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2.2 Modelo de Atenção

2.2.2 O modelo de programas de Saúde do Trabalhador

No ano de 1979, foi definida pela Assembléia Mundial da Saúde a necessidade urgente de se desenvolver programas sociais voltados para os trabalhadores a fim de viabilizar uma maior atenção à saúde destes e, em 1980, foi aprovada uma diretriz no sentido de apoiar estes programas para a promoção de melhorias das condições de vida e de trabalho para os trabalhadores rurais, industriais e da mineração. (FREITAS, LACAZ & ROCHA, 1985).

A partir desse enfoque, com intuito de estender a cobertura das ações de saúde para outros trabalhadores foram introduzidas ações de Saúde Ocupacional nos programas da rede de saúde pública. Porém, para Freitas, Lacaz e Rocha, (1985) as ações de Saúde Ocupacional trazem consigo uma visão reducionista das reais necessidades dos trabalhadores. Existe um foco individualista dos problemas de saúde no trabalho, apoiado essencialmente na noção de risco, que deixa de lado, as questões que envolvem as relações sociais de produção as quais determinam tanto o trabalhador como o ambiente de trabalho em que o mesmo está inserido (LACAZ, 1996).

Dentro dessa visão reducionista, o trabalhador é percebido como um assalariado ou consumidor de serviços de saúde, mais do que como um trabalhador, sua saúde é abordada como estilo de vida ou níveis de renda e as relações sociais estabelecidas nos ambientes laborais não são contempladas como se não existisse relação entre o trabalho e o processo saúde/doença (FREITAS, LACAZ & ROCHA, 1985).

Essa visão reducionista passa a ser substituida por uma visão mais ampliada da atenção voltada à saúde dos trabalhadores deslocando-se, assim, da esfera da Saúde Ocupacional para o campo da Saúde do Trabalhador. Nessa visão, surge uma tendência a um enfoque global do macroambiente, onde as questões culturais, econômicas e

sociais, bem como físicas, são consideradas ao se desenvolver ações para promoção da saúde dos trabalhadores e como consequência, surge a preocupação de se incluir a família dentro dessas ações (FREITAS, LACAZ & ROCHA, 1985).

Assim, uma das estratégias da atenção à saúde dos trabalhadores adotada pela rede de serviços de Saúde Pública foi a capacitação dos profissionais em Vigilância Epidemiológica. Dessa forma, quando no atendimento médico fossem diagnosticados casos de doença do trabalho ou acidente, o local de trabalho que deu origem àquele agravo deveria ser inspecionado para identificação dos determinantes causais e identificação de outros casos (FREITAS, LACAZ & ROCHA, 1985).

Conforme os mesmos autores, para o estabelecimento de ações resolutivas em Saúde do Trabalhador na rede de serviços, o trabalhador/paciente deveria ser abordado através da construção de uma história de vida profissional detalhada e quando necessário, uma anamnese profissional detida. Dessa forma, seria possível conhecer e tratar integralmente os determinantes patogênicos geradores de morbi-mortalidade advindos não só da condição laboral em que se encontra o trabalhador, mas de outras condições anteriores de trabalho que muitas vezes não são contempladas. (FREITAS, LACAZ & ROCHA, 1985).

A partir da incorporação das ações de saúde dos trabalhadores na rede de serviços públicos surge uma preocupação com as interrelações entre trabalho e saúde. O Instituto de Saúde da Coordenadoria de Serviços Técnicos Especializados da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo propõe dois modelos de programas voltados para ações em saúde dos trabalhadores (FREITAS, LACAZ e ROCHA, 1985).

No primeiro Programa, destacam-se algumas características originais e pioneiras, ou seja, dá-se início à atuação da Secretaria de Estado da Saúde articulada com outras instituições para o desenvolvimento de ações voltadas para a população trabalhadora de

Cubatão com enfoque nos problemas de saúde relacionados ao trabalho e à poluição ambiental originados da produção industrial do polo petroquímico e metalúrgico. Trata- se do início da atuação daquela Secretaria em articulação intersetorial com outras instituições envolvendo áreas de competência multi-institucional para realização de diagnóstico e tratamento de doenças do trabalho, fiscalização das condições de trabalho, controle da poluição ambiental e atividades de pesquisa a partir da participação de universidades. Em relação à operacionalização do programa, o ponto central é a saúde daqueles que lá trabalham e, para tal, a estratégia de Vigilância Epidemiológica é introduzida para execução de ações de fiscalização e controle das condições de trabalho existentes. Nesse Programa houve uma preocupação também em atuar nos problemas de saúde mental originados basicamente pela forma como o trabalho é organizado, em relação às exigências, rítimos, dentre outros. A participação da população trabalhadora, através de sindicatos ou associações era estimulada no sentido de favorecer melhorias nas condições de vida e trabalho dessa população com participação social (FREITAS, LACAZ & ROCHA, 1985).

O segundo programa apontado pelos mesmos autores, foi o Programa de Educação Sanitária e de Vigilância Epidemiológica das intoxicações de agrotóxicos no Vale do Ribeira cujos objetivos eram:

1- conscientizar profissionais da saúde e da Secretaria de Agricultura, professores e trabalhadores sobre as consequências da utilização de agrotóxicos;

2- orientar em relação ao risco de acidentes,

3- detectar casos de intoxicação por uso de agrotóxicos,

4- implantar um sistema de vigilância epidemiológica voltado para o controle das intoxicações por agrotóxicos .

O programa apresentava duas fases distintas sendo que na primeira fase ocorreu atividade de Educação Sanitária, através da realização de um curso sobre Intoxicação por agrotóxicos e acidentes com animais peçonhentos, para os profissionais da Saúde e da Secretaria de Estado da Agricultura bem como para população local e trabalhadores rurais. Já na segunda fase, estimulou-se a notificação de casos de intoxicação com a análise dos dados de todos os atendimentos realizados na rede de serviços para o desenvolvimento de ações de Vigilância Epidemiológica junto com a Secretaria da Agricultura, vsando a atenção à saúde dos trabalhadores rurais (FREITAS, LACAZ & ROCHA, 1985).

Segundo Dias, (1994) mesmo com limitações e dificuldades dos PST pela falta de respaldo institucional e/ou por vezes de apoio dos próprios usuários para o desenvolvimento das ações, estas experiências contribuiram no sentido de abordar as questões relativas à ST dentro dos serviços do SUS.

[...] no cotidiano dos PST está sendo construída uma prática que busca desenvolver os determinantes do processo saúde-doença e estabelecer o nexo trabalho e saúde que podem resultar tanto de necessidades sentidas de saúde ou de problemas da saúde definidos pelos diversos atores sociais, incluindo os profissionais dos serviços de saúde (DIAS, 1994, p.242).

Para outros autores os PST possibilitaram, apesar das limitações às práticas de Vigilância que fosse, “encontrando seu solo mais fértil, e ao mesmo tempo mais conflitivo, trazendo uma série de inquietações e reflexões fundamentais para a história e a transformação da VISAT no Brasil.” (PINHEIRO, 1996 p. 28)

Dentro desta perspectiva houve uma contribuição dos PST incorporados posteriormente pelos Centros de Referência em ST (CRST) já na perspectiva da municipalização da saúde, conforme propunha a já referida Portaria 3.908/98 na perspectiva de que as ações de ST saíssem do modelo assistencial individual e contemplassem um modelo de atenção integral considerando a estratégia de vigilância

que incorporava a intervenção nos ambientes e processos de trabalho propícios ao desencadeamento de riscos e agravos à saúde dos trabalhadores (BRASIL, 2001).

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