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O modelo educacional inspirador da Bahia: uma escola “diferente”

CAPÍTULO 1- A Nova Capital e seus caminhos educacionais

1.3 O modelo educacional inspirador da Bahia: uma escola “diferente”

Segundo Anísio Teixeira (1969), o inovador Plano Educacional por ele proposto teve fortes influências da experiência bem sucedida do primeiro centro de educação primária, o Centro Educacional Carneiro Ribeiro ou Escola-Parque que se localiza em Salvador e hoje é reconhecida pela UNESCO como modelo educacional. Essa foi uma experiência escolar como se nunca tinha feito no Brasil. Das muitas realizações de Anísio Teixeira, este Centro Educacional foi a que alcançou maior repercussão no Brasil e em diversos outros países. Ainda hoje é mencionado como sendo o conjunto escolar da mais arrojada concepção pedagógica, embora construído e inaugurado em 1950.

Conforme Eboli (1969) o projeto deste centro era de quatro escolas-classe para mil alunos cada e uma escola-parque para quatro mil alunos, funcionando todas elas em dois turnos de modo ao aluno ter o dia completo de educação. Os locais escolhidos para instalar o arrojado Centro Educacional Carneiro Ribeiro foram os bairros da Liberdade, Caixa D’água, Pero Vaz e Pau Miúdo. Bairros populosos, povoados e pobres, com considerável número de crianças em idade escolar. Eram dos mais carentes em matéria de educação e de escolas. Foto I:

Foto de inauguração do Centro Educacional Carneiro Ribeiro. 1950.

Autor: Não identificado. Fonte: Internet

Anísio Teixeira (1967) explicava as complexidades do projeto educacional da Bahia da seguinte forma:

Vale ressaltar que as crianças recebiam toda assistência: médico, dentista, orientador educacional, além da merenda escolar.

Conforme relata Eboli (1969), o referido projeto da Bahia não tratava apenas de tornar a escola uma comunidade, de levar as crianças a viverem coletivamente a sua nova vida escolar. Além disso, as crianças foram levadas a organizar a sua comunidade em sociedade, dotando-a de todas as suas instituições organizacionais e as do trabalho, comércio, recreação, arte e lazer, fazendo da escola uma cidade, com toda a sua complexa combinação urbana moderna. Neste sentido, a escola fez-se uma experiência de socialização das mais completas possíveis. As crianças passavam por experiências de construção da sociedade humana e também eram levadas a vivenciar a própria organização social de vida.

Ainda segundo a autora, a existência individual da criança era logo concretizada em registro de nascimento, em identificação pessoal e em registro eleitoral, mediante as instituições sociais que a escola recriava em sua comunidade nas condições mais reais possíveis. Ler e escrever, como processos de expressão, era logo socializado por meio das

O corpo de alunos se matriculava nas quatro escolas-classe, onde se organizariam pelas classes e graus convencionais de cada escola e passariam metade do tempo do período escolar completo de 9 horas, dividido em 4 - 1 - 4 horas. A outra metade do tempo decorreria na escola-parque, de organização diversa da escola convencional, agrupados os alunos, dominantemente pela idade e tipo de aptidões, em grupos já não mais de 40, mas de vinte, que deviam, durante a semana, participar de atividades de trabalho, atividades de educação física, atividades sociais, atividades artísticas e atividades de organização e biblioteca. Cada manhã, metade dos alunos estaria na escola-parque e a outra metade distribuída pelas quatro escolas-classe. Ao meio-dia, os alunos da manhã das escolas-classe se dirigiriam para a escola-parque, onde almoçariam, descansariam em atividades de recreio e, depois, se distribuiriam, de acordo com o programa, pelas diferentes atividades da escola-parque. E os alunos que haviam passado a manhã na escola-parque, iriam, por sua vez, almoçar nas escolas-classe e se distribuiriam, a seguir, pelas suas atividades escolares. (TEIXEIRA, 1967, p.251).

práticas de correspondências, dos registros, dos jornais, do correio-telégrafo, da biblioteca, da tipografia, da edição de livros, da livraria e da rádio-escola. Podemos perceber que a vivência do letramento já existia ali, mesmo o conceito em si ainda não existindo à época. “Letrar é familiarizar o aprendiz com os diversos usos sociais da leitura e da escrita.” (SOARES, 2003, apud, CARVALHO, 2005, p.65). Preciosamente, era o que as crianças tinham a oportunidade de vivenciar. O número e a arte de contar se tornava logo real através da contabilidade, comércio e banco, e a instituição do dinheiro fica organizada e operante. Tudo, aliás, que era aprendido fazia-se imediatamente, não apenas prático, mas social. Observamos a partir daí métodos maravilhosos e eficazes para iniciar a criança no processo de alfabetização e na aprendizagem inicial da matemática.

A escola se tornava uma verdadeira cidade inserindo e preparando as crianças para a sociedade em que vivem. As crianças na escola eram indivíduos, membros de seu grupo, empregados de toda ordem, líderes e autoridades, operários e chefes, sem deixar de ser pessoas, colegas, filhos, irmãos, amigos e, sempre, cidadãos. As crianças passavam por todo um curso de civilização. “O notável dessa experiência baiana é que nenhuma ideia ou saber foi ensinado apenas verbalmente, nem mesmo apenas de modo ativo e prático para incorporá- las ao indivíduo. O método de aprendizagem foi mais longe: buscou levar as crianças a institucionalizá-la e dar-lhe o equivalente da força de uma realidade social”. (TEIXEIRA, 1969, p.147)

Toda essa experiência foi realizada sem nenhum auxílio nem assistência técnica estrangeira. Os professores eram todos daqui e a diretora era uma professora formada em uma das escolas normais da Bahia. Podemos perceber que foi um projeto com essência brasileira. A experiência é realmente original, não existe indícios de algo da mesma forma. Em sua concepção pedagógica o Centro Educacional Carneiro Ribeiro - com a Escola Parque e as Escolas-Classe - significou a mais avançada resposta quanto ao tipo de instituição escolar capaz de realmente preparar a criança para a vida moderna, para uma sociedade em mudança. Anísio Teixeira afirmava que, baseado no modelo deste Centro, foi organizado o sistema escolar de Brasília. (EBOLI, 1969.)

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