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3 CAMINHO METODOLÓGICO

3.1 O MÉTODO DA HISTÓRIA ORAL

Este estudo trata-se de uma pesquisa empírica, a partir de uma abordagem qualitativa, com utilização do método da História Oral.

O berço da história oral é americano, pois o método surgiu na Universidade de Columbia, após a segunda Guerra Mundial, por meio do lançamento da obra The oral history project, do professor Allan Nevis, em 1948.Desde seu surgimento, a história oral tem revelado um considerável crescimento em outros países, tendo seu ápice nas décadas de 1960 e 1970, o que permitiu a criação da Oral History Association, no ano de 1967 e que gerou um periódico anual intitulado a Oral History Review. (ICHIKAWA; SANTOS; 2006).

No Brasil, a utilização e o desenvolvimento desse método demoraram a acontecer pela ―falta de uma tradição institucional não acadêmica para desenvolver projetos registrados das histórias locais e a ausência de vínculos universitários com os localismos e a cultura popular‖ (ICHIKAWA; SANTOS; 2006; p. 185). E isto só foi percebido a partir dos anos 1980, após um regime militar que vetou o registro de ―opiniões, experiências ou depoimentos‖, o que colocou o país em atraso e descompasso científico quanto a outros países da América Latina, quanto a utilização desse método.

No início da década de 1990, a história oral começa a ser utilizada de forma vertiginosa no campo das pesquisas qualitativas, como um fator decorrente das ―mudanças no próprio campo da história, com o rompimento do paradigma estruturalista, mas também a partir de transformações mais gerais na sociedade brasileira‖ (FERREIRA, 1998, p. 4).

Esse cenário suscitou que houvesse uma revitalização e valorização do método da história oral, na perspectiva da abordagem qualitativa, o que possibilitou resgatar ―a importância das experiências individuais, ou seja, deslocou-se o interesse das estruturas para as redes, dos sistemas de posições para as situações vividas, das normas coletivas para as situações singulares‖ (FERREIRA, 1998, p.4).

Os autores Ichikawa e Santos (2006) alertam para uma situação que revela uma incipiente utilização do método da história oral nos estudos organizacionais verificados na publicação de trabalhos no evento de maior porte da produção acadêmica na área de Administração, o ENANPAD.

A escolha do método como sendo válido para as histórias que revelam a experiência dos entrevistados a cerca do tema estudado se apóia no que ratificam Easterby-Smith e Araújo (2001, p. 23) ao colocarem os ―significados são construídos pelo diálogo e as visões são comunicadas pela narrativa oral de histórias‖ a partir daí pode-se observar nos discursos e nas palavras proferidas a essência do que foi vivido.

As histórias vividas no contexto da prática profissional emergem de lembranças significativas e ―seu desenvolvimento constitui aprendizagem organizacional‖ (SIMS, 2001, p. 79). Sendo assim, o relato dessas histórias não permite apenas averiguar o processo de aprendizagem no contexto da prática profissional do personagem principal (o entrevistado), mas também atuar como alguém que participa desse processo, ao dar significado ao que está sendo contado (SIMS, 2001).

Para uma melhor compreensão das etapas que compõem a aplicação do método de história oral, é necessário que se haja a clara definição das pessoas a serem entrevistadas, de como serão planejados e executados: o registro das falas dos entrevistados, a transcrição das entrevistas gravadas, o confronto entre o depoimento e a transcrição, a permissão para utilização das

informações, o envio para revisão dos pesquisados, o fechamento e a divulgação dos resultados (ICHIKAWA, SANTOS; 2006).

O método inclui uma divisão em três formas diferenciadas: a história oral de vida, a história oral temática e a tradição oral. Na primeira forma, existe autonomia do sujeito pesquisado para falar sobre suas experiências. Na segunda forma, já se observa uma objetividade quando estabelece um assunto específico e na terceira forma, procura-se verificar qual a percepção de mundo que o sujeito pesquisado tem (BOM MEIHY, 1996).

A forma aqui estudada é a história oral temática por se tratar de fatos contados pelos sujeitos pesquisados e que refletem situações que viveram no contexto do trabalho, durante sua experiência como trainee.

Alberti (2000, p. 2) reforça a adoção desse método de pesquisa qualitativa ao contextualizar que:

atualmente, a história oral é uma metodologia claramente multidisciplinar, praticada por historiadores, antropólogos, sociólogos, folcloristas, cientistas políticos,educadores e psicólogos, entre outros. Ela se presta a interesses acadêmicos, pedagógicos, arquivísticos e terapêuticos.

A visão dos sujeitos dessa pesquisa, sobre seu contexto social, experiências, situações e percepções foram analisadas com a riqueza e individualidade com que pede o método aqui já descrito. Sendo assim, ―a abordagem interpretativista é a que melhor o representa‖ (SOARES NETO, 2010, p.55).

A escolha do referido método, por parte da pesquisadora é justificado, por ele se apresentar ―como forma de captação de experiências de pessoas dispostas a falar sobre aspectos de sua vida, mantendo um compromisso com o contexto social‖ (ICHIKAWA; SANTOS; 2006 p.182) e se adéqua metodologicamente na investigação do processo de aprendizagem profissional de gerentes que participaram do programa trainees em seu contexto social. ―Conhecer essas histórias é não só conhecer o processo de aprendizagem no contexto da ação, mas igualmente ser partícipe desse processo‖ (SOARES NETO, 2010, p.55).

A participação da pesquisadora no processo de aplicação do método de história oral está alinhada à sua visão de mundo com o fato de já ter vivido a

experiência como uma trainee, acredita ser o método mais adequado para responder ás suas inquietações sobre como ocorre o processo de aprendizagem de gerentes que participaram de um programa trainee a partir de histórias do seu contexto da ação profissional.