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Gardner utiliza a expressão de Richard Dawkins: “as IM são um Meme”, para explicar a presença da teoria das IM na educação. Segundo Gardner (2010, p. 21), Dawkins caracteriza “meme” como “uma unidade de sentido, criada em um determinado lugar e tempo, que se propagou muito no último quarto de século”.

A teoria das IM primeiramente foi difundida no contexto escolar norte- americano. Aos poucos, atravessou oceanos e se tornou algo discutido e criticado não somente no contexto escolar, mas também em museus, locais de trabalho e parques temáticos. Provavelmente, essa difusão tenha acontecido devido às traduções dos livros de Gardner e de outros autores que abordam o tema de forma mais prática, tais como, Thomas Armstrong, David Lazear, Linda e Bruce Campelll, entre outros (GARDNER, 2010).

O Meme teoria das IM se espalhou de forma tão vasta que, hoje, além dos Estados Unidos, existem projetos na Ásia, regiões do Pacífico, Europa e América do

Sul (GARDNER, 2010). Porém, essa difusão, impossível de ser controlada, pode gerar “mal entendidos” quando à teoria. Algumas escolas começaram a utilizar a teoria das IM para classificar os alunos como dotados de uma inteligência e desprovidos das demais. Segundo Gardner (2010), essas escolas, atualmente, estão fechadas. Também é comum a ideia de que a inteligência corporal cinestésica ou físico cinestésica está associada a atividades como engatinhar pela sala de aula ou fazer alongamentos (GARDNER, 2001). Por isso, o autor esclarece alguns mitos relevantes para a compreensão do Meme.

Mito 1: Uma vez que existem oito ou mais inteligências, os pesquisadores

podem criar testes para garantir suas notas (GARDNER, 2001).

A teoria das IM criada em um contexto histórico de insatisfação com a psicometria, propondo a inteligência como o resultado de um acúmulo de conhecimentos dentro de uma determinada cultura, se submetida a uma bateria de testes, de certa forma, é, segundo Gardner, medíocre. A ideia de desmistificar uma inteligência quantizada requer testes que corroborem com esta ideia. Segundo Gardner (2001, p. 103), “o modo de avaliação das inteligências deve ser ‘inteligentemente justo’”. As múltiplas inteligências deveriam ser analisadas diretamente no contexto no qual elas se manifestam e não através de testes que priorizam a linguística ou a lógica. Na visão do autor, as inteligências múltiplas só devem ser testadas se for identificado que uma criança tem certa deficiência que impede o seu aprendizado.

Mito 2: Uma inteligência é um domínio ou disciplina (GARDNER, 2001).

A inteligência está vinculada às nossas habilidades e potenciais biopsicológicos. Domínio ou disciplina é um conjunto de atividades que caracterizam uma simbologia específica de um sistema específico e suas ações; ou seja, uma atividade que caracteriza por sua especialização. Nesse sentido, a Física ou a Matemática constituem domínios de uma determinada cultura e não inteligências.

Domínio é um conjunto organizado de atividades dentro de uma cultura caracterizado por um sistema de símbolos específico e as operações dele resultantes. Qualquer atividade cultural que conte com uma participação mais do que casual dos indivíduos, e na qual se possa identificar e cultivar graus de especialização, deve ser considerada um domínio. (...) Assim, física, culinária, xadrez, direito constitucional e música rap são domínios na cultura ocidental contemporânea. (GARDNER, 2001 p. 105)

Mito 3: Uma inteligência é um estilo de aprendizado, cognitivo ou de trabalho

(GARDNER, 2001).

O estilo caracteriza uma abordagem do indivíduo que pode ser aplicada a inúmeros conteúdos. A inteligência é uma capacidade para um conteúdo específico. Uma pessoa pode ter um estilo reflexivo ou intuitivo. Desta forma, imagina-se que ela tenha esse estilo em todas as áreas. Entretanto, esta pessoa pode ser reflexiva ou intuitiva em alguma área específica, mas não em outra que exija um raciocínio lógico, por exemplo. Uma pessoa que tem facilidade em falar em público, não necessariamente escreverá bem ou aprenderá novas línguas (GARDNER, 2001).

Mito 4: A teoria das IM não é empírica (GARDNER, 2001).

A teoria das IM foi construída com bases em estudos empíricos que mapearam o cérebro e as capacidades artísticas de crianças e pacientes com danos cerebrais. Ou seja, ela é baseada em estudos experimentais.

Mito 5: “A teoria das IM é incompatível com o fato g (o termo usado em psicometria para designar a existência de uma inteligência geral), com descrições hereditárias e/ou ambientais da natureza e das causas da inteligência” (GARDNER, 2001, p. 110).

Segundo Gardner (2001, p. 110), a teoria das IM não questiona o fator g,

apenas não concorda com o seu campo de conhecimento e sua força. O fator g,

derivado de um fatorial, generaliza a inteligência nos campos verbais e matemáticos. Gardner aponta que seu interesse está nas demais inteligências e nos processos intelectuais que as compreendem, os quais o fator g desconsidera (GARDNER, 2001).

Quanto à hereditariedade, Gardner não descarta a possibilidade de algumas habilidades do ser humano estar relacionadas com fatores genéticos. Porém, somente após a conclusão do mapeamento do genoma humano e estudos voltados para essa relação de hereditariedade é que talvez se possa afirmar tal relação. A teoria das IM relaciona o desenvolvimento das inteligências no indivíduo especificamente com as suas interações com o ambiente, bem como os recursos que lhe estão disponíveis:

Não duvido que as habilidades e as diferenças humanas tenham base genética. Agora que o projeto do genoma humano está quase terminado, poderá algum cientista contemporâneo questionar a existência de genes e de complexos genéticos para importantes dotes e deficiências intelectuais? Se fossem elaborados testes para as várias inteligências humanas, tenho quase certeza de que cada inteligência teria uma hereditariedade significativa. (...) Por outro lado, no nascimento, fatores ambientais entram em jogo - há indícios crescentes de que entram em jogo antes do nascimento. Mesmo pessoas aparentemente bem-dotadas numa inteligência ou num domínio determinados pouco realizarão se não forem expostas a matérias que exijam a inteligência. (GARDNER, 2001, p. 111)

Mito 6: A ampliação do termo “inteligência” na busca de incluir um vasto espectro de construtos psicológicos, torna o termo impossível de ser utilizado nas suas conotações típicas (GARDNER, 2001, p. 112).

A teoria das IM não inviabiliza o termo inteligência. Ela propõe uma ampliação de sua visão, de forma que compreenda todas as habilidades humanas (GARDNER, 2001). A inteligência é definida de muitas formas, mas a visão predominante é visão psicométrica (SMOLE, 2000, p. 17).

Mito 7: Existe apenas uma abordagem pedagógica aceita com base na teoria

das IM.

A teoria das IM não representa uma teoria ou uma “receita pedagógica”. Os educadores podem determinar se a teoria das IM deve orientar ou não suas práticas em sala de aula. No entanto, Gardner faz uma lista de ações que colocam em risco práticas pedagógicas que se dizem centradas na teoria das IM: ensinar os conceitos para os alunos visando usar todas as inteligências, ao mesmo tempo - isso seria uma perda de tempo e energia - executar movimentos corporais para ativar uma inteligência; usar uma inteligência como um recurso mnemônico, como cantar ou dançar uma lista com a finalidade de lembrá-la - rotular pessoas com base em suas inteligências, pois as inteligências devem ser usadas para auxiliar os indivíduos no aprendizado de conteúdos importantes (GARDNER, 2001, p. 213-214 e 123).

Não existe um manual para uma prática pedagógica na teoria das IM. Entretanto, ela traz elementos que devem ser levados em consideração quando se tem em mente a relação com o indivíduo: “não somos todos iguais; não temos a mesma mente e a educação é mais eficaz se levar a sério essas diferenças” (GARDNER, 2001, p. 115)