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O Modelo Urbanístico

No documento tese cristinasilva final (páginas 75-80)

A implantação do edifício fez-se num terreno de cerca de quatro hec- tares e foi alvo de três grandes preocupações: a primeira, a localiza- ção do edifício na parte baixa do terreno, mais plana, tomando como referência o nível da cota do Boulevard Michelet; a segunda, dar o sentido norte-sul ao eixo longitudinal do edifício, tendo em conta a direcção do forte vento dominante, o Mistral, e favorecer a luminosi- dade das células de habitação; a terceira, obter um efeito de perspec- tiva, pela decisão de o colocar na oblíqua relativamente ao Boulevard Michelet, permitindo maior elegância e diversidade paisagística.

A Redefinição da Densidade Urbana - O Agrupamentos Vertical

O projecto da Unidade de Habitação relecte na sua organização o modelo proposto por Le Corbusier para o desenho de cidade fun- cional. A sua composição é feita a partir da criação de uma célula de habitação e da multiplicação desta, em extensão e altura, ao longo de ruas pedonais interiores e sobrepostas.

3.2.1 fig. 2 Imagem da secção trans- versal da Unidade de Habitação

Concebido para 1600 pessoas, com 337 apartamentos de diferentes tipologias, o que signiica uma densidade de quatrocentos habitan- tes por hectare, uma densidade urbana, este edifício, envolvido por uma zona verde de parque, foi projectado em altura e contrapôs-se ao modelo de cidade-jardim horizontal tradicional. Esta disposi- ção permitiu, segundo Le Corbusier, maior economia de custos, de meios, de tempo de construção e ainda a libertação de uma vasta área de solo.

A Zonificação de Funções

Concebido para ser auto-suiciente, este edifício foi dotado de servi- ços e de prolongamentos da habitação situadas em zonas especíicas e próximo das moradias. A centralidade dos serviços, localizados nos sétimo e oitavo pisos (piso comercial), relativamente à organização espacial interior do edifício, teve como objectivo igualar a sua distân- cia aos apartamentos e funcionar como espaço aglutinador de luxos e passeio público interior.

As actividades lúdicas foram previstas em espaços próprios, no parque e na cobertura do edifício, permitindo igualmente o con- tacto directo com a natureza. As que se situam na cobertura do edi- fício relectem a aposta feita por Le Corbusier no aproveitamento deste espaço geralmente desperdiçado, uma ideia que recuperou da experiência de viagem a bordo do transatlântico, quando em 1929 viajou ao continente sul-americano e o comparou a uma comuni- dade residêncial.

A definição do Sistema de Circulação

No interior do edifício, cada rua destina-se a servir as habitações tendo como função a distribuição de pessoas e mercadorias. O conjunto deine um bairro “no ar”, criando um novo tipo de tecido urbano – o urbanismo em três dimensões. Esta rua percorre longitudinalmente todo o piso e termina em forma de T para o acesso às habitações na fachada sul. A vertente urbanística destas ruas interiores é reforçada não só pela sua largura que as liberta da estrutura do piso deinido por uma retícula regular, mas também pela seleção dos materiais que revestem as paredes (paineis pré-fabricados de betão lavado, cuja traçado e textura contrastam com o ladrilho liso do pavimento

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e com os materiais utilizados no interior das células) e ainda pela criação de um conjunto de dis- positivos que remetem a funções habitualmente realizadas no exte- rior: a caixa do correio individual situada à entrada de cada célula de habitação; a caixa de depósito do gelo que pode ser feita desde o exterior sem que a dona de casa seja perturbada na realiza- ção das actividades domésticas; e o pequeno depósito/postigo com ligação directa à cozinha para a entrega/recepção de encomen- das. A aplicação destes dispositi- vos é uma referência ao conceito de casa eiciente já desenvolvido nos Estados Unidos desde as pri- meiras décadas do séc. XX, onde esta prática tinha sido já experi- mentada (Eiciency Apartments, 1920s, Shultze & Weaver).

No total são sete as ruas interiores que distribuem as séries de pisos. Com excepção da rua interior que assegura a zona de servi- ços comuns situados no sétimo e oitavo pisos e é dupla, as restantes ruas, um piso em cada três, acedem a cinquenta e cinco apartamen- tos após a saída do átrio dos ascensores: trinta e três habitações para norte e vinte e duas para sul. Estas ruas recebem ainda três caixas de escadas de emergência repartidas ao longo dos pisos. Uma quarta escada metálica reservada aos bombeiros está situada entre a fachada leste e a caixa dos ascensores. A entrada de luz natural nestas ruas interiores é feita unicamente pelas aberturas rectangulares da fachada leste destinadas a iluminar o átrio dos ascensores. Pelo que, o longo percurso destas ruas é lido através da vibração e do ritmo resultantes da densidade da modinatura e policromia das portas de entrada, valo- rizadas pela iluminação artiicial indirecta, alternadando com zonas de penumbra.

Actualmente o nível dezassete não é servido por nenhuma rua, mas por um átrio que acede à creche e ainda a quatro apartamen- tos de um só piso. Neste piso inscreve-se ainda a parte superior dos

3.2.3 fig. 1 Imagem da planta do piso dos apartamentos da Unidade de Habitação.

apartamentos duplex acessíveis ao nível dezasseis.

No exterior do ediicio, o sistema de circulação desenvolve-se no interior do parque, organizando-o em várias zonas, e é composto por três tipos de utilização: pedonal, ciclomotor e automóvel. Igualmente distintos tanto no tratamento do seu desenho, como na escolha dos materiais utilizados.

Numa correspondência às cidades idealizadas por Le Corbusier, onde os edifícios deveriam ser colocados próximos de vias rápidas de comunicação e rodeados de uma zona verde, a implantação deste edifício, próxima do Boulevard Michelet, um importante eixo de cir- culação rápida, composto por várias vias e lanqueado por árvores vem reforçar essa ideia. A orientação norte-sul e a sua distância rela- tivamente áquela via favorecem a existência de uma zona verde alar- gada, de separação entre ambos, ocupada pelo parque. Posicionado obliquamente, o edifício oferece maior diversidade visual, elegância, e contraria uma hierarquia entre as suas fachadas. A reforçar esta ideia está a localização da entrada principal do edifício na fachada oeste, oposta ao Boulevard Michelet, bem como o desenho do tra- çado do percurso que lhe dá acesso e é feito através do parque.

3.2.3 fig. 2 Imagem de rua interior da Unidade de Habitação.

No documento tese cristinasilva final (páginas 75-80)