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O método

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CAPÍTULO 4 – O ESTUDO DE CASO EM GOIÁS: MÉTODO,

4.1 O método

O caminho percorrido rumo ao conhecimento é complexo. Dessa forma, parte- se da premissa de que o conhecimento histórico é fundamental para que se possa entender o movimento das ciências sociais. Neves e Costa (2012) discorrem sobre o uso da derivação das palavras gregas ‘procurar e investigar’, trazidas pelo termo ‘história’ em sua raiz. É nesse sentido que o transitar pelas passagens da história da formação de professores conduz ao entendimento da dinâmica da construção e/ou desconstrução do objeto em estudo.

As transformações políticas e sociais são ações humanas fundamentais para a compreensão dos processos de formação docente para surdos. Essa ação, intencional, objetiva, dinâmica e mutável, geralmente vem ao encontro dos interesses de determinada parcela da sociedade. Gadotti (1995), ao se referir à formação de professores, afirma que aonde antes havia certezas sobre o que era importante na educação hoje existem dúvidas. O autor faz duras críticas ao papel ideológico da educação e assegura que este vem mudando conforme a conveniência de alguns.

Ao fazer o levantamento histórico notou-se que produzir e transformar o mundo real não é uma ação humana inconsciente. Segundo Gadotti (1995), não é a consciência que determina o homem, mas sim suas ações como ser social. Portanto, ainda conforme o autor, não é por meio da consciência humana que se constrói o sujeito, e sim o próprio sujeito que constrói a si mesmo por seu trabalho, sua vida material. Ademais, explica que a dialética de Marx, nesse sentido, não está no mundo das ideias e do espírito, mas na matéria. Sendo assim:

O materialismo dialético [...] fundou na história do pensamento uma ontologia ancorada em bases de uma dialética eminentemente histórica, que redimensionou um conjunto de questões concernentes à relação do homem com sua história, do homem consigo mesmo. [...] O homem se recusa como um ser apenas determinado na/pela história, mas como transformador da história, sendo a práxis, a forma por excelência desta relação. (ALVES, 2010, p. 2).

Para Cabral (2009), a práxis propõe a reflexão sobre as problemáticas existenciais do homem diante de suas ações reais e da estreita relação com o conhecimento e com a consciência humana. Esta, por sua vez, privilégio dos homens, leva à negação em suas relações de autonomia com o mundo material. Segundo Alves (2010, p. 6), a práxis, para Marx, se opõe ao ‘trabalho’, sendo este muitas vezes uma atividade prática alienada não pertencente ao seu executor e práxis a “atividade livre” e “criativa”, que transforma a natureza e a si mesmo.

Para Kosik (1969), a práxis é o maior conceito do materialismo por ser a unidade entre teoria e prática e a revelação da natureza do ser, da existência e da própria realidade. Logo, o homem é um ser criativo e, como tal, não se encerra em sua sociabilização, estando aberto à compreensão de si mesmo por meio da práxis. No entanto, o autor faz crítica à práxis utilitarista por não ser transformadora, mas manipuladora. Além disso, não representa a compreensão da realidade e é alienada e não criativa ao separar o trabalho da criação e navegar em direção ao senso comum Uma base conceitual importante dada ao método em questão é o distanciamento do mundo das ‘ideias’ e das ‘subjetividades’. Não se pretende eliminá- los por completo no entendimento do mundo real, mas sim manter o foco no objeto que deve ser, conforme Alves (2010, p. 2), um “fenômeno externo”. Dessa forma, o trabalho se limitará “a comparar, a confrontar um fato, não com uma ideia, mas com outro fato” (Marx, 1989, p. 14 apud ALVES, 2010, p. 2).

Ainda de acordo com Alves (2010), é, portanto, o mundo material que condiciona a vida social, política e espiritual do homem e, nesse contexto, as dificuldades e as crises ocorridas no modo de produção humano não podem ser vistas de forma neutra e natural, mas sim observadas em função das lutas de classes por hegemonia. A ‘crise’ entre as relações humanas, para o autor, é o que se faz relevante no estudo histórico, e não o progresso humano.

[...] a pesquisa deve dominar a matéria até o detalhe; analisar suas diferentes formas de desenvolvimento e descobrir a conexão íntima que existe entre elas. Só depois de concluído esse trabalho é que o movimento real pode ser adequadamente exposto. Quando se consegue isto [...] a vida da matéria se reflete no plano ideal [...]. (ALVES, 2010, p. 5).

Para Severino (2000), a construção do conhecimento passa pela dimensão epistemológica, metodológica e técnica. Para tanto, de início deve haver a análise crítica,descobrindo as razões pelas quais o real se mostra com determinado valor ao nosso pensamento e essa descoberta é o resultado dessa análise. É assim que se conhece a realidade.

Ao se conhecer a realidade deve-se estabelecer relações entre os fatos, não os analisando isoladamente. De acordo com Wachowicz (2001), análises isoladas incorrem no risco de se obter conhecimento estático. Segundo a autora (2001, p. 3):

[...] nossa intenção é explicar uma realidade não somente para compreendê- la, mas para estabelecer as bases teóricas de sua transformação. A intencionalidade acrescenta assim ao método dialético um componente político, que sendo importante não pode deixar de lembrar sempre das possibilidades relativas que possui: a teoria não muda o mundo, mas é uma das condições para sua mudança.

Assim, entende-se que o trabalho docente é concreto na realidade da escola e, ao estabelecer uma criticidade dessa atividade tem-se, então, uma característica do método dialético, isto é, a “contextualização do problema da pesquisa.” (WACHOWICZ, 2001, p. 3). Por consequência, a contextualização remete ao materialismo histórico, pois advém de perguntas simples como “quando?”, “onde?” e “por quê?”.

Contextualizar o objeto de estudo, para Wachowicz (2001), não significa tomá- lo apenas como totalidade, mas sim considerar sua historicidade e as tensões relativas ao objeto. Com esses cuidados básicos caminha-se para a dialética, que, segundo a autora (2001, p. 5), “é uma concepção que tem nessas categorias metodológicas as suas leis principais: a contradição, a totalidade, a historicidade”.

Por fim, tendo a formação de professor para surdos como objeto da pesquisa, houve a necessidade de estabelecer sua relação histórica com a política e com as transformações sociais, bem como as relações entre o trabalho docente e a realidade concreta, se distanciando, portanto, do abstrato. É a “reapropriação do real que pretende o método dialético na pesquisa” (WACHOWICZ, 2001, p. 6). Já a

historicidade parte da ‘intencionalidade da pesquisa’, a qual pretende oferecer condições para se propor uma transformação da realidade.

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