verdade (risos). Eu costumo dizer que eu... é antes do surf e depois do surf, eu tinha planos pra antes de eu começar a surfar e depois que eu comecei a surfar na verdade eu mudei completamente minha vida né... meus objetivos, meus planos e viagens e tudo é focado muito nessa parte do surf mesmo. ” E7, surfa a 8 anos

Ao pensar o lugar da mulher no surf, de um modo geral as entrevistadas têm em comum a ideia de que ainda é um espaço a ser conquistado. As mulheres se inseriram no universo do surf, muito posteriormente aos homens. Porém, as entrevistadas concordam que essa atuação feminina já apresenta maior representatividade dentro do meio esportivo do surf. Assim como compactuam que se faz necessário apropriar-se desse espaço, que é comum e de direito. “Reclamar às mulheres o direito de reivindicar o esporte como um espaço de exercício de liberdades que também é seu, mais do que um desafio acadêmico é, sim, uma necessidade política. ” (GOELLNER, 2007 p. 191)

“O lugar da mulher no surf, é ao lado dos homens, respeito mútuo, iguais possibilidades, para que os gêneros possam se desenvolver igualmente no surf. Independentemente de ser homem ou mulher, trans, homo o que for, mas para as mulheres, isso ainda é um caminho muito novo

que a gente tá começando como todos esses caminhos nós temos que batalhar e “ralar” muito, para conseguir ser considerada e respeitadas pelo sexo oposto.” E5, surfa a 10 anos

“Bem amplo... as mulheres estão mais interessadas em aprender a surfar. Nosso litoral é bem favorável a prática, a busca aumentou a cada dia, o contato com o mar é super agradável, o círculo de amizade que se adquire através do esporte e eu acho também pelo fato de ser um esporte radical. ” E12, surfa a 14 anos

“A mulher hoje no surf, ela tem muito mais espaço do que tinha antes, mas assim é uma coisa que tá sendo conquistada não é uma coisa que foi conquistada, está sendo conquistada. E eu acho que a tendência é que ela se torne tão importante quanto o homem, como o papel do homem no surf. ” E8, surfa a 8 anos

“[... ]as mulheres surfistas que eu conheço são mulheres muito determinadas, mulheres de muita garra que trabalham muito que surfam... eu acho que dentro da sociedade assim pensando numa coisa grande se a gente tivesse mais mulheres surfando, talvez a gente tivesse mais mulheres determinadas com menos preconceito na cabeça com relação ao seu próprio corpo. É... eu até acho que a mulher até força uma barra pra proporcionar o lugar dela no surf assim...” E6, surfa a 10 anos

Segundo Adelman (2003, p. 448): “Na atualidade, o mundo esportivo tem, em parte, incorporado a luta das mulheres para se apropriarem de espaços existentes e/ou para criar novos”. Esses espaços são culturalmente construídos portanto passíveis a transformações. “Poderemos, então, aceitar que o esporte é um local de produção de corpos generificados, não porque são generificados em sua essência, mas porque são assim construídos no interior das práticas, saberes e discursos que o integram e que estão no seu entorno.” (GOELLNER, 2007 p. 189)

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