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O Movimento da Matemática Moderna em Portugal

Capítulo 3 O Movimento da Matemática Moderna (MMM)

3.3. O Movimento da Matemática Moderna em Portugal

O espírito da Matemática Moderna assentava em dois aspetos: um que dizia respei to à organização de um novo currículo com a renovação de conteúdos, i nfluenciada pelas estruturas bourbakistas; o segundo aspeto consistia na preocupação em compatibilizar os currículos de Matemática com as estruturas básicas da cognição defendidas por Jean Piaget (Matos, 2006).

Em Portugal, as primeiras movimentações para a modernização da Matemática começaram a surgir a partir de 1955. Com base na leitura de textos do professor José Manuel Matos (2009), três períodos marcaram a introdução da Matemática Moderna em Portugal, sendo eles:

1. Circulação de novas ideias em relação à Matemática, a partir de 1957 com Leite Pinto;

2. Experimentação, a partir de 1963 com Galvão Teles;

O Ministro da Educação Leite Pinto trouxe várias mudanças no ensino da Matemática deixando quatro marcas importantes. A primeira marca foi logo em 1955, com a nomeação de uma subcomissão portuguesa para assinalar presença na Comissão Internacional para o

Ensino da Matemática (ICMI) constituída por dois professores universitários, Vicente Gonçalves

e Sebastião e Silva, e dois professores de Liceus José Calado e José Silva Paulo.

O segundo aspeto marcante decorreu em 1957, com a divulgação das novas ideias do ensino da Matemática em artigos e entrevistas através de um grupo de 4 professores, Sebastião e Silva, José Calado, Jaime Furtado Leote e Santos Heitor, participantes na XI reunião da Commission Internationale pour L'Étude et L’Ámélioration de L'Enseignment des

Mathematiques (CIEAEM), em Madrid. Ainda em 1957, no mandato de Leite Pinto, destacamos

outra marca importante que foi a sua manifestação pública de apoio à proposta apresentada por José Calado no Liceu Normal de Pedro Nunes, sobre a reforma da Matemática Moderna, perante vários representantes educativos. O professor José Calado propôs mais tempo para as aulas de Matemática e ainda formação para os professores em álgebra e lógica (Guimarães, 2011).

A quarta e última marca foi deixada pela aprovação de novas tendências para o ensino da Matemática constantes na Recomendação nº 43, da 19ª Conferência Internacional da Instrução Pública organizada pela UNESCO. Embora a partir de 1957 circulassem as novas ideias em relação à Matemática Moderna, estas nunca foram efetivamente apoiadas pelos órgãos governamentais (Matos, 1989).

Por esta altura o ensino da Matemática encontrava-se degradado e com métodos de ensino completamente ultrapassados. No entanto, Sebastião e Silva continuava com um papel cada vez mais acentuado na aplicação da Matemática Moderna no nosso país. De maneira a Portugal acompanhar o movimento de modernização dos programas e do ensino da Matemática a nível internacional, o Ministro da Educação Nacional Galvão Teles, em 1963, nomeia uma comissão de estudos constituída por António Augusto Lopes, Jaime Furtado Leote, Manuel Augusto da Silva, novamente presidida pelo Professor José Sebastião e Silva cuja finalidade era analisar o currículo de Matemática do ensino liceal. Nesta sequência, a comissão tinha como objetivo realizar estudos e experiências sobre a atualização dos programas da disciplina de Matemática do 3º ciclo do ensino liceal tendo em conta as alterações que os programas de Matemática vinham sofrendo a nível internacional (Silva & Valente, 2008).

O novo currículo da Matemática começou por ser implementado em 3 turmas experimentais do último ciclo dos liceus, uma em cada um dos liceus normais: Liceu D. João III, em Coimbra, Liceu Pedro Nunes, em Lisboa e Liceu D. Manuel II, no Porto, sendo nos anos seguintes, alargado a mais turmas e a mais liceus do país (Silva & Valente, 2008) . As turmas- piloto tinham mais um tempo letivo do que as restantes turmas que seguiam o programa tradicional. Quanto à definição dos programas para as turmas -piloto o objetivo era aproximar a Matemática do ensino liceal, da Matemática do ensino superior. Como suporte a estas

alterações, alunos e professores tinham textos da autoria de Sebastião e Silva que lhes eram distribuídos em fascículos e cuja edição era da responsabilidade conjunta do Ministério da Educação Nacional e da OCDE. A implementação deste novo currículo nos anos seguintes levou à produção de materiais de apoio, à formação de professores e ainda à elaboração de manuais por parte de Sebastião e Silva. A partir deste período são colocados de parte os manuais únicos. Em parceria com Santos Guerreiro, Sebastião e Silva m inistrou na Faculdade de Ciências de Lisboa, cursos de lógica Matemática, Teoria dos conjuntos, Álgebra abstrata e Geometria para professores em regime de voluntariado. A comissão presidida por Sebastião e Silva é ainda responsável pela (Matos & Valente, 2010):

 Elaboração de programas baseados na Matemática Moderna difundidos pela Telescola, a partir de 1965/66 para alunos do Ciclo Preparatório do Ensino Secundário (CPES);

 Ajuda no novo programa do CPES que entrou em vigor a partir de 1968.

A partir de 1968, as grandes alterações foram sentidas nas escolas técnicas. Inicialmente estas escolas valorizavam as abordagens Instrumentais e práticas da Matemática, mantendo-se afastadas das novas tendências.

No governo de Veiga Simão dá-se a fase da disseminação da Matemática Moderna estendendo-se a todos os graus de ensino. No entanto, começaram a surgir indícios de que estas novas alterações não estavam a decorrer da melhor forma. Assim, na década de 70, os professores de todos os níveis de ensino são sujeitos a inúmeras formações e ações de formação sobre a Matemática Moderna. Cerca de um ano depois de ter tomado posse José Veiga Simão apresenta dois documentos com vista a reformar o ensino. O Projeto do Sistema Escolar e as Linhas Gerais da Reforma do Ensino Superior. Após muita discussão e após debate na Assembleia Nacional, a LBSE, foi publicada a 25 de Julho de 1973, contudo não chegou a ser implementada uma vez que entretanto se deu a Revolução de abril.

No seguimento da implementação da Matemática Moderna, em 1975 fundiu-se o ensino técnico com o ensino liceal, ficando apenas em vigor os programas do ensino liceal.

A fase de generalização da Matemática Moderna no início dos anos setenta, já não teve o apoio e colaboração do professor Sebastião e Silva, devido a graves problemas de saúde e consequente morte. Nesta segunda fase, foram elaborados novos programas e novos manuais escolares para a disciplina de Matemática, implementados em todos os níveis de ensino. Um conjunto desses manuais foi elaborado pelo professor António de Almeida Costa em parceria com outros professores.

Não obstante a toda a expectativa vivida em Portugal à volta da modernização do ensino da Matemática é importante salientar que esta renovação que orientou o movimento não foi aplicada da mesma forma nas práticas escolares em todos os liceus e, em particular, de todos os professores.

Todavia, a difusão do currículo da Matemática em Portugal aconteceu tardiamente em relação a outros países, onde esta renovação da Matemática já se encontrava numa fase de críticas e recuo. O destaque dado pela imprensa na época, à introdução da Matemática Moderna nas escolas, ia no sentido de que o acompanhamento do progresso tecnológico mundial dependia da atualização do ensino da Matemática para a formação de jovens com boas qualificações (Ponte, 1987).

Como síntese da implementação da Matemática Moderna em Portugal, de acordo com Matos, a avaliação feita à nova reforma foi francamente insatisfatória. As dificuldades no ensino e aprendizagem da Matemática, bem como, o incumprimento dos programas estiveram na origem desse descontentamento. Foi generalizada a ideia entre os professores que a qualidade do ensino da Matemática decaiu consideravelmente.